Guiné e as maravilhas da descolonização

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Luso

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Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #1 em: Julho 15, 2007, 12:01:36 am »
Já tinha ouvido falar várias vezes no que a Guiné se está a tornar.

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In Bissau's crumbling port, Portuguese naval Sergeant Jorge Padua says he arrived last March to help Guinea Bissau apprehend illegal fishing boats plying its waters. "The government has never asked us to stop the drug traffickers," Padua says.

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Seven European governments will open a drug intelligence and operations center in Lisbon later this year. These countries — Spain, Ireland, Britain, the Netherlands, Portugal, Italy and France — will coordinate with U.S. intelligence officers, and plan to begin surveillance flights over the Atlantic in July. They will also coordinate military and police patrols at sea to try to intercept Latin American drug vessels before they reach Africa or Europe. "Whichever warship is nearest will take the vessel and the drugs to Portugal," says Edwards, of the European Commission's drug unit.


 :roll:
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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zocuni

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Guiné-Bissau!
« Responder #2 em: Julho 15, 2007, 03:35:14 am »
Tudo bem,

Pelas notícias que tenho ,a situação está caótica e temo que fora de controle.Infelizmente,é o elo mais frágil da lusófonia,um país com estruturas muito frágeis extremamente sub-desenvolvido.Apesar da apreensão de drogas feitas o envolvimento de militares é muito comprometedor.


15 Julho 2007      

O ONU manifestou terça-feira "preocupação" face à situação socio-económica da Guiné Bissau, admitindo que as perspectivas para o resto de 2007 se mantêm "terríveis".

O mesmo órgão revelou o seu "alarme" face à crescente presença de traficantes de drogas no país.
Num comunicado de imprensa lido após "consultas" sobre a situação na Guiné-Bissau, em que o Conselho de

Segurança ouviu um relatório do representante do secretário-geral no país, Shola Omoregie, os 15 países membros do Conselho de Segurança "expressaram a sua preocupação face ao tenso clima social e à continua deterioração da situação socio-economica e financeira na Guiné Bissau".


"Os membros do Conselho de Segurança expressaram também preocupação face ao aumento alarmante de crime organizado, tráfico de drogas e proliferação de armas ligeiras na Guiné-Bissau e apelam à comunidade internacional para continuar a fornecer a ajuda necessária para se fortalecerem as instituições de segurança e tornar operacional o Plano Estratégico de Reforma do Sector de Segurança," diz o comunicado.


Durante a sessão de consultas, os membros do Conselho de Segurança foram informados que a situação económica e financeira da Guiné-Bissau se continua a deteriorar, tendo registado um declínio de 1,8 por cento o ano passado.
"As perspectivas para o resto de 2007 mantem-se terríveis," diz o relatorio estudado pelos membros do Conselho de Segurança, que revela que entre Janeiro e Abril deste ano os rendimentos do país foram 15 por cento abaixo dos níveis de 2006 e "projecta-se um declínio ainda maior".


O documento a que os membros do Conselho de Segurança tiveram acesso descreve como "totalmente inadequados" os "recursos humanos e materiais" das forças de segurança para fazerem face ao crescente problema do tráfico de drogas a partir do pais.


Os membros do Conselho de Segurança saudaram no entanto a formação de um novo governo na Guiné- Bissau e expressaram a esperança que o pacto de estabilidade "construa os aspectos fundamentais de processo de reconciliação genuína e abrangente, fortalecendo assim a estabilidade política, parlamentar e governamental".


O Conselho de Segurança "encoraja" ainda o governo a aplicar os seus compromissos de "assegurar a disciplina e transparência na administração fiscal e a seguir um diálogo permanente e construtivo com todos os sectores da sociedade para que se crie um clima político que conduza a eleições legislativas livres, justas e transparentes no proximo ano".


O Conselho de Segurança revela que tenciona continuar "a seguir de perto" a situação na Guiné-Bissau".

Fonte Notícias Lusófonas

Abraços,
zocuni
 

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Lancero

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« Responder #3 em: Julho 15, 2007, 07:08:45 pm »
O uso da costa ocidental africana pelos traficantes colombianos (mas também venezuelanos) é um fenómeno relativamente recente (4/5 anos). Antes da Guiné tentaram, com relativo sucesso inicial, usar Cabo Verde - que muito bem pediu ajuda às autoridades militares e policiais portuguesas e controlou o problema (tento agora menos problemas por mar mas mais problemas com mulas nos seus aeroportos).
O início da triangulação do tráfico com áfrica começou quando as marinhas e forças aéreas portuguesas e espanholas começaram a participar activamente na localização e apreensão dos barcos com droga.
Os traficantes não são parvos e sabem que podem descarregar em África, sem controlo, toneladas de cocaína que depois trazem aos poucos para a Europa.
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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Lancero

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« Responder #4 em: Julho 17, 2007, 03:21:19 pm »
Nem de propósito,

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Guiné-Bissau: CEMGFA disposto a esquecer acusações de Mário Sá Gomes se este pedir desculpa    

   Bissau, 17 Jul (Lusa) - O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas  (CEMGFA) da Guiné-Bissau está disposto a "esquecer" as acusações do activista  dos Direitos Humanos Mário Sá Gomes desde que este retire tudo o que respeita  ao tráfico de droga no país.  

     

   No final de um encontro com o CEMGFA, Mamadu Queita, porta-voz do Movimento  Nacional da Sociedade Civil para Paz, Democracia e Desenvolvimento, afirmou  que o general Tagmé Na Waié está disposto a "esquecer tudo" desde que Mário  Sá Gomes "vá pessoalmente ao quartel do Estado-Maior e lhe peça desculpa".  

     

   Na semana passada, Mário Sá Gomes, Presidente da Associação Guineense  de Defesa de Vítimas do Erro Judicial, acusou o general Tagmé Na Waié de  ter perdido o controlo e o comando das Forças Armadas guineenses no combate  ao tráfico de drogas na Guiné-Bissau.  

     

   Na altura, Mário Sá Gomes, instou o Presidente João Bernardo "Nino"  Vieira a demitir Tagmé Na Waié do cargo de CEMGFA, bem como todas as chefias  dos três ramos das Forças Armadas e a proceder uma profunda reforma nos  serviços da segurança.  

     

   Receando pela integridade física do activista dos Direitos Humanos,  devido aos rumores de iniciativas isoladas de soldados no sentido de capturar  Sá Gomes, uma delegação das organizações da sociedade civil guineenses esteve  hoje reunida com o general Tagmé Na Waié, para tentar ultrapassar a crise.  

     

   As organizações da sociedade civil, Liga Guineense dos Direitos Humanos,  Wanep (Rede Oeste Africana para a Edificação da Paz) e o Movimento Nacional  da Sociedade Civil para Paz, Democracia e Desenvolvimento, pretendem que  o CEMGFA deixe o caso sob a alçada do Ministério Público.  

     

   De acordo com Mamadú Queita, o general Na Waié "está disposto a retirar  a acção judicial" no Ministério Público desde que Mário Sá Gomes retire  o que disse contra si e a instituição militar.  

     

   O CEMGFA considera "graves" as declarações de Mário Sá Gomes contra  a instituição que dirige, mas admitiu esquecer o assunto "em nome da paz  e da tranquilidade" do país, disse Mamadú Queita.  

     

   "As declarações de Mário Sá Gomes são graves contra a instituição militar,  pois põem em causa o Estado-Maior General das Forças Armadas, mas estou  disposto a esquecer tudo desde que ele retire o que disse", disse Mamadu  Queita, citando o general Tagmé Na Waié.  

     

   Segundo este responsável da sociedade civil, Mário Sá Gomes até pode  ser responsabilizado pelas suas declarações, se for o caso, devendo o processo  seguir os trâmites normais, através dos órgãos judiciais.  

     

   Mamadú Queita indicou à Agência Lusa que Mário Sá Gomes, está em lugar  seguro, em Bissau, mantendo contactos com a Liga Guineense dos Direitos  Humanos.  

     

   Instado a dizer em que dia Mário Sá Gomes será conduzido ao Estado-Maior  General para apresentar desculpas ao CEMGFA, Mamadú Queita disse que ainda  não existe nenhuma data marcada.  

     

   Entretanto, o representante do secretário-geral das Nações Unidas, na  Guiné-Bissau, Shola Omorigie, disse hoje, em conferência de imprensa, que  está a acompanhar a polémica que envolve Mário Sá Gomes, afastando a hipótese  deste obter refúgio na sede da ONU, em Bissau.  

     
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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« Responder #5 em: Julho 18, 2007, 03:27:54 am »
Citação de: "Lancero"
Guiné-Bissau: CEMGFA disposto a esquecer acusações de Mário Sá Gomes se este pedir desculpa...

...Receando pela integridade física do activista dos Direitos Humanos,  devido aos rumores de iniciativas isoladas de soldados no sentido de capturar  Sá Gomes, uma delegação das organizações da sociedade civil guineenses esteve  hoje reunida com o general Tagmé Na Waié, para tentar ultrapassar a crise...

...De acordo com Mamadú Queita, o general Na Waié "está disposto a retirar  a acção judicial" no Ministério Público desde que Mário Sá Gomes retire  o que disse contra si e a instituição militar...

...O CEMGFA considera "graves" as declarações de Mário Sá Gomes contra  a instituição que dirige, mas admitiu esquecer o assunto "em nome da paz  e da tranquilidade" do país, disse Mamadú Queita...

...estou  disposto a esquecer tudo desde que ele retire o que disse", disse Mamadu  Queita, citando o general Tagmé Na Waié...

...Mamadú Queita indicou à Agência Lusa que Mário Sá Gomes, está em lugar  seguro, em Bissau, mantendo contactos com a Liga Guineense dos Direitos  Humanos...

...Instado a dizer em que dia Mário Sá Gomes será conduzido ao Estado-Maior  General para apresentar desculpas ao CEMGFA, Mamadú Queita disse que ainda  não existe nenhuma data marcada...

...Entretanto, o representante do secretário-geral das Nações Unidas, na  Guiné-Bissau, Shola Omorigie, disse hoje, em conferência de imprensa, que  está a acompanhar a polémica que envolve Mário Sá Gomes, afastando a hipótese  deste obter refúgio na sede da ONU, em Bissau...

Mais um bom exemplo das "democracias" que "ajudamos a prosperar"...
 :roll:


Cumptos
A realidade não alimenta fóruns....
 

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JoseMFernandes

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« Responder #6 em: Agosto 09, 2007, 11:46:27 am »
No PUBLICO de 9/8/07:

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Guiné-Bissau, o primeiro narco-Estado de África
09.08.2007, Ana Dias Cordeiro

O país esquecido é o principal ponto de passagem da cocaína entre
a América Latina e a Europa, onde chega através de Portugal


 Um manto caiu sobre a Guiné-Bissau, sobre as suas pessoas, as suas casas, as suas estradas de terra, os seus campos verdes depois da passagem das chuvas, os seus sonhos de país independente. Se tivesse cor, esse manto teria a cor de um pesadelo. Cor de chumbo? Ou seria totalmente branco? Branco puro. De cocaína. Sem cor, seria como um manto de silêncio. Invisível. Porque falar do tráfico de droga na Guiné-Bissau - que se tornou na principal porta de entrada da cocaína da África Ocidental - é correr riscos.
Nas últimas semanas, activistas e jornalistas, que denunciaram a suposta conivência de figuras do poder com este tráfico, foram ameaçados. Magistrados sofreram pressões para não investigar pessoas envolvidas nos negócios.
Após as duas grandes apreensões de cocaína feitas no país, em Setembro de 2006 e em Abril de 2007, os detidos, entre os quais militares e civis, guineenses e estrangeiros, foram todos libertados.
O director da Polícia Judiciária, Orlando António Silva, cujo trabalho contra os barões da droga fora elogiado internacionalmente, foi demitido em Junho. E os 670 quilos de cocaína da primeira apreensão de Setembro desapareceram - depois de terem sido guardados num edifício do Estado guineense, após uma intervenção dúbia dos militares na acção de apreensão da polícia.
Depois da guerra de 1998-1999, que se seguiu aos anos de regime autoritário do general Nino Vieira, depois das sucessivas crises políticas e lutas fratricidas entre facções militares, a Guiné-Bissau, que viu regressar Nino Vieira à presidência nas eleições presidenciais de Junho de 2005, volta agora a ter medo: a violência pode regressar se surgirem grupos armados em defesa de interesses locais ligados às redes internacionais do tráfico de droga. Mesmo se o Governo se diz pronto a combater o problema. Na semana passada, apresentou um Plano de Emergência de Combate ao Narcotráfico para reduzir a possibilidade de o país ser utilizado para esse fim.
Chocados com a dimensão
O caso tem sido relatado pela imprensa internacional. Fontes dos serviços secretos ocidentais disseram recentemente ao Belfast Telegraph que encontraram na Guiné-Bissau "o mais grave problema de tráfico de droga com que alguma vez depararam no continente africano" e admitem estar perplexas com a magnitude do problema. "Quanto mais sabemos, mais ficamos chocados com os números envolvidos", disse a este jornal um responsável da Agência de Aplicação das Leis Antidroga dos EUA na Europa. Os números não são conhecidos, mas as mesmas fontes dizem que é bem possível que, todas as noites, cheguem à Guiné-Bissau 800 quilos de cocaína em aviões que atravessam o Atlântico.
A Interpol, por sua vez, estima que passem todos os anos pela África Ocidental 200 a 300 toneladas de cocaína, as mesmas que passarão pela Guiné-Bissau, com destino à Europa. Portugal e Espanha são os principais pontos de entrada em território europeu. Bissau está assim no centro daquilo que um responsável da Interpol qualifica em informações à revista TIME de "importante esquema envolvendo suspeitos nos três continentes - África, Europa e América Latina" e "um dos maiores geradores de dinheiro ilícito no mundo".
O quadro ideal
Na actual tendência em que a África Ocidental ganha uma importância crescente nas rotas internacionais do tráfico de cocaína, a Guiné-Bissau surge no topo, ocupando o lugar de principal ponto de trânsito da droga proveniente da América Latina.
Sem infra-estruturas, sem instituições a funcionar, sem recursos, um Governo fraco e vastas zonas (também no arquipélago dos Bijagós) deixadas ao abandono, a Guiné oferece o quadro ideal para os traficantes de droga pousarem os seus aviões de grande porte carregados da cocaína, da América Latina para a Europa, onde o consumo triplicou nos últimos dez anos, ao contrário do que acontece nos EUA, onde diminuiu, segundo dados da ONU.
"Os narcotraficantes encontraram um lugar ideal para transportar a droga para a Europa utilizando a Guiné como um trampolim", diz por telefone a partir de Bissau o professor e cientista Aladje Balde, responsável da organização não governamental Plan International. "Para isso estão envolvidos muitos estrangeiros que vivem aqui. Esta presença de latino-americanos, sobretudo colombianos, aumentou muito no último ano."
No quinto país mais pobre do mundo, segundo a ONU, circula muito dinheiro. Longe de ser em benefício das populações. Estas habituaram-se a ver passar carros de alta gama nas ruas de Bissau, onde se erguem mansões de figuras ligadas ao Governo que enriquecem rapidamente.
Cumplicidades e benefícios
Todos desconfiam, quase todos têm a certeza: se o país está a ser classificado como o primeiro narco-Estado de África não é apenas porque a Guiné-Bissau partilha algumas características dos chamados Estados falhados; é também porque pessoas bem colocadas no topo da hierarquia do Estado são cúmplices e beneficiam desse tráfico. As que se opõem são ameaçadas - entre activistas, jornalistas ou funcionários do aparelho do Estado que tentam denunciar o que se passa.
A Polícia Judiciária guineense apenas tem 70 agentes. E no país não existe uma prisão, apenas centros de detenção colocados nas esquadras. A polícia não dispõe de carros próprios - por isso recorre a táxis - nem algemas ou armas que cheguem para todos os seus agentes. Não há barcos a vigiar as costas. Diz-se em Bissau que a própria Marinha guineense garante livre passagem aos barões da droga.
Na sua tomada de posse, em Abril, o primeiro-ministro Martinho N"Dafa (que substituiu Aristides Gomes) prometeu combater a corrupção e o narcotráfico para voltar a dar credibilidade ao país. Mas o problema mantém-se e aumenta, como confirma Antonio Mazzitelli, responsável da Organização das Nações contra a Droga e o Crime (UNODC, na sigla em inglês) para a África Ocidental, baseado em Dacar, no Senegal: "As informações de que dispomos parecem indicar que aviões e barcos continuam a chegar e a descarregar quantidades muito importantes na Guiné-Bissau."
Os aviões aterram em pistas de terra batida (já existentes ou entretanto construídas) no Sul do país. Aí perto estão estacionados barcos ou avionetas que transportam a cocaína para o arquipélago dos Bijagós. E quem manda neste paraíso de mais de 50 ilhas, algumas desabitadas, com espaço para os esconderijos e os armazéns entretanto construídos, são os barões da droga.


 
Indivíduos em altos cargos aproveitam e enriquecem"
09.08.2007, Ana Dias Cordeiro

 O responsável da Agência das Nações contra a Droga e o Crime (UNODC, na sigla em inglês) para a África Ocidental, baseado em Dacar, no Senegal, falou ao PÚBLICO durante os dias de uma missão que o levou a Bissau na semana passada. Antonio Mazzitelli diz que os números conhecidos de apreensões de droga são "apenas a ponta do iceberg" do que se passa na Guiné-Bissau e na África Ocidental. Também o preocupa as ameaças de que são vítimas todos o que se opõem ou tentam denunciar o que se passa na Guiné. E diz: "Com o tráfico, é a própria sobrevivência do Estado que está em risco."
Quando é que a Guiné-Bissau passou a ser o principal ponto de passagem da droga que chega à África Ocidental?
Há pelo menos quatro anos assinalámos a utilização significativa da África Ocidental e em particular da Guiné-Bissau para a conservação e a redistribuição da cocaína [vinda da América Latina] com destino à Europa e os novos mercados que surgem na África do Sul, Médio Oriente, Europa do Leste, Rússia. A primeira operação importante na Guiné-Bissau aconteceu numa pequena ilha em 2005, com a apreensão de 20 quilos de cocaína. Mas mais importante: nessa operação foram presos vários cidadãos latino-americanos que operavam a coberto de uma empresa de tratamento de peixe. Nessa operação, apreendemos também armas automáticas. Desde então, vários relatórios passaram a salientar o papel da Guiné-Bissau na rota da droga.
Desde então, quantas apreensões de droga foram feitas?
Várias, 20 ou 30, em operações relativas a droga proveniente da Guiné-Bissau. Mas eram apenas pequenos indicadores da importância do país neste tráfico. Na própria Guiné, houve duas grandes apreensões de cocaína - 670 quilos em Setembro e 650 quilos em Abril - e entre as duas, em Fevereiro de 2007, foi anunciada pelas agências de informação, mas desmentida pelas autoridades, a apreensão num barco ao largo da Guiné-Bissau. A zona de acesso ao barco foi bloqueada. Quando pudemos lá ir, estava vazio. Seja como for, as apreensões registadas são apenas a ponta do iceberg do tráfico nesta região.
Como caracteriza a situação na Guiné-Bissau?
É o ponto principal de passagem da droga na África Ocidental. A situação é grave porque cada vez mais dinheiro está a ser gerado pela droga. E à medida que o tempo passa, os poderes mafiosos infiltram-se nos mecanismos de governação.
Através da corrupção?
O Estado não controla o seu território e agora que o tráfico ganhou uma tal visibilidade há uma redistribuição desse dinheiro gerado pela droga. Há um desejo de dinheiro cada vez maior desses grupos que beneficiam do tráfico. E há um risco de violência se esse desejo justificar um recurso à violência. Estamos a falar de muito dinheiro num país onde não há recursos.
E onde pessoas que denunciam estão a ser ameaçadas?
As ameaças não são só dirigidas aos activistas mas também a uma parte do aparelho de Estado que se opõe a este tráfico, aos juízes, às forças da polícia. Todos os que se opõem a esta situação arriscam-se a ser um alvo.
O que faz o Governo guineense face a esta situação?
Estão todos conscientes do que está em jogo, estão todos preocupados. Estão todos motivados a fazer alguma coisa mas precisam do apoio da comunidade internacional.
Mas como pode a comunidade internacional fornecer, por exemplo, barcos se desconfia que possam ser utilizados não para vigiar as costas mas para o próprio transporte da droga?
É assim. No mesmo cesto há maçãs podres, também há maçãs boas. Como nos cargos de responsabilidade. Não fazer nada só agravaria a situação. Já há pessoas em risco por tentarem fazer alguma coisa. Não podemos pensar que a situação melhora se lhes negarmos o mínimo apoio.
E esse apoio deve vir de onde?
Dos países doadores, através da ONU, que se compromete a reforçar a Polícia Judiciária, dotando-a de meios para levar a cabo as suas operações, e motivar todos os que [no Estado] se opõem a esta situação. O Governo precisa de assistência. Chegou o momento de a comunidade internacional fazer um esforço e uma prova de confiança.
Existe ou não cumplicidade do Governo com as redes do tráfico da droga?
Há indivíduos em altos cargos do Estado que aproveitam a situação e enriquecem. O Estado é cada vez mais fraco e estes indivíduos, em posições de responsabilidade, tiram partido disso. É a própria sobrevivência da Guiné enquanto Estado que está em risco.



Alguns dias atras o semanario ingles  The Sunday Telegraph tinha publicado um interessante e longo artigo sobre este tema. Se arranjar um pouco de tempo tentarei colocar por aqui um resumo traduzido...

Indiscutivelmente um assunto que interessa sobremaneira Portugal.
 

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zocuni

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Cooperação
« Responder #7 em: Agosto 09, 2007, 02:06:25 pm »
Tudo bem,

Embora não resolva muito,pois depende de instâncias,órgãos públicos que funcionem,o que parece não ser o caso,todavia está existindo cooperação por parte de Estado Português:
   
Guiné Bissau  
Portugal apoia construção de prisão de alta segurança


O governo da Guiné-Bissau conta com o apoio de Portugal, na presidência da União Europeia, para ajudar a construir uma prisão de alta segurança e combater o narcotráfico, declarou hoje a ministra da Justiça, Carmelita Pires.


A governante fez estas declarações no final de uma visita a algumas instalações prisionais de Bissau, as prisões de 1ª e 2ª esquadras e ao centro de detenção da Polícia Judiciaria, todas em avançado estado de degradação e sem condições de segurança.

"Não podemos combater a delinquência e o crime organizado, sobretudo, o narcotráfico sem prisões em condições, por isso, contamos muito com os nossos parceiros internacionais no sentido de nos ajudarem a construir uma prisão de segurança", defendeu a ministra da Justiça.

Carmelita Pires apresentou na semana passada um plano de emergência para o combate ao narcotráfico no país, que tem como um dos eixos a construção de uma prisão de alta segurança.

O único estabelecimento prisional com algumas condições de segurança que existia na Guiné-Bissau, a prisão de Brá, nos arredores de Bissau, desmoronou-se na sequência dos bombardeamentos que sofreu durante a guerra civil de 1998/99.

Para a materialização do projecto de construção de uma nova prisão, o governo de Bissau conta com a ajuda portuguesa, atendendo aos "laços históricos" com a Guiné-Bissau, mas também pelo facto de Portugal presidir no segundo semestre de 2007 à União Europeia, frisou a ministra.

Carmelita Pires tem esperança nas promessas de apoios da União Europeia para o combate ao narcotráfico no país, mas quer ver Portugal empenhado na mobilização dos recursos de que a Guiné-Bissau precisa para resolução de problemas imediatos.

Falando de perspectivas temporais para a construção da prisão de alta segurança, a ministra da Justiça acredita que dentro de dois ou três anos a Guiné-Bissau terá um estabelecimento do género de raiz.

Carmelita Pires avisa desde já que o estabelecimento a construir "não será nenhum projecto megalómano", numa clara alusão às intenções manifestadas pelo anterior ministro da Justiça, Namuano Dias, em construir um centro prisional inspirado no modelo brasileiro.

"Temos de fazer as coisas à nossa medida, isto é, a medida do nosso país e das nossas necessidades e possibilidades", sublinhou a ministra da Justiça, acrescentando que o novo estabelecimento a ser construído já está em fase de projecto sob a responsabilidade da agência das Nações Unidas Contra o Crime Organizado e a Droga.

A intenção inspira-se nos modelos de centros prisionais construídos sob a égide das Nações Unidas no Ruanda e no Afeganistão, precisou a governante guineense.

Fonte:Notícias Lusófonas

Abraços,
zocuni
 

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Cabecinhas

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« Responder #8 em: Agosto 15, 2007, 11:58:12 pm »
Citar
Portugal apoia construção de prisão de alta segurança


Mas se nós nem uma temos... Até temos falta de prisões e gurdas prisionais
Um galego é um português que se rendeu ou será que um português é um galego que não se rendeu?
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SSK

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« Responder #9 em: Agosto 16, 2007, 10:10:02 am »
Citação de: "Cabecinhas"
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Portugal apoia construção de prisão de alta segurança

Mas se nós nem uma temos... Até temos falta de prisões e gurdas prisionais


E então o Vale de Judeus?!? Não é de alta segurança!?! Pelo menos de nome...
"Ele é invisível, livre de movimentos, de construção simples e barato. poderoso elemento de defesa, perigosíssimo para o adversário e seguro para quem dele se servir"
1º Ten Fontes Pereira de Melo
 

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PereiraMarques

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« Responder #10 em: Agosto 16, 2007, 03:20:54 pm »
Monsanto também tem pelo menos uma ala de alta segurança.
 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #11 em: Agosto 16, 2007, 05:02:50 pm »
A da Serra da Carregueira é a mais recente no país e segundo me disseram está muito bem feita. Não necessita de tantos guarda prisionais, tem mais segurança (para todos) e melhores condições.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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SSK

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« Responder #12 em: Agosto 28, 2007, 06:37:26 pm »
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Alpoim Calvão volta à Guiné com o caju como 'arma'
 
MUSSÁ BALDÉ, Bissau*  
Fábrica fica na ilha de Bolama, no arquipélago dos Bijagós
Alpoim Calvão, celebre comandante das forças especiais portuguesas na Guerra Colonial na Guiné, está em Bissau de "armas e bagagens" desde 2004 à frente de um projecto de investimentos no sector da recolha da sucata e transformação do caju, principal produto agrícola da Guiné-Bissau.

"Bato-me pelo ideal de uma Guiné melhor pelo qual servi na Guerra Colonial. Penso que esse ideal ainda está por atingir", diz Alpoim Calvão, numa entrevista, quando questionado sobre as motivações de um homem que se celebrizou durante a Guerra Colonial e que decide assentar arraiais num país que lhe devia ser hostil. "Nunca senti rejeição por parte dos guineenses, antes pelo contrário", refere, acrescentando que se sente orgulhoso pelo seu passado como combatente da tropa colonial portuguesa nas matas da Guiné.

Calvão chefiou a chamada operação "Mar Verde", que levou à invasão da Guiné-Conacri em 1970 para eliminar os dirigentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), especialmente Amílcar Cabral, mas que fracassou.

Falando dos vários projectos em que se encontra envolvido, o ex-militar destaca a transformação do caju em amêndoa através de uma unidade montada na ilha de Bolama, nos arquipélagos dos Bijagós.

A Licaju, nome da unidade, é modesta, na opinião de Calvão, mas é já considerada um pólo de desenvolvimento de Bolama, tal é a dinâmica que a fábrica empresta à vida da população daquela ilha isolada do resto da zona continental da Guiné.

Alpoim Calvão regozija-se pelo facto de a fábrica estar a ajudar a "melhorar a vida as gentes de Bolama". Diz-se apaixonado pela Guiné--Bissau e destaca as potencialidades humanas e naturais do país: "O povo faz uma luta heróica contra as adversidades, sobretudo as mulheres, na agricultura, e o país tem potencialidades enormes."

O turismo, a pesca, a agricultura, os minérios, o petróleo, a bauxite e os fosfatos são as potencialidades apelativas, segundo Alpoim Calvão. O empresário convida os investidores portugueses a apostarem na Guiné--Bissau, país que considera tranquilo "apesar das dificuldades óbvias", com uma situação política estabilizada, apesar "de notícias que indicam o contrário".

"Há sempre uns pescadores de águas turvas a quem convém dar uma ideia errada da situação do país", considera Alpoim Calvão. Sobre o problema que mais afecta a imagem do país neste momento, o tráfico de droga, o ex-militar considera tratar-se de "um problema real, mas bastante empolado", o que, frisa, não deixa discernimento às autoridades para combater o flagelo eficazmente.

Como empresário com ideias de expansão de negócios, Calvão apenas tem um pedido a fazer ao Governo da Guiné-Bissau: "Que tudo seja feito no sentido de facilitar a vida a quem queira investir no país, para ajudar a criar riqueza e combater a pobreza."
 
 
in  Diário de Notícias
 
28 de Agosto de 2007
 
 
"Ele é invisível, livre de movimentos, de construção simples e barato. poderoso elemento de defesa, perigosíssimo para o adversário e seguro para quem dele se servir"
1º Ten Fontes Pereira de Melo
 

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Luso

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« Responder #13 em: Agosto 28, 2007, 09:01:38 pm »
Venham mais destas, SSK! :G-Ok:
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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comanche

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« Responder #14 em: Agosto 30, 2007, 03:00:44 pm »
Guiné-Bissau: Ex-combatentes pela tropa colonial ameaçam processar Estado português

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Bissau, 30 Ago (Lusa) - Ex-combatentes guineenses que serviram a tropa colonial portuguesa ameaçaram hoje interpor uma acção judicial contra o Estado português num tribunal internacional como forma de exigir o pagamento de pensões de reforma a que dizem ter direito.

Em declarações à Agência Lusa, Regino Marques Vieira, presidente da Associação dos Antigos Combatentes Portugueses (AACP) na Guiné-Bissau afirmou que a "paciência dos associados já se está a esgotar".

"Há 34 anos que estamos a aguardar que o Estado português nos pague aquilo que nos deve pelos anos de sacrifícios numa luta armada em que defendemos com honra e bravura a bandeira de Portugal", afirmou Regino Vieira.

Para este responsável da AACP, que conta com cerca de 10 mil associados, a situação "é desesperante" pelo que a única solução "talvez" seja uma queixa num tribunal internacional, nomeadamente da União Europeia ou mesmo em Haia, advertiu.

Regino Marques Vieira falava à Lusa a propósito da promessa feita pelo primeiro-ministro guineense, Martinho N'Dafa Cabi, que se encontra em visita oficial a Portugal, de discutir com as autoridades de Lisboa a situação dos ex-combatentes.

O presidente da AACP disse que já foram várias as promessas feitas pelas autoridades de Lisboa sobre o cumprimento dos "Acordos de Argel", segundo os quais os ex-combatentes seriam reintegrados na vida civil após a independência da Guiné-Bissau, em 1974, e ser-lhes-ia paga uma reforma, bem como as pensões de sangue e de invalidez.

"Nada disso passou do papel. E agora Portugal vem dizer que não nos pode pagar porque não descontamos para a caixa da segurança social e não temos a nacionalidade portuguesa. Tudo isso é ridículo para Portugal", sublinhou Regino Vieira.

Para este responsável, aquando da independência da Guiné-Bissau o discurso das autoridades de Lisboa não era este, pelo que tudo o que Portugal deve fazer é pagar as dívidas antes que o caso chegue a tribunal.

Regino Vieira anunciou que a AACP já constituiu dois advogados, um na Guiné-Bissau e outro na Europa para estudarem uma eventual queixa contra o Estado português.

O presidente da AACP estranha ainda o facto de Portugal se ter "calado" sobre a situação daqueles que serviram o Estado português na Guiné-Bissau, mesmo estando a presidir à União Europeia.

"Portugal devia ter outra atitude agora que preside à União Europeia, a luz dos Direitos Humanos, matéria tão cara aos europeus", declarou Regino Vieira.

O primeiro-ministro guineense, encontra-se hoje com o seu homólogo português, José Sócrates, com quem deverá discutir este assunto.