Galiza

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koroshiya

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Galiza
« em: Dezembro 20, 2011, 11:03:34 am »
Olá,

Encontrei este fórum de maneira casual buscando na Internet informações sobre o relacionamento entre Portugal e a Galiza. Observei que a questão da Galiza tem vindo a ser tratada neste espaço em várias ocasiões. A conclusão é sempre a mesma: que devem ser os galegos quem mirem de arranjar a sua vida e que Portugal pouco pode ajudar enquanto o povo galego não decida exercer a sua soberania. Evidentemente, estou inteiramente de acordo com esta apreciação.

Porém, uma cousa é não ajudar e outra cousa é boicotar, que é o que fazem certos políticos portugueses. Um exemplo é o deputado europeu senhor Vasco Graça Moura quem, a petição de organizações supremacistas espanholas, enviou para a Comissão Europeia um relatório não solicitado no que se denunciava, com mentiras, a falsa "imposição" do galego-português na Galiza em detrimento do castelhano (quando a situação é justo a contrária). Outro caso é o do ministro da República senhor Paulo Portas, quem, no conselho de ministros da CPLP, foi o único a votar contra a admissão da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) como observador consultivo na CPLP (vetando assim a presença dos galegos).

Chama a atenção como, para não incomodar os seus colegas espanhóis, determinados políticos portugueses estão a agir sistematicamente contra os interesses da Galiza, que neste caso são também os interesses de Portugal.

Saudações cordiais da Galiza,

Koroshiya Itchy
 

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koroshiya

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Re: Galiza
« Responder #1 em: Dezembro 20, 2011, 11:11:57 am »
Se calhar cumpre explicar melhor por que Portugal deveria estar interessado na presença da Galiza na CPLP:

1.- Por razões históricas: Na Gallaecia e posteriormente no Regnum Suevorum ou Regnum Gallaecorum está o berço da língua portuguesa (e da cultura portuguesa).

2.- Por razões económicas: http://koroshiyaitchy.wordpress.com/201 ... sa-lingua/

3.- Por razões políticas: A língua galega é co-oficial no Reino da Espanha. Se admitimos galego e português serem a mesma língua, resultaria que o português seria, de facto, oficial em dous estados da União Europeia, com todas as vantagens políticas e económicas que se poderiam derivar do carácter transfronteiriço da nossa língua.
 

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Re: Galiza
« Responder #2 em: Dezembro 22, 2011, 12:49:01 pm »
Citação de: "koroshiya"
Olá
Bem vindo

Citação de: "koroshiya"
Outro caso é o do ministro da República senhor Paulo Portas, quem, no conselho de ministros da CPLP, foi o único a votar contra a admissão da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) como observador consultivo na CPLP (vetando assim a presença dos galegos).

Tanto quanto sei, o órgão oficial da língua Galega é a Real Academia Galega, a haver um pedido de admissão este pedido teria sempre de ter sido submetido pelas respectivas entidades reguladoras oficialmente reconhecidas por Madrid... A CPLP, é composta por entidades oficiais apenas. Se eu fosse o MNE, faria exactamente o que o Paulo Portas fez.

Citação de: "koroshiya"
Chama a atenção como, para não incomodar os seus colegas espanhóis, determinados políticos portugueses estão a agir sistematicamente contra os interesses da Galiza, que neste caso são também os interesses de Portugal.
Portugal, como país soberano, não pode proferir juízos de valor sobre uma região que faz parte do território de outro país. Os interesses de Portugal na Galiza não vão além dos interesses em Castela-Leão ou a Estremadura espanhola, são interesses de carácter transfronteiriço, sócio-cultural e económico.

Citação de: "koroshiya"
1.- Por razões históricas: Na Gallaecia e posteriormente no Regnum Suevorum ou Regnum Gallaecorum está o berço da língua portuguesa (e da cultura portuguesa).
Ninguém diz o contrário, mas haver integração na CPLP, o pedido teria de ser sempre submetido por órgão oficiais reconhecidos quer por Madrid, ou por A Coruña, não é o caso.

Citação de: "koroshiya"
3.- Por razões políticas: A língua galega é co-oficial no Reino da Espanha. Se admitimos galego e português serem a mesma língua, resultaria que o português seria, de facto, oficial em dous estados da União Europeia, com todas as vantagens políticas e económicas que se poderiam derivar do carácter transfronteiriço da nossa língua.
O português e o galego divergiram, já não são a mesma língua desde sensivelmente o séc. XIV. Em todo o caso, Madrid apenas reconhece o castelhano como língua oficial a nível de relações externas, mesmo que o seu pressuposto se verificasse, continuaria a haver apenas um país na UE com a língua portuguesa com estatuto oficial, Portugal, e sendo a Galiza parte de Espanha, a vossa língua oficial na EU seria sempre o castelhano.

Eu próprio sou descendente de galegos que imigraram para Portugal, não concordo com a políticas sócio-culturais de Madrid no que respeita a identidade cultural... Mas não nos cabe a nós, portugueses, fazer absolutamente nada. De resto a Galiza já está ligada a Espanha à tanto tempo que nem sei se apoiaria a sua separação de Espanha.

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koroshiya

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Re: Galiza
« Responder #3 em: Dezembro 23, 2011, 04:53:09 pm »
Antes de mais, gostaria de saber em que língua estou a escrever. Acho que é galego, pois eu nunca estudei a língua portuguesa. Gostaria de saber se o meu galego, com todas as evidentes diferenças, deve ou não ser considerado a mesma língua que o português, ou se essas diferenças são grandes demais.

En segundo lugar, se é impossível para a CPLP admitir a AGLP como observador consultivo, por que foi o senhor Paulo Portas o único ministro que votou contra esta proposta, tendo todos os outros ministros votado a favor?
 

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Re: Galiza
« Responder #4 em: Dezembro 24, 2011, 01:15:07 pm »
Antes de mais, desejo-lhe a si (e a todos os que estão a ler este post) um bom Natal.

Citação de: "koroshiya"
Antes de mais, gostaria de saber em que língua estou a escrever. Acho que é galego, pois eu nunca estudei a língua portuguesa. Gostaria de saber se o meu galego, com todas as evidentes diferenças, deve ou não ser considerado a mesma língua que o português, ou se essas diferenças são grandes demais.

En segundo lugar, se é impossível para a CPLP admitir a AGLP como observador consultivo, por que foi o senhor Paulo Portas o único ministro que votou contra esta proposta, tendo todos os outros ministros votado a favor?

As semelhanças com o português são inegáveis, não existe ninguém que possa afirmar o contrário, mas vamos por partes:

-O galego não é uno, mais do que os dialectos do português existem subdialectos que assumem uma morfologia completamente diferente do galego que você aqui escreveu, estou essencialmente a falar do galego falado em zonas de transição, o Galego-Leonês e o Galego-Asturiano...
- O português actual evoluiu a partir de um de esses sub-dialectos
- A partir do Séc. XIII e XIV, a diferença do português e do Galego começou a acentuar-se, do lado português muito por culpa D' El Rey D. Dinis (primeiro rei português a legislar sobre a língua), e do lado Galego, com o surgimento do Castelhano como língua oficial.
-Actualmente ambas as línguas evoluíram, e muita da evolução do Galego nem sequer foi forçada, o Galego aproximou-se naturalmente do Castelhano, essencialmente a um nível erudito.

Actualmente, eu não considero o Galego o mesmo que o português, é antes algo que deve ser preservado e protegido dos Castelhanismos.

Em relação à CPLP, considero bastante mais interessante a Galiza fazer parte dela do que o Senegal por exemplo, o facto, é que o pedido de integração não proveio de nenhum órgão oficial. Os trabalhos da CPLP levam muitas vezes à implementação de medidas oficias, sejam elas a nível de facilidades de transito entre os respectivos constituintes, sejam elas unicamente a nível sócio-cultural... medidas essas que a sua instituição não teria quaisquer meios de os por em marcha...

Se alguma vez o pedido de integração provier de algum órgão oficial, penso que não será recusado. Mas não nos cabe a nós fazer o vosso trabalho, têm de ser vocês.

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koroshiya

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Re: Galiza
« Responder #5 em: Dezembro 25, 2011, 01:58:34 pm »
Primeiro, acho que há uma pequena confusão. O veto do senhor Portas não tem a ver com a admissão da Galiza como observador na CPLP mas com a admissão da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) como observador consultivo. A admissão da AGLP na CPLP não supõe problema nenhum nem desde o ponto de vista regulamentário nem desde o organizativo. O senhor ainda não explicou por que todos o ministros votaram a favor a exceção do ministro português. Acho que todos sabemos bem que Portas optou por sabotar os esforços galegos unicamente para não incomodar a Espanha. Foi mais um gesto de submissão das elites políticas portuguesas.

Segundo, bom, fico a saber que a língua na que eu estou a escrever não é português. Eu não sou linguista e portanto não vou discutir essa apreciação. Porém, existem inúmeros linguistas que acham galego e português serem duas variantes do mesmo sistema linguístico (como os professores Malaca Casteleiro, Barreto Rocha, Evanildo Bechara, etc):

http://www.youtube.com/watch?v=e0F1TBH4zMQ

http://www.youtube.com/watch?v=bIqFWa92Zzo

http://www.youtube.com/watch?v=qcjDLPk-sKQ

De facto, antes da década dos 80 do século XX, eram muito exóticos os romanistas que achavam que o galego era uma língua distinta do português. A distinção foi feita por razões políticas e não linguísticas. Simplesmente porque a Espanha não admite uma outra língua internacional, para além do castelhano, no seu território. A Galiza tem que eleger se quer ser monolingue em castelhano ou bilingue galego-português / castelhano. Não há mais opções. É esta uma escolha que apenas os galegos podem fazer. Como disse na minha primeira mensagem, eu não espero "ajuda" de ninguém (e menos de Portugal, o qual neste momento nem está em condições de se ajudar a si próprio). Mas sim gostaria de que determinados políticos portugueses deixassem de boicotar o trabalho dos galegos apenas para parecerem mais "simpáticos" perante "nuestros hermanos".