14 de Dezembro: 90 anos sobre o assassinato de Sidónio Pais

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14 de Dezembro: 90 anos sobre o assassinato de Sidónio Pais
« em: Dezembro 14, 2008, 12:02:15 pm »
O ditador da “excelsa figura física”



Sidónio Pais foi professor catedrático de matemática na Universidade de Coimbra e foi o primeiro presidente da República Portuguesa a ser eleito por sufrágio universal.

Sidónio Pais foi o segundo Chefe de Estado Português a ser assassinado no exercício de funções – o primeiro tinha sido El-Rei D. Carlos, no regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, portanto no mesmo século

A 1 de Maio de 1872 nascia um dos últimos políticos heróis que o povo português acarinhou. O “pai dos pobres”, ou “aquele que amou o povo”, “protector das crianças”, o “Mártir” ou o “Grande Morto”, Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais tornou-se num fenómeno relâmpago que, em apenas um ano e seis dias, consegue reunir os mais antagónicos apoios, liderar um golpe de Estado, congregar o apoio de toda a população, reformar o regime, reprimir rebeliões, escapar a um atentado e ser assassinado num outro.

(14 de Dezembro de 2008)

O Presidente da República que morreu com um tiro na Estação do Rossio

Foi curto o seu mandato na Presidência da República, mas suficiente para criar um “ismo” precursor, segundo alguns, da ditadura salazarista. Sidónio Pais, nascido em Caminha, messiânico e sedutor, dizia que a sua consciência interpretava “milhões de consciências”. Foi abatido a tiro faz hoje 90 anos.

Após o 5 de Outubro de 1910, o minhoto Sidónio Bernardino da Silva Pais, homem de “excelsa figura física”, integra governos da República.

Nos tempos de estudante em Coimbra, partidário das ideias republicanas, ele conspirou contra o regime monárquico ao lado dos irmãos da loja maçónica Estrela de Alva.
Em 1912 é enviado como embaixador para Berlim. Aí permanecerá por 4 anos, no decorrer dos quais o seu pensamento e visão política se transforma, degenerando da sua prévia formação republicana. Com o advento da I Guerra Mundial e com o posicionamento português ao lado dos Aliados, Sidónio regressa a Lisboa, em 1916, onde é feito major. Na pasta, trazia uma nota alemã de declaração de guerra a Portugal. Não está contente com o rumo dado às relações externas portuguesas. Sidónio crê firmemente que, finda a guerra, a vitória será alemã e logo, considera que Portugal está no lado errado das trincheiras. Aprendera a admirar a eficácia do sistema presidencialista alemão, a disciplina daquele povo e de suas instituições. É isso que sonha para Portugal, e, no envio de tropas portuguesas para a frente de guerra vê o desbaratar de vidas por uma causa em que já não se revê.

Nos 10 meses que se seguem, Sidónio prepara um golpe militar que visa a destituição do Governo e a imposição de uma nova ordem. Não lhe foi difícil fazê-lo, na verdade, desde a Direita mais conservadora às esquerdas mais radicais, os apoios multiplicavam-se em torno do seu carisma. Reuniu monárquicos e socialistas, militares e clérigos, patrões e proletários, e na tarde de 5 de Dezembro de 1917, inicia um movimento que se conclui em 3 dias com o derrube do governo e a instituição de uma Junta Militar. “Dar estabilidade e prestígio à República e engrandecer e honrar o país”, é o ponto-chave do seu programa de Governo, que apresenta no dia 12 de Dezembro, para além da instituição do regime presidencialista. Começa então uma série de viagens por todo o país e, de Norte a Sul, Sidónio é aclamado por multidões em histeria. Note-se que 1918 foi um ano particularmente dramático, aliando-se à instabilidade económica (resultante da guerra) uma forte epidemia e mortandade, a população pedia ordem, trabalho, comida, justiça e nada disto encontrava com os sucessivos governos dos partidos instalados no poder, os quais Sidónio apelidava de “demagogos”.

A situação dos monárquicos sofre alteração, que conquistam uma liberdade de acção e de pensamento como não tinham desde o derrube da Monarquia.

É com esta mudança de política, quer em relação à igreja, quer em relação aos monárquicos, que Sidónio Pais constrói a sua base de apoio.

Nos dois círculos eleitorais do distrito de Portalegre, Elvas e Portalegre, apresentam-se às eleições os elementos do Partido Nacional Republicano e monárquicos. Nestes dois grupos, estão nomes que mais tarde no Estado Novo terão papel de relevo.

Mas é no campo monárquico que se encontram dois nomes que irão desenvolver posteriormente um trabalho doutrinário que ainda hoje é referência, a corrente do Integralismo Lusitano.

As figuras de Pequito Rebelo e António Sardinha, jovens à época, tinham na altura já um prestígio que os levaram a concorrer ao acto eleitoral, liderando os monárquicos. Não chegaram a ser eleitos, mas as votações que obtiveram mostravam a força que então ainda tinha a Monarquia no distrito.

Sidónio Pais e a Monarquia

Na noite de 14 de Dezembro de 1918, ele está decidido a embarcar no comboio rumo ao Porto, onde o aguardam tumultos populares. Todos lhe pedem para que fique, garantem-lhe não ser segura a viagem e que o aguardam os conspiradores. Sidónio responde-lhes: “Ou eles, ou eu!” e ruma ao Rossio. É então que, por entre um grande aparato policial e uma imensa multidão de aplausos e vivas, uma arma fura o cordão policial, e quando o major transpõe a entrada do grande átrio da estação, são disparados 2 tiros que o deitam por terra. Disseram, os que o agarraram, que antes de falecer suspirara a frase: “Morro, mas morro bem. Salvem a Pátria”.

Legado politico

É difícil ,hoje, compreender a realidade que todos os portugueses viviam em 1917, apenas 7 anos após a implantação da República.
As promessas feitas pelo partido republicano no decurso dos violentos ataques á Monarquia e aos Reis D. Carlos e D. Manuel II, que nunca tiveram efeito práctico ao ocaso da sociedade de então que em 5 anos se vé mergulhada no caos social onde até para atravessar uma simples rua, na Capital, é preciso estar atento a potenciais atiradores ou tumultos

Curta a passagem do ditador Sidónio Pais na Presidência: menos de um ano. Mesmo assim, fica o sidonismo. A direita conservadora, desde os integralistas lusitanos a republicanos , viram no militar e docente universitário, antigo ministro de Portugal em Berlim, o redentor de um país sobressaltado pela tomada de assalto do Poder por uma elite politica incapaz

Luís Cabral de Moncada, simpatizante da Alemanha e mais tarde, forte apoiante do Estado Novo, devoto, nas suas Memórias ao Longo de Uma Vida, descreve Sidónio como “um meteoro brilhante que atravessasse de repente o céu carregado da vida pública portuguesa”.

Fernando Pessoa chama-lhe o “Presidente-Rei”. Esbelto, sedutor, com uma enorme corte de admiradoras, desaparece aos 46 anos: “Varreu-o o vento Norte, depois de ter erguido nos seus braços a pátria”, lembra o poeta.

Sidónio Pais, presidente da República desde 27 Dezembro de 1917, depois do golpe militar, reassume o cargo, agora eleito por sufrágio directo, em Maio seguinte. Era um político adorado, confirma Luís Cabral de Moncada, que o conheceu em Coimbra. E havia razões para isso: os portugueses “sempre foram muito sensíveis à atracção da figura física” dos governantes “e ao brilho do seu épico heroísmo”. O ditador, “que chegou oito anos mais cedo que devia ter chegado”, tinha “bastante de ambas as coisas”.

Fardado de major, como se apresentava nos actos oficiais da presidência, antes raramente aparecia com a farda, “lembrava algo do Kaiser”, ou algum “cavaleiro da Távola Redonda”. E o povo, ainda segundo Moncada, amou-o como um D. Sebastião - do mesmo modo que o messiânico rei, também ele “teve o seu Alcácer-Quibir”.

No curto mandato, altera a lei eleitoral sem sequer consultar o Congresso, toma medidas próprias da ditadura que, anos depois, irá emergir em Portugal: suspende a imprensa oposicionista, fecha o Parlamento durante a guerra; altera a lei de separação entre a Igreja e o Estado, reata as relações com a Santa Sé. Chega a afirmar que a sua “consciência interpreta milhões de consciências”.

José Júlio da Costa, o homem que matou Sidónio Pais, há 90 anos na Estação do Rossio, explicava, numa entrevista, o motivo dos disparos contra o presidente que, passado o brilho inicial, se via acossado por forte contestação. Acusa-o de trair os ideais da Revolução Republicana, de ser amigo da Alemanha, de se juntar aos monárquicos e ao clero.

“Quem assassinou Sidónio por detrás da pistola de José Júlio da Costa?”, interroga Luís Cabral da Moncada, no seu livro de memórias, editado pela Verbo em 1992. Talvez a maçonaria, insinua.

“O assassino tivera, pouco antes, conversas com Magalhães Lima (…). O grão-mestre chegou a ser preso, mas foi logo a seguir solto.” José Júlio da Costa morreu no ano de 1946, em Lisboa, no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda. Tinha 52 anos, 28 deles passados na prisão, sem nunca ter sido julgado.

Perfil de Sidónio Bernardino da Silva Pais

Nasceu em Caminha, distrito de Viana do Castelo, no dia 1 de Maio de 1872, filho de Sidónio Alberto Pais e de Rita da Silva Cardoso Pais. Morreu vítima de um atentado, na Estação do Rossio, em 14 de Dezembro de 1918.

ACTIVIDADE PROFISSIONAL

Em 1888, inicia a carreira militar, entrando para a Escola do Exército e para a arma de Artilharia. É promovido a alferes em 1892, a tenente em 1895, e a capitão em 1906.

Paralelamente àquela, desenvolve uma outra, a de professor universitário, frequentando a Universidade de Coimbra e licenciando-se em Matemáticas em 1898. É nomeado professor catedrático da cadeira de Cálculo Diferencial e Integral daquele estabelecimento de ensino superior e aceite como professor da Escola Industrial Brotero da qual virá a ser director em 1911.

PERCURSO POLÍTICO

Desde os tempos da Universidade de Coimbra que se manifestou partidário das ideias republicanas, conspirando contra o regime monárquico. Data desta época a sua filiação na Maçonaria, na Loja “Estrela de Alva”, em Coimbra, com o nome de irmão Carlyle. Após a implantação da República é chamado para desempenhar os seguintes cargos:

-Deputado à Assembleia Nacional Constituinte;

-Ministro do Fomento do governo de João Chagas, desde 24 de Agosto de 1911;
-Ministro das Finanças do governo de Augusto de Vasconcelos, desde 7 de Novembro do mesmo ano;
-Representante do Governo nas manifestações do primeiro aniversário da implantação da República, na cidade do Porto;
-Ministro de Portugal em Berlim, desde 17 de Agosto de 1912, cargo que desempenhou até 9 de Março de 1916, data em que a Alemanha declarou guerra a Portugal.

Após o seu regresso a Portugal, assume-se como figura principal de contestação ao Governo democrático e encabeça o golpe de estado de 5 de Dezembro de 1917, que acaba vitorioso, após três dias de duros confrontos. Neste contexto vai desempenhar as funções seguintes:

-Presidente da Junta Revolucionária, desde 8 de Dezembro de 1917;
-Presidente do Ministério, ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros, desde 11 de Dezembro do mesmo ano;
-Presidente da República, desde 27 de Dezembro, até nova eleição;
-Presidente da República, eleito por sufrágio directo, desde 9 de Maio de 1918.

ELEIÇÕES E PERÍODO PRESIDENCIAL

Sidónio Pais modifica a lei eleitoral, sem sequer se dar ao trabalho de consultar o Congresso e é eleito Presidente da República por sufrágio directo dos cidadãos eleitores, obtendo, em 28 de Abril de 1918, 470 831 votos. Foi proclamado em 9 de Maio do mesmo ano.

Durante o seu senado, são dignos de realce os seguintes factos:

-Em Fevereiro, é alterada a lei da separação entre a Igreja e o Estado;
-Em Março, é declarado o sufrágio universal;
-Em Abril, as tropas portuguesas são derrotadas na batalha de La Lys,
-Em Julho, são reatadas as relações com a Santa Sé.

Passado o estado de graça, sucedem-se as greves, as contestações, e as tentativas de pôr fim ao regime sidonista. Em resposta, este decreta o estado de emergência em 13 de Outubro. Consegue recuperar momentaneamente o controlo da situação, mas o movimento de 5 de Dezembro estava ferido de morte.

Nem a assinatura do armistício, em 11 de Novembro, nem a mensagem afectuosa do rei Jorge V de Inglaterra correspondente ao acto vem melhorar a situação. Em 5 de Dezembro, Sidónio sofre um primeiro atentado, durante a cerimónia da condecoração dos sobreviventes do Augusto de Castilho, do qual consegue escapar ileso. Não conseguiu escapar ao segundo, levado a cabo por José Júlio da Costa que o abateu a tiro, na Estação do Rossio, em 14 de Dezembro de 1918.

Nota - José Júlio da Costa, que parece ter nascido em em Garvão no Baixo-Alentejo, não ofereceu resistência à sua prisão e foi internado no Hospital Miguel Bombarda, de onde seria libertado em 1921, pela ocasião da revolta Outubrista, por um grupo de 300 civis armados. Conduzido ao Centro Republicano António Maria Batista. lá foi homenageado (parece que nesta altura se homenageava os assassinos dos políticos de que o povo não gostava) e, seguidamente, ingressou na clandestinidade no norte do país.

A Maçonaria foi implicada no assassínio de Sidónio Pais, surgindo boatos de que José Júlio da Costa estaria envolvido com a mesma, embora nada tenha sido provado de facto. Mais tarde emigrou para Goa, casou, e é o avô de António Costa, actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Sendo ou não verdade, o mito ficou. Muito para além do dito e do seu significado, ficou pela atitude e pela imagem, entretanto apagada da memória colectiva. Hoje, 90 anos depois do seu assassinato, Sidónio Pais é pouco mais que uma avenida junto à rotunda do Marquês de Pombal. É, pois, justo que lhe assinalemos a efeméride.

fontes:
http://www.alamedadigital.com.pt/n7/ele ... onismo.php
http://dn.sapo.pt/2008/12/14/nacional/o ... isica.html