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Forças Armadas e Sistemas de Armas => Marinha Portuguesa => Tópico iniciado por: João Oliveira Silva em Janeiro 06, 2007, 11:59:38 am

Título: A Responsabilidade da Marinha no Naufrágio da Praia da Légua
Enviado por: João Oliveira Silva em Janeiro 06, 2007, 11:59:38 am
" Publicação: 06-01-2007 09:31    |   Última actualização: 06-01-2007 10:14  
 
Lusa
 
Marinha assume responsabilidades
 
 
Barco naufragou há uma semana na Nazaré
 
O Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) assumiu responsabilidades pelas tentativas falhadas de salvar do mar seis pescadores do barco que naufragou há uma semana na Nazaré, solidarizando-se com os marinheiros que tentaram o salvamento.
 

 
O almirante Melo Gomes acredita que, ao assumir responsabilidades, espera que todas os outros retirem também as lições que devem ser tiradas deste caso.

"Assumo todas as responsabilidades - as nossas - como é meu dever, certo que todos saberão também assumir as suas, retirando lições", afirmou o almirante Melo Gomes num documento divulgado internamente a que a Agência Lusa teve acesso.

Assinalando que apesar de "tudo" terem feito para salvar os pescadores do "Luz do Sameiro", Melo Gomes reconhece que a Marinha "nunca conseguirá explicar ao público" o facto de não ter podido salvar todos os sete tripulantes "a tão curta distância da praia".

Melo Gomes afirma-se seguro "da eficácia" com que os marinheiros utilizaram os meios ao seu dispor e sublinha que "só os que são do mar" podem compreender inteiramente uma situação como a que aconteceu na Nazaré.

"Melhorar e optimizar" são os objectivos apontados por Melo Gomes para a Marinha, para os quais conta com "mais e melhores meios, alguns já em construção, outros programados para breve", embora reconheça que "infelizmente nem todos são possíveis face a muitas outras solicitações do Estado".

O CEMA estende aos marinheiros "o reconhecimento devido", aos que "365 dias por ano, 24 horas por dia, dão de si o melhor para cumprirem as suas missões".

Apesar de não ter conseguido salvar as vidas de seis dos tripulantes, a Marinha está orgulhosa "das 435 vidas salvas nas 661 acções de busca e salvamento" realizadas em 2006, ressalva o almirante Melo Gomes.

A operação desencadeada para tentar salvar os tripulantes do "Luz do Sameiro" foi alvo de várias críticas, nomeadamente do dono da embarcação e de vários populares que assistiram às tentativas de resgate, que reclamavam mais rapidez na chegada dos meios ao local.
O naufrágio levou também o ministro da Defesa a pedir que fossem averiguados os factos em torno do naufrágio, nomeadamente em relação aos procedimentos da Marinha e da Força Aérea.

Sindicatos, pescadores e municípios reclamaram mais meios de segurança para os portos, enquanto o PCP pediu também a realização de um inquérito ao acidente pela comissão parlamentar de Defesa.  "

Algo aqui não está bem?...
O Almirante CEMA não se pode solidarizar com os marinheiros que tentaram o salvamento. A génese do seu cargo assenta, em qualquer minuto, na solidariedade com todos os seus subordinados, qualquer que seja o seu posto ou esteja onde estiver.
O Almirante assume as responsabilidades da marinha ( que são poucas ), os outros não assumem as deles e, entretanto, fica a ideia que a responsabilidade é integral da Marinha.
Assim " ...a Marinha não conseguirá explicar ao público ... ".
Se são devidas explicações, não é a Marinha que as têm que dar. A  FAP é que deve explicar as razões pelas quais demora 2 horas a chegar. Depois submeter-se ao julgamento dos cidadãos e " melhorar e optimizar " os seus procedimentos.
A Marinha é responsável por não ver pescadores a pescar a 50 metros da praia, em rebentação e com rochas, sem coletes e com equipamentos de salvamento sofríveis..
Essa sim é a maior responsabilidade da Marinha. Mas se actua com a severidade que se exige para bem dos próprios é a própria opinião pública que condena a Marinha.
Isso é que deveria ser lembrado nesta ocasião. A actuação severa da Marinha não é para impedir o ganha-pão dos pescadores, é para impedir acidentes como estes e que ninguém deseja.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: João Oliveira Silva em Janeiro 06, 2007, 01:13:28 pm
Notícia de abertura nos telejornais da 1 hora, deste sábado:

" Marinha assume responsabilidades "
" Marinha não consegue explicar "
" Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil diz que vai ter que haver mudanças. O helicóptero estacionado em Santa Comba Dão estaria no local em poucos minutos. Não esteve porque a responsabilidade é da Marinha "
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 06, 2007, 03:21:07 pm
Uma pergunta tonta:

Faz sentido sediar os EH101 numa única base do Continente?
Além da logística que outro motivo existirá?

Não seria mais adequado distribuir os meios por três pontos?

Norte: Maceda;

Centro: Montijo (?)

Sul (?)

Distâncias mais curtas, maior rapidez...
Por favor contraditem este meu raciocínio, já que - por ser demasiado simpls e não estar em prática - será por algum problema inerente.
Título:
Enviado por: Yosy em Janeiro 06, 2007, 05:44:27 pm
Citação de: "João Oliveira Silva"
Notícia de abertura nos telejornais da 1 hora, deste sábado:

" Marinha assume responsabilidades "
" Marinha não consegue explicar "
" Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil diz que vai ter que haver mudanças. O helicóptero estacionado em Santa Comba Dão estaria no local em poucos minutos. Não esteve porque a responsabilidade é da Marinha "


A Marinha não consegue explicar mas eu consigo! Eles têm muito, MUITO a mania. Querem estar sempre na ribalta e depois dão bronca, como se viu. Muitas vezes, navios mercantes que captaram sinais de socorro e estão muito mais perto dos náufragos, são impedidos de actuar pela Marinha, que pode demorar horas a chegar.

Por outro lado, os tripulantes do navio de pesca nem coletes salva-vidas tinham (e duvido muito que soubessem sequer operar os sistemas de segurança a bordo - o que é obrigatório saberem). E os navios de pesca também ligam pouco á segurança da navegação - vão para onde está o peixe.
Título:
Enviado por: manuel liste em Janeiro 06, 2007, 05:54:43 pm
Fai pouco morreu afogada unha turista diante de centos de coruñeses, a só uns metros do paseo marítimo da cidade. As testemuñas chamaron a un heli do servicio de salvamento civil (polo teléfono das urxencias -112), que demorou unha hora en chegar dende o aviso. O cadaver para entón xa fora rescatado por unha lancha do Porto da Coruña.

O salvamento marítimo nunca foi fácil, nin 100% seguro. De ahí o gran mérito das persoas adicadas a él.
Título:
Enviado por: papatango em Janeiro 06, 2007, 06:49:51 pm
Uma interessante assunção de culpas.

No entanto, creio que neste caso, há questões diferentes que estão a ser colocadas no mesmo cesto.

A questão dos helicópteros é secundária, porque o salvamento por helicóptero não é a opção imediata.

Creio que neste caso, o falhanço assumido, tem a ver com o periodo que passou entre o momento em que a boia de segurança se soltou e enviou um sinal para o satélite.

Parece ser aqui que reside o problema.

Entre as 06:42 (falo de memória) e as 08:30 a responsabilidade é da marinha. Os helicópteros só parecem ter sido accionados por volta das 08:30 e demoraram cercad e 45minutos para sair do montijo, por volta das 09:15 e mais cerca de 30 minutos para chegar à Nazaré, por volta das 09:45.

A mim, a esta distância, parece-me que a trapalhada está relacionada com a informação dada pela marinha de que o sistema que emite o sinal para o satélite ter sido libertado (e começado a emitir um sinal) na zona de rebentação das ondas.

Eu não conheço o sistema e não sei se o sinal é continuo, não sei que tipo de sinal e tipo de frequência utiliza, mas sinceramente não entendi muito bem, como é que um dispositivo que emite um sinal para um satélite, dando uma localização que nos dias de hoje consegue ter uma precisão de pouquíssimos metros confunde alguém de forma a não ligar nenhuma.

É neste periodo entre as 06:42 e as 08:30 que estará a responsabilidade da marinha, por não ter conseguido determinar o que se passava respondendo da forma mais adequada.

Creio no entanto, que uma das conclusões que podemos tirar (eu pelo menos tiro) é a de que quando se colocam várias entidades a tratar de uma coisa, normalmente dá buraco.

A marinha assumiu responsabilidades pela parte que lhe compete, mas provavelmente outras entidades o teriam que fazer.

Nós não precisamos de uma marinha a tratar deste tipo de coisas, nem de uma força aérea, o que provavelmente precisamos é de um corpo dedicado à protecção civil, mais próximo de uma brigada de Guarda Costeira na dependência da GNR que de uma marinha de guerra.

A Marinha e a Força Aérea, neste caso (e não sei se noutros) não parecem conseguir coordenar uma operação em tempo útil.

Conseguem fazer as coisas bem, quando têm tempo (como foi o caso do salvamento esta semana a 500Km dos Açores) mas quando a coisa "aperta",  aparecem estes problemas.

E claro, também pode ter ocorrido o que muitas vezes ocorre: Um acumular de pequenos erros que resultam numa catástrofe.

No entanto, considerando o que se sabe, e porque há sempre uma responsabilidade primeira, esta parece estar no facto de ninguém ter ligado ao sinal do satélite.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: ricardonunes em Janeiro 06, 2007, 07:30:41 pm
Continuo com a minha opinião, o que falhou foi o sistema de localização.
Não consigo perceber como é que o dito sistema pode demorar horas a localizar o sinal.
Para se estacionar uma estação de GPS para fazer um levantamento topográfico, e o conceito é o mesmo, a estação emite um sinal e aguarda a confirmação do referido ponto após a triangulação efectuada pelo/pelos satélites, se demora no máximo 15min, e isto utilizando satélites civis.
Título:
Enviado por: luis filipe silva em Janeiro 06, 2007, 07:47:57 pm
Papatango escreveu:
Citar
Conseguem fazer as coisas bem, quando têm tempo (como foi o caso do salvamento esta semana a 500Km dos Açores) mas quando a coisa "aperta", aparecem estes problemas.

E claro, também pode ter ocorrido o que muitas vezes ocorre: Um acumular de pequenos erros que resultam numa catástrofe.

No entanto, considerando o que se sabe, e porque há sempre uma responsabilidade primeira, esta parece estar no facto de ninguém ter ligado ao sinal do satélite.


Completamente de acordo. No entanto como o Yosi escreveu, os tripulantes tiveram tempo de vestir os coletes, e os bombeiros de passar um cabo de vai-vem. Claro que antes e a partir daí falhou tudo, porque primeiro estão as "picardias" inter-armas e depois a salvaguarda da vida humana.
Título:
Enviado por: Lancero em Janeiro 06, 2007, 09:07:23 pm
Tanto quanto sei, os tripulantes são obrigados a ter os coletes mas não a tê-los sempre vestidos (como deviam!). Não sei se tiveram tempo para o fazer ou não. Também não sei se lhes tinham salvo a vida - com a água muito fria que concerteza estava.
Aparentemente, a culpa do acidente é do mestre/tripulação do barco. Mas deixem-me usar uma analogia: eu entro em contramão na auto-estrada e causo um acidente brutal do qual, felizmente, apenas eu saio ferido. O facto de a culpa ser minha e até merecer uns ossos partidos justifica que a ambulância apenas chegue ao local do acidente 4 horas depois?
É que ao ouvir a Marinha a dizer insistentemente que os pescadores "não tinham os coletes" faz-me parecer que querem desviar o tema...
Título:
Enviado por: luis filipe silva em Janeiro 06, 2007, 09:27:12 pm
Lancero escreveu:
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Não sei se tiveram tempo para o fazer ou não. Também não sei se lhes tinham salvo a vida - com a água muito fria que concerteza estava

Se estiveram tantas horas à espera de socorro(helicóptero)tiveram tempo de sobra para vestir os coletes(que numa foto do CM de hoje se viam na praia), e os bombeiros de lhes passar um cabo de vai-vem, como se fazia antes de haver helicópteros. Com isto não estou a tirar responsabilidades a ninguém, e todos, mas todos, as têm.
Título:
Enviado por: Marauder em Janeiro 06, 2007, 09:39:16 pm
O barco aparentemente andava em situação ilegal..a lei obriga que estejam a 400m da costa para a pesca que eles andavam a fazer..se tivessem cumprido a lei este caso não teria acontecido.

Mas é claro que isto não justifica nada. Os problemas que aconteceram no salvamento falhado ainda não foram bem explicados...
Título:
Enviado por: fgomes em Janeiro 06, 2007, 09:39:20 pm
Bem a Marinha já assumiu as suas responsabilidades, o que é bom.
Conheço relativamente bem a costa Oeste e muitas vezes pude observar o modo irresponsável como muitos pescadores navegam junto à rebentação e  excessivamente perto da costa sendo a zona do naufrágio extremamente perigosa mesmo no Verão. Com as temperaturas da água e do ar que ocorrem nesta época, más condições de mar, mesmo cumprindo as regras de segurança e com assistência rápida, a sobrevivência dos pescadores seria difícil, portanto a melhor maneira de evitar estas tragédias é não correr riscos nem facilitar.
Título:
Enviado por: TOMKAT em Janeiro 07, 2007, 01:30:40 pm
"Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão"

Há falhas óbvias na estrutura montada para o socorro a náufragos em Portugal, mas essas falhas não se resumem  a burocracias evitáveis.

A resposta ao disparo da "baliza" de um navio é sempre verificada, antes de serem accionados os meios de salvamento, pois muitos dos alarmes detectados, verifica-se serem falsos alarmes. As "balizas" podem ser accionadas manualmente por algum tripulante ou por contacto com água, o que origina muitos "alarmes acidentais".

Apesar disso a resposta do salva-vidas da Nazaré, a cerca de 3 milhas do local do naufrágio, aparenta ter sido lenta. Mas poderia ter sido mais rápida?

Pelo que foi tornado público, o accionamento da "baliza" do barco naufragado foi logo detectado, mas as coordenadas exactas não foram recebidas, devido ao barco se encontrar no meio da rebentação. Só com um telefonema de um pescador desportivo que se encontrava na praia para o 112 foi encontrada a localização exacta do naufrágio, provavelmente já demasiado tarde para uma eficaz actuação do salva-vidas, por o barco naufragado se encontrar no meio de uma forte rebentação, junto à "borda" emaranhado em redes, colocando-se em risco o próprio salva-vidas no caso de alguma intervenção.

Outro factor negativo:

Segundo o que ouvi por estes dias, a Marinha (e o Ministério da Defesa como autoridade tutelar) à cerca de vinte anos que não aumenta os efectivos dedicados aos navios salva-vidas. São admitidas (poucas) pessoas a recibo verde para estas funções, com vencimentos ridículos (600 euros +/-) e cumprindo horários de funcionário público (9h ás 17h). As (poucas) pessoas ligadas a estes meios de salvamento, com muita dedicação, prescindindo de períodos de férias e de descanso, conseguem atenuar as fragilidades de uma organização, fragilidades que se tornam evidentes em situações como a ocorrida.

O mea culpa da Marinha é elogiável. É sempre bom o gesto humilde de reconhecimento de que se pode fazer sempre melhor. Que esse gesto tenha consequências.

A resposta dos meios aéreos provavelmente poderia ser mais rápida, os 45 minutos apontados parecem um exagero.
Terá havido alguma relação com a rendição das tripulações?
(9h00 da manhã pelo que foi afirmado noutro tópico).
Se se reclama dos atrasos com os meios aéreos a pouco mais de 100 quilómetros, o que seria se o acidente acorresse na costa algarvia,… ou no norte do continente?

A lógica seria os meios aéreos dedicados a este serviço estarem distribuídos por três zonas geográficas: Norte, Centro e Sul.
Mas isso implicará necessáriamente mais meios aéreos dedicados.
E eles existem?

Culpa maior para os pescadores e mestre da embarcação.

Conheço muito bem a praia onde se deu o naufrágio.
A Légua é um local habitual para os meus mergulhos de caça submarina.

Confirmo o que já foi escrito por outros no tópico. É habitual encontrarem-se embarcações de pesca a poucas dezenas de metros da costa em actividades piscatórias, normalmente pesca do cerco. Nesta praia, nem a distância (referida noutro post) de 400 metros é segura. A essa distância, a profundidade em muitos locais não ultrapassa os 10 metros, e basta haver um pouco de nortada para haver formação de vagas, que muitas vezes se formam a 200 ou 300 metros da costa, chegando junto à costa fácilmente aos 4 a 5 metros.

Pelo que me foi contado, o barco naufragado andava na "lide", um golpe de mar fez com que as redes se embrulhassem no leme e na hélice, e sem leme e sem motor, no meio da ondulação, o resultado só poderia ser o naufrágio.

Não dá para entender porque os naufragos não utilizaram os coletes de salvamento, após o incidente. Pelo que foi relatado, estiveram várias horas aguardando o salvamento, tempo mais que suficiente para que, sensatamente, colocassem os coletes.
Talvez quando os procurassem fosse tarde demais, (coletes mal localizados) o que poderá revelar as defeciências na formação de quem "anda" no mar, as deficiências… e a leviandade com que a maioria dos pescadores enfrentam uma profissão de alto risco.

À distância que o barco estava da costa, com coletes de salvamento, sem as botas e os fatos impermeáveis habituais nos pescadores, apesar das fortes correntes que se fazem sentir neste local, lançando-se à água, qualquer pessoa com o mínimo de calma e experiência, exigível, acho eu, a um qualquer pescador embarcado, aproveitando a "boleia" das ondas, chegaria a terra em tempo suficiente para que os efeitos fatais da hipotermia não se fizessem sentir.

Portanto, tem pouca razão de ser a correria tonta que os representantes dos pescadores têm efectuado nestes últimos dias, quando (apesar de alguma razão em certas lacunas apontadas ao ISN) apontando o dedo acusador a quem os socorre, não olham para o próprio umbigo, esquecendo-se que a prevenção dos acidentes, é o meio mais eficaz de poupar vidas, e a prevenção começa em “casa”.

Nota final.
Foi afirmado pela generalidade dos meios de comunicação social, e continua a sê-lo, ser a praia da Légua na Nazaré.
Errado. Está sob jurisdição da capitania do porto da Nazaré, mas pertence ao concelho de Alcobaça, portanto o barco afundou numa praia do concelho de Alcobaça (o concelho da Nazaré é uma espécie de enclave neste concelho).

Off-tópic: A menos de uma milha do local do naufrágio deste barco está um vapôr naufragado. As chaminés da caldeira são visíveis a um qualquer mergulhador em apeneia. Chegar aos destroços em apeneia, só para mergulhadores experientes e com bastante “pulmão”.
Título:
Enviado por: lurker em Janeiro 08, 2007, 07:57:51 pm
Em jeito de resposta ao papatango mas também na esperança que ajude alguém a desenterrar um pouco mais informação sobre isso, aqui fica um resumo da informação que encontrei na Internet sobre o sistema de alerta usado.

O alerta foi dado por um Emergency Position-Indicating Radio Beacon (EPIRB) do sistema Cospas-Sarsat (http://http).

Essencialmente é uma boia com um radio que, quando começa a flutuar, começa a enviar um sinal periódico (periodo de 50 segundos durante 48 horas).

O Cospas-Sarsat utiliza dois tipos de faróis e satélites em órbita baixa e geoestacionários.

O faróis mais antigos, que vão parar de ser monitorizados em 2009, funcionam na banda de 121MHz não transmitem qualquer informação sobre a identidade ou posição do farol.
O sinal é detectado quando um dos satélites passa por cima da àrea, sendo necessária uma 2ª passagem para determinar a posição do farol, com uma precisão de 20KM. [1]

Os faróis actuais funcionam na banda 406MHz e transmitem um sinal digital com a identificação do farol (ou seja, do navio) e, se o farol tiver essa funcionalidade, as coordenadas deste obtidas a via GPS.
Excepto nos pólos, o sinal de emergência é captado imediatamente por um conjunto de satélites geoestacionários.
Caso o farol não suporte GPS, é necessário uma passagem de um satélite em órbita baixa. [1]

[1] Os satélites de órbita baixa determinam a posição do farol com base em efeito de Doppler. Como estão parados relativamente à Terra, os satélites geoestacionários não observam efeito Doppler.

A partir da informação nos órgãos de comunicação social parece-me seguro fazer duas afirmações:
- Foi possivel identificar o barco a quem pertencia o sinal de emergência para contactar o armador.
- Não foi possivel determinar imediatamente a posição do barco.

Portanto, parece-me que o farol a bordo do Luz do Sameiro era um dos que funcionam na banda de 406 MHz mas não incluem GPS.

De resto, a informação disponivel na comunicação social parece-me incoerente.
Alguns artigos dizem que pelas 07h15 a Marinha já tinha a posição do barco, outro que só tinha a latitude.
A avaliar pela descrição do sistema, creio que a última hipótese é improvável com o sistema de 406 MHz: ou tudo ou nada. Com o sistema de 121MHz é que isso me parece possivel. Mas posso estar errado.

Outra nota: todos os barcos de pesca com mais de 15 metros são obrigados a ter uma caixa MONICAP (http://http) que transmite a posição do barco determinada por GPS, para efeitos de controlo de pesca.
Não sei se o centro de salvamentos tem acesso à informação do MONICAP ou não.
Título:
Enviado por: ricardonunes em Janeiro 08, 2007, 08:19:38 pm
Citação de: "lurker"

Portanto, parece-me que o farol a bordo do Luz do Sameiro era um dos que funcionam na banda de 406 MHz mas não incluem GPS.



Se o farol tivesse o GPS, a confirmação do sinal pelo satélite era quase instantânea, e esse não foi o caso.

Já agora, benvindo ao Forum lurker.
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 08, 2007, 08:24:45 pm
Só sabe quem estuda, Lurker! :wink:
Título:
Enviado por: lf2a em Janeiro 11, 2007, 06:39:22 pm
Ah grande TOMKAT
100% de acordo.
 :G-Ok:
Título:
Enviado por: TOMKAT em Janeiro 12, 2007, 01:33:19 pm
Citar
Naufrágio nas mãos do ministro

Carlos Varela

A Marinha e a Força Aérea já entregaram no Ministério da Defesa os relatórios finais relativos ao naufrágio na Nazaré, onde quatro pescadores perderam a vida e dois desapareceram, soube o JN. Os documentos foram entregues anteontem à tarde nas mãos do ministro da Defesa, que deverá, em breve, pronunciar-se sobre o seu conteúdo.

Dos relatórios fazem parte a fita de tempo, correspondente ao registo das comunicações, particularmente entre o Comando Naval da Marinha de Guerra, onde foram recebidos os alertas do naufrágio, e a Capitania do Porto da Nazaré, por um lado, e entre o Comando Naval e o Comando Operacional da Força Aérea, por outro. Dos documentos fazem ainda parte as declarações dos vários elementos que participaram no processo de decisão de accionamento do socorro, que vão ser contrapostas com a fita de tempo e que foram decididos depois da FAP e da Marinha ter concluído e entregue o primeiro relatório.

Severiano Teixeira já leu a documentação e já terá uma opinião definida sobre o caso, que deverá publicitar. Quando, onde e como o ministro vai fazê-lo é que ainda não é conhecido, tendo em conta o melindre do caso. Seguro, no entanto, é que o ministro da Defesa poderá aproveitar a explicação dos factos para fazer propostas de alteração ao sistema de busca e salvamento - cenário que está em estudo. Mas há uma coisa que, no entanto, parece ser clara é que a questão do helicóptero da Protecção Civil como alternativa ao helicóptero da FAP não deverá ser considerada.

Mas, em contrapartida, um dos pontos mais delicados está associado ao primeiro e segundo alertas do naufrágio chegados ao Comando Naval. O inicial dá conta de um alerta via satélite para cerca de quatro milhas a norte do local exacto onde o naufrágio tinha ocorrido e o segundo referencia o alerta no Canadá. Aliás, só um contacto directo entre a Marinha e o armador da "Luz do Sameiro" permitiu verificar onde o navio de facto se encontrava.

....

http://jn.sapo.pt/2007/01/12/nacional/naufragio_maos_ministro.html


Espantosa a (in)exactidão da "baliza" do "Luz do Sameiro"...

"O inicial dá conta de um alerta via satélite para cerca de quatro milhas a norte do local exacto onde o naufrágio tinha ocorrido e o segundo referencia o alerta no Canadá"...

O Canadá.... numa qualquer praia portuguesa.... :roll:

De referir, segundo palavras do próprio armador, o "luz do Sameiro" tinha efectuado a inspecção periódica poucas semanas antes do naufrágio.

Por explicar fica a informação vinda a público (que só pode ter tido origem no próprio Comando Naval), de que tinha sido detectada a activação da "baliza", mas não as coordenadas da sua localização.
Afinal havia coordenadas, apesar de incoerentes.
Título:
Enviado por: Lancero em Janeiro 12, 2007, 01:49:04 pm
O sinal inicialmente apanhado julgo ter indicado a longitude, que, de facto, tanto poderia ser na costa da Nazaré (Alcobaça no caso) ou no Canadá
Título:
Enviado por: TOMKAT em Janeiro 12, 2007, 02:07:38 pm
Portugal parece ser o único país da Europa a não ter instalado um sistema de alerta dedicado que cubra a totalidade do país, segundo responsáveis da Marinha, por culpa do Governo (de quem mais podia ser)...

O sistema actualmente em serviço é o GMDSS (Global Maritime Distress and Safety System), com postos receptores no Algarve, em Lisboa e no Alfeite (?), sistema que utiliza os receptores colocados em terra, os receptores móveis em terra ao serviço da Polícia Marítima, e os receptores de uma qualquer embarcação a navegar, que ao abrigo de convenções internacionais é obrigada a comunicar qualquer recepcção de pedido de ajuda.

O que é o GMDSS...

Citar
GMDSS
(Global Maritime Distress and Safety System)


O GMDSS é um sistema de emergência e comunicações para embarcações que substitui o anterior baseado no sistema manual de código Morse em 500 kHz e o canal de emergência 16 em VHF e 2182 kHz em MF.
O GMDSS faz parte do SOLAS da IMO (International Maritime Organization) desde 1988 como uma alteração ao sistema de comunicações então em vigor.
O GMDSS é um sistema automático que usa os satélites do sistema COSPAS-SARSAT e uma técnologia de chamada digital selectiva. Através de equipamento apropriado tem a vantagem da simplificação das operações rádio (alertas), da melhoria da busca e salvamento, da localização do pedido de socorro e de um sistema de alerta a nível mundial coordenado em centros de salvamento específicos. Permite também uma rápida disseminação das comunicações de Urgência e Segurança, Avisos aos Navegantes e Informação Meteorológica.

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg219.imageshack.us%2Fimg219%2F7411%2Fsegurgmdssfluxyd3.jpg&hash=c32ab7051f3b5102d90974a0b2a0932d)
Esquema do fluxo de informação do GMDSS

Os equipamentos utilizam um sistema digital de identificação, enviando em cada comunicação o seu MMSI (Maritime Mobile System Identification) que identifica a embarcação (nome, porto de registo, tamanho, etc.). O equipamento recomendado a bordo, no caso de embarcações de recreio, depende da legislação do país e da área de navegação:

VHF com DSC
VHF portátil
EPIRB 406 MHz
receptor NAVTEX
SART
MF com DSC
INMARSAT
Os rádios VHF com DSC fazem escuta automática no canal 70, e em caso de recepção de uma chamada de emergência pode indicar inclusivé o nome da embarcação que chama e/ou o canal de trabalho (ex: 16 ou outro de navio-navio). Como a implementação do sistema a nível global é difícil, quase todas as estações continuam a fazer escuta em canal 16, pelo que, quem ainda não adquiriu esse tipo de equipamento pode com alguma confiança (não por muito tempo!) usar os antigos canais 16 e a frequência 2182 kHz.

O GMDSS usa quatro áreas de cobertura e vigilância:

A1 uma área ao alcance de uma estação costeira VHF preparada para receber DSC (cerca de 20 a 30 milhas de distância).
A2 uma área ao alcance de uma estação costeira MF preparada para receber DSC (cerca de 100 milhas de distância).
A3 uma área coberta pelo sistema de satélites INMARSAT (fora das áreas A1 e A2).
A4 as áreas não cobertas pelas anteriores, típicamente as polares.


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fimg219.imageshack.us%2Fimg219%2F4576%2Fcartagmdsspornx7.gif&hash=f5f73e31f9dffc91251289c0bab4189b)
Zonas de cobertura GMDSS em águas portuguesas

http://www.ancruzeiros.pt/ancsegur-gmdss.html
Título:
Enviado por: Yosy em Janeiro 12, 2007, 02:07:52 pm
^^^^ a instalação do VTS (Vessel Traffic System) costeiro (que vai ser este ano), vai ajudar a resolver este problema.

Citação de: "Lancero"
O sinal inicialmente apanhado julgo ter indicado a longitude, que, de facto, tanto poderia ser na costa da Nazaré (Alcobaça no caso) ou no Canadá


Ahem...latitude, não longitude. Para haver a confusão entre se era em Portugal ou no Canadá, o sinal só deveria ter indicado a latitude.
Título:
Enviado por: Lancero em Janeiro 12, 2007, 02:25:30 pm
Pois...  :?
Título:
Enviado por: Lancero em Janeiro 12, 2007, 02:27:50 pm
Citar
Segurança/Mar: Costa portuguesa preparada para receber pedidos auxílio, Marinha

Lisboa, 12 jan (Lusa) - O porta-voz da Marinha Portuguesa, Braz de oliveira, assegurou hoje que existem estações em terra e no mar para receber os pedidos de auxílio das embarcações e que há uma "grande probabilidade" de todos os pedidos serem ouvidos.

      O responsável reagia assim a uma notícia publicada hoje no Correio da Manhã, segundo a qual os pesqueiros portugueses estão obrigados a ter um rádio com GPS para casos de emergência, mas a costa portuguesa é a única da Europa sem equipamento para receber os sinais de socorro.

      "Há várias antenas espalhadas pelo país que fazem a cobertura da costa e há uma grande probabilidade de qualquer pedido de socorro na nossa costa ser ouvido quer nas estações em terra, quer no mar", afirmou Braz de Oliveira em conferência de imprensa na Praça do Comércio, em Lisboa.

      Segundo o comandante, estas estações recebem os pedidos de auxílio das embarcações até à implementação da infra-estrutura Sistema Global de Socorro e Segurança Marítima.

      A costa portuguesa está coberta "na grande totalidade" pela Marinha através de Lisboa e Faro, do Centro de Comunicações da Armada e do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo, que permitem accionar os meios adequados ao salvamento em questão, explicou.

      Além disso, a Marinha tem permanentemente no mar oito navios espalhados por toda a costa com equipamentos para detectar pedidos de socorro e os navios de pesca que cruzam a costa também têm equipamentos que recebem esses alertas e que são obrigados a prestar auxílio.

      No entanto, ressalvou o comandante, esta cobertura varia muito da posição em que está o emissor da antena e também na situação em que se encontra a embarcação.

      Se a embarcação já estiver em posição de afundamento, a emissão do sinal de socorro será mais difícil, explicou Braz de Oliveira.

      Relativamente à embarcação "Luz do Sameiro", que se afundou na Praia da Légua, perto da Nazaré, a 29 de Dezembro, Braz de Oliveira disse não poder garantir que haveria captação.

      No entanto, afirmou que, se o pedido não fosse captado pelas estações em terra da marinha ou pelo centro móvel da PT, teria sido recebido pelas embarcações que andam no mar e têm esse equipamento.

      "Qualquer sinal de auxílio seria ouvido pelo menos por embarcações que se encontravam na zona, quer por mercantes que cruzam a nossa costa, quer pelos oito navios de guerra que patrulham a nossa costa", salientou o comandante.

      Em 1999 os armadores de pesca costeira foram obrigados a instalar nos barcos os rádios com sistema de localização por satélite integrado (GPS), aparelhos que permitem, através de um botão, emitir pedidos de socorro.

      Além do GPS, os barcos têm a bordo a bóia de emergência (conhecida por EPIRB, do inglês Emergency Position Indication Rádio Beacon).

      A bóia - que pode ser accionada manualmente bem como soltar-se do barco em contacto com a água - indica imediatamente o nome do barco e a latitude do naufrágio.

      Braz de Oliveira adiantou que, se o sinal emitido pela embarcação não tiver o posicionamento do barco, o auxílio pode demorar entre 20 minutos e duas horas.

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2007-01-12 - 13:00:00

SOS
País surdo aos sinais de socorro
Nunca se vai conseguir saber se Inácio Maio, o mestre do pesqueiro que naufragou na praia da Légua, pressionou o botão vermelho de emergência do rádio que tinha a bordo – e não se saberá por uma trágica razão: os barcos de pesca costeira estão obrigados a ter este equipamento para pedir ajuda, mas ao longo de toda a costa portuguesa não existe uma única estação que oiça os pedidos de socorro.

O ‘Luz do Sameiro’ tinha a bordo todos os meios de socorro exigidos por lei: coletes para os sete tripulantes, balsa salva-vidas, bóia de emergência que em contacto com água emite um sinal por satélite – e o rádio com um simples botão capaz de indicar o preciso local do naufrágio. O pesqueiro, matriculado no porto de Vila do Conde, foi inspeccionado em Setembro do ano passado. Estava tudo em ordem.

Na última sexta-feira do ano, dia 29, encalhou num banco de areia, a menos de 100 metros da praia da Légua, a norte da Nazaré. A bóia de emergência, em forma de garrafa, flutuante, funcionou: o sinal foi captado pelo satélite e chegou precisamente às 06h42 à base de rastreio de Toulouse, em França.

Como o CM já noticiou, na edição de 6 de Janeiro, a informação de França foi enviada numa questão de segundos para o centro de busca e salvamento, instalado no ‘bunker’ da NATO, em Oeiras, mas sob a responsabilidade da nossa Marinha de Guerra – que só uma hora e 45 minutos depois, demasiado tarde, chamou os meios de socorros.

Além desta bóia de emergência, o ‘Luz do Sameiro’ tinha a bordo um rádio, como é da lei, equipado com um simples botão vermelho. Em caso de grave perigo, basta pressioná-lo durante cinco segundos. Nem é preciso falar. O sinal chega à costa e permite duas coisas: identificar o barco e conhecer, com rigor matemático, a posição do naufrágio.

Mas ao longo da costa portuguesa, de Caminha a Vila Real de Santo António, não existe uma única estação de rádio para escutar os pedidos de ajuda. Os gritos de socorro perdem-se – ninguém os ouve.

Inácio Maio, o mestre do ‘Luz do Sameiro’, tinha a bordo dois meios para lançar o alerta: a bóia de emergência (conhecida como EPIRB, do inglês Emergency Position Indicacion Radio Beacon), e o rádio com um GPS integrado.

A bóia, que tanto pode ser accionada manualmente como pode soltar-se do barco em contacto com a água, indicou imediatamente o nome do barco e a latitude do naufrágio – uma linha imaginária, paralela ao Equador, que começava a escassas milhas a norte da Nazaré e terminava na costa dos Estados Unidos. A Marinha devia ter enviado imediatamente para a zona da Nazaré os meios de socorro. Não o fez. Esperou que um segundo sinal captado pelo satélite indicasse a posição exacta da bóia. Mas, às 07h15, o centro de busca e salvamento da Marinha já sabia que o ‘Luz do Sameiro’ naufragara na praia da Légua – e só pelas 08h30 accionou os meios de socorro.

Além da bóia, terá o mestre Inácio Maio carregado no botão vermelho do rádio. Se o fez, emitiu um sinal com a posição exacta do barco em dificuldades – inútil sinal, porque ninguém em Portugal o ouviu.

Estivesse ele na costa mais a norte ou encostado na foz do Guadiana, no Algarve, o seu grito de socorro teria sido recebido por um dos centros de busca e salvamento no mar instalados em Espanha.

O TRÁGICO DESTINO DA 'SALGUEIRINHA'

Ainda hoje permanece em mistério o naufrágio da ‘Salgueirinha’ – uma traineira que se afundou ao largo da barra de Aveiro, na noite de 18 de Outubro de 2004, com sete pescadores de Caxinas a bordo. Ninguém se salvou. O mar estava alteroso, mas nada de meter medo a uma traineira de 17 metros de comprimento e um motor novo. O pior era o vento forte e a chuva grossa.

O mestre, José Viana, reconhecido com respeito pelos demais homens de Caxinas, falou com a mulher, ao telemóvel: estava para aí a duas milhas da barra e navegava devagar, com um vigia à proa por causa da ventania e da fraca visibilidade. A conversa foi curta. O mestre desligou dizendo à mulher que “o Armando estava aos gritos na proa”.

Armando era o vigia – e competia-lhe avisar o mestre, na casa do leme, mal avistasse outro barco em rota de colisão. Sabe-se que o vigia gritou – mais nada. Se o mestre carregou no botão do rádio – o pedido de ajuda não foi ouvido. Nessa noite, nenhum meio de socorro acudiu à ‘Salgueirinha’.

2500 PESCADORES E 500 BARCOS ESTÃO ENTREGUES À SUA SORTE

Todos os dias saem para o mar quase 500 barcos portugueses de pesca costeira com cerca de cerca de 2500 homens a bordo. Os pescadores estão entregues à sua sorte. Toda a costa europeia está coberta por estações de rádio que captam os pedidos de socorro enviados por embarcações em dificuldades – excepto os cerca de 900 quilómetros que se entendem de Caminha, na Foz do Rio Minho, a Vila Real de Santo António, na Foz do Guadiana, no Algarve.

A costa portuguesa está surda aos gritos de quem anda no mar. Os armadores de pesca estão obrigados, desde 1999, a instalarem nos barcos o rádio com GPS integrado. Mas nestes últimos sete anos nem uma estação foi construída para captar o sinal de que há vidas em perigo no mar.

O mapa reproduzido nestas páginas mostra a cor-de-laranja as zonas de costa debaixo da cobertura deste dispositivo de emergência. Do Norte da Europa até Espanha – é um oásis de segurança. Entre Caminha e Vila Real de Santo António –o perigo espreita.

PORMENORES

1999

Os armadores de pesca costeira estão obrigados, desde 1999, a instalarem nos barcos os rádios com GPS integrado que permitem, através de um botão, emitir pedidos de socorro. Estes sinais dão a identificação do barca e a posição exacta do naufrágio.

PREÇO

Os rádios com GPS integrado custam entre 900 e 1500 euros – conforme a marca. Uma bóia de emergência (EPIRB) custa entre 600 e 1600 euros.

RAIO DE ACÇÃO

Na ausência de estações costeiras que recebam os pedidos de socorro enviados pelo rádio, a Marinha de Guerra instalou nos navios aparelhos que captam os sinais. Os rádios que equipam os barcos de pesca apenas são eficazes num raio de 40 milhas (o equivalente a cerca de 70 quilómetros). Os pesqueiros não ultrapassam esta distância da costa. E nem sempre está um navio da Marinha de Guerra a menos de 40 milhas de um barco de pesca.

MARINHA DE GUERRA

A Armada, ao longo da costa entre Caminha e Sagres, apenas mantém no mar dois navios – quase sempre uma fragata e uma corveta. Ao largo da costa algarvia, entre Sagres e Vila Real de Santo António, navegam pequenas patrulhas. Os cerca de 900 quilómetros estão desprotegidos.

ACORDOS

Portugal é subscritor da Convenção Internacional para a Salvaguarda das Vidas no Mar e, por isso, obrigou-se a instalar na costa as estações para captação de pedidos de socorro.

SETE MINISTROS COM CULPA

A construção de estações costeiras que permitam captar os pedidos de socorro vindos do mar é da responsabilidade do Ministério da Defesa. Desde 1 de Fevereiro de 1999, quando passou a ser obrigatória a instalação de rádios com GPS nos barcos de pesca, até agora, o País conheceu sete ministros da Defesa – em nenhum dos mandatos a costa portuguesa ficou mais segura.

Veiga Simão tomou posse a 25 de Novembro de 1997 e abandonou o Ministério da Defesa a 29 de Maio de 1999 – já estava em vigor a obrigatoriedade de as embarcações de pesca terem a bordo o bendito rádio. Sucedeu-lhe Jaime Gama, que lá esteve até Outubro de 1999. Nada foi feito. Em mais um Governo chefiado por António Gueterres, tomou posse um terceiro ministro da Defesa – o advogado Júlio Castro Caldas, que ocupou o cargo entre Outubro de 1999 e 2 de Julho de 2001. Saiu Castro Caldas, entrou Rui Pena. No seu mandato, que durou até Abril de 2002, a costa portuguesa continuou surda aos pedidos de socorro vindos do mar.

Novo Governo, desta vez chefiado por Durão Barroso, novo ministro – Paulo Portas, que se manteve no Ministério da Defesa até Julho de 2004. Terá sido, porventura, o mais mediático e tonitruante dos ministros. Ainda assim, a costa portuguesa, ao contrário do resto da Europa, continuou de ouvidos moucos aos gritos de SOS lançados do mar. Novo primeiro-ministro, José Sócrates, outro ministro da Defesa – Luís Amado: tomou posse em Março de 2006, até que, em Julho do ano seguinte, substituiu Freitas do Amaral nos Negócios Estrangeiros. Veio Severiano Teixeira. Está há seis meses no cargo.

Manuel Catarino

http://www.correiodamanha.pt/noticia.as ... al=181&p=0 (http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=227268&idselect=181&idCanal=181&p=0)
 
Título:
Enviado por: Luso em Janeiro 12, 2007, 05:02:25 pm
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os barcos de pesca costeira estão obrigados a ter este equipamento para pedir ajuda, mas ao longo de toda a costa portuguesa não existe uma única estação que oiça os pedidos de socorro.


Isto, a ser verdade, é de extrema gravidade e constitui um acto de fraude do Estado perante os cidadãos.
Se for verdade é mais uma demonstração da falácia do conceito de "Estado como Pessoa de Bem".
Título:
Enviado por: Lancero em Janeiro 12, 2007, 06:35:33 pm
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Nazaré: Ministro da Defesa anuncia novas medidas para salvamento no mar

Lisboa, 12 Jan (Lusa) - Um novo sistema de comunicações de socorro, um helicóptero em permanência em Ovar e três novas embarcações de socorro são algumas medidas hoje anunciadas pelo ministro da Defesa para melhorar a busca e salvamento no mar.

      O ministro da Defesa Nacional, Nuno Severiano Teixeira, falava aos jornalistas durante uma conferência de imprensa para apresentar as conclusões do processo de averiguação que ordenou depois do naufrágio de uma embarcação dia 29 de Dezembro perto da Nazaré, em que morreram seis pescadores.

      "Foi feito aquilo que era humanamente possível, mas admite-se também nos relatórios que possam ser optimizados tempos e revistos procedimentos", revelou o ministro.

      Segundo Nuno Severiano Teixeira, no caso do Luz do Sameiro os procedimentos a rever não serão "tanto na identificação do local, mas na activação do meio e empenhamento do meio".

      Nesse sentido, o ministro anunciou a adopção de um Sistema Nacional de Comunicações de Socorro e Segurança, em articulação com o Sistema de Controlo de Tráfego Marítimo, cujo concurso será lançado este ano.

      "Existe um sistema que está a funcionar, que se baseia em meios tradicionais. Isto é um 'upgrade' desse sistema que vai permitir uma maior eficácia e menos ambiguidades na localização das embarcações", disse.

      Severiano Teixeira anunciou ainda o destacamento, durante o Inverno, de um helicóptero ligeiro Alouette III em permanência no Aeródromo de Manobra Número Um, em Ovar.

      Ainda este ano "entrarão ao serviço três novas embarcações do Instituto de Socorros a Náufragos, a primeira das quais já no próximo mês de Maio", acrescentou.

      O ministro anunciou ainda que, no quadro do novo Programa Operacional das Pescas, será dado apoio financeiro à formação dos pescadores e à modernização do equipamento de segurança das embarcações, como sondas, GPS, radares, coletes de salvação, bóias e outros equipamentos de navegação.

      Severiano Texeira determinou igualmente à Inspecção-Geral da Defesa Nacional a realização, no prazo de 30 dias, de uma auditoria aos procedimentos de busca e salvamento em vigor na Marinha e na Força Aérea.

      Em conjunto com o Ministério da Administração Interna, "será efectuado, no prazo de 60 dias, um estudo com o objectivo de obter uma melhor rentabilização e articulação de todos os meios susceptíveis de emprego em situações de busca e salvamento", anunciou igualmente o ministro da Defesa.
Título:
Enviado por: Marauder em Janeiro 12, 2007, 06:52:17 pm
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O ministro anunciou ainda que, no quadro do novo Programa Operacional das Pescas, será dado apoio financeiro à formação dos pescadores e à modernização do equipamento de segurança das embarcações, como sondas, GPS, radares, coletes de salvação, bóias e outros equipamentos de navegação.


Epá, o restante material ainda percebo, mas COLETES DE SALVAÇÃO?

Aparentemente a ideia que salta desta notícia e do desastre é que os pescadores não conhecem esse termo. Quem é que no seu perfeito juízo anda de carro sem este ter cinto de segurança (é que não custa assim tanto bolas).

Vai uma falta de massa cinzenta por Portugal....mas pronto..podemos sempre dizer que os portugueses são campeões do jogo...sempre a apostar a sua vida...nas estradas, no mar...

PS: é claro que o Estado tem culpas no acidente, mas isto é como aquele ditado, Deus ajuda quem se ajuda a si mesmo. Não é pelos automobilistas não usarem cinto de segurança que se vai culpabilizar o Estado a torto e a direito (eu penso que as legislação passada por este obriga os barcos possuírem os ditos coletes de salvação)
Título:
Enviado por: lurker em Janeiro 12, 2007, 07:28:07 pm
Sobre longitudes, latitudes e o Canadá.

Tal como disse no meu post anterior, o sinal de socorro foi dado por um EPIRB (farol de sinalização) de 406MHz do Cospas-Sarsat (parte do sistemas GMDSS, tal como podem ver na descrição do Tomkat).

Se o próprio EPIRB não transmitir a sua posição, esta é determinada a partir da análise do efeito de Doppler no sinal recebido pelos satélites de órbita baixa do Cospas-Sarsat.
A margem de erro da localização de Doppler do sistema de 406MHz é de 5Km (a do anterior sistema de 121MHz é de 20 ou 25Km).
Um problema com a localização de Doppler é que esta tende a dar *duas* posições possiveis, simétricas relativamente à orbita do satélite.
Isto era um grande problema com o sistema de 121 MHz que quase sempre precisava de uma passagem de um 2º satélite para desambiguar isto.
Com o sistema de 406 MHz, em 98% dos casos é possivel resolver a ambiguidade com uma única passagem de um satélite.
Se o Luz do Sameiro teve o azar de se encontrar nos 2% de casos em que não é possivel, é possivel que a outra posição dada pelo sistema seja a meio do caminho do Canadá.

Quanto às noticias que referem que o centro de salvamento tinha só a latitude ou longitude, não me parecem possivel com este sistema. Ou se tem uma/duas localizações ou não tens nada.
Título:
Enviado por: João Oliveira Silva em Janeiro 12, 2007, 07:38:01 pm
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Severiano Teixeira anunciou ainda o destacamento, durante o Inverno, de um helicóptero ligeiro Alouette III em permanência no Aeródromo de Manobra Número Um, em Ovar


Esta política e estes ministros vão de mal a pior.

Há helicópteros ( e o Merlin é um helicóptero ) e há libelinhas ( o alouette é uma libelinha apesar de ter prestrado muitissimos e bons serviços às FA, em África e não só... ).

O destacamento, com que prontidão não se sabe ( será só de sol a sol? ), apenas durante o inverno de uma libelinha para Ovar significa que estamos no melhor da política. Amanhã, durante o verão, afoga-se um banhista numa praia qualquer e lá virá, muito rápidamente, o ministro dizer: atenção, o alouette também vai estar disponível no verão, sobrando ainda a primavera e o outono.  Valha-nos Deus...

Ovar parece-me bem. É óbvio que parte dos meios aéreos do País, pagos com os nosso impostos, devem estar em permanência ( independentemente de ser outono ou inverno )  distribuidos pelo País, norte, centro e sul, em prontidão de 24 sobre 24 horas, prontos a descolar no menor tempo possível e capazes de assegurar aquilo que ao Estado compete.

E mais razoável agrupar os meios, quer sejam da FAP, do SNBPC ou do INEM e, consoante a situação a cada momento, aplicar aquele que for mais eficiente, mais rápido, e mais capaz para essa situação.

Mas, atenção, o Estado também não se pode demitir do reverso da medalha. É certo que muitas das criticas que foram feitas têm razão de ser. Parece que o socorro não foi adequado. O socorro compete ao Estado como também compete ao Estado fazer fiscalização e aplicar a legislação. Neste caso, infelizmente, já não pode mas pode precaver situações futuras. Está na hora da Marinha ( capitanias, policia maritima, etç ) actuarem com mão pesada nas transgressões à legislação.

Como: pescar a 50 metros da praia é talhada da grossa, faltas de meios de segurança a bordo é talhada da grossa. Nessa altura, de certeza, que os sindicatos da pesca, o sr. Presidente da Câmara e todos os que agora foram muito rápidos a aparecer nas TV's aparecerão com a frase do " coitadinhos ". Teriam que ser coerentes e nunca o foram.

Cumprimentos e bom fim-de-semana.
Título:
Enviado por: lurker em Janeiro 12, 2007, 08:06:48 pm
Mais um aspecto interessante da cobertura jornalistica deste infeliz evento.

Num artigo do JN, colocado pelo TOMKAT, consta o seguinte
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Mas, em contrapartida, um dos pontos mais delicados está associado ao primeiro e segundo alertas do naufrágio chegados ao Comando Naval. O inicial dá conta de um alerta via satélite para cerca de quatro milhas a norte do local exacto onde o naufrágio tinha ocorrido e o segundo referencia o alerta no Canadá. Aliás, só um contacto directo entre a Marinha e o armador da "Luz do Sameiro" permitiu verificar onde o navio de facto se encontrava.

Num artigo do CM (http://http) que não vou copiar integralmente consta
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O militar de serviço no centro de busca e salvamento seguiu à risca as formalidades burocráticas. Queria confirmar com o armador se o barco estava mesmo no mar, não fosse o caso de se tratar de um falso alarme, e quantos pescadores estavam a bordo. “Eu nem sabia onde era a praia da Légua. Ele é que me disse que era em Alcobaça, a Norte da Nazaré”, recorda ao CM Manuel Maio.


Afinal, o armador sabia ou não onde estava o barco?
Parece-me que os nossos meios de comunicação social estão principalmente cheios de desinformação e que vamos ter de esperar por um comunicado do Governo ou Marinha para saber o que se passou.
Título:
Enviado por: lurker em Janeiro 12, 2007, 09:26:38 pm
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"Grande probabilidade" de todos os pedidos serem ouvidos
Marinha: costa portuguesa está preparada para receber pedidos de auxílio
12.01.2007 - 14h46   Lusa
 

O porta-voz da Marinha Portuguesa, Braz de Oliveira, assegurou hoje que existem estações em terra e no mar para receber os pedidos de auxílio das embarcações e que há "uma grande probabilidade" de todos os pedidos serem ouvidos.

O responsável reagia assim a uma notícia publicada hoje no "Correio da Manhã", segundo o qual os pesqueiros portugueses estão obrigados a ter um rádio com GPS para casos de emergência, embora a costa portuguesa seja a única da Europa sem equipamento para receber os sinais de socorro.

"Há várias antenas espalhadas pelo país que fazem a cobertura da costa e há uma grande probabilidade de qualquer pedido de socorro na nossa costa ser ouvido quer nas estações em terra, quer no mar", afirmou Braz de Oliveira, em conferência de imprensa na Praça do Comércio, em Lisboa.

Segundo o comandante, estas estações recebem os pedidos de auxílio das embarcações até à implementação da infra-estrutura Sistema Global de Socorro e Segurança Marítima.

A costa portuguesa está coberta "na grande totalidade" pela Marinha através de Lisboa e Faro, do Centro de Comunicações da Armada e do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo, que permitem accionar os meios adequados ao salvamento em questão, explicou.

Além disso, a Marinha tem permanentemente no mar oito navios espalhados por toda a costa com equipamentos para detectar pedidos de socorro e os navios de pesca que cruzam a costa também têm equipamentos que recebem esses alertas e que são obrigados a prestar auxílio.

No entanto, ressalvou o comandante, esta cobertura varia muito da posição em que está o emissor da antena e também da situação em que se encontra a embarcação. Se a embarcação já estiver em posição de afundamento, a emissão do sinal de socorro será mais difícil, explicou Braz de Oliveira.

Sinal de auxílio do "Luz do Sameiro" seria ouvido por embarcações na zona

Relativamente à embarcação "Luz do Sameiro", que se afundou na Praia da Légua, perto da Nazaré, a 29 de Dezembro, Braz de Oliveira disse que não pode garantir se houve captação.

No entanto, afirmou que, se o pedido não fosse captado pelas estações em terra da Marinha ou pelo centro móvel da PT, teria sido recebido pelas embarcações que andam no mar e têm esse equipamento.

"Qualquer sinal de auxílio seria ouvido pelo menos por embarcações que se encontravam na zona, quer por mercantes que cruzam a nossa costa, quer pelos oito navios de guerra que patrulham a nossa costa", salientou o comandante.

Em 1999, os armadores de pesca costeira foram obrigados a instalar nos barcos os rádios com sistema de localização por satélite integrado (GPS), aparelhos que permitem, através de um botão, emitir pedidos de socorro.

Além do GPS, os barcos têm a bordo a bóia de emergência (conhecida por EPIRB, do inglês Emergency Position Indication Rádio Beacon).

A bóia — que pode ser accionada manualmente bem como soltar-se do barco em contacto com a água — indica imediatamente o nome do barco e a latitude do naufrágio.

Braz de Oliveira adiantou que, se o sinal emitido pela embarcação não tiver o posicionamento do barco, o auxílio pode demorar entre 20 minutos e duas horas.


in Público (http://http)
Título:
Enviado por: TOMKAT em Janeiro 15, 2007, 01:46:24 pm
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Tragédia do “Luz do Sameiro”
O Sobrevivente Vasyl Huryn
Conta Tudo sobre o Naufrágio

....
Vasyl Huryn, de 46 anos, é o único sobrevivente do “Luz do Sameiro”. O tripulante ucraniano ainda está a recuperar psicologicamente do trágico infortúnio, após ter assistido impotente à morte dos seis companheiros, a escassos 50 metros da praia. “Vinha a dormir juntamente com cinco colegas. Só o mestre e o contramestre Zé estavam acordados. De repente, deviam ser umas cinco horas da manhã, ouvimos um estrondo e os homens, que estavam a dormir, subiram ao convés. Nessa altura gerou-se o pânico, com todos os homens aos gritos. O mestre tentava a todo o custo colocar o barco a trabalhar mas não conseguia, porque as redes se tinham emaranhado na hélice. O barco acabou por tombar e começou a entrar água. O Zé, o contramestre da embarcação, ainda tentou lançar o bote salva-vidas mas em vão. Perante a tragédia que estava a acontecer, os homens tiraram a roupa, não entendo porquê, e agarramo-nos a um cabo grosso. Assim ficámos até alguns não poderem mais por causa do frio e do cansaço. Como fui nadador salvador e mergulhador na Ucrânia, consegui resistir às baixas temperaturas e ainda tentei salvar alguns dos meus companheiros até onde as forças me permitiram. Foi duro vê-los morrer um a um, tão perto da praia que estávamos”.
...

http://www.vozdapovoa.com/inf_geral_1.html


Pela discrição do único sobrevivente do naufrágio do "Luz do Sameiro" confirma-se a versão de que a embarcação estava a pescar em zona proibida. Que outra explicação haveria para que as redes se tenham emaranhado na hélice, numa zona onde a pesca é proibida?

Qual a responsabilidade imputável ao armador da embarcação pelo naufrágio e perca de vidas subsquentes?

O mestre da embarcação era filho do armador!
Ao pescar numa zona proibida não será (no mínimo) autor material de homicídio por negligência?

Porque os orgãos de comunicação social, e as próprias autoridades marítimas, não abordam este aspecto do problema, para que servisse de exemplo futuro (e aviso) aos prevaricadores?

Mas não, tratar as coisas sériamente, a maioria das vezes, não cativa audiências, nem traz dividendos políticos.

Dá mais audiência mostrar o luto e a revolta dos pescadores, quais santos beatos, sem nenhuma responsabilidade no sucedido.
É mais compensador anunciar a instalação do VTS, como uma grande novidade, qual acção milagrosa do governo em funções.

Assim continuarão a repetir-se os casos de pesca ilegal, com consequências por vezes trágicas, em zonas com espécies apetecíveis pelo seu valor comercial. Que me lembre, nos últimos 5 anos, nesta zona é o 3º caso com mortes em circunstâncias idênticas, os outros com embarcações de menor porte.

Descansemos.
As embarcações de pesca podem no futuro, naufragar à vontade, pois já teremos um sistema de alerta (VTS+GMDSS) eficaz, além de navios salva-vidas e helis em estado de prontidão, preparados para salvar um qualquer pescador incauto.

É o país que temos.
É o país que merecemos! :roll:
Título:
Enviado por: migbar2 em Janeiro 16, 2007, 12:20:50 am
Em abono da verdade deve ser dito que em algumas intervenções da televisão foi abordado o problema de ser zona proibida e a estranheza de nenhum meio de apoio á vida ter sido utilisado (barco de salvamento, coletes, etc), assim como a manifesta falta de preparação dos profissionais da pesca . Agora, a questão é que o povo não quer saber disso. Quando algum dos nossos morre na estrada o colega não quer saber se ele ia em excesso de velocidade ou não, o que lhe faz doer é que o seu ente querido podia ainda estar vivo se a equipa de desencarceramento não tivesse demorado 45 minutos a chegar ao local,... se ia a 100 ou a 200 para sí é igual ao litro.
O salvamento de vidas não é um julgamento de culpas. O Estado se quiser ser rigoroso, então depois das vidas salvas e da investigação da causa do acidente feita, que impute multas e indemnizações aos individuos por terem feito arriscar material do Estado e vidas dos profissionais de salvamento de forma irresponsável. Isso sim, isso seria um país sem mácula.
Título:
Enviado por: TOMKAT em Janeiro 16, 2007, 01:12:24 am
Citação de: "migbar2"
Em abono da verdade deve ser dito que em algumas intervenções da televisão foi abordado o problema de ser zona proibida e a estranheza de nenhum meio de apoio á vida ter sido utilisado (barco de salvamento, coletes, etc), assim como a manifesta falta de preparação dos profissionais da pesca .

Pontuais excepções quase ditas em surdina, diluidas no resto do discurso.

Citação de: "migbar2"
Agora, a questão é que o povo não quer saber disso. Quando algum dos nossos morre na estrada o colega não quer saber se ele ia em excesso de velocidade ou não, o que lhe faz doer é que o seu ente querido podia ainda estar vivo se a equipa de desencarceramento não tivesse demorado 45 minutos a chegar ao local,... se ia a 100 ou a 200 para sí é igual ao litro.

Verdade óbvia, no tratamento pessoal do tema, não no tratamento mediático que o tema deveria ter. Infelizmente os nossos média preferem focalizar as desgraças alheias, dando pouca ou nenhuma importância à causa dessa desgraça.
O povo não quer saber disso....


Citação de: "migbar2"
O Estado se quiser ser rigoroso, então depois das vidas salvas e da investigação da causa do acidente feita, que impute multas e indemnizações aos individuos por terem feito arriscar material do Estado e vidas dos profissionais de salvamento de forma irresponsável.


Óbviamente só depois dos inquéritos concluidos, o Estado poderá pedir responsabilidades.
Mas a nível mediático, qual o impacto que essa notícia terá?
Não passará de mais uma notícia de rodapé.

Deve-se mexer na "ferida" quando esta ainda está aberta, não depois de cicatrizada, quando o incidente não passa de uma memória distante.
A memória das pessoas é curta.
Título:
Enviado por: Ricardo Pinheiro em Março 16, 2007, 09:18:57 pm
boa noite a todos
se alguem quiser comentar...
 

Medidas de melhoria do sistema de Busca e Salvamento

Ministério da Defesa Nacional

Nota à comunicação social

No dia 08 de Março de 2007 foi recebido, pelo Ministro da Defesa Nacional, o Relatório AE 03/07 da Inspecção-Geral da Defesa Nacional, elaborado na sequência do Despacho 275/MDN/2006, de 29 de Dezembro, destinado a avaliar os procedimentos em vigor para a busca e salvamento a cargo da Marinha e da Força Aérea.

O relatório revela um estudo aturado das questões em causa, sendo de assinalar a profundidade da análise levada a cabo num tão curto espaço de tempo. Note-se ainda que, tal como solicitado, o relatório não incide sobre nenhuma acção em particular, destinando-se, antes, a avaliar os procedimentos em geral, procurando pontos de melhoria no sistema.

Ponderadas as questões nele suscitadas e as recomendações feitas, verifica-se que parte das medidas necessárias à melhoria do sistema foram já tomadas. Subsistem, no entanto, questões que carecem de aperfeiçoamento. Assim, foram tomadas decisões no seguinte sentido:

1) Reactivar o funcionamento da Comissão Consultiva para a Busca e Salvamento, tendo sido já solicitada a indicação dos novos representantes. Este é um órgão de aconselhamento do Ministro da Defesa Nacional, essencial para identificar problemas e respectivas soluções no funcionamento do sistema;


2) Reforçar a prioridade já dada à implementação do projecto Global Maritime Distress and Safety System (GMDSS), nos termos anteriormente fixados, nomeadamente quanto à articulação com o novo sistema Vessel Traffic System (VTS). Ambos os sistemas (e ainda o MONICAP [Monitorização Contínua da Actividade da Pesca], já existente) facilitam a localização das embarcações.

3) Foi determinado aos Chefes de Estado-Maior da Armada e da Força Aérea que aprovem directivas comuns quanto à articulação dos respectivos Serviços de Busca e Salvamento, devendo essas directivas incluir regras claras e uniformes quanto aos canais de encaminhamento de pedidos de meios (navais e/ou aéreos), independentemente da entidade a quem pertençam. Esta medida permitirá poupar tempo na gestão dos processos concretos de Busca e Salvamento.

4) Do ponto de vista da utilização de meios aéreos, foi determinada a adopção de sistemas de alertas prévios, com vista à redução dos tempos de resposta. Esta medida permitirá reduzir o tempo de prontidão, após o pedido de meio aéreo.

5) Foram ainda tomadas medidas relativas a uma melhor e mais célere avaliação dos falsos alarmes, e identificação do local dos sinistros, nomeadamente através:

a. Da utilização de informação oriunda dos sistemas de controlo da actividade pesqueira (MONICAP) e, no futuro, dos sistemas Maritime Distress and Safety System (MDSS) e VTS. Esta informação poderá ser especificamente optimizada e permitir a rápida confirmação de posições de embarcações;

b. Da elaboração de um Plano de Formação e Sensibilização dos navegantes para a correcta e eficaz utilização dos meios de socorro e salvamento, a realizar a nível nacional, com início ainda durante o segundo semestre de 2007. Isto, em articulação com as demais entidades públicas competentes e as organizações representativas do sector.

6) Foram ainda tomadas medidas quanto à agilização do processo de avaliação e resposta às necessidades de Busca e Salvamento:


a. Através do melhoramento dos procedimentos usados no Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marítimo;

b. A realização de exercícios regulares, em articulação com as demais entidades, de forma a optimizar ainda mais os tempos de resposta aos pedidos de socorro e de activação de meios aéreos.

7) Do ponto de vista dos recursos foi decidido:


a. Concluir os trabalhos de avaliação dos meios humanos a afectar ao Instituto de Socorros a Náufragos;

b. Assegurar a prioridade do plano de construção e aquisição de Estações salva vidas;

c. Ponderar a viabilidade de se proceder ao reforço do plano, actualmente em curso, de aquisição de equipamentos para salvamento a partir de terra;

d. Estudar a possibilidade de rever o dispositivo de localização dos meios aéreos, com vista a optimizar a cobertura do território nacional, quer durante o período diurno, quer durante o período nocturno.

Conclusões do Relatório da Auditoria aos procedimentos de Busca e Salvamento em vigor na Marinha e na Força Aérea
(Ficheiro em PDF com 10 páginas, 45 KB. Necessita de ter instalado o programa Acrobat Reader. Em caso de dúvidas consulte a secção de Ajuda)
 
Governo da República Portuguesa www.portugal.gov.pt (http://www.portugal.gov.pt)
Título:
Enviado por: Lancero em Março 16, 2007, 09:42:39 pm
Conclusões (http://http) do relatório da IGDN.
Título:
Enviado por: Lancero em Julho 10, 2007, 07:05:14 pm
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Busca e Salvamento: Novo protocolo vai melhorar sistema, dizem ministros

Lisboa, 10 Jul (Lusa) - Os ministros da administração Interna e da Defesa  concordaram hoje que a assinatura de um protocolo que define a regras entre  as instituições que fazem busca e salvamento vai trazer a "melhoria efectiva  do sistema".  

     

   "É preciso pôr ordem e pôr as coisas a funcionar", disse mesmo o titular  da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, no final da cerimónia realizada no Forte  de S. Julião da Barra, em Oeiras, arredores de Lisboa.  

     

   O documento foi subscrito pelas três entidades envolvidas na busca e  salvamento em Portugal: Força Aérea, Marinha e Autoridade Nacional de Protecção  Civil.  

     

   A definição de regras nas operações é "relevante por aperfeiçoar (...)  a resposta ao socorro no seu conjunto" e "deverá encurtar tempos de prestação  de socorro", afirmou Severiano.  

     

   O ministro, que tutela a Força Aérea e a Marinha, havia prometido tomar  medidas depois de terem surgido críticas à forma como agiram os meios de  salvação no naufrágio do navio de pesca "Luz do Sameiro", no litoral de  Alcobaça, em que morreram seis pescadores a 29 de Janeiro passado.  

     

   O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, disse, por seu lado,  que a "cooperação entre as Forças Armadas e a Autoridade Nacional de Protecção  Civil é fundamental para haver êxito" nas operações de salvamento.  

     

   Em termos de meios, foi anunciado pelo titular da Defesa que o Instituto  de Socorros a Náufragos (ISN), integrado na Marinha, vai receber mais três  embarcações - uma até ao fim do mês e as outras duas antes do fim do ano  - e ser reforçado com mais 31 elementos.  

     

   A Força Aérea, por seu lado, tem estacionado em Ovar, um helicóptero  para acções de salvamento no litoral Centro e Norte do país, acrescentou.  

     

   Interrogado sobre a manifestação convocada pela mesma comissão de militares  que realizou o "passeio do descontentamento", no final do ano passado, Severiano  Teixeira limitou-se a dizer que era convocada por reservistas e reformados,  salientando que a lei tem que ser cumprida.  

     

   A data do protesto ainda não foi decidida.  

     

   O seu homólogo da Administração Interna escusou-se igualmente a comentar  as notícias de que o serviços secretos militares italianos investigaram  juízes de vários países, incluindo Portugal.  

     

   "O que sei é o que veio nos jornais", disse apenas Rui Pereira.