De facto assim é Lancero,
As DIC e EIC estão realmente atoladas em processos, diria que isso deve ser entendido como “normal”. O português gosta de papéis e os políticos fazem-lhe a vontade... onde não houver necessidade dum papelinho, cria-se ... inventam-se logo 4 ou 5 folhas A4 todas em triplicado para tapar esse "vazio".
Sabia que, a titulo de exemplo, um agente a quem esteja distribuído (ou que por acaso lhe venha “cair ao colo”) um caso duma viatura furtada tem que preencher 15 impressos todos diferentes caso a encontre?
Somos um país de burocratas. Nem imagina quanto a burocracia contribui para a inoperacionalidade das nossas forças (é só papeis, papelinhos, procedimentos e rodriguinhos, um não mais acabar de relatórios, formulários e formalidades… montes de garantias e grantismos, tudo em prol do prevaricador … e tudo bem feitinho sob pena do juiz considerar tudo nulo). A uma hora de diligências na rua, de serviço efectivo, corresponderá pelo menos uma hora de papelada em gabinete.
No que à GNR diz respeito os procedimentos são mais ou menos os mesmos, afinal o CPP e outra legislação aplicável é a mesma, mas o serviço em geral é bem menos e mais nas calmas se comparado com a PSP; a geografia e a concentração populacional assim determinam …
Não tenho presente, não recordo, mas o número anual de ocorrências da PSP equivale ao da GNR multiplicado por muitos. Isso reflecte-se na mesma proporção na base, para o agente da PSP e militar da GNR.
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As coisas não são assim tão lineares. O agente jovem nem sempre tem a estabilidade e disponibilidade necessárias (não falo só de tempo). Também não se pode decretar a IC como uma “fase” da carreira obrigatória e para todos porque nem todos têm aptidão/vocação para aquilo, não é generalizável. Impensável por toda a gente a passar por lá, não dá. Em termos de gestão de recursos humanos e de formação seria também altamente pernicioso e penoso.
Por outro lado ter família também pode ser significado de vidinha arrumada e estabilizada, logo, mais tempo, menos desassossego, mais maturidade, etc … Ninguém pode ser excluído, ate porque a tarimba tem aqui um papel muito importante.
Mas não há dúvida que deve ser altamente gratificante quando se vê o culminar de horas e horas de trabalho numa condenação.
Não é bem assim, ou pelo menos não é generalizável.
O Policia faz o seu trabalho e entrega-o ao MP que é quem tutela o processo, o recebe e formula ou não a acusação (arquivando-o). Se o procurador não pedir mais diligencias o caso está encerrado para o policia a menos que seja (normalmente é) chamado a depor em sede de julgamento onde nas mais das vezes só chega (se chegar) vários anos mais tarde e não poucas vezes já mal se recorda dos detalhes.
Tem de assim ser. Porquê?
O trabalho é tanto, tão absorvente e nos mais dos casos tem tão pouco de encantador que o que mais faltava era o pessoal andar a roer a mioleira com processos anteriores e já despachados para outra instância. Bastam para isso os actuais, os que tem na gaveta ou em cima da mesa.
(Depois… raramente o agente está presente quando é lida a sentença, logo, com a mesma raridade delas tomará conhecimento. Não sendo obrigado a estar presente quando essas são lidas, não vai, já lhe basta lá ir quando tem mesm o que ser. Lembrar que as idas a tribunal não são pagas, nem sequer os transportes… quer calhem nos dias de serviço, folga ou férias…)
Numa perspectiva pessoal há ainda uma outra razão – e a mais importante – para dissociar o meu trabalho duma eventual condenação.
É a seguinte:
Tem a ver com o sistema dual em que vivemos. Entendo que não existe correspondência entre o mal e os danos que a bandidagem provoca à sociedade e às pessoas com as penas que lhes são aplicadas, quando o são.
Por isso e para bem da minha saúde mental nem quero saber das penas que lhes são impostas, se o forem. Não é que não ache essa parte interessante ou displicente, só que conscientemente a ignoro que é para não sofrer, para não desmotivar, para não “arrear”.
Faço a minha parte, o meu trabalho é lavá-los a tribunal; os magistrados (juízes e procuradores) que façam a deles.
Abraço