Em relação á fragilidade dos tanques russos em termos de protecção e a vulnerabilidade do sistema
autoloader do T-72. Historicamente o efeito “Jack-in-the-box” tem afectado os tanques com muita frequência. Os tanques são essencialmente caixas seladas, repletas de munições de alto explosivo (mais o propelente) além do combustível e outros materiais inflamáveis. Se houver penetração do casco e algum fragmento ou estilhaço atingir uma munição, o efeito é devastador. A explosão vai provocar uma reacção em cadeia com outras munições (em milissegundos) e a enorme pressão criada tem de escapar para algum lado. No caso de um tanque, o anel entre o chassis e a torre costuma ser o ponto de ruptura, daí a torre ir pelos ares facilmente. Abaixo coloco algumas fotos desse efeito em tanques na WWII, um fenómeno extremamente comum. Não sei em particular a história de cada foto, a explosão da torre pode ter ocorrido no momento do impacto como após largos minutos (quando o incêndio detona as munições, nesse caso chamado
cook-off) mas o efeito é o mesmo;
Até o Tiger estava sujeito a “perder a cabeça” em combate… (Abaixo) O Sherman também não fugia á regra.

Fiz questão de encontrar fotos não de tanques mas de peças auto-propulsadas, neste caso de um Jagdpanzer IV L/48 (acima) e de um StuG III (abaixo). Nestes veículos, que não tem torre, o efeito “Jack-in-the-box” atinge geralmente todo o tecto da superstrutura. Lembro-me de ver fotos em que grandes placas laterais de blindagem foram arrancadas de dentro para fora. Como é óbvio, se a munição detonar, a pressão tem de arrebentar por algum lado, não há milagres.

A (má) experiência dos Aliados no combate contra tanques Alemães deixou marcas muito profundas. As baixas catastróficas e a superioridade em vários aspectos dos
Panther,
Tiger e outros, provocou várias revoluções no
design de tanques no pós-guerra. Os americanos em particular fizeram o seu
mantra nunca mais enviar os seus homens em inferioridade tecnológica contra o adversário (o medo psicológico de enfrentar um
Panther ou
King Tiger a bordo de um
Sherman tocou fundo), daí apostarem na máxima protecção e na sobrevivência da tripulação. Os pesados e muito bem protegidos tanques
Abrams e
Challenger (os Ingleses também chegaram ás mesmas conclusões) são o culminar dessa filosofia. Nem todos países ocidentais fizeram exactamente o mesmo; os Alemães e os Franceses, com o
Leopard 1 e o AMX-30, procuraram um equilíbrio a pender um pouco mais para a mobilidade mas, com o tempo, juntaram-se á mesma filosofia (
Leopard 2 e
Lecrerc). Israel foi, talvez, o expoente máximo na protecção da tripulação (o elemento mais valioso do tanque, segundo eles), o
Merkawa apostava tudo na protecção blindada em detrimento de alguma mobilidade, chegando ao ponto de colocar o conjunto motor/caixa na frente do veículo para adicionar ainda mais protecção.
Os Russos, como sabemos, foram num caminho diferente. Para eles a simplicidade de construção era essencial assim como a mobilidade. Na mesma linha, o poder de fogo tinha de superar os adversários. Enquanto no Ocidente os calibres mais comuns eram de 90mm, os Soviéticos usavam o canhão de 100mm no T-54/55. Quando calibre 105mm foi padronizado na NATO, já os Soviéticos estavam a colocar em serviço o T-62 com uma peça de 115mm. E quando surgiram os canhões de 120mm na NATO…já adivinharam, os russos tinham um de 125mm. Alguma coisa tinha de ceder, e no caso dos tanques russos, a protecção blindada e outras medidas de protecção da tripulação ficaram claramente para segundo lugar. E não há nada de errado nesta filosofia, é uma questão de compromissos e escolhas. O general Zhukov dizia;
“A quantidade tem uma qualidade muito própria” e, para isso, os tanques tinham de ser simples de construir e não demasiado pesados.