Inscrições no colégio baixam 42% após casos de maus tratos
por FILIPA AMBRÓSIO DE SOUSA
A instituição recebeu apenas 94 pedidos de candidatura este ano lectivo
No Colégio Militar (CM), os pedidos de inscrições este ano lectivo baixaram 42% face ao anterior. Estes dados surgem na sequência da polémica gerada em torno do colégio o ano passado depois de o Ministério Público ter decidido levar a julgamento oito alunos graduados por maus tratos a "caloiros".
Questionado sobre os efeitos destes acontecimentos na imagem do Colégio, o director, major--general Raul Passos, assume que, "de facto, houve um decréscimo muito grande das inscrições". De acordo com o responsável, antes de serem conhecidos os casos de maus tratos, o número de pedidos de inscrições para o ano lectivo de 2008/2009 foi de 164, com 91 alunos admitidos. Já no início do ano lectivo de 2009/2010, as inscrições foram apenas 94 - quase metade - e as admissões 56, num universo de 379 alunos.
A dez dias das comemorações do 207.º aniversário, o colégio abriu as portas para uma visita dos jornalistas. O objectivo do convite foi claro e assumido: "Antes de se fazer juízos de valor, há que se conhecer a casa."
Passeando nos corredores do edifício - rodeado por 13 hectares ao ar livre entre os bairros de Benfica e Carnide - esse alegado "clima de terror" não transparece. Actualmente, o colégio alberga 379 "meninos da Luz" - entre os 9 e os 17 anos -, que, acima de tudo, e com orgulho espelhado no rosto, realçam o espírito de "camaradagem e amizade" entre os colegas.
Mas é certo que a disciplina está lá, como é exigida numa escola que se assume como militar. Recheada de "continências" e paradas diárias - com o devido respeito hierárquico perante os superiores militares - os alunos reúnem-se todos os dias antes do almoço. "Há quem aguente e há quem não aguente", diz o responsável. Sendo que a taxa de desistência se tem equilibrado em 10% nos últimos anos.
Todos os dias, os alunos acordam às 07.00 - com a obrigação da cama feita nas camaratas onde dormem - e terminam as suas actividades escolares, desportivas e musicais às 19.00. Têm ainda "direito" a ir dormir a casa às quartas- -feiras e a sair às sextas-feiras. Com duas classificações de "mau", um aluno é expulso do colégio.
"A falta de conhecimento do que é o colégio descontextualiza as notícias, e hoje há muita gente que fala sem saber", defende Martiniano Gonçalves, presidente da Associação de Antigos Alunos. "Há toda a vantagem que este colégio seja o mais conhecido possível e que a sociedade faça um juízo com fundamento, com conhecimento de causa", reforça. Uma escola de "valores e liderança", como definiu o próprio director. Líderes estes que, segundo o Ministério Público (MP), em alguns casos abusaram do poder. Em Outubro de 2009, o MP acusou oito alunos por seis crimes de agressões cometidos no interior do colégio em 2006/2007. No despacho final, o MP fazia a distinção entre os castigos "com fins educativos inseridos no poder-dever de correcção dos graduados e os maus tratos". Em causa, banhos gelados, agressões com escovas e alunos pendurados pelas pernas nas janelas. Os seis ex-alunos aguardam agora o início do julgamento.
O artigo no jornal de papel tem uma caixa com vários da dados estatísticos em relação ao Colégio:
-379 alunos;
-680 euros de mensalidade (com 30% de desconto para filhos de militares);
-34 salas;
-76 professores;
-115 vagas anuais