Rua Duque de Caxias, nº 950, Deodoro (Vila Militar), Rio de Janeiro. Há um ano, T&D registrou nesse endereço os 20 anos do Centro de Avaliação de Adestramento do Exército (CAAdEx), dentro do contexto de uma série de reportagens sobre simulação militar no Exército Brasileiro ( Ver T&D Nº tal). Em 2017, a reportagem da revista retorna aquela unidade para a inauguração da Divisão de Simulação e a apresentação de novos equipamentos, veículos e sistemas. Algumas das soluções foram criadas na própria unidade usando tecnologia nacional, e os novos equipamentos de simulação (em fase de testes e avaliações pelo CAAdEx), foram disponibilizados pela empresa suíça RUAG até o final do primeiro semestre corrente.
A cerimônia inaugural e demonstração de material contou coma presença do chefe do Comando de Operações Terrestres (COTER), general-de- exército Paulo Humberto César de Oliveira, do comandante da1ª Divisão de Exército Guarnição da Vila Militar, general-de- divisão Mauro Sinott Lopes, do 1º Subchefe do COTER, general-de- brigada José Eduardo Pereira, e dos coronéis Neuzivaldo dos Anjos Ferreira, ex-comandante do CAAdEx e atualmente no COTER, e o atual, coronel Urubatã Muterle Gama.
As mudanças efetuadas no CAADEX começam por uma nova fachada da organização militar, que foi ampliada e remodelada. A reforma das instalações que deram origem ao Centro de Simulação abrigam um conjunto de salas destinadas a simulação onstrutiva e virtual. O Sistema de Tiro de Armas Leves (STAL) ocupa a maior delas e realiza o treinamento virtual do tiro de fuzil e pistola em ambiente controlado, possibilitando o aprimoramento contínuo e facilitado, anulando riscos e minimizando custos. Dotado de grande realismo e precisão, permite ainda atiradores simultâneos, em cenários virtuais variados e de grande fidelidade. A
simulação construtiva faz o uso do software COMBATER para treinar um Estado-Maior. Criado pela empresa RustCon, pode ser utilizado em exercícios de nível Unidade, Brigada e Divisão.
Permite simular operações de combate nos diversos ambientes operacionais do território brasileiro, em exercícios que duram vários dias. Essa atividades são monitoradas a partir da direção do exercício (DIREX), em uma sala separada com servidores e terminais para uso dos controladores.
Durante a apresentação das instalações, Erlei Melgarejo, diretor de Produção e Negócios da Defii Ateliê de Software realizou demonstrações de dois produtos, a nova versão de um aplicativo para planejamento de operações táticas, o VCARTA, um "caixão de areia" tático virtual usado como ferramenta de apoio ao ensino (em junho de 2016 foram entregues 300 licenças da versao 2.0 à Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas - EASA), e o Sistema de Acompanhamento de Adestramento (SAAd), um projeto novo feito em parceria com o CAADEx. Essa ferramenta abrange uma base de dados com questões a serem aplicadas no adestramento. Essas perguntas são organizadas pelo aplicativo em baremas, onde os OCAs irão realizar o acompanhamento dos exercícios. Esses baremas são importados em tablets e as respostas são transmitidas para o servidor em tempo real, o que propicia ao controle do exercício acompanhar seu progresso. O SAAd servirá para extratificar os dados dos adestramentos fonte para a tomada de decisão sobre oportunidades de melhoria.
Novos equipamentos
No último dia três de março chegou a Divisão de Simulação do CAAdEx uma remessa de material da suíça RUAG. Entre as novas tecnologias testadas estão a família de coletes Gladiador (G11 Gladiator CTC Man Worn Simulation Unit), usados pelos combatentes na simulação viva, novos integrated laser unit (a "arma" de zerar o colete, usada pelos OCA), simuladores de granadas de mão (simulation handgranade), emissores laser acoplados ao cano do armamento, interagindo com o Gladiador e demais dispositivos. Uma particularidade do sistema de emissores laser da RUAG é que esse equipamento não precisa utilizar o tiro de festim para iniciar o processo (tal como o sistema DSET da Saab), o que significa menor desgaste do armamento, economia de munição no treinamento sem perda de qualidade nos resultados. A fidelidade do tiro é garantida por outro equipamento, o Aiming Alignment Unit (AAU), uma estação de aferição e calibração do laser de cada arma pago ao soldado. Com os equipamentos ligados, é feita a pontaria, o tiro e o equipamento informa os ajustes necessários, que devem ser introduzidos com uma pequena ferramenta que faz parte do kit.
Mais um disparo de conferência, e o sistema está calibrado para combater em uma simulação viva. A empresa suíça também forneceu dispositivos de emissão/recepção de sinais wi-fi, tanto do tipo miniatura, para colocação em áreas confinadas/dentro de viaturas, quanto maiores, tipo torre, para retransmissão de sinal em campo, de fácil montagem. Denominada Mobile Field Transponder possui alcance de 1,4 km, e pode ser distribuída pela área de instrução, criando um perímetro integrado on-line, com geo-referenciamento em carta e controle nominal dos soldados, viaturas e veículos. Segundo dados demonstrados pelo fabricante, até mil militares podem atuar em simulação viva conectados pelo sistema.
Made in CAAdEx
Para interagir com essas tecnologias, e buscando racionalizar procedimentos logísticos, a equipe do CAAdEx demonstrou para a comitiva do COTER dois novos veículos que estão sendo finalizados para inclusão em carga e foram concebidos/desenvolvidos pela OM. Um deles é uma Unidade de Comando e Controle Móvel, capacitada para acompanhar exercícios de simulação viva em campo com recursos de comunicação e transmissão/recepção de imagens a cores usando tablets e câmeras portáveis por um soldado. Os controladores responsáveis pelo exercício (seja da divisão de adestramento seja um comandante de subunidade) podem analisar cada ação e a evolução da simulação viva por intermédio de uma rede wifi criptografada. Os Tablets, a mochila com a câmera e sua antena são de fabricação nacional, assim como os monitores, instalação e integração desse material no caminhão cinco toneladas
militarizado, também dotado de antena receptora do tipo visada.Esse caminhão também pode disponibilizar e visualizar imagens de um drone com câmera colorida (transmitindo para um smarthphone acoplado) dando um amplo campo de visão das atividades sendo desenvolvidas durante uma instrução. O operador do drone faz parte da equipe destacada no veículo. Nas telas, é possível identificar nominalmente cada militar e seu posicionamento, em cartas digitais, mais as imagens das várias câmeras, já que o caminhão também dispõe de uma.
O outro veículo desenvolvido pelo CAAdEx e demonstrado durante a visita foi uma Reserva de Material Móvel que chega para resolver alguns contratempos encontrados durante os exercícios de simulação viva fora de sede. Configurado internamente com uma série de escaninhos e prateleiras adaptadas para cada tipo de equipamento, a Reserva Móvel paga aos militares em campo os ítens de simulação viva previstos, de lança rojões AT-4 e canhões sem recuo Carl Gustav até os coletes Gladiador e armamento preparado com emissor laser.
Identificado por leitura biométrica e código de barra registrado em rede, o militar procede a seguir com a calibragem do seu emissor laser acoplado ao armamento e está pronto para simular/combater. O interior do veículo é climatizado e dividido em seções, empregando um criativo sistema de ancoragem por varetas para entregar os coletes aos instruendos, e espaços para os cases que preservam o material durante deslocamentos e transporte/armazenagem.
Quando pronto, essa reserva móvel vai atender tanto aos fuzis PARA-Fal e metralhadoras MAG 7,62 mm, quanto os novos fuzis M-16A2 e Imbel IA2 de 5,56mm recentemente entregues ao CAAdEx.
Esses dois veículos deverão dar maior agilidade e eficácia as ações fora de sede, melhorando a logística e o controle do desgaste de material. Igual atenção é dispensada ao material em carga na OM, as reservas de material estão sempre climatizadas e organizadas, e um criterioso programa de rodízio e manutenção mantém a disponibilidade alta.
Em ação
Toda essa tecnologia foi posta em uso durante demonstração realizada no pátio do CAAdEx. A Força Oponente (FOR OP) ataca uma tropa inimiga destruindo uma viatura Marruá com um IED (armadilha explosiva), e um caminhão usando uma arma anticarro AT-4, ambos simulados.
No combate de rua que se seguiu, baixas são registradas nos dois lados, inclusive vitimados por boobtraps simulados. Enquanto os socorristas resgatam feridos e são avaliados nos procedimentos, o combate chega ao fim.
Em outro momento da demonstração, ocorreu um combate em uma posição distante do caminhão de Comando e Controle, visualizado no interior deste através das câmeras e tablets disponíveis aos OCA. Cada homem estava referenciado e identificado nas imagens recebidas on-line. Em outra parte da demo, um atirador de elite (Caçador), integrante da Cia Prec (Precursores Paraquedistas da Brigada de Infantaria Paraquedista), executa um tiro de mais de 640 metros de distância, atingindo simuladamente um inimigo equipado com o Gladiador.
Para alcançar esse feito, o caçador usou um fuzil Imbel AGLC 7,62mm dotado com o emissor laser calibrado para aquele tipo de armamento. Dessa forma, um amplo leque de possibilidades para a realização de exercícios de simulação viva em campo estão em gestação e estudo no CAAdEx. Com as demandas cada vez maiores por adestramento de tropas profissionais para emprego no país e no exterior, em missões de Paz e similares, essas tecnologias se revestem de grande significado. Adicionalmente,
simulações podem ser feitas em rede com outros núcleos do Exército como a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO), a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e o ACA Sul de Santa Maria (RS).
FONTE / CRÉDITOS: Roberto Caiafa