« Responder #210 em: Fevereiro 07, 2021, 10:30:35 am »
Hotelaria à beira do colapsohttps://visao.sapo.pt/atualidade/economia/2021-02-06-hotelaria-a-beira-do-colapso/Com a atividade praticamente parada, o setor hoteleiro “está numa encruzilhada complicada”. Com dívidas acumuladas, dificuldades de tesouraria, moratórias a apontar para mais dívida futura e uma possível normalização prevista só para 2023, o desemprego pode estar ao virar da esquina. Dentro de algum tempo, isto pode ser o descalabro”, prevê o presidente da APHORT (Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo), Rodrigo Pinto Barros. Se há um ano, o Porto fervilhava de turistas e se anunciavam novos hotéis todas as semanas, hoje o cenário não podia ser mais oposto. Algumas unidades anunciadas retardaram a abertura, as construções pararam à espera de melhores dias. Os que já estavam em plena atividade vêm agora o futuro com um imenso ponto de interrogação.“Cerca de 70% da hotelaria do Porto está encerrada. Os restantes, estão em serviços mais do que mínimos. Alguns 5 estrelas estão a trabalhar com 3 ou 4% de taxas de ocupação”, reforça o dirigente da APHORT, com sede no Porto, em declarações à Visão. Na sua opinião, os gestores hoteleiros “estão muito preocupados” e não sabem ainda bem “como vão aguentar” as suas empresas.
“Não tarda nada, o setor vai ter de começar a olhar para os seus quadros de pessoal e começar a despedir efetivos. É uma guerra que está a começar”, adianta. “Para já, estão a tentar manter, ainda muito amparados no lay off, mas não sei por quanto tempo haverá esta vontade”.
Quanto tempo se vai aguentar isto? “Os que estavam a ser bem geridos, mas muita gente vai ficar pelo caminho.” O retrato é duro: “Isto não vai ser fácil. Há um patamar muito apertado de folga de capitais, muitas empresas no limite de tesouraria.”
Algarve: “A desgraça total
No Algarve, região turística por excelência, “a situação é gravíssima, é a desgraça total”, diz Elidérico Viegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). Depois de um ano de gestão deficitária e com o mercado inglês vedado, o Algarve tem o setor completamente parado. “Estão cerca de 20% abertos, mas com taxas de ocupação de 6 e 7% em janeiro. E alguns até decidiram encerrar agora, quando se devia estar a preparar a época. A retoma devia ser agora na Páscoa, mas está tudo muito comprometido, com voos muito reduzidos”, adianta, prevendo também um aumento do desemprego.
“Estamos numa encruzilhada complicada. Não sei se o Estado não sabe ou não entende”. Elidérico Viegas, indignado com os fracos apoios governamentais, considera mesmo “uma afronta não ter direito ao lay off simplificado”, pois só puderam beneficiar dos apoios à retoma progressiva “e não houve retoma nenhuma”. Continua: “O Governo não tem estado à altura dos acontecimentos, nem de perceber as condições daquele que é o maior setor exportador do país, o turismo. Aqui não tivemos apoios direcionados e os que existem estão desajustados, o que vai agravar a situação e levar ao colapso financeiro”.
Transformar dívida em capital
Com as tesourarias asfixiadas, as unidades hoteleiras têm as condições criadas para ficar cada vez mais nas mãos das instituições de crédito e dos fundos de investimento abutres. “Hotéis que já não tenham dívidas para a sua consolidação não há muitos. A manter-se a situação, entrarão em colapso financeiro”, avisa o dirigente da AHETA, que só considera que “situação ainda não é tão grave por causa das moratórias”.
“Mas isto é empurrar com a barriga. Não resolve a dívida, nem os custos fixos”, lamenta. As preocupações do seu homólogo do Porto, Rodrigo Pinto Barros, vão no mesmo sentido: “Tudo vai ter de ser pago um dia. Acumula-se a dívida de longo prazo, junta-se moratórias à divida corrente. Muitos não vão conseguir pagar e vão ficar pelo caminho. Daqui a uns anos pode ser o descalabro.”
Até porque, mesmo com o hotel encerrado, os custos fixos continuam a cair na conta: IMI, segurança social, seguros, água, luz… “O Governo e o mundo financeiro vão ter de penar em alternativas”, avança Rodrigo Pinto Barros. Elidérico Viegas vai mesmo mais longe: “O Estado vai ter de dar garantias às instituições financeiras para que se transforme dívida em capital social. E vai ter de atribuir subvenções a fundo perdido para apoio à tesouraria destinadas a pagar custos fixos.”
Normalização só em 2023
De uma coisa, ambos têm a certeza. Que o setor chegará extremamente fragilizado à retoma e muitos não chegarão à normalização da atividade, prevista só lá para 2023. “As empresas débeis não estarão em condições de disputar a retoma”, pois esta será amplamente disputada por várias regiões e grandes operadores. “Vão ser necessários uns 4 a 5 anos para recuperar disto tudo”, vaticina o dirigente da AHETA, que lembra ainda que “todo o circuito turístico está muito abalado”, com “situações muito complexas na intermediação” e com “grandes operadores turísticos também a falir”.
O cenário é muito diferente da crise de 2008/2009, para pior. Se nessa altura o setor se recompôs com alguma facilidade e até se seguiu um período de crescimento, agora não se adivinha que seja assim tão fácil. Pelo menos em cidades como o Porto, por exemplo.
“Na altura, a oferta era muito menor. Mas até 2019 houve a abertura de imensos hotéis. Vai andar tudo atrás do mesmo osso”, prevê o dirigente da APHORT. Depois, “o mundo inteiro está a viver isto e todos vão querer atrair clientes”, diz Rodrigo Pinto Barros, atento aos indicadores das companhias aéreas que relatam que a atividade só será parecida com 2019 lá para 2023. E isto anda tudo ligado.
Deixa-nos as suas interrogações: “Isto vai ter de se recompor. Qual a melhor maneira? Ainda não sabemos. Vamos ter de baixar preços? Haverá guerra de preços? Que regiões do mundo vão querer disputar mercado? Não vai ser um setor com vida facilitada.”