EUA na Bancarrota?

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Luso

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EUA na Bancarrota?
« em: Julho 14, 2006, 11:08:22 pm »
As coisas começam a ficarem mais nítidas. E já não da exclusividade de alegados loucos.
Nós que seguimos os programas militares dos norte-americanos podemos ver essa tendência...

É disto que tenho medo.


http://www.telegraph.co.uk/money/main.j ... nusa14.xml

US 'could be going bankrupt'
By Edmund Conway, Economics Editor

(Filed: 14/07/2006)


The United States is heading for bankruptcy, according to an extraordinary paper published by one of the key members of the country's central bank.

A ballooning budget deficit and a pensions and welfare timebomb could send the economic superpower into insolvency, according to research by Professor Laurence Kotlikoff for the Federal Reserve Bank of St Louis, a leading constituent of the US Federal Reserve.

Prof Kotlikoff said that, by some measures, the US is already bankrupt. "To paraphrase the Oxford English Dictionary, is the United States at the end of its resources, exhausted, stripped bare, destitute, bereft, wanting in property, or wrecked in consequence of failure to pay its creditors," he asked.

According to his central analysis, "the US government is, indeed, bankrupt, insofar as it will be unable to pay its creditors, who, in this context, are current and future generations to whom it has explicitly or implicitly promised future net payments of various kinds''.

The budget deficit in the US is not massive. The Bush administration this week cut its forecasts for the fiscal shortfall this year by almost a third, saying it will come in at 2.3pc of gross domestic product. This is smaller than most European countries - including the UK - which have deficits north of 3pc of GDP.

Prof Kotlikoff, who teaches at Boston University, says: "The proper way to consider a country's solvency is to examine the lifetime fiscal burdens facing current and future generations. If these burdens exceed the resources of those generations, get close to doing so, or simply get so high as to preclude their full collection, the country's policy will be unsustainable and can constitute or lead to national bankruptcy.

"Does the United States fit this bill? No one knows for sure, but there are strong reasons to believe the United States may be going broke."

Experts have calculated that the country's long-term "fiscal gap" between all future government spending and all future receipts will widen immensely as the Baby Boomer generation retires, and as the amount the state will have to spend on healthcare and pensions soars. The total fiscal gap could be an almost incomprehensible $65.9 trillion, according to a study by Professors Gokhale and Smetters.

The figure is massive because President George W Bush has made major tax cuts in recent years, and because the bill for Medicare, which provides health insurance for the elderly, and Medicaid, which does likewise for the poor, will increase greatly due to demographics.

Prof Kotlikoff said: "This figure is more than five times US GDP and almost twice the size of national wealth. One way to wrap one's head around $65.9trillion is to ask what fiscal adjustments are needed to eliminate this red hole. The answers are terrifying. One solution is an immediate and permanent doubling of personal and corporate income taxes. Another is an immediate and permanent two-thirds cut in Social Security and Medicare benefits. A third alternative, were it feasible, would be to immediately and permanently cut all federal discretionary spending by 143pc."

The scenario has serious implications for the dollar. If investors lose confidence in the US's future, and suspect the country may at some point allow inflation to erode away its debts, they may reduce their holdings of US Treasury bonds.

Prof Kotlikoff said: "The United States has experienced high rates of inflation in the past and appears to be running the same type of fiscal policies that engendered hyperinflations in 20 countries over the past century."

Paul Ashworth, of Capital Economics, was more sanguine about the coming retirement of the Baby Boomer generation. "For a start, the expected deterioration in the Federal budget owes more to rising per capita spending on health care than to changing demographics," he said.

"This can be contained if the political will is there. Similarly, the expected increase in social security spending can be controlled by reducing the growth rate of benefits. Expecting a fix now is probably asking too much of short-sighted politicians who have no incentives to do so. But a fix, or at least a succession of patches, will come when the problem becomes more pressing."
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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AugustoBizarro

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Boas Notícias.
« Responder #1 em: Julho 15, 2006, 03:02:30 pm »
O modelo económico Inglês-Americano, é um modelo falido em si mesmo.

Assenta sob alguns pressupostos , uma moeda muito forte (sobrevalorizada), algo que só é possível se o país em questão tiver força internacional.

Suponhamos por exemplo que Portugal decidia artificialmente fixar o valor de 1 Escudo = 10.000 Dólares.  (um exemplo exagerado só para que se veja bem)

Óbviamente a primeira reacção dos Bancos Centrais pelo mundo fora seria, parar de imediato a transacção de Escudos, visto ser uma moeda que não é de confiança.

No caso dos Estados Unidos, e do Reino Unido, sempre houve uma tentativa por todos os meios de manter a moeda forte,  porquê?

Simples, se a moeda for mais forte, a riqueza (no presente) do país é maior.

Uma moeda forte dificulta as exportações, mas isto não é questão para os Estados Unidos ou Reino Unido, pois são Economias que já à muito tempo deixaram de ser Economias de exportação.

Restava portanto aos Estados Unidos garantir que o máximo número de países do mundo use o Dólar, que tenham reservas em Dólar, em suma, que o Dólar se mantenha tal como a Libra em tempos foi,  uma reserve currency dominante.
http://en.wikipedia.org/wiki/Reserve_currency

A Dívida externa dos EUA, encontra-se no momento em 9.000.000.000.000 Dólares ( 9.0 Triliões de Dólares, (usando a escala curta))
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_co ... ernal_debt
http://en.wikipedia.org/wiki/Trillion
http://en.wikipedia.org/wiki/Long_and_short_scales

Se considerarmos que um Porta-Aviões da Classe Nimitz custa á volta de 4.5 biliões de Dólares. Podemos fazer um pequeno exercício:
9000 (dívida externa em biliões USD)/ 4.5 (1 Nimitz em biliões USD) = 2000.

Os EUA devem ao mundo em dinheiro, 2000 porta-aviões.
(se considerarmos o custo de cada Nimitz em 8 ou 9 Biliões em vez de 4.5, APENAS devem 1000 porta-aviões)


O futuro Porta-Aviões , CVN-21, é estimado custar 13.0 Biliões de USD
http://www.defenseindustrydaily.com/200 ... /index.php

De facto , quando se entra em valores desta ordem, não é somente um problema Económico, mas também um problema de ordem Militar.

Mas vejamos uma questão, enquanto os EUA tiverem este poderio militar, quem é que pode obrigar os EUA a pagar a dívida?
Ou se prefirem,  pode um avôzinho que é dono de uma mercearia ir tocar á porta do Al Capone do Bairro e exigir-lhe que pague a conta? Não.
Então pode ir á polícia queixar-se? Mas neste caso não existe polícia, o Al Capone é o poder máximo.

O Dólar encontra-se num processo de desvalorização , sobretudo devido á enorme dívida externa (que nunca será paga)  e ao facto que os EUA durante muito tempo tiveram (e ainda têm), opções económicas que pressupõem que o Dólar mantenha o seu peso actual como reserve currency.

At the start of 2006, 66.3% of the identified official foreign exchange reserves in the world were held in United States dollars, 24.8% in euro, 3.4% in Japanese yen, and 4.0% in pound sterling, according to the IMF.
http://en.wikipedia.org/wiki/Reserve_currency

É um pouco uma bola de neve, se o Dólar desvaloriza, significa que 66,3% das reservas dos Bancos Centrais pelo mundo fora, também desvalorizam. Para alguns não é problema visto ser uma opção estratégica, mas para outros é importante (nomedamente países pequenos). Ou seja, á medida que alguns Bancos Centrais começam a reduzir as suas reservas em dólar, outros serão forçados ao mesmo.

A maioria dos Americanos não encara a possibilidade de num futuro próximo(5-10 anos),  1 Dólar valer menos que 0,50 Euro, (ou em Euros:  1 EUR = 2.00 USD) (hoje:  1.00 EUR = 1.26410 USD )
http://www.xe.com/ucc/

Eu pessoalmente acredito que não só é possível, como é altamente provável. E quais as implicações?

O Petróleo é cotado em Dólares, assim como outras matérias primas,
Uma descida do valor do Dólar em simultaneo com um aumento do Petróleo (isto é garantido, parece-me que todos já perceberam)
significa que os Estados Unidos , o país que mais recursos consume (hoje)
estará numa posição altamente desfavorável. Básicamente a gasolina será muitíssimo mais cara para um americano, e ligeiramente mais cara para a Europa. Básicamente os Americanos passarão a pagar pelos seus produtos, preços mais apróximados da realidade (como a esmagadora maioria do resto do mundo tem feito, nos ultimos 60 anos).

Os transportes públicos nos EUA estão muito pouco desenvolvidos, estando o país quase inteiramente vocacionado para o transporte individual. Que deixará de ser barato. Mas é o modo de vida Americano.

Não esquecer que devido á dispersão da população Americana por inúmeros pontos, construir uma verdadeira rede de transportes públicos
(não apenas autocarros, mas comboios e metros), terá um custo verdadeiramente astronómico, numa altura em que os materiais serão mais caros. Os EUA atrasaram-se muito. O optimismo irrealista da esmagadora maioria dos seus líderes, e também de todo aquele pessoal de Wall Street, não permite encarar os problemas, como seriam encarados no Japão ou na Alemanha,  onde um pessimismo feroz se converte em algo bom. Ou seja, uma exigência enorme. Muitas vezes confundida por Ingleses como sinal de que a economia vai mal.

Mas o Poder Político e Militar dos EUA, ainda permite conseguir uma série de negócios vantajosos , para tentar cobrir as ineficiências e o enorme desperdício interno.

Os EUA gastam uma fortuna a importar petróleo e gás, quando poderiam perfeitamente montar uma rede de energia baseada sobretudo no Nuclear, fácilmente abastecida localmente, ou em caso de necessidade, importando Urânio do Canadá e da Austrália.
O Nuclear também não é solução milagrosa, pois não existe tanto como isso (caso fosse usado em massa). Mas daria uns 50-100 anos de autosuficiência energética a preço controlado , com abastecimento garantido.

Não menos importante, é a questão da Indústria Pesada americana, ir de mal a pior, tal como no Reino Unido. Ainda restam grandes Grupos Petrolíferos e Mineiros (EUA + Reino Unido). Mas houve um ênfase excessivo nos Serviços. Os EUA estão a perder a Indústria.
Enquanto a China se encontra em processo de acelerada Industrialização.

Há umas ideias peregrinas no Reino Unido, que consistem em aceitar que
a Indústria (a Produção) irá para a Ásia, e o Reino Unido manter-se como centro de conhecimento e ensino. Isto é óbviamente um absurdo, pois, quem conheça mínimamente os Chineses, percebe que o seu objectivo é ter os centros de investigação, as universidades, tudo no China.
(em linguagem mais simples - Os Ingleses aindam pensam, no seu espírito Vitoriano, que podem ser os chefes, sendos os chineses os subalternos. Como se enganam!)

Os Defensores do Mercado Livre, ainda não meteram na cabeça que este será o seu Coveiro.


Os modelos económicos, Japonês, Chinês, Russo, e em alguma medida o Alemão, são o oposto.

Eu penso que Portugal deveria evitar, o modelo económico Inglês-EUA, e adoptar qualquer um dos outros.

E é também por isto que penso que Portugal se devia voltar para o Leste e o Oriente, pois aí está o Futuro.

Se tens medo agora, Luso, no futuro terás muitas mais razões para ter medo. Eu da minha parte vejo tudo isto como algo extremamente positivo. Portugal esteve política e económicamente alinhado com o Reino Unido (mais tarde, aos EUA) demasiado tempo. O resultado são quase 3 séculos de mediocridade, parece-me altura de procurar novos aliados.

(Bom, chamar Aliados, a países que nos dão ultimatos e patrocinam grupos terroristas que matam crianças e mulheres grávidas (CIA ->$-> UPA/FNLA) parece-me uma perversão da palavra Aliado).
 

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Marauder

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« Responder #2 em: Julho 15, 2006, 05:07:02 pm »
9.000.000.000.000 Dólares perfazem 9 biliões de euros...segundo o método português (escala longa)

Algo vai mal no reino da dinamarca...só temos que esperar para ver quando é que a bolha vai rebentar..



É agora ver os americanos começarem a ficar à rasca com o petróleo. Não é que a gente não esteja imune..simplesmente consumimos menos petróleo que eles.

Pode ser que os americanos começem a ficar "mais europeus" relativamente ao conceito de espaço...afinal..se viverem mais proximo do centro das cidades reduzem combustivel, podendo provavelmente substituir o carro pelo transporte público..

Sim, tal como o AugustoBizarro referiu, eles poderiam aumentar quantidade de centrais nucleares..

actualmente o cenário americano é o seguinte:
Electricity - production by source:

    * fossil fuel: 71.4%
    * hydro: 5.6%
    * nuclear: 20.7%
    * other: 2.3% (2001)
http://en.wikipedia.org/wiki/Economy_of ... ted_States
 

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Azraael

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« Responder #3 em: Julho 15, 2006, 10:29:10 pm »
Citação de: "Marauder"
É agora ver os americanos começarem a ficar à rasca com o petróleo. Não é que a gente não esteja imune..simplesmente consumimos menos petróleo que eles.

Duvido que fiquem... por varios motivos:
:arrow: Tem a maior reserva de "Oil Shale" http://en.wikipedia.org/wiki/Oil_shale do mundo, recuperaveis usando o processo de Karrick http://en.wikipedia.org/wiki/Karrick_process (que se comeca a tornar viavel com o aumento dos precos), equivalentes a cerca de 110 anos de consumo de petroleo ao nivel corrente http://en.wikipedia.org/wiki/Oil_reserves#United_States
:arrow: Novos processos de extracao de petroleo http://www.bgoncalves.com/online/news/?p=170 ja existentes levarao a um aumento da quantidade de petroleo extraivel do subsolo.
:arrow: Finalmente, ha a famosa, "Hydrogen Economy" http://en.wikipedia.org/wiki/Hydrogen_economy, e uma enorme area de deserto que pode ser usada para a criacao de estacoes de energia solar.

Considerando tudo isto, nao me parece que os EUA tenham grandes problemas energeticos no futuro proximo... apesar de estas hipoteses estarem longe de serem as ideais tendo em consideracao o efeito de estufa. Em termos economicos, nao sei, esta longe de ser a minha especialidade... mas a divida externa se calhar nao sera tanto como parece a primeira vista:

pelo menos em termos relativos... E o desemprego parece estar com tendencias a descer:

http://www.forecasts.org/unemploy.htm
http://www.bls.gov/news.release/empsit.nr0.htm
http://www.google.com/url?sa=X&start=1& ... JLw-3B-29g
E em termos historicos tambem nao esta tao mau quanto isso..
 

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pedro

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« Responder #4 em: Julho 15, 2006, 11:48:32 pm »
Nao ademira com tantas guerras o que que estavam a espera.
Cumprimentos
 

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Marauder

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« Responder #5 em: Julho 16, 2006, 12:52:11 am »
Perante tão detalhada resposta do Azraael, só me resta dizer que, perante a resistencia dos EUA em não se livrar dos combustiveis fósseis à medida que (em principio) o resto dos paises industrializados o fazem pode custar caro a nível de competitividade..para além de não falar das repercursões no ambiente. Para isso também convém a criação de energias renováveis realmente eficientes e de investimentos não muito avultados quando comparado com o petróleo.

   Caro Azraael, os estudos acerca das reservas petrolíferas mundiais já incluem as "futuras descobertas"...portanto quando se houve falar de novos campos petrolíferos descobertos...já estão contabilizados (resta rever os números em alta ou em baixa..).

   O problema do petróleo é global, não é específico dos EUA. O consumo de petroleo que irá aumentar com os países mais atrasados a iniciarem o seu desenvolvimento, resultará que...que continuarem a usar petroleo apenas, o petroleo antes do próximo século.

Mas é verdade que os EUA tem as maiores reservas de petroleo, mas..o que acontecerá quando este começar a escasear no estrangeiro? Os restantes paises não irão comprar petroleo a preços exorbitantes no mercado ou aos EUA....vão investir em outras energias, havendo um desuso do petroleo, e logo o processo de Karrick será abandonado.

 Carvão também é fossil, mas para este não conheço valores mundiais e calculos etc.

 Hidrogénio ainda requer uma fonta fóssil para realizar o processo.

  A verdade é que ainda falta algum tempo para o petroleo desaparecer, embora por exemplo, neste ano estimasse que tenhamos atingido o máximo da produção...e que agora esta é sempre a baixar. Sim..não nos podemos esqueçer que enquanto se descobrem 2 ou 3 novos campos, uns 10 ou mais "secam".

  Penso que haverá tempo suficiente para descubrirem uma outra fonte, no entanto, por motivos ambientais, espero bem que a mudança não esteja longe. Como já disse, a hipotese dos EUA ficarem "agarrados" ao petróleo poderá permitir o resto do mundo dar o salto para novas energias e tecnologias...enquanto que os EUA ficam para trás.

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 A nível da economia, o desemprego nunca foi motivo para chatear os americanos (bem na realidade estes não se chateiam com nada..nem com défices)

A economia americana tem muitos problemas que vão para além de défices e desemprego. Uma muito baixa poupança...que leva os EUA  a procurarem empréstimos noutras terras, uma economia baseada no consumo, em que o negócio das real-estate tem um impacto substancial...estando todas as casas nos EUA sobre-avaliadas e a maior parte dos americanos endividados para as pagar..enfim..uma bolha prestes a rebentar segundo alguns economistas, que terá efeitos devastadores...visto as pessoas estarem endividadas...e sem não consomem, lá vai a economia pelo cano a baixo (uma simplificação do que pode acontecer provavelmente num futuro próximo)

   Isto a nível de consumo interno. O endividamento americano, não somente do estado, mas da população é generalizado. A nível do estado, tal como demonstrou não é algo novo por si mesmo. Itália e Grécia estão à frente em termos percentuais.

O problema é que estes países não estão envolvidos nos negócios internacionais...que usam dólares. Enquanto houverem estrangeiros (principalmente asiaticos) a comprarem títulos de tesouro americanos não há muito problema (ou talvez não..visto que fica tudo na mesma), já que é seu interesse um dolar forte, tal como o AugustoBizarro referiu..

Mas, caso estes se fartem de aguentar a economia americana e decidam trocar dolares por euros, bem...nesse momento será o principio de uma grave crise economica americana..[para além de comprarem TS eles também compram empresas americanas, com algumas empresas chinesas mesmo a deslocalizarem as máquinas/tecnologia e a fechar a loja americana]

A nível da dívida...supostamente esta tem que ser paga...o ideal é ter divida 0. A divida em termos percentuais diminui se aumentarmos o GDP, que é a ideia que eles tem, no entanto isso não faz desaparecer o facto de que tem que ser pago. Um economista de certeza que pode explicar melhor os efeitos de ..1º ter uma dívida externa elevada e o seu impacto na inflação (penso que faz esta aumentar) e 2º o caso americano. Eu li nalguns textos já não me lembro se aqui ou noutras páginas que a situação resultante pode ser uma hiperflacção semelhante à da alemanha..
 

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Azraael

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« Responder #6 em: Julho 16, 2006, 01:16:35 am »
Citação de: "Marauder"
Perante tão detalhada resposta do Azraael
Pois... ja ando ha uns tempos a pensar nestas coisas da energia... especialmente Petroleo, Hidrogenio e Nuclear.

Citação de: "Marauder"
só me resta dizer que, perante a resistencia dos EUA em não se livrar dos combustiveis fósseis à medida que (em principio) o resto dos paises industrializados o fazem pode custar caro a nível de competitividade..
Sem duvida... A minha resposta apenas procurou mostrar que a tao falada "crise do petroleo" se calhar nao e' uma crise tao grande quanto isso... E que a queda do "imperio" americano, apesar de inevitavel (nenhum "imperio" dura para sempre) nao me parece que venha do lado energetico..

Citação de: "Marauder"
Hidrogénio ainda requer uma fonta fóssil para realizar o processo.
Por acaso nao... http://www.pureenergysystems.com/news/2004/09/14/6900043_Solar_Hydrogen/index.html

Citação de: "Marauder"
Sim..não nos podemos esqueçer que enquanto se descobrem 2 ou 3 novos campos, uns 10 ou mais "secam".
E' ai que entram os novos metodos de extraccao... porque qd os campos "secam", ainda ha la mt petroleo... http://en.wikipedia.org/wiki/Oil_Extraction#production O que acontece e' um fenomeno chamado "viscous fingering" que basicamente se resume a isto:

onde a mancha preta e' o liquido usado para manter a pressao dentro do poco e a mancha branca e' o petroleo propriamente dito. Um poco e' abandonado qd em vez de sair petroleo comeca a sair o tal liquido... Os novos processos de extraccao procuram reduzir ou evitar este efeito de diversas formas.

Citação de: "Marauder"
A nível da dívida...supostamente esta tem que ser paga...o ideal é ter divida 0. A divida em termos percentuais diminui se aumentarmos o GDP, que é a ideia que eles tem, no entanto isso não faz desaparecer o facto de que tem que ser pago.
Sim... mas depende muito da forma como e' paga... Qualquer pessoa que compre uma casa sabe bem a diferenca entre ter que pagar a pronto ou ir pagando aos "bocadinhos"... Nao nos podemos tambem esquecer que, neste momento, uma crise americana grave se propagaria por todo o ocidente (e provavelmente nao so), e que isso nao interessa a ninguem... Nao me parece que alguem faca uma "cobranca forcada" aos EUA a medio-longo prazo (esquecendo por momentos a questao militar).

Citação de: "Marauder"
Um economista de certeza que pode explicar melhor os efeitos de ..1º ter uma dívida externa elevada e o seu impacto na inflação (penso que faz esta aumentar) e 2º o caso americano. Eu li nalguns textos já não me lembro se aqui ou noutras páginas que a situação resultante pode ser uma hiperflacção semelhante à da alemanha..
Essas referencias se calhar seriam interessantes...
 

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Marauder

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« Responder #7 em: Julho 16, 2006, 10:22:21 am »
Citação de: "Azraael"
E que a queda do "imperio" americano, apesar de inevitavel (nenhum "imperio" dura para sempre) nao me parece que venha do lado energetico..

É mais relativamente ao impacto dos preços altos na economia americana, que consome mais que a europeia e o resto do mundo. Usando preços de mercado influenciados pelas estimativas do "fim do petróleo" bem como influenciados por conflictos no iraque, israel, nigéria, venezuela, leva a que os preços sejam altos, tendo forte impacto na economia americana, que tal como mostrei, uma forte fatia do consumo está relancionado com o transporte. Não é a questão de ficarem sem petróleo, é a questão de terem de pagar imenso por ele, problema que também nós estamos vulneráveis.

Citação de: "Azraael"
Citação de: "Marauder"
Hidrogénio ainda requer uma fonta fóssil para realizar o processo.
Por acaso nao... http://www.pureenergysystems.com/news/2004/09/14/6900043_Solar_Hydrogen/index.html

Ora aqui algo que não sabia, e que defendo que tragam para o Alentejo!!! Alentejo a produtor europeu de Hidrogénio..já!!

Citação de: "Azraael"
E' ai que entram os novos metodos de extraccao... porque qd os campos "secam", ainda ha la mt petroleo...
Prolongar o inevitável. Secalhar essas técnicas só são viáveis com os altos preços do petróleo. A meu ver, não estou a ver as companhias petroliferas a reabrirem os campos já gastos, tendo elevados custos, somente para sugar o que resta lá...não deve ser economicamente viável. No entanto, sim...essas técnicas podem ser usadas nos campos actuais e futuros.

Citação de: "Azraael"
Sim... mas depende muito da forma como e' paga... Qualquer pessoa que compre uma casa sabe bem a diferenca entre ter que pagar a pronto ou ir pagando aos "bocadinhos"... Nao nos podemos tambem esquecer que, neste momento, uma crise americana grave se propagaria por todo o ocidente (e provavelmente nao so), e que isso nao interessa a ninguem... Nao me parece que alguem faca uma "cobranca forcada" aos EUA a medio-longo prazo (esquecendo por momentos a questao militar).
Sim, claro, eu nunca levantei essa hipótese. A maneira que os EUA devem ter que pagar a dívida é a mesma que Portugal e o resto do mundo deve usar, através de excedentes orçamentais..o problema é que se para os EUA aparentemente nem é muito dificil conseguir isso, já para Portugal e outros está a ser uma luta danada com o déficit.

Citação de: "Azraael"
Citação de: "Marauder"
Um economista de certeza que pode explicar melhor os efeitos de ..1º ter uma dívida externa elevada e o seu impacto na inflação (penso que faz esta aumentar) e 2º o caso americano. Eu li nalguns textos já não me lembro se aqui ou noutras páginas que a situação resultante pode ser uma hiperflacção semelhante à da alemanha..
Essas referencias se calhar seriam interessantes...


Hum, embora não consiga encontrar a página específica de onde li isso, o wikipédia também faz referencia a isso:
An extreme example of this is provided by Weimar Germany of 1920s which suffered from hyperinflation due to its government's inability to pay the national debt.
de:
http://en.wikipedia.org/wiki/Government_debt

Entretanto descubri o relatório do senado americano acerca disso...mas eles não focam nos problemas que esta tem sobre a economia, simplesmente querem saber se é uma herança legítima ou ilegítima para a futura geração (algo assim), no entanto contém bastantes factos sobre a dívida americana. Recomendam também o anulamento da dívida através de orçamentos "surpluses".., contém opiniões de economistas também..
http://www.senate.gov/~hutchison/RL30520.pdf


Na outra thread que eu criei acerca das 10 falácias economistas, um dos mitos está também relancionado com o déficit..


PS: um site acerca da crise petrolífera..
http://healthandenergy.com/oil_crisis.htm
 

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Jorge Pereira

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« Responder #8 em: Junho 13, 2007, 12:34:22 pm »
Encontrei este mapa que troca os nomes dos estados que formam os EUA por países com PIB semelhante.

Não deixa de ser engraçado e dá-nos uma perspectiva do poder económico dos EUA.


Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Cabeça de Martelo

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« Responder #9 em: Junho 13, 2007, 12:57:09 pm »
Qual é o estado correspondente a Portugal?
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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Jorge Pereira

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« Responder #10 em: Junho 13, 2007, 12:58:15 pm »
Kentucky

Citar
O Kentucky é um dos 50 Estados dos Estados Unidos da América, localizado na Região Sudeste do país. Seu nome oficial é Commonwealth of Kentucky. O Kentucky localiza-se no interior do leste dos Estados Unidos. Suas principais fontes de renda são a manufaturação de produtos industrializados e o turismo.

Anteriormente, acreditava-se que a origem do nome do Estado vinha de uma palavra ameríndia, que significa "terreno de caça escuro e sangrento", por causa de que as tribos nativas que viviam na região caçavam dentro das densas florestas do estado, e que, muitas vezes, estas tribos batalhavam-se entre si nestas florestas. Porém, atualmente acredita-se que a palavra Kentucky possa ser atribuído a numerosos idiomas indígenas, com vários significados possiveis. Alguns destes significados são "terra do amanhã", "terra de cana e perus" e "terras pradas".

A região onde está localizada atualmente o Kentucky foi colonizada originalmente por colonos da colônia britânica de Pensilvânia, em 1774, mas passou a ser controlada pela Virgínia ao longo da Revolução Americana de 1776, e tornou-se o décimo quinto estado americano a entrar na união, em 1 de junho de 1792.
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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lurker

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Re: Boas Notícias.
« Responder #11 em: Junho 13, 2007, 10:25:47 pm »
Citação de: "AugustoBizarro"
O Nuclear também não é solução milagrosa, pois não existe tanto como isso (caso fosse usado em massa). Mas daria uns 50-100 anos de autosuficiência energética a preço controlado , com abastecimento garantido.


Só um detalhe: essa estimativa é bastante antiga e baseada no tipo de centrais nucleares que existem actualmente nos EUA.

Existem possibilidades várias que permitiriam que a fissão nuclear satisfizesse as necessidades energéticas da nossa civilização durante alguns milénios, caso esse fosse o caminho a seguir.
 

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linergy

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Re: EUA na Bancarrota?
« Responder #12 em: Novembro 12, 2010, 04:24:14 pm »
Os americanos criam o dinheiro que eles quiserem, embora nas noticias te digam que eles vão estar dentro do acordo do basileia 3, é uma fraude, o ouro deles é muito menos do que eles dizem ter, mas como eles são os principais financiadores do banco mundial, controlam os políticos  que se endividaram juntos deles e em vez de fazer os políticos comprar algo de útil para os povos compram é armas para os manter sobre controlo.
Obviamente os Estados Unidos nunca vão pagar a divida, nem é essa a ideia, é dessa divida que muitos ricos recebem juros e a divida é para aumentar, o dinheiro é para continuar a crescer e se alguém quiser trocar os seus dólares por alguma coisa vão ser os comuns americanos a trabalhar para trocar o seu trabalho por dólares, só que parece que não vai haver retoma económica nos Estados Unidos, isto porque como a china agora é socialista, e não comunista (que é a mesma coisas , mas ninguém quer saber disso) os industriais  sabem que na china consegues comprar o que quiserem e comprar barato, pois se conseguires exportar para países ricos a pagar o mínimo de impostos dá para  ter lucros de 500% (digo eu), o que não dá se produzires nos estados Unidos. Vai ser muito difícil diminuir os desempregados e as pessoas é que vão precisar de ter iniciativa... dinheiro há muito, só que é distribuído para os amigos..
 

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Re: EUA na Bancarrota?
« Responder #13 em: Janeiro 05, 2011, 11:13:46 am »
Descoberta do Túlio do FD:



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Declínio e queda do império americano

Quatro cenários para o fim do século americano em 2025

por Alfred W. McCoy



Uma aterragem suave para a América daqui a 40 anos? É melhor não apostar. O desaparecimento dos Estados Unidos, enquanto superpotência global, pode chegar muito mais depressa do que se imagina. Se Washington está convencido que o fim do Século Americano será lá para 2040 ou 2050, uma avaliação mais realista das tendências internas e globais sugere que em 2025, apenas daqui a 15 anos, pode estar tudo acabado excepto a gritaria.

Apesar da aura de omnipotência que a maior parte dos impérios projecta, uma olhadela para a sua história devia lembrar-nos que eles são organismos frágeis. A sua ecologia de poder é tão frágil que, quando as coisas começam a correr mesmo mal, os impérios normalmente esboroam-se com uma rapidez impiedosa: um ano apenas para Portugal, dois anos para a União Soviética, oito anos para a França, 11 anos para os otomanos, 17 anos para a Grã-Bretanha e, com toda a probabilidade, 22 anos para os Estados Unidos, a contar do ano crucial de 2003.

Os futuros historiadores identificarão provavelmente a imprudente invasão do Iraque da administração Bush nesse ano como o início da queda da América. Mas, ao contrário do banho de sangue que marcou o fim de tantos impérios do passado, com cidades a arder e massacres de civis, este colapso imperial do século vinte e um pode ocorrer de modo relativamente calmo através dos rebentos invisíveis do colapso económico ou da guerra cibernética.

Mas não tenham dúvidas: quando finalmente acabar o domínio global de Washington, todos os dias haverá recordações dolorosas do que tal perda de poder significa para os americanos qualquer que seja o seu estilo de vida. Como meia dúzia de países europeus descobriram, o declínio imperialista tende a ter um impacto bastante desmoralizante numa sociedade, impondo pelo menos uma geração de privações económicas. À medida que a economia arrefece, a temperatura política sobe, estimulando frequentemente uma grave turbulência interna.

Os dados económicos, educativos e militares indicam que, no que se refere ao poder global dos EUA, as tendências negativas convergirão rapidamente em 2020 e provavelmente atingirão uma massa crítica por volta de 2030. O Século Americano, tão triunfalmente proclamado no início da II Guerra Mundial, estará esfarrapado e moribundo em 2025, na sua oitava década, e pode pertencer ao passado em 2030.

Significativamente, em 2008, o National Intelligence Council dos EUA reconheceu pela primeira vez que o poder global da América estava de facto numa trajectória de declínio. Num dos seus relatórios futuristas periódicos, Global Trends 2025, o Conselho citava "a transferência da riqueza e do poder económico globais actualmente em curso, grosso modo do ocidente para o oriente" e "sem precedentes na história moderna", como o principal factor no declínio da "força relativa dos Estados Unidos – mesmo na área militar". Mas, tal como muita gente em Washington, os analistas do Conselho previam uma aterragem muito prolongada e muito suave para o predomínio americano global e albergavam a esperança de que, de certa forma, os EUA iriam "manter competências militares únicas… para projectar globalmente o poder militar" durante as próximas décadas.

Não vão ter essa sorte. Segundo as actuais projecções, os Estados Unidos vão encontrar-se em segundo lugar, atrás da China (já a segunda maior economia do mundo) em produtividade económica por volta de 2026, e atrás da Índia em 2050. Do mesmo modo, a inovação chinesa está numa trajectória para a liderança mundial em ciências aplicadas e em tecnologia militar algures entre 2020 e 2030, na altura em que o actual suprimento de brilhantes cientistas e engenheiros da América se reformarem, sem uma substituição adequada por uma geração mais nova com deficiente instrução.

Em 2020, segundo os planos actuais, o Pentágono jogará uma última cartada para um império moribundo. Lançará uma tripla cobertura letal de modernas armas aeroespaciais robóticas como a última esperança de Washington para manter o poder global apesar da redução da sua influência económica. Mas nesse ano, a rede global chinesa de satélites de comunicações, apoiada pelos super-computadores mais poderosos do mundo, também estará plenamente operacional, fornecendo a Beijing uma plataforma independente para o armamento do espaço e um poderoso sistema de comunicações para ataques de mísseis ou cibernéticos em todos os quadrantes do globo.

Embrulhada numa arrogância imperial, tal como Whitehall ou o Quai d'Orsay antes dela, a Casa Branca parece imaginar ainda que o declínio americano será gradual, suave e parcial. No discurso sobre o Estado da Nação em Janeiro passado, o presidente Obama voltou a garantir que "eu não aceito um segundo lugar para os Estados Unidos da América". Dias depois, o vice-presidente Biden ridicularizou a ideia de que "estamos destinados a cumprir a profecia [do historiador Paul] de Kennedy de que vamos ser uma grande nação que falhou porque perdemos o controlo da nossa economia e exagerámos". Do mesmo modo, ao escrever na edição de Novembro da revista institucional Foreign Affairs, o guru da política neoliberal Joseph Nye afastou qualquer conversa sobre o crescimento económico e militar da China, desdenhando "metáforas enganadoras de declínio orgânico" e negando que estivesse em marcha qualquer deterioração do poder global dos EUA.

Os americanos vulgares, que vêem os seus empregos a fugir para além-mar, têm uma perspectiva mais realista do que os seus lideres mimados. Uma sondagem de opinião de Agosto de 2010 chegou à conclusão de que 65% dos americanos estão convencidos de que o país já se encontra "numa situação de declínio". A Austrália e a Turquia, tradicionais aliados militares dos EUA, já estão a usar as suas armas fabricadas por americanos em manobras aéreas e navais conjuntas com a China. Os parceiros económicos mais próximos da América já estão a distanciar-se de Washington quanto à oposição às taxas de câmbio da China. Quando o presidente regressou da sua visita à Ásia no mês passado, um cabeçalho tristonho do New York Times resumia a situação desta maneira: "A visão económica de Obama é rejeitada no palco mundial, a China, a Grã-Bretanha e a Alemanha desafiam os EUA, Conversações comerciais com Seul também falham".

Vista numa perspectiva histórica, a questão não é se os Estados Unidos vão perder o seu incontestado poder global, mas qual o grau de rapidez e de violência que o declínio terá. Em vez do pensamento desejoso de Washington, vamos utilizar a própria metodologia futurista do National Intelligence Council para sugerir quatro cenários realistas para ver como o poder global dos EUA pode chegar ao fim nos anos 20, seja com um golpe ou com um gemido (acompanhados de quatro análises correspondentes da situação actual). Os cenários futuros incluem: declínio económico, choque petrolífero, desventuras militares e III Guerra Mundial. Embora estas não sejam as únicas possibilidades no que se refere ao declínio americano ou mesmo ao seu colapso, constituem uma visão sobre um futuro próximo.

Declínio económico: Situação actual

Existem presentemente três ameaças principais para a posição dominante da América na economia global: perda de peso económico graças à quota minguante do comércio mundial, declínio da inovação tecnológica americana e fim da situação privilegiada do dólar enquanto divisa de reserva global.

Em 2008, os Estados Unidos já tinham descido para o número três nas exportações globais de mercadorias, com apenas 11% em comparação com 12% para a China e 16% para a União Europeia. Não há nenhuma razão para crer que esta tendência se vá inverter.

A liderança americana na inovação tecnológica também está em decadência. Em 2008, os EUA ainda eram o número dois a seguir ao Japão nos pedidos de patentes mundiais com 232 mil, mas a China estava a aproximar-se rapidamente com 195 mil, graças a um aumento fulgurante de 400% desde 2000. Um arauto de maior declínio: em 2009 os EUA atingiram o último lugar na classificação entre os 40 países analisados pela Information Technology & Innovation Foundation no que se refere a "mudança" em "competitividade global com base na inovação" durante a década anterior. A dar mais peso a estas estatísticas, o Ministério da Defesa da China divulgou em Outubro o super-computador mais rápido do mundo, o Tianhe-1A, tão poderoso, disse um especialista dos EUA, que "estoira com a actual máquina nº 1" na América.

Acrescentem a isto a clara evidência de que o sistema educativo dos EUA, a fonte dos futuros cientistas e inovadores, tem vindo a ficar para trás em relação aos seus competidores. Depois de liderar o mundo durante décadas, no que se refere a gente entre os 25 e os 34 anos de idade com graus universitários, o país mergulhou para 12º lugar em 2010. O Fórum Económico Mundial classificou os Estados Unidos com um medíocre 52º lugar entre 139 países quanto à qualidade do ensino universitário de matemática e ciências em 2010. Actualmente, quase metade de todos os estudantes formados em ciências nos EUA são estrangeiros, a maioria dos quais regressará aos seus países, em vez de se manter aqui como acontecia anteriormente. Por outras palavras, em 2025, os Estados Unidos enfrentarão provavelmente uma escassez crítica de cientistas talentosos.

Estas tendências negativas estão a estimular críticas cada vez mais duras ao papel do dólar como divisa de reserva mundial. "Os outros países já não estão dispostos a comprar a ideia de que os EUA sabem o que é o melhor em política económica", observou Kenneth S. Rogoff, um antigo economista de topo do Fundo Monetário Internacional. Em meados de 2009, quando os bancos centrais mundiais detinham um valor astronómico de 4 milhões de milhões de dólares em notas do Tesouro americano, o presidente russo Dimitri Medvedev insistia que era tempo de acabar com "o sistema unipolar mantido artificialmente" baseado "numa divisa de reserva que antigamente era forte".

Simultaneamente, o governador do banco central da China sugeria que o futuro poderá assentar numa divisa de reserva global "desligada de países individuais" (ou seja, o dólar dos EUA). Considerem isto como indicadores de um mundo futuro, e duma possível tentativa, conforme referiu o economista Michael Hudson, "para acelerar a falência da ordem mundial financeiro-militar dos Estados Unidos".

Declínio económico: Cenário 2020

Em 2020, depois de anos de gordos défices alimentados por intermináveis guerras em países distantes, e conforme esperado há muito, o dólar dos EUA perde finalmente o seu estatuto especial como divisa de reserva mundial. Subitamente, o custo das importações dispara. Impossibilitado de pagar os défices enormes através da venda ao estrangeiro das notas do Tesouro agora desvalorizadas, Washington é finalmente forçado a reduzir o seu inchado orçamento militar. Debaixo da pressão interna e externa, Washington faz regressar lentamente as forças americanas das centenas de bases ultramarinas para um perímetro continental. Mas agora já é tarde demais.

Confrontados com uma superpotência moribunda incapaz de pagar as contas, a China, a Índia, o Irão, a Rússia e outras potências, grandes e regionais, desafiam provocadoramente o domínio dos EUA sobre os oceanos, o espaço e o ciber-espaço. Entretanto, no meio de preços altos, de um desemprego sempre crescente e de uma queda continuada dos salários reais, as divisões internas resultam em choques violentos e debates fracturantes, muitas vezes sobre questões totalmente irrelevantes. Na crista de uma onda política de desilusão e desespero, um patriota da extrema-direita conquista a presidência com retórica retumbante, exigindo respeito para com a autoridade americana e ameaçando retaliação militar ou represálias económicas. O mundo não liga nenhuma quando o Século Americano termina em silêncio.

Choque petrolífero: Situação actual

Uma consequência do poder económico moribundo da América tem sido a sua dificuldade nos abastecimentos globais de petróleo. Ultrapassando a economia ávida de gasolina da América, a China passou a ser o maior consumidor de energia este Verão, uma posição que os EUA mantiveram durante mais de um século. O especialista em energia Michael Klare argumenta que esta mudança significa que a China vai "assumir o comando na definição do nosso futuro global".

Em 2025, o Irão e a Rússia vão controlar quase metade do abastecimento mundial de gás natural, o que potencialmente lhes dará uma vantagem enorme sobre a Europa faminta de energia. Acrescentem as reservas de petróleo a esta mistura e, conforme alertou o National Intelligence Council, dentro de apenas 15 anos, a Rússia e o Irão poderão "emergir como os reis da energia".

Apesar duma espantosa capacidade de invenção, as grandes potências petrolíferas estão neste momento a esgotar as grandes bacias de reservas petrolíferas que são de extracção fácil e barata. A grande lição do desastre petrolífero do Deep Horizon no Golfo do México não foi o padrão negligente de segurança da BP, mas o simples facto que toda a gente viu no "pequeno ecrã": os gigantes da energia já não têm alternativa senão procurar aquilo que Klare designa por "petróleo difícil" a quilómetros abaixo da superfície do oceano para conseguir manter os seus lucros.

A agravar o problema, os chineses e os indianos tornaram-se repentinamente enormes consumidores de energia. Mesmo que os abastecimentos de combustíveis fósseis se mantivessem constantes (o que não acontece), a procura, e portanto os custos, aumentará certamente – e de forma acentuada. Outras nações desenvolvidas estão a enfrentar esta ameaça de uma forma agressiva dedicando-se a programas experimentais para desenvolver fontes de energia alternativas. Os Estados Unidos seguiram um caminho diferente, fazendo muito pouco para desenvolver energias alternativas ao mesmo tempo que, nos últimos trinta anos, duplicaram a sua dependência das importações de petróleo estrangeiro. Entre 1973 e 2007, as importações de petróleo aumentaram de 36% da energia consumida nos EUA para 66%.

Choque petrolífero: Cenário 2025

Os Estados Unidos mantêm-se tão dependentes do petróleo estrangeiro que qualquer pequena evolução adversa no mercado global de energia em 2025 provoca um choque petrolífero. Em comparação, o choque petrolífero de 1973 (quando os preços quadruplicaram em poucos meses) não é nada. Irritados com a queda do valor do dólar, os ministros do Petróleo da OPEP, num encontro em Ryadh, exigem os pagamentos futuros da energia num "cabaz" de ienes, iuans e euros. O que só contribui para aumentar o custo das importações do petróleo dos EUA. Na mesma altura, enquanto assinam uma nova série de contratos de entrega a longo prazo com a China, os sauditas estabilizam as suas próprias reservas de divisas estrangeiras mudando para o iuan. Entretanto, a China injecta milhares de milhões na construção de um enorme oleoduto trans-Ásia e no financiamento da exploração no Irão do maior campo de gás natural do mundo, em South Pars no Golfo Pérsico.

Com a preocupação de que a Marinha dos EUA já não seja capaz de proteger os petroleiros que viajam do Golfo Pérsico para abastecer a Ásia oriental, uma coligação de Teerão, Riad e Abu Dabi forma uma inesperada nova aliança do Golfo e afirma que a nova frota da China de porta-aviões ligeiros passará a patrulhar o Golfo Pérsico a partir duma base no Golfo de Oman. Sob uma forte pressão económica, Londres concorda em cancelar o aluguer aos EUA da sua base na ilha de Diego Garcia no Oceano Indico, enquanto Camberra, pressionada pelos chineses, informa Washington que a Sétima Frota deixou de ser bem-vinda para usar Fremantle como porto de abrigo, expulsando assim na prática a Marinha dos EUA do Oceano Indico.

Duma penada, e após alguns avisos sucintos, a 'Doutrina Carter', segundo a qual o poder militar dos EUA iria proteger eternamente o Golfo Pérsico, é posta de parte em 2025. Todos os elementos que há muito garantiam aos Estados Unidos abastecimentos ilimitados de petróleo a baixo preço daquela região – logística, taxas de câmbio e poder naval – evaporam-se. Nesta altura, os EUA ainda conseguem cobrir uns insignificantes 12% das suas necessidades energéticas a partir da sua alternativa embrionária da indústria energética e mantém-se dependente das importações de petróleo para metade do seu consumo de energia.

O choque petrolífero que se segue atinge o país como um furacão, disparando os preços para alturas impressionantes, tornando as viagens uma proposta extremamente cara, colocando os salários reais (que há muito estavam em declínio) em queda livre e tornando não competitivas as poucas exportações americanas que ainda restam. Com os termóstatos a descer, os preços da gasolina a furar o tecto, e os dólares a fugir mar fora em troca do petróleo caro, a economia americana fica paralisada. Com as alianças há muito desgastadas no fim e as pressões fiscais a aumentar, as forças militares americanas começam finalmente uma retirada encenada das suas bases ultramarinas.

Em poucos anos, os EUA estão funcionalmente na falência e o relógio aproxima-se da meia-noite do Século Americano.

Aventuras militares desastrosas: Situação actual

Contrariando o bom senso, à medida que o seu poder enfraquece, os impérios embarcam frequentemente em aventuras militares desastrosas e mal aconselhadas. Este fenómeno é conhecido entre os historiadores do império como "micro-militarismo" e parece envolver esforços psicologicamente compensadores para salvar o estigma da retirada ou da derrota ocupando novos territórios, mesmo que breve e catastroficamente. Estas operações, irracionais mesmo do ponto de vista imperialista, representam muitas vezes gastos hemorrágicos ou derrotas humilhantes que só aceleram a perda do poder.

Em todas as épocas, os impérios bélicos sofrem de uma arrogância que os leva a mergulhar cada vez mais profundamente em aventuras desastrosas até que a derrota se transforma em derrocada. Em 413 AC, uma Atenas enfraquecida enviou 200 barcos para serem massacrados na Sicília. Em 1921, uma Espanha imperialista moribunda enviou 20 mil soldados para serem dizimados pelos guerrilheiros berberes em Marrocos. Em 1956, um Império Britânico em decadência destruiu o seu prestígio atacando o Suez. E em 2001 e 2003, os EUA ocuparam o Afeganistão e invadiram o Iraque. Com a arrogância que define os impérios ao longo dos milénios, Washington aumentou o número de efectivos no Afeganistão para 100 mil, alargou a guerra até ao Paquistão, e prolongou o seu compromisso até 2014 e para além disso, namorando desastres grandes e pequenos neste cemitério de impérios com armas nucleares, infestado por guerrilhas.

Aventuras militares desastrosas: Cenário 2014

O 'micro-militarismo" é tão irracional, tão imprevisível, que cenários aparentemente irreais rapidamente são ultrapassados pelos acontecimentos reais. Com as forças militares americanas esticadas desde a Somália às Filipinas e as tensões crescentes em Israel, no Irão e na Coreia, são múltiplas as combinações possíveis para uma crise militar desastrosa no estrangeiro.

Estamos a meio do Verão de 2014 e uma reduzida guarnição americana no Kandahar em guerra no sul do Afeganistão é súbita e inesperadamente invadida por guerrilheiros talibãs, enquanto a aviação americana está no chão por causa duma tempestade de areia que impede a visão. São feitas pesadas baixas e, em retaliação, um comandante americano envergonhado envia bombardeiros B-1 e caças F-16 para demolir bairros suburbanos da cidade que se julga estarem sob controlo dos talibãs, enquanto helicópteros equipados com metralhadoras AC-130U "Spooky" varrem os escombros com um devastador fogo de canhões.

Imediatamente, os mullahs começam a pregar a jihad nas mesquitas por toda a região, e unidades do exército afegão, treinados por forças americanas para dar a volta à guerra, começam a desertar em massa. Então, os combatentes talibãs desencadeiam uma série de ataques extremamente sofisticados, visando as guarnições dos EUA em todo o país, fazendo aumentar as baixas americanas. Em cenas que fazem recordar Saigão em 1975, helicópteros americanos resgatam soldados e civis americanos nos telhados de Cabul e Kandahar.

Entretanto, irritados com o beco sem saída interminável que já dura há décadas no que se refere à Palestina, os lideres da OPEP impõem um novo embargo petrolífero aos EUA como protesto pelo seu apoio a Israel, assim como pela matança de número incontável de civis muçulmanos nas suas guerras em curso por todo o Grande Médio Oriente. Com os preços da gasolina a subir em espiral e as refinarias a ficarem secas, Washington toma a decisão de enviar forças de Operações Especiais para conquistar os portos petrolíferos do Golfo Pérsico. Isto, por sua vez, incentiva uma onda de ataques suicidas e a sabotagem de oleodutos e de poços de petróleo. Enquanto nuvens negras se acumulam no céu e os diplomatas se levantam na ONU para denunciar asperamente as acções americanas, comentadores em todo o mundo fazem ressuscitar a história para brandir este "Suez da América", uma referência explícita à derrocada de 1956 que marcou o fim do Império Britânico.

III Guerra Mundial: Situação actual

No Verão de 2010, as tensões militares entre os EUA e a China começaram a aumentar no Pacífico ocidental, outrora considerado um 'lago' americano. Ainda um ano antes ninguém teria previsto uma evolução destas. Tal como Washington se aproveitou da sua aliança com Londres para se apropriar de grande parte do poder global da Grã-Bretanha depois da II Guerra Mundial, também a China está a utilizar agora os proveitos do seu comércio de exportações para os Estados Unidos para financiar o que parece vir a ser um desafio militar ao domínio americano nas águas da Ásia e do Pacífico.

Com os seus recursos cada vez maiores, Beijing está a reclamar um vasto arco marítimo desde a Coreia à Indonésia há muito dominado pela Marinha dos EUA. Em Agosto, depois de Washington ter manifestado um "interesse nacional" no Mar do Sul da China e de ali ter efectuado exercícios navais para reforçar essa pretensão, o Global Times oficial de Beijing respondeu asperamente, dizendo, "O confronto de forças EUA-China em relação à questão do Mar do Sul da China fez subir a parada quanto à decisão de qual vai ser o verdadeiro futuro governante do planeta".

No meio de tensões crescentes, o Pentágono relatou que Beijing já detém "a capacidade de atacar… porta-aviões [americanos] no Oceano Pacífico ocidental" e visar "forças nucleares por todo… o continente dos Estados Unidos". Ao desenvolver "capacidades ofensivas de guerra nuclear, espacial e cibernética", a China parece determinada a competir pelo domínio daquilo a que o Pentágono chama "o espectro de informação em todas as dimensões do campo de batalha moderno". Com o desenvolvimento em curso do poderoso super míssil Longo Alcance V, assim como com o lançamento de dois satélites em Janeiro de 2010 e outro em Julho, num total de cinco, Beijing deu sinal de que o país estava a dar passos rápidos na direcção de uma rede "independente" de 35 satélites para capacidades de posicionamento global, de comunicações e de reconhecimento até 2020.

Para conter a China e alargar a sua posição militar globalmente, Washington pretende montar uma nova rede digital de robótica aérea e espacial, capacidades avançadas de guerra cibernética e vigilância electrónica. Os estrategas militares esperam que este sistema integrado envolva a Terra numa grelha cibernética capaz de ofuscar exércitos inteiros no campo de batalha ou de caçar um simples terrorista no campo ou na favela. Em 2020, se tudo correr conforme planeado, o Pentágono vai lançar um escudo de três camadas de pequenos aviões espaciais de controlo remoto – que vão da estratosfera até à exosfera, armados com mísseis ágeis, ligados por um elástico sistema de satélite modular e manobrados inteiramente por vigilância telescópica.

Em Abril passado, o Pentágono fez história. Alargou as operações dos aviões de controlo remoto até à exosfera lançando calmamente o X-37B, um veículo espacial não tripulado, para uma órbita baixa a 410 km acima do planeta. O X-37B é o primeiro de uma nova geração de veículos não tripulados que vão marcar o total armamento do espaço, criando uma arena para futuras guerras diferente de tudo o que já se viu.

III Guerra Mundial: Cenário 2025

A tecnologia do espaço e a guerra cibernética são coisas tão novas e sem estarem testadas que até os cenários mais estranhos podem vir a ser ultrapassados por uma realidade que ainda é difícil de conceber. Mas se utilizarmos apenas o tipo de cenários que a própria Força Aérea usou no seu Jogo de Capacidades Futuras 2009, podemos obter "uma melhor compreensão de como o ar, o espaço e o ciber espaço se sobrepõem na guerra" e começar a imaginar como poderá ser realmente travada uma próxima guerra mundial.

São 11:59 da noite de quinta-feira de Acção de Graças em 2025. Enquanto os ciber-compradores se apinham nos portais da Melhor Compra para beneficiar dos grandes descontos na última palavra de aparelhos electrónicos domésticos chineses, os técnicos da Força Aérea dos EUA no Telescópio de Vigilância Espacial em Maui engasgam-se com o café quando os seus ecrãs panorâmicos se apagam subitamente. A milhares de quilómetros, no centro de operações do Ciber-Comando dos EUA, no Texas, os ciber-guerreiros depressa detectam binários maliciosos que, embora lançados anonimamente, mostram as distintas impressões digitais do Exército de Libertação de Pequim.

O primeiro ataque aberto é um ataque que ninguém previra. "Vírus" chineses apoderam-se do controlo da robótica a bordo de um avião "Vulture" americano, de controlo remoto, não tripulado, alimentado a energia solar, quando ele se encontra a 70 mil pés de altitude sobre o Estreito Tsushima entre a Coreia e o Japão. Este dispara subitamente toda a carga de mísseis transportada na sua enorme envergadura de 120 metros, enviando dezenas de mísseis letais que mergulham inofensivamente no Mar Amarelo, desarmando eficazmente essa arma formidável.

Decidido a combater o fogo com fogo, a Casa Branca autoriza um ataque de retaliação. Confiante em que o seu sistema satélite F-6 "Fractionated, Free-Flying" é impenetrável, os comandantes da Força Aérea na Califórnia transmitem códigos robóticos para a flotilha de aviões espaciais de controlo remoto X-37B que se deslocam numa órbita a 400 km acima da Terra, ordenando-lhes que lancem os seus mísseis "Triple Terminator" contra os 35 satélites da China. Resposta zero. Quase em pânico, a Força Aérea lança o seu Cruise Vehicle Hipersónico Falcon para um arco a 160 km acima do Oceano Pacífico e, 20 minutos depois, envia os códigos de computador para disparar mísseis contra sete satélites chineses em órbitas vizinhas. Subitamente os códigos de lançamento deixam de estar operacionais.

À medida que os vírus chineses alastram descontroladamente pela arquitectura dos satélites F-6, enquanto os super-computadores americanos de segunda categoria não conseguem decifrar o diabolicamente complexo código do vírus, deixam de funcionar sinais de GPS vitais para a navegação dos navios e aviação americana em todo o mundo. Porta-aviões começam a andar em círculos no meio do Pacífico. Esquadrões de caças aterram. Mortíferos aviões de comando remoto voam sem rumo, despenhando-se quando se esgota o combustível. Subitamente, os Estados Unidos perdem o que a Força Aérea americana há muito chamava "o supremo terreno elevado ": o espaço. Em poucas horas, o poder militar que dominara o globo durante quase um século, foi derrotado na III Guerra Mundial sem uma única baixa humana.

Uma Nova Ordem Mundial?

Mesmo que os acontecimentos futuros venham a ser mais sensaborões do que estes quatro cenários sugerem, todas as tendências significativas apontam para um declínio muito mais impressionante do poder global americano em 2025 do que tudo o que Washington parece estar hoje a encarar.

À medida que em todo o mundo os aliados começam a realinhar as suas políticas para terem conhecimento dos crescentes poderes asiáticos, o custo de manter 800 ou mais bases militares ultramarinas vai tornar-se simplesmente insustentável, acabando por forçar uma retirada encenada numa Washington ainda renitente. Com os EUA e a China numa corrida para armar o espaço e o ciber-espaço, é inevitável que aumentem as tensões entre as duas potências, tornando pelo menos possível um conflito militar em 2025, embora isso não seja garantido.

A complicar ainda mais as coisas, as tendências económicas, militares e tecnológicas acima traçadas não funcionarão isoladamente. Tal como aconteceu aos impérios europeus depois da II Guerra Mundial, essas forças negativas vão mostrar-se inquestionavelmente sinérgicas. Vão combinar-se de formas perfeitamente inesperadas, vão criar crises para as quais os americanos não estão minimamente preparados e vão ameaçar precipitar a economia numa súbita espiral descendente, mergulhando esta nação numa geração ou mais de miséria económica.

Enquanto o poder dos EUA recua, o passado oferece um espectro de possibilidades para uma futura ordem mundial. Numa das pontas deste espectro, não se pode pôr de lado a ascensão de uma nova superpotência global, embora isso seja pouco provável. Tanto a Rússia como a China revelam ainda culturas auto-referenciais, escritas difíceis não romanas, estratégias de defesa regional e sistemas legais subdesenvolvidos, que lhes negam instrumentos chave para um domínio global. Portanto, de momento, parece que não há no horizonte nenhuma superpotência que possa suceder aos EUA.

Numa versão sombria, medonha, do nosso futuro global, uma coligação de corporações transnacionais, de forças multilaterais como a NATO e duma elite financeira internacional talvez pudesse forjar um único elo supra-nacional, possivelmente instável, que tornaria sem sentido continuar a falar de impérios nacionais. Enquanto as corporações desnacionalizadas e as elites multinacionais governariam assumidamente um mundo assim em enclaves urbanos seguros, a multidão seria relegada para a desolação urbana e rural.

No 'Planeta Favela' (Planet of Slums) , Mike Davis apresenta pelo menos uma visão parcial de um mundo desses. Defende que os mil milhões de pessoas já amontoadas em fétidos bairros pobres, tipo favelas, em todo o mundo (e que chegarão aos dois mil milhões em 2030) formarão "as 'cidades falhadas, selvagens' do Terceiro Mundo… o campo de batalha característico do século vinte e um". À medida que a noite se instala nalgumas das futuras super-favelas, "o império pode impor tecnologias orwelianas de repressão" como "helicópteros com metralhadoras, tipo vespas, a caçar inimigos enigmáticos pelas ruas estreitas dos bairros pobres… Todas as manhãs os bairros respondem com bombistas suicidas e explosões eloquentes".

A meio caminho do espectro de possíveis futuros, pode emergir um novo oligopólio global entre 2020 e 2040, com potências em ascensão como a China, a Rússia, a Índia e o Brasil colaborando com potências em decadência como a Grã-Bretanha, a Alemanha, o Japão e os Estados Unidos para imporem um domínio global ad hoc, parecido com a aliança solta dos impérios europeus que governaram metade da humanidade por volta de 1900.

Outra possibilidade: a ascensão de hegemonias regionais num regresso a algo que faz recordar o sistema internacional que funcionou antes de tomarem forma os impérios modernos. Nesta ordem mundial neo-westfaliana, com as suas imagens infindáveis de micro-violência e de exploração sem controlo, cada hegemonia dominará a sua região – a Brasília na América do Sul, Washington na América do Norte, Pretória na África do Sul, e por aí afora. O espaço, o ciber-espaço e as profundezas marítimas, libertos do controlo do antigo "polícia" planetário, os Estados Unidos, até podem tornar-se áreas públicas globais, controladas por um Conselho de Segurança das Nações Unidas alargado ou qualquer órgão ad hoc.

Todos estes cenários são extrapolações de tendências existentes para um futuro no pressuposto de que os americanos, cegos pela arrogância de décadas de um poder historicamente sem paralelo, não possam ou não queiram tomar medidas para gerir a erosão descontrolada da sua posição global.

Se o declínio da América está de facto numa trajectória de 22 anos, de 2003 a 2005, então já esbanjámos a maior parte da primeira década desse declínio com guerras que nos afastaram dos problemas a longo prazo e, tal como a água despejada nas areias do deserto, desperdiçaram milhões de milhões de dólares de que precisamos desesperadamente.

Se restam apenas 15 anos, ainda se mantém alta a possibilidade de esbanjá-los todos. O Congresso e o presidente encontram-se actualmente manietados; o sistema americano está inundado de dinheiro público destinado a emperrar as obras; e poucas indicações há de que quaisquer questões de significado, incluindo as nossas guerras, o nosso estado de segurança nacional, o nosso esfomeado sistema de educação, e o nosso antiquado fornecimento de energia, sejam tratadas com a necessária seriedade para assegurar o tipo de aterragem suave que podia maximizar o papel e a prosperidade do nosso país num mundo em mudança.

Os impérios da Europa acabaram e o império da América está a acabar. É cada vez mais duvidoso que os Estados Unidos venham a ter algo parecido com o êxito da Grã-Bretanha em moldar uma ordem mundial sucedânea que proteja os seus interesses, preserve a sua prosperidade e exiba o carimbo dos seus melhores valores.

  • Professor de história na Universidade de Wisconsin-Madison, colaborador frequente de TomDispatch, autor de Policing America's Empire: The United States, the Philippines, and the Rise of the Surveillance State (2009). É também o lider do projecto "Empires in Transition" , um grupo de trabalho global de 140 historiadores de universidades de quatro continentes. Os resultados das suas primeiras reuniões em Madison, Sidney, e Manila foram publicados como Colonial Crucible: Empire in the Making of the Modern American State e as conclusões da sua última conferência aparecerão no próximo ano em "Endless Empire: Europe's Eclipse, America's Ascent, and the Decline of U.S. Global Power".


O original encontra-se em http://www.tomdispatch.com/... . Tradução de Margarida Ferreira.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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HaDeS

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Re: EUA na Bancarrota?
« Responder #14 em: Março 14, 2011, 01:40:29 am »
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''O poder dos EUA está se reduzindo''
Michael Mandelbaum, professor da Universidade Johns Hopkins


Sob o peso de uma dívida pública de US$ 14 trilhões e de um déficit fiscal de US$ 1,3 bilhão, os EUA não serão mais a mesma superpotência das sete décadas passadas. As ações militares e diplomáticas diminuirão, por resistência dos contribuintes americanos em pagar a conta. Regiões que precisam de apoio direto de Washington para construir suas instituições - da Líbia ao Haiti, do Afeganistão ao Iraque - mergulharão na "desordem".

A previsão sombria é de Michael Mandelbaum, professor de política externa americana da Universidade Johns Hopkins. Segundo ele, porém, mesmo com o aparente declínio americano, nenhuma outra potência alcançará os Estados Unidos nas próximas décadas. A seguir, trechos da entrevista.

Os Estados Unidos não têm hoje o mesmo peso em foros internacionais como no pós-2ª Guerra. Qual é o seu real poder?

Os Estados Unidos continuam a ser o país mais poderoso e importante do mundo. Mas, haverá uma contração do poder americano nos próximos anos por causa do peso maior dos programas de assistência e previdência social no orçamento do país. A geração do baby boom, americanos nascidos entre 1946 e 1964, começou a se aposentar. Os EUA serão obrigados a conduzir uma política externa com gastos menores. E não há outro país interessado em assumir o papel dos EUA no mundo, mesmo de forma complementar.

A China seria uma alternativa aos EUA?

A China não se tornará uma superpotência, como os EUA. Primeiro, a China é ainda um país muito pobre. Cresceu muito, mas a renda per capita continua muito baixa e há centenas de milhões de pessoas pobres no país. O foco de qualquer governo chinês estará sempre no espaço doméstico, no crescimento econômico interno, não na projeção de seu poder no mundo. Segundo, a China não assume responsabilidades no sistema internacional. Terceiro, os países do Leste Asiático suspeitam da China e preferirão contar com os EUA.

Outros emergentes não podem tocar essa agenda?

O Brasil se tornará mais importante na América Latina e no Caribe. A Índia, no Sul da Ásia. Para carregarem as tarefas atuais no mundo, não vejo nenhum outro substituto.

A redução do orçamento dos EUA em defesa e diplomacia levará a que tipo de mudança? O que é descartável na atual política externa?

As áreas vitais são o Leste da Ásia, o Oriente Médio e a Europa - as mesmas do período da Guerra Fria. A política de construção de nação conduzida desde o final da Guerra Fria - Bósnia, Kosovo, Haiti e Somália - não será repetida.

Por pressão doméstica ou outras razões?

Porque os EUA constataram que essas intervenções são muito custosas. Talvez sejam desejáveis, mas não são mais viáveis.

E em relação a países como Egito, Tunísia e Líbia. Os EUA podem se dar ao luxo de negar essa ajuda?

Eu acredito que os EUA podem e vão negar. E, com isso, não creio que a imagem do país como líder mundial sofrerá. Será uma surpresa se os EUA custearem essas intervenções porque os contribuintes americanos não querem mais pagar essa conta. Os EUA continuarão com suas atividades de contraterrorismo e de inteligência, em cooperação com outros governos e agências, e ainda podem se valer de seus mísseis de alcance continental. A questão não é mais enviar grandes contingentes de soldados nem adotar programas de construção de nações. Ou seja, não mais valer-se dos modelos de (George W.) Bush e de (Bill) Clinton. Essas políticas de intervenção militar não contam mais com o apoio popular.

Se não há substitutos para os EUA como superpotência, qual o destino dos países em reconstrução?

Haverá mais desordem no mundo. Não chegará ao caos. Mas, onde os EUA não puderem mais intervir, haverá desordem. O custo da liderança atrofiada será pior para o mundo do que para os EUA.

Qual sua avaliação sobre o desinteresse dos EUA pela América Latina?

A região não é importante na política de segurança nacional dos Estados Unidos, o que é bom para todo o mundo. Não há problemas na América Latina que afetem os EUA como existem em outras partes do mundo. E acho que não é de interesse da América Latina atrair a atenção dos Estados Unidos.

QUEM É

Referência no estudo da diplomacia dos EUA, ganhou fama como um dos maiores defensores de um imposto adicional sobre fontes não renováveis de energia para reduzir a dependência americana do petróleo. Mandelbaum também tornou-se especialista em Europa Oriental e Rússia. Ele fez doutorado na Universidade Harvard, mestrado na Universidade Cambridge e graduação em Yale
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