Os políticos são desculpa para tudo, mas às tantas não cola. Se há coisa que politico gosta é de gastar dinheiro a comprar coisas e especialmente na defesa que é uma indústria onde as luvas aos compradores são praticamente aceites como inevitáveis (cof portas cof). Mas se a Marinha não sabe o que quer ou não sabe perceber a diferença entre o que quer e o que precisa, então os políticos vão andar sempre a aprovar as despesas e depois faltar a execução, que é o que temos visto com as peças dos NPOs. Isso não tem nada a ver com Angola ou São Tomé ou a Junta de Freguesia de Barrancos.
Agora, câmaras, radares, até drones de vigilância? Tudo bem. Combate? Com os NPOs? Aí está a asneira. Para manter uma ficção de que estes patrulhas alguma vez podem servir para combater andamos há décadas a criar problemas e custos com desenhos, redesenhos, armamento X ou Y que até agora só serviram para garantir que nem sequer fiscalização temos. Tanta pompa tanta ambição e somos um país que continua a não medir as sardinhas. Mas aparentemente isto é melhor do que o ultraje de ter navios adequados às funções que fazem falta. Navios para combate são navios para combate, mas se a Marinha insiste no seu monopólio, tem de também ter navios que não são de combate.
O argumento da GNR é só a exceção que confirma a regra. Andamos há décadas com GNR, IPMA, DGRM, (com estes e outros nomes) etc a serem instituições públicas com competências no Mar mas sem meios próprios. A GNR só conseguiu adquirir 1 (um!) navio ao fim de décadas e deu o conflito e o drama que deu. O IPMA só conseguiu adquirir o Mário Ruivo, recentemente, porque arranjou financiamento estrangeiro. E a DGRM continua impedida de fiscalizar as pescas com meios próprios. Porque "fica caro" ter meios próprios, mas depois vemos que "medir sardinhas" é uma humilhação para a Marinha se for feito com menos do que fragatas.
Tanta coisa errada nas recentes intervenções.
O cancelamento/atraso/adiamento ou o que queiram chamar dos NPOs, após a construção dos primeiros 2, e igualmente após a construção do segundo par, nada teve a ver com "dúvidas" da Marinha acerca do seu projecto, mas sim com cortes orçamentais, com toda a questão da privatização dos antigos ENVC e com o período Troika, que levou ao cancelamento de muita coisa, inclusive dos NCP (Navios de Combate à Poluição baseados nos NPO) e das LFC (Lanchas de Fiscalização Costeira igualmente para construção em Viana), e que levou à compra dos Tejo à pressa.
Agora:
1. As ditas LFC, não foram canceladas por uma pseudo-complexificação/militarização do projecto, foi uma decisão estritamente política (e absolutamente estúpida) para poupar uns cobres.
2. A demora da assinatura dos contratos dos NPOs tem vários culpados, desde o Cravinho a tentar orientar a vidinha dos amigos (que levou ao chumbo do TC), a algumas demoras nas alterações do projecto pela Marinha, passando pela típica lentidão nestes processos até se assinar o raio do contrato.
De notar que, demoram menos tempo a alterar o projecto do NPO, do que o Ministério demora a assinar o papel (é só ver quanto tempo passa entre o/a MDN dizer que vai assinar "em breve" a construção dos 6 navios, e o dia em que realmente é assinado o contrato). No futebol consegues assinar contratos multimilionários de jogadores em horas, já num programa óbvio e que já foi aceite por todas as partes para a Defesa, demoram meses. Algo de errado não está certo.
3. Defender que o Sines e o Setúbal recebam finalmente o sensor EO e a Marlin não é querê-los armar como um Burke. Outros países conseguem construir OPVs similares, muito melhor equipados, e não demoram tanto tempo. Porque será? Será que o problema é do poderosíssimo armamento dos NPOs, ou será apenas o "tuguismo" do costume?
4. As funções dos NPO não se resumem a fiscalização de pescas. Um deles, dos desarmados, foi inclusive usado para combater pirataria no Golfo da Guiné, e é frequente vê-los a operar em forças tarefa militares nacionais e internacionais (por falta de navios de guerra na Marinha).
5. Olhar para o NPO como uma plataforma mais militarizável, não vai atrasar em nada a construção dos navios, pois a grande maioria do equipamento mencionado, costuma ser equipamento que pode ser acrescentado após a construção do navio (FFBNW). O navio ter posições pré-preparadas para receber um par de RWS para quando for combater pirataria, ou haver a possibilidade de usar módulos contentorizados para missões específicas, ou ter em mente que determinadas RWS (como é o caso das Marlin) podem receber outro tipo de armamento (mísseis Mistral neste caso) que lhes permite enfrentar ameaças mais sérias se necessário, não vai atrasar em nada os NPOs.
6. Temos uma frota de combate reduzidíssima, é normal que haja interesse em que aquela que seria a classe de navios mais numerosa da Marinha, com navios daquela dimensão, tenha também uma maior utilidade militar.
7. Isto de ter patrulhas na GNR ou na Marinha, é apenas uma luta de egos. Teria sido muito mais lógica criar uma Guarda Costeira, encarregue da fiscalização e de todas essas missões civis. Não faz sentido estar a espetar na GNR várias valências e missões para as quais não têm orçamento (orçamento esse que virá quase sempre da LPM). A GNR já tem responsabilidades que chegue em terra, a Marinha ficava com preocupações militares, e a GC ficaria com as preocupação da fiscalização e busca e salvamento. Assim de repente, a Marinha que hoje tem falta de pessoal, passaria a contar com o pessoal tipicamente empregue em navios de patrulha, para operar navios militares.
A isto acrescem vantagens de que, a construção de navios de patrulha e lanchas de fiscalização seria mais barata, pois não haveriam requisitos militares envolvidos, e a Marinha teria mais orçamento para ter uma frota de combate a sério, ao deixar de ter toda aquela alínea da "Patrulha e Fiscalização", que na presente LPM (2023-2034) representa praticamente 10% da totalidade do orçamento, e mais de 30% do orçamento total da Marinha.