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Geopolítica-Geoestratégia-Política de Defesa => Mundo => Tópico iniciado por: Normando em Janeiro 04, 2005, 04:13:56 pm

Título: Estados Unidos testam conceito definido pela UE
Enviado por: Normando em Janeiro 04, 2005, 04:13:56 pm
DN online
Terça-feira, 4 de Janeiro de 2005

Os Estados Unidos, através do seu Comando Europeu das Forças Armadas (EUCOM, instalado em Estugarda, Alemanha), começou a testar um novo conceito de intervenções militares que «copia» o modelo desenvolvido pela UE usar os militares como último recurso, privilegiando a acção de especialistas civis (economistas, diplomatas).

Numa edição recente do jornal Stars and Stripes, a «effects-based warfare» - atacando as causas (sociais, económicas, políticas) que podem levar um determinado país à guerra - surge como alternativa à prioridade pelas campanhas militares rápidas e com vitórias esmagadoras. «No passado, o Governo norte-americano usou, por vezes, muito do seu [braço] militar (…) e pouco de outras componentes» na abordagem a um conflito, escreve o jornal, citando o coronel Dave Beydler, do EUCOM.

O conceito começou a ser testado em Novembro, com o exercício «Flexible Leader'05» (Líder Flexível), cuja segunda fase se realizará em Junho de 2005. «A viabilidade económica e a segurança para todos [os cidadãos do Estado em causa] foi uma prioridade central», explicou o director do Centro de Planeamento e Operações do EUCOM.

O vice-almirante Hamlin Tallent, escusando-se a identificar a nação africana escolhida para o exercício (baseado em «intelligence» real), precisou os fundamentos do novo conceito «Se [um] país deixar de ser economicamente viável, então perderá a sua legitimidade. A capacidade do Governo para apoiar a população e ter o seu respeito desaparecerá.» Daí a nova estratégia que Washington desenha para operações no estrangeiro (planeadas em conjunto por civis e militares) e assente nos quatro pilares da sigla DIME que a identifica: Diplomacia, Informação, Forças Armadas (Military em inglês) e Economia.

ÁFRICA. Além do contributo das chamadas «lições aprendidas» pelos estrategas militares norte-americanos no Iraque (um atoleiro onde Washington gasta agora cerca de 4,4 mil milhões de dólares por mês), o DIME também está a ser pensado para uma intervenção em países pouco desenvolvidos - com destaque para África.

Fontes militares do Stars and Stripes afirmam que a instabilidade política em África, e a existência de vastas áreas sem controlo dos Estados, podem favorecer o extremismo anti-EUA. «Se mais nações africanas se tornarem estáveis, cooperando umas com as outras e se tornarem auto-suficientes, todo o mundo beneficiará», escreve o jornal, citando o vice-almirante Hamlin Tallent.

«Como é que se chega às pessoas? O que é que se está disposto a fazer para alcançar algum efeito positivo, sabendo que se tem de lutar para lá chegar? Esse é o desafio», constata ainda o director do Centro de Planeamento e Operações do EUCOM.

Um aspecto interessante do projecto pioneiro do EUCOM é que coincide com a definição, pela UE, dos chamados «battle groups» (grupos de batalha). Fontes diplomáticas e militares da UE disseram recentemente ao DN que a dezena de unidades daquela dimensão (cerca de 1500 efectivos, com capacidade de transporte estratégico e de sustentação no teatro de operações durante um ano) visa reforçar o papel de Bruxelas nas suas «áreas de interesse estratégico em África».

África é um dos palcos da geopolítica onde os EUA têm centrado as suas atenções nos últimos anos, até pela importância que os recursos naturais do continente têm para a indústria aeroespacial norte-americana, assinalou uma das fontes ouvidas pelo DN.

UE. A par da constituição dos «battle groups», a UE está a criar uma célula de planeamento estratégico e de emergência - dependendo directamente do secretário-geral da União - com cerca de oito dezenas de efectivos, onde «mais de metade» são especialistas civis (em economia, política, agricultura, planeamento), referiram as fontes.

«Na UE é tudo tratado a nível civil-militar, onde só em último caso é que se usa a força militar», adiantaram, citando o exemplo da Bósnia e Herzegovina, onde Bruxelas colocou há algumas semanas a EUFOR para substituir a Força de Estabilização (SFOR) da NATO (Operação Althea).

Aparentemente, os EUA pretendem seguir o modelo da UE. Além de que, apesar das virtudes que a política de Bruxelas possa ter, os custos financeiros das guerras que Washington tem feito nos últimos anos podem facilitar a adopção do conceito desenvolvido pelo EUCOM.

Registe-se que os gigantescos défices gémeos (orçamental e externo) dos EUA, a que se juntam os gastos galopantes com a guerra do Iraque, já levaram o Pentágono a suspender ou reduzir drasticamente alguns programas de modernização das suas Forças Armadas.

Depois de cancelar em Fevereiro último o programa dos helicópteros Comanche (38 mil milhões de dólares), Donald Rumsfeld acaba de transmitir à Casa Branca e ao Congresso a intenção de cortar nos custos do mais caro projecto da história da Força Aérea dos EUA. Segundo o New York Times, o programa dos F/A-22 («Raptores») tem um custo estimado de 71,8 mil milhões de dólares - 258 milhões por cada um dos 277 aparelhos a comprar e que já estão em testes operacionais (tendo o primeiro acidente ocorrido nas vésperas de Natal).