Estamos em 2022 e falamos em navios para a terceira década do século, logo, evidentemente uma corveta é uma corveta para esse tempo e não um navio do século passado.
Um maior numero de fragatas, aparenta ter como objetivo manter o número de efectivos e justificar o futuro orçamento para pessoal, que deve entrar em linha de conta nos cálculos dos orçamentos do ministério da defesa.
Os navios do tipo corveta, fariam sentido com caracteristicas como :
2.000 a 2.500t de deslocamento
Uma peça de 76mm
Um sistema de defesa anti-aérea aproximado (CIWS/Goalkeper etc ...)
Sonares modernos, juntamente com equipamento de luta anti-submarina, torpedos e UAVs com com capacidade para lançar e recuperar sensores.
Uma velocidade com a propulsão ao máximo que permitisse atingir um mínimo de 27 nós... de preferência mais de 30.
Corta-se o custo dos sistemas de defesa anti-aérea, que são caros, mas que são necessários em marinhas de países como Israel, Dinamarca, Finlandia Suecia e afins, porque estes países têm que se defender de inimigos com base em terra, quer aeronaves, quer mísseis anti-navio com base em terra.
Nós precisamos de navios anti-submarinos para o atlântico, onde não há ameaças aéreas de monta e por isso podemos dar-nos ao luxo de cortar nos sistemas anti-aéreos.
Mas os navios não podem ficar pelos 24 nós (21 nós então é piada)
Um navio anti-submarino, tem que ter capacidade para se defender... de submarinos... E a agilidade é absolutamente vital.
O NPO é uma plataforma tão estável quanto possível e para fiscalizar, não precisa de grandes canhões. E não pode atingir velocidade compatível com esta função.
Pode-se partir para um alongamento do navio, mas isso é outro projeto. Ou seja ... ficar à espera de 2040 ou coisa que o valha, se considerarmos o que este projeto demorou a desenvolver.
Defender os NPO artilhados, é abrir caminho para que esses NPO sejam as corvetas que nunca foram feitos para ser.
E sim, isto é ridiculo, estamos numa situação patética.
A ZEE e a ZEE extendida são designios nacionais, mas nós não vamos ter dinheiro para garantir a sua segurança de um ponto de vista militar. NUNCA !
Então, temos que desenvolver capacidade para termos navios que possam servir para alguma coisa, poucos mas bons.
Desta forma, garantimos que ainda acrescentamos algum valor militar a forças internacionais, e justificamos as nossas pretensões à ZEE extendida.
E sim, quando falo de duas fragatas, falo de navios como as Bazan espanholas ou equivalentes.
Desde logo, há um dado indiscutível: Marinhas pequenas não se podem dar ao luxo de ter meios especializados/mono-missão.
O maior número de fragatas (4 no mínimo), serve para ter no mínimo capacidade de ter sempre 2 operacionais em simultâneo, ocasionalmente 3, o que é impossível com apenas 2. Visa tornar a MGP minimamente relevante, e capaz de responder tanto aos compromissos internacionais, como a vários tipos de ameaças, tanto a uma força-tarefa, como na defesa territorial. E continuo a achar 4 pouco, reduzir o número só faz realmente sentido se as novas fragatas forem realmente um salto qualitativo considerável.
Essa corveta mencionada, não ficava a menos de 150 milhões cada uma. Dependendo da versão da Oto Melara, do radar, do conjunto ASW, de quantos e quais CIWS, o preço facilmente ultrapassava os 200 milhões. E tudo isto, para ter navios que perdem 2 capacidades cruciais: ASuW e AAW. Não faz qualquer sentido.
E os CIWS não garantem protecção suficiente contra mísseis. Um pequeno ataque com 2 ou 3 mísseis pode ser o suficiente para saturar os CIWS. CIWS são bons, como último recurso, caso após um ataque de saturação de mísseis, um deles tenha passado as primeiras camadas defensivas.
Quanto a não termos ameaça aérea, é errado. Já foram mencionados os submarinos com mísseis anti-navio, mais os bombardeiros russos capazes de chegar ao Atlântico, aviões de patrulha marítima. Só estas ameaças, podem tornar praticamente inúteis as ditas corvetas.
Mas há mais, as baterias costeiras de mísseis, qualquer país pode comprar. Também cada vez mais aeronaves têm acesso a mísseis anti-navio, ou bombas guiadas capazes de afundar um navio. A artilharia convencional e de rockets está a evoluir, é uma questão de tempo até os países começarem a usar para a função anti-navio (em vez de usarem baterias costeiras de mísseis mais caras). Depois temos os UAVs, tanto os de médio/grande-porte com mísseis (como o Bayraktar) capazes de danificar um navio como as tais corvetas, a enxames de drones mais pequenos, kamikaze.
E há mais! Uma fragata com capacidade AA, também acrescenta uma camada anti-aérea/anti-míssil à defesa aérea de um país. E isto é importante, para um país que não tem baterias terrestres modernas. E para termo de comparação, uma única bateria Patriot, custa praticamente o mesmo que uma fragata completa, com capacidade AA equivalente ao Patriot incluída.
E abdicar da capacidade anti-navio também é absurdo.
Depois, temos de relembrar que, em qualquer dos casos, o tipo de navio que vier, terá que operar no mínimo 30 anos, se não mesmo 40. E para isso, tem que se ter navios que consigam dar respostas a ameaças que hoje são vistas como "improváveis". Ter uma classe de corvetas, focadas numa missão, é ter vista muito curta, quando não sabemos as ameaças das próximas décadas.
Já vi que a questão das guarnições continua a ser problema. Mas é bastante simples de resolver. Antes, eram necessários entre 500 e 600 marinheiros para guarnecer 3 fragatas. Hoje, consegues esse feito com uns 450 ou menos. Se ainda assim quiserem implicar com isso, pode-se começar por abdicar da missão de patrulha costeira da Marinha, cedendo esta missão para a GNR (que até tem acesso a navios financiados pela UE, que a MGP não tem), e deixamos de ter, por exemplo, capitães de fragata a comandar patrulhas e lanchas. Temos uma Marinha que se quer a fazer mil e uma missões, com orçamento para cumprir 1/3 delas, e depois ainda se desperdiça o pouco pessoal que tem, em missões de cariz não-militar.
Quanto à ZEE, e para concluir, não vamos defender todos os kms quadrados do nosso mar. É óbvio que ninguém vai "apontar" mísseis ou largar bombas no meio da água. É preciso sim dar resposta a qualquer incidência num qualquer ponto da ZEE, ser capaz de escoltar navios nossos, ou de aliados, nas nossas águas, e garantir a sua protecção enquanto navegam, garantir a ligação EUA-Europa pela via marítima, defender os arquipélagos e o continente, e no fundo ter capacidade dissuasora. E as fragatas reforçam isto.