A Responsabilidade da Marinha no Naufrágio da Praia da Légua

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João Oliveira Silva

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A Responsabilidade da Marinha no Naufrágio da Praia da Légua
« em: Janeiro 06, 2007, 11:59:38 am »
" Publicação: 06-01-2007 09:31    |   Última actualização: 06-01-2007 10:14  
 
Lusa
 
Marinha assume responsabilidades
 
 
Barco naufragou há uma semana na Nazaré
 
O Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) assumiu responsabilidades pelas tentativas falhadas de salvar do mar seis pescadores do barco que naufragou há uma semana na Nazaré, solidarizando-se com os marinheiros que tentaram o salvamento.
 

 
O almirante Melo Gomes acredita que, ao assumir responsabilidades, espera que todas os outros retirem também as lições que devem ser tiradas deste caso.

"Assumo todas as responsabilidades - as nossas - como é meu dever, certo que todos saberão também assumir as suas, retirando lições", afirmou o almirante Melo Gomes num documento divulgado internamente a que a Agência Lusa teve acesso.

Assinalando que apesar de "tudo" terem feito para salvar os pescadores do "Luz do Sameiro", Melo Gomes reconhece que a Marinha "nunca conseguirá explicar ao público" o facto de não ter podido salvar todos os sete tripulantes "a tão curta distância da praia".

Melo Gomes afirma-se seguro "da eficácia" com que os marinheiros utilizaram os meios ao seu dispor e sublinha que "só os que são do mar" podem compreender inteiramente uma situação como a que aconteceu na Nazaré.

"Melhorar e optimizar" são os objectivos apontados por Melo Gomes para a Marinha, para os quais conta com "mais e melhores meios, alguns já em construção, outros programados para breve", embora reconheça que "infelizmente nem todos são possíveis face a muitas outras solicitações do Estado".

O CEMA estende aos marinheiros "o reconhecimento devido", aos que "365 dias por ano, 24 horas por dia, dão de si o melhor para cumprirem as suas missões".

Apesar de não ter conseguido salvar as vidas de seis dos tripulantes, a Marinha está orgulhosa "das 435 vidas salvas nas 661 acções de busca e salvamento" realizadas em 2006, ressalva o almirante Melo Gomes.

A operação desencadeada para tentar salvar os tripulantes do "Luz do Sameiro" foi alvo de várias críticas, nomeadamente do dono da embarcação e de vários populares que assistiram às tentativas de resgate, que reclamavam mais rapidez na chegada dos meios ao local.
O naufrágio levou também o ministro da Defesa a pedir que fossem averiguados os factos em torno do naufrágio, nomeadamente em relação aos procedimentos da Marinha e da Força Aérea.

Sindicatos, pescadores e municípios reclamaram mais meios de segurança para os portos, enquanto o PCP pediu também a realização de um inquérito ao acidente pela comissão parlamentar de Defesa.  "

Algo aqui não está bem?...
O Almirante CEMA não se pode solidarizar com os marinheiros que tentaram o salvamento. A génese do seu cargo assenta, em qualquer minuto, na solidariedade com todos os seus subordinados, qualquer que seja o seu posto ou esteja onde estiver.
O Almirante assume as responsabilidades da marinha ( que são poucas ), os outros não assumem as deles e, entretanto, fica a ideia que a responsabilidade é integral da Marinha.
Assim " ...a Marinha não conseguirá explicar ao público ... ".
Se são devidas explicações, não é a Marinha que as têm que dar. A  FAP é que deve explicar as razões pelas quais demora 2 horas a chegar. Depois submeter-se ao julgamento dos cidadãos e " melhorar e optimizar " os seus procedimentos.
A Marinha é responsável por não ver pescadores a pescar a 50 metros da praia, em rebentação e com rochas, sem coletes e com equipamentos de salvamento sofríveis..
Essa sim é a maior responsabilidade da Marinha. Mas se actua com a severidade que se exige para bem dos próprios é a própria opinião pública que condena a Marinha.
Isso é que deveria ser lembrado nesta ocasião. A actuação severa da Marinha não é para impedir o ganha-pão dos pescadores, é para impedir acidentes como estes e que ninguém deseja.

Cumprimentos
 

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João Oliveira Silva

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« Responder #1 em: Janeiro 06, 2007, 01:13:28 pm »
Notícia de abertura nos telejornais da 1 hora, deste sábado:

" Marinha assume responsabilidades "
" Marinha não consegue explicar "
" Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil diz que vai ter que haver mudanças. O helicóptero estacionado em Santa Comba Dão estaria no local em poucos minutos. Não esteve porque a responsabilidade é da Marinha "
 

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Luso

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« Responder #2 em: Janeiro 06, 2007, 03:21:07 pm »
Uma pergunta tonta:

Faz sentido sediar os EH101 numa única base do Continente?
Além da logística que outro motivo existirá?

Não seria mais adequado distribuir os meios por três pontos?

Norte: Maceda;

Centro: Montijo (?)

Sul (?)

Distâncias mais curtas, maior rapidez...
Por favor contraditem este meu raciocínio, já que - por ser demasiado simpls e não estar em prática - será por algum problema inerente.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Yosy

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« Responder #3 em: Janeiro 06, 2007, 05:44:27 pm »
Citação de: "João Oliveira Silva"
Notícia de abertura nos telejornais da 1 hora, deste sábado:

" Marinha assume responsabilidades "
" Marinha não consegue explicar "
" Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil diz que vai ter que haver mudanças. O helicóptero estacionado em Santa Comba Dão estaria no local em poucos minutos. Não esteve porque a responsabilidade é da Marinha "


A Marinha não consegue explicar mas eu consigo! Eles têm muito, MUITO a mania. Querem estar sempre na ribalta e depois dão bronca, como se viu. Muitas vezes, navios mercantes que captaram sinais de socorro e estão muito mais perto dos náufragos, são impedidos de actuar pela Marinha, que pode demorar horas a chegar.

Por outro lado, os tripulantes do navio de pesca nem coletes salva-vidas tinham (e duvido muito que soubessem sequer operar os sistemas de segurança a bordo - o que é obrigatório saberem). E os navios de pesca também ligam pouco á segurança da navegação - vão para onde está o peixe.
 

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manuel liste

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« Responder #4 em: Janeiro 06, 2007, 05:54:43 pm »
Fai pouco morreu afogada unha turista diante de centos de coruñeses, a só uns metros do paseo marítimo da cidade. As testemuñas chamaron a un heli do servicio de salvamento civil (polo teléfono das urxencias -112), que demorou unha hora en chegar dende o aviso. O cadaver para entón xa fora rescatado por unha lancha do Porto da Coruña.

O salvamento marítimo nunca foi fácil, nin 100% seguro. De ahí o gran mérito das persoas adicadas a él.
 

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papatango

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« Responder #5 em: Janeiro 06, 2007, 06:49:51 pm »
Uma interessante assunção de culpas.

No entanto, creio que neste caso, há questões diferentes que estão a ser colocadas no mesmo cesto.

A questão dos helicópteros é secundária, porque o salvamento por helicóptero não é a opção imediata.

Creio que neste caso, o falhanço assumido, tem a ver com o periodo que passou entre o momento em que a boia de segurança se soltou e enviou um sinal para o satélite.

Parece ser aqui que reside o problema.

Entre as 06:42 (falo de memória) e as 08:30 a responsabilidade é da marinha. Os helicópteros só parecem ter sido accionados por volta das 08:30 e demoraram cercad e 45minutos para sair do montijo, por volta das 09:15 e mais cerca de 30 minutos para chegar à Nazaré, por volta das 09:45.

A mim, a esta distância, parece-me que a trapalhada está relacionada com a informação dada pela marinha de que o sistema que emite o sinal para o satélite ter sido libertado (e começado a emitir um sinal) na zona de rebentação das ondas.

Eu não conheço o sistema e não sei se o sinal é continuo, não sei que tipo de sinal e tipo de frequência utiliza, mas sinceramente não entendi muito bem, como é que um dispositivo que emite um sinal para um satélite, dando uma localização que nos dias de hoje consegue ter uma precisão de pouquíssimos metros confunde alguém de forma a não ligar nenhuma.

É neste periodo entre as 06:42 e as 08:30 que estará a responsabilidade da marinha, por não ter conseguido determinar o que se passava respondendo da forma mais adequada.

Creio no entanto, que uma das conclusões que podemos tirar (eu pelo menos tiro) é a de que quando se colocam várias entidades a tratar de uma coisa, normalmente dá buraco.

A marinha assumiu responsabilidades pela parte que lhe compete, mas provavelmente outras entidades o teriam que fazer.

Nós não precisamos de uma marinha a tratar deste tipo de coisas, nem de uma força aérea, o que provavelmente precisamos é de um corpo dedicado à protecção civil, mais próximo de uma brigada de Guarda Costeira na dependência da GNR que de uma marinha de guerra.

A Marinha e a Força Aérea, neste caso (e não sei se noutros) não parecem conseguir coordenar uma operação em tempo útil.

Conseguem fazer as coisas bem, quando têm tempo (como foi o caso do salvamento esta semana a 500Km dos Açores) mas quando a coisa "aperta",  aparecem estes problemas.

E claro, também pode ter ocorrido o que muitas vezes ocorre: Um acumular de pequenos erros que resultam numa catástrofe.

No entanto, considerando o que se sabe, e porque há sempre uma responsabilidade primeira, esta parece estar no facto de ninguém ter ligado ao sinal do satélite.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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ricardonunes

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« Responder #6 em: Janeiro 06, 2007, 07:30:41 pm »
Continuo com a minha opinião, o que falhou foi o sistema de localização.
Não consigo perceber como é que o dito sistema pode demorar horas a localizar o sinal.
Para se estacionar uma estação de GPS para fazer um levantamento topográfico, e o conceito é o mesmo, a estação emite um sinal e aguarda a confirmação do referido ponto após a triangulação efectuada pelo/pelos satélites, se demora no máximo 15min, e isto utilizando satélites civis.
Potius mori quam foedari
 

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luis filipe silva

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« Responder #7 em: Janeiro 06, 2007, 07:47:57 pm »
Papatango escreveu:
Citar
Conseguem fazer as coisas bem, quando têm tempo (como foi o caso do salvamento esta semana a 500Km dos Açores) mas quando a coisa "aperta", aparecem estes problemas.

E claro, também pode ter ocorrido o que muitas vezes ocorre: Um acumular de pequenos erros que resultam numa catástrofe.

No entanto, considerando o que se sabe, e porque há sempre uma responsabilidade primeira, esta parece estar no facto de ninguém ter ligado ao sinal do satélite.


Completamente de acordo. No entanto como o Yosi escreveu, os tripulantes tiveram tempo de vestir os coletes, e os bombeiros de passar um cabo de vai-vem. Claro que antes e a partir daí falhou tudo, porque primeiro estão as "picardias" inter-armas e depois a salvaguarda da vida humana.
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saudações:
Luis Filipe Silva
 

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Lancero

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« Responder #8 em: Janeiro 06, 2007, 09:07:23 pm »
Tanto quanto sei, os tripulantes são obrigados a ter os coletes mas não a tê-los sempre vestidos (como deviam!). Não sei se tiveram tempo para o fazer ou não. Também não sei se lhes tinham salvo a vida - com a água muito fria que concerteza estava.
Aparentemente, a culpa do acidente é do mestre/tripulação do barco. Mas deixem-me usar uma analogia: eu entro em contramão na auto-estrada e causo um acidente brutal do qual, felizmente, apenas eu saio ferido. O facto de a culpa ser minha e até merecer uns ossos partidos justifica que a ambulância apenas chegue ao local do acidente 4 horas depois?
É que ao ouvir a Marinha a dizer insistentemente que os pescadores "não tinham os coletes" faz-me parecer que querem desviar o tema...
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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luis filipe silva

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« Responder #9 em: Janeiro 06, 2007, 09:27:12 pm »
Lancero escreveu:
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Não sei se tiveram tempo para o fazer ou não. Também não sei se lhes tinham salvo a vida - com a água muito fria que concerteza estava

Se estiveram tantas horas à espera de socorro(helicóptero)tiveram tempo de sobra para vestir os coletes(que numa foto do CM de hoje se viam na praia), e os bombeiros de lhes passar um cabo de vai-vem, como se fazia antes de haver helicópteros. Com isto não estou a tirar responsabilidades a ninguém, e todos, mas todos, as têm.
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saudações:
Luis Filipe Silva
 

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Marauder

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« Responder #10 em: Janeiro 06, 2007, 09:39:16 pm »
O barco aparentemente andava em situação ilegal..a lei obriga que estejam a 400m da costa para a pesca que eles andavam a fazer..se tivessem cumprido a lei este caso não teria acontecido.

Mas é claro que isto não justifica nada. Os problemas que aconteceram no salvamento falhado ainda não foram bem explicados...
 

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fgomes

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« Responder #11 em: Janeiro 06, 2007, 09:39:20 pm »
Bem a Marinha já assumiu as suas responsabilidades, o que é bom.
Conheço relativamente bem a costa Oeste e muitas vezes pude observar o modo irresponsável como muitos pescadores navegam junto à rebentação e  excessivamente perto da costa sendo a zona do naufrágio extremamente perigosa mesmo no Verão. Com as temperaturas da água e do ar que ocorrem nesta época, más condições de mar, mesmo cumprindo as regras de segurança e com assistência rápida, a sobrevivência dos pescadores seria difícil, portanto a melhor maneira de evitar estas tragédias é não correr riscos nem facilitar.
 

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TOMKAT

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« Responder #12 em: Janeiro 07, 2007, 01:30:40 pm »
"Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão"

Há falhas óbvias na estrutura montada para o socorro a náufragos em Portugal, mas essas falhas não se resumem  a burocracias evitáveis.

A resposta ao disparo da "baliza" de um navio é sempre verificada, antes de serem accionados os meios de salvamento, pois muitos dos alarmes detectados, verifica-se serem falsos alarmes. As "balizas" podem ser accionadas manualmente por algum tripulante ou por contacto com água, o que origina muitos "alarmes acidentais".

Apesar disso a resposta do salva-vidas da Nazaré, a cerca de 3 milhas do local do naufrágio, aparenta ter sido lenta. Mas poderia ter sido mais rápida?

Pelo que foi tornado público, o accionamento da "baliza" do barco naufragado foi logo detectado, mas as coordenadas exactas não foram recebidas, devido ao barco se encontrar no meio da rebentação. Só com um telefonema de um pescador desportivo que se encontrava na praia para o 112 foi encontrada a localização exacta do naufrágio, provavelmente já demasiado tarde para uma eficaz actuação do salva-vidas, por o barco naufragado se encontrar no meio de uma forte rebentação, junto à "borda" emaranhado em redes, colocando-se em risco o próprio salva-vidas no caso de alguma intervenção.

Outro factor negativo:

Segundo o que ouvi por estes dias, a Marinha (e o Ministério da Defesa como autoridade tutelar) à cerca de vinte anos que não aumenta os efectivos dedicados aos navios salva-vidas. São admitidas (poucas) pessoas a recibo verde para estas funções, com vencimentos ridículos (600 euros +/-) e cumprindo horários de funcionário público (9h ás 17h). As (poucas) pessoas ligadas a estes meios de salvamento, com muita dedicação, prescindindo de períodos de férias e de descanso, conseguem atenuar as fragilidades de uma organização, fragilidades que se tornam evidentes em situações como a ocorrida.

O mea culpa da Marinha é elogiável. É sempre bom o gesto humilde de reconhecimento de que se pode fazer sempre melhor. Que esse gesto tenha consequências.

A resposta dos meios aéreos provavelmente poderia ser mais rápida, os 45 minutos apontados parecem um exagero.
Terá havido alguma relação com a rendição das tripulações?
(9h00 da manhã pelo que foi afirmado noutro tópico).
Se se reclama dos atrasos com os meios aéreos a pouco mais de 100 quilómetros, o que seria se o acidente acorresse na costa algarvia,… ou no norte do continente?

A lógica seria os meios aéreos dedicados a este serviço estarem distribuídos por três zonas geográficas: Norte, Centro e Sul.
Mas isso implicará necessáriamente mais meios aéreos dedicados.
E eles existem?

Culpa maior para os pescadores e mestre da embarcação.

Conheço muito bem a praia onde se deu o naufrágio.
A Légua é um local habitual para os meus mergulhos de caça submarina.

Confirmo o que já foi escrito por outros no tópico. É habitual encontrarem-se embarcações de pesca a poucas dezenas de metros da costa em actividades piscatórias, normalmente pesca do cerco. Nesta praia, nem a distância (referida noutro post) de 400 metros é segura. A essa distância, a profundidade em muitos locais não ultrapassa os 10 metros, e basta haver um pouco de nortada para haver formação de vagas, que muitas vezes se formam a 200 ou 300 metros da costa, chegando junto à costa fácilmente aos 4 a 5 metros.

Pelo que me foi contado, o barco naufragado andava na "lide", um golpe de mar fez com que as redes se embrulhassem no leme e na hélice, e sem leme e sem motor, no meio da ondulação, o resultado só poderia ser o naufrágio.

Não dá para entender porque os naufragos não utilizaram os coletes de salvamento, após o incidente. Pelo que foi relatado, estiveram várias horas aguardando o salvamento, tempo mais que suficiente para que, sensatamente, colocassem os coletes.
Talvez quando os procurassem fosse tarde demais, (coletes mal localizados) o que poderá revelar as defeciências na formação de quem "anda" no mar, as deficiências… e a leviandade com que a maioria dos pescadores enfrentam uma profissão de alto risco.

À distância que o barco estava da costa, com coletes de salvamento, sem as botas e os fatos impermeáveis habituais nos pescadores, apesar das fortes correntes que se fazem sentir neste local, lançando-se à água, qualquer pessoa com o mínimo de calma e experiência, exigível, acho eu, a um qualquer pescador embarcado, aproveitando a "boleia" das ondas, chegaria a terra em tempo suficiente para que os efeitos fatais da hipotermia não se fizessem sentir.

Portanto, tem pouca razão de ser a correria tonta que os representantes dos pescadores têm efectuado nestes últimos dias, quando (apesar de alguma razão em certas lacunas apontadas ao ISN) apontando o dedo acusador a quem os socorre, não olham para o próprio umbigo, esquecendo-se que a prevenção dos acidentes, é o meio mais eficaz de poupar vidas, e a prevenção começa em “casa”.

Nota final.
Foi afirmado pela generalidade dos meios de comunicação social, e continua a sê-lo, ser a praia da Légua na Nazaré.
Errado. Está sob jurisdição da capitania do porto da Nazaré, mas pertence ao concelho de Alcobaça, portanto o barco afundou numa praia do concelho de Alcobaça (o concelho da Nazaré é uma espécie de enclave neste concelho).

Off-tópic: A menos de uma milha do local do naufrágio deste barco está um vapôr naufragado. As chaminés da caldeira são visíveis a um qualquer mergulhador em apeneia. Chegar aos destroços em apeneia, só para mergulhadores experientes e com bastante “pulmão”.
IMPROVISAR, LUSITANA PAIXÃO.....
ALEA JACTA EST.....
«O meu ideal político é a democracia, para que cada homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado»... Albert Einstein
 

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lurker

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« Responder #13 em: Janeiro 08, 2007, 07:57:51 pm »
Em jeito de resposta ao papatango mas também na esperança que ajude alguém a desenterrar um pouco mais informação sobre isso, aqui fica um resumo da informação que encontrei na Internet sobre o sistema de alerta usado.

O alerta foi dado por um Emergency Position-Indicating Radio Beacon (EPIRB) do sistema Cospas-Sarsat.

Essencialmente é uma boia com um radio que, quando começa a flutuar, começa a enviar um sinal periódico (periodo de 50 segundos durante 48 horas).

O Cospas-Sarsat utiliza dois tipos de faróis e satélites em órbita baixa e geoestacionários.

O faróis mais antigos, que vão parar de ser monitorizados em 2009, funcionam na banda de 121MHz não transmitem qualquer informação sobre a identidade ou posição do farol.
O sinal é detectado quando um dos satélites passa por cima da àrea, sendo necessária uma 2ª passagem para determinar a posição do farol, com uma precisão de 20KM. [1]

Os faróis actuais funcionam na banda 406MHz e transmitem um sinal digital com a identificação do farol (ou seja, do navio) e, se o farol tiver essa funcionalidade, as coordenadas deste obtidas a via GPS.
Excepto nos pólos, o sinal de emergência é captado imediatamente por um conjunto de satélites geoestacionários.
Caso o farol não suporte GPS, é necessário uma passagem de um satélite em órbita baixa. [1]

[1] Os satélites de órbita baixa determinam a posição do farol com base em efeito de Doppler. Como estão parados relativamente à Terra, os satélites geoestacionários não observam efeito Doppler.

A partir da informação nos órgãos de comunicação social parece-me seguro fazer duas afirmações:
- Foi possivel identificar o barco a quem pertencia o sinal de emergência para contactar o armador.
- Não foi possivel determinar imediatamente a posição do barco.

Portanto, parece-me que o farol a bordo do Luz do Sameiro era um dos que funcionam na banda de 406 MHz mas não incluem GPS.

De resto, a informação disponivel na comunicação social parece-me incoerente.
Alguns artigos dizem que pelas 07h15 a Marinha já tinha a posição do barco, outro que só tinha a latitude.
A avaliar pela descrição do sistema, creio que a última hipótese é improvável com o sistema de 406 MHz: ou tudo ou nada. Com o sistema de 121MHz é que isso me parece possivel. Mas posso estar errado.

Outra nota: todos os barcos de pesca com mais de 15 metros são obrigados a ter uma caixa MONICAP que transmite a posição do barco determinada por GPS, para efeitos de controlo de pesca.
Não sei se o centro de salvamentos tem acesso à informação do MONICAP ou não.
 

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ricardonunes

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« Responder #14 em: Janeiro 08, 2007, 08:19:38 pm »
Citação de: "lurker"

Portanto, parece-me que o farol a bordo do Luz do Sameiro era um dos que funcionam na banda de 406 MHz mas não incluem GPS.



Se o farol tivesse o GPS, a confirmação do sinal pelo satélite era quase instantânea, e esse não foi o caso.

Já agora, benvindo ao Forum lurker.
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