Meus caros, totalmente de acordo com o que aqui foi agora apresentado. São factos, História, e ninguém está ou deverá negá-los.
Agora, neste momento é óbvio que a Rússia, ao abrigo daquilo que acordou com a UE, EUA, Ucrânia e sobretudo NATO, tem um pretexto para poder agir tão legítimo quanto outros que já o fizeram em situações análogas.
E estamos a falar da sua própria segurança.
Se é justo? Não, principalmente para os ucranianos. Como não foi para os iraquianos os afegãos, os líbios... que também viram os seus paíes invadidos por terceiros.
E não venham com a história de que foi para libertação dos povos e outras coisas afins porque todos sabemos que não foi.
Além de que a ONU nunca reconheceu esse direito.
Continuo a defender que a NATO não deverá alargar o seu número de países, muito menos a leste.
E mais, caso a inércia e comodismo da UE não fosse o que foi desde o fim da guerra fria (há mais de 30 anos...) e esta não representasse a única forma viável de nos defendermos perante as potencias que eventualmente nos possam atacar (pelo menos algumas), já deveria ter sido extinta.
Assim poderíamos em definitivo voltar uma página da nossa História.
Já ouvi um sem número de comentadores, cá e no estrangeiro a afirmar que aparentemente o travão de tudo isto passa precisamente pela questão da presença da Ucrânia na NATO. Não entendo a dificuldade.
O que é que a Rússia acordou com a UE, Ucrânia, NATO, EUA que legitima uma invasão com 14mil mortos, anexação de território dum país e ainda mobilização de mais de 130mil homens e equipamento militar? Será os acordos de Helsinquia? A Carta de Paris? O Memorando de Budapeste? O Tratado de Amizade Rússia-Ucrânia? O Nato-Russia Founding Act? Ao longo destes anos todos ainda ninguém conseguiu mostrar-me quais foram os tratados ou acordos assinados pela Rússia que tornam as invasões dos seus vizinhos legais.
Talvez o problema é que durante mais de 30 anos se tenham fechado os olhos aos vários crimes cometidos pela Rússia para ter acesso aos recursos energéticos russos?
- Rússia alimenta a guerra na Geórgia nos anos 90? Mas e o gás russo?
- Rússia destrói Grozny e comete inúmeros crimes de guerra na Chéchnia? E o petróleo russo?
- Rússia ocupa a Transnistria? E o fertilizante e os minerais russos?
- Rússia invade a Geórgia? E como é que chega o material ao Afeganistão?
- Rússia investe milhões para aumentar a visibilidade política de partidos de extrema-esquerda e direita? Não faz mal porque os bilionários russos lavam cá todos o dinheiro deles.
- Rússia anexa a Crimeia? Isto já começa a fazer lembrar os anos 30... Mas e o gás russo?
- Rússia invade um país para "proteger os russos nesse país". Como é que se chamava aquele senhor que queria proteger os compatriotas na Checoslováquia?
- Rússia comete crimes de guerra na Síria levando ao êxodo de milhões de refugiados sírios? Realmente parece uns senhores em Espanha nos anos 30... Mas... Mas...
- Rússia ameaça "soluções técnico-militares" se um país entrar para uma aliança militar para evitar ser invadido... Como é que se chamava aquela cidade na Polónia que o senhor que protegia os compatriotas quis que a Polónia desse para evitar a guerra?
A questão não é a NATO, é o conceito russo de "Ruskiy Mir". É um conceito, não só colinialista e racista, mas também extremamente revanchista. Tem sido promovido por Putin desde 2007 e abrange todo o espaço dominado pela ex-URSS e Império Russo. Por isso acho incrível que ainda hoje se ache que o problema seja a "expansão da NATO" (como se os países não tenham muitas vezes de andar anos a pedinchar para serem aceites) e ninguém fale na vontade da Rússia de dominar vários países pela força. E não foi agora que a Rússia começou.
A NATO não anda a pedir que os países se candidatem. Os países vizinhos da Rússia é que, pela presença dum regime revanchista na sua vizinhança, procuram a segurança na NATO.
Mais... se em 2008 a senhora Merkel não tivesse vetado a entrada da Geórgia e da Ucrânia na NATO, garanto que neste momento a Rússia não invadia nem colocava 100mil homens na Geórgia e na Ucrânia. Tal como não faz com a Estónia (a meros 120km de São Petersburgo), nem com a Noruega (a menos de 100km da base naval de Murmansk). Nem sequer com o Azerbeijão que tem uma aliança militar com a Turquia, como se viu na mais recente guerra do Karabakh (apesar de um membro da CSTO estar a ser ameaçado e sob ataque).
O que é giro é que o Lampuka manda postas de pescada sobre a utilidade ou não da NATO, mas vamos então ao que interessa:
Em caso dos EUA abandonarem a Europa (como se temeu que acontecesse num segundo mandato Trump e que levou a um "ai Jesus" em vária capitais europeias) o Lampuka abdica do quê para pagar um exército europeu capaz de ombrear com a Rússia? Do SNS? Da escola pública? Da Segurança Social? É que até agora ninguém me explica quem e como é que vai pagar uma força nuclear suficientemente dissuasora (os russos gozam com os franceses que têm uma força nuclear bastante capaz de 300 ogivas nucleares), um sistema de mísseis anti-mísseis balísticos, largos milhares de carros de combate actualizados, aviação de 5ª/6ª geração, sistemas de defesa anti-aérea, etc.
E depois quem é que consegue aglutinar o mínimo denominador comum no que a interesses estratégicos de cada estado-membro diz respeito? São os franceses que estão virados para o Norte de África e Sahel e mesmo aí estão a ser comidos pelos russos? São os alemães que estão relutantes a usar forças militares na maioria dos contextos? São os polacos que temem (com razão) o avanço da Rússia em direcção às suas fonteiras, sem que ninguém na Europa Ocidental lhes dê ouvidos? São os italianos, que nem em relação ao seu próprio país conseguem encontrar esse tal mínimo denominador comum?