Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais

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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #195 em: Novembro 11, 2021, 01:45:23 pm »

https://expresso.pt/sociedade/2020-10-10-Ultramar-na-pele-o-livro-que-conta-as-historias-de-antigos-combatentes

Reportagem sobre um livro com tatuagens feitas por militares durante a guerra do ultramar.
 

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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #196 em: Janeiro 03, 2022, 10:32:16 pm »
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Enfermera paracaidista portuguesa Aura Teles, en Guinea-Bissau, años 60-70

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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #197 em: Janeiro 24, 2022, 02:29:16 pm »
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #198 em: Fevereiro 10, 2022, 02:03:04 pm »
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #199 em: Março 12, 2022, 08:50:56 am »


A 11 de Março de 1976, atracava na Base Naval de Lisboa a corveta Afonso de Cerqueira, no regresso da sua primeira comissão.
Entregue à Armada, em Cartagena (Espanha), em 28JUN1975, o navio chegaria a Lisboa em meados de Julho e iniciou o seu plano de treino básico.
Na segunda semana de Agosto, quando executava exercícios de adestramento ao largo de Sesimbra, recebeu instruções para regressar a Lisboa e aprontar para "longa comissão".
As instruções recebidas, já na BNL eram para preparar o navio para uma comissão em Timor onde, entretanto tinha estalado uma guerra civil entre os dois partidos políticos locais -- a FRETILIN e a UDT.
Na incerteza quanto à autorização para o navio atravessar o canal de Suez, pôs-se a questão de enviar o navio para Angola e a fragata Roberto Ivens, então já a caminho daquele território, avançar para Timor.
De referir que, metade da guarnição da Cerqueira tinha terminado comissões no Ultramar há menos de um ano. Eu, por exemplo, tinha regressado de Moçambique a 01FEV75.
Acabaríamos por largar a 03SET75 com a maioria do material -- sobressalentes, mantimentos e aprestos -- apressadamente embarcado, colocado no parque do helicóptero para ser arrumado a navegar.
Outro problema surgiu com a falta de cartas actualizadas das regiões onde iriamos navegar (mar Vermelho e Índico); acabariamos por utilizar as cartas do arquivo do Instituto Hidrográfico já com 20 anos.
Depois de escalarmos Port Said (Egipto), Colombo (Sri-Lanka) e Darwin (Austrália), chegámos à ilha do Ataúro (Timor) em 06OUT75, levando a bordo o então comandante da Defesa Marítima de Timor CFG Leiria Pinto.
Durante dois meses o navio permaneceu naquela área tendo efectuado abastecimentos em Darwin e em Macau.
Êm 07DEZ75, após a invasão de Timor pela Indonésia, o navio recebeu instruções para regressar a Lisboa via oceano Pacífico.
De Darwin seguimos para Hong-Kong a fim de efectuar algumas reparações, mas tivemos de arribar a Manila (Filipinas) devido à presença de um tufão.
De Hong-Kong seguimos para Yokohama (Japão), Pearl Harbour (EUA), San Diego (EUA) e Panamá.
Já no Atlântico, arribámos a Maracaibo (Venezuela) com uma avaria no leme; reparada esta, seguimos para o Funchal e dali para Lisboa onde chegámos há 46 anos depois de 189 dias de missão.
Dos oficiais dessa guarnição, dois já não estão entre nós; o comandante, C.ten Eugénio Cavalheiro falecido recentemente, e o imediato 1º tenente Claudino Morgado que já há uns anos faleceu nos EUA.

Do Facebook
https://www.facebook.com/groups/171295294376/permalink/10161548920289377/
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #200 em: Julho 10, 2022, 12:47:58 am »
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How the Cunning Rebels of Guinea-Bissau Shocked the World with Their Success


Did you know Portugal had its own Vietnam War? It took place in the jungles of Guinea-Bissau, where a decade-long conflict birthed a nation.
https://www.youtube.com/user/HSMW/videos

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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #201 em: Agosto 17, 2022, 10:26:46 am »
España apoyó a Portugal en la guerra colonial de 1961-1974, en virtud del Pacto Ibérico.

España suministró armamento y equipamiento en condiciones muy ventajosas, incluso importado de países con embargo a Portugal, e importante apoyo logístico, de inteligencia y diplomático.
Entre las exportaciones, además de armas y munición, se encontraban siete corbetas fabricadas por Bazán, que resultaron de gran utilidad, 20 aviones de fabricación española C-212-100 (que comenzaron a entregarse en 1974) o cientos de camiones Barreiros.



En las conocidas como «operaciones puente», España importaba armamento y municiones de países con embargo militar a Portugal, o incluso suministradores de las guerrillas, como algunos del Pacto de Varsovia, que era reenviado a Portugal a su llegada a España.

Dentro del apoyo logístico destaca la utilización de la base aérea de Gando, en Gran Canaria, como escala para los vuelos militares entre Portugal y sus territorios africanos entre 1960 y 1973.



La base fue especialmente útil cuando se prohibió a las aeronaves portuguesas el acceso al espacio aéreo de los países africanos.

Soldados portugueses en África con un lanzacohetes español Instalaza M-53:



En el apoyo diplomático destaca la representación de los intereses portugueses ante muchos países africanos, la búsqueda de apoyos hispanoamericanos para Portugal en la ONU, o la cobertura para operaciones secretas.

Encuentro entre Franco y Salazar, 1963:



España también fue refugio de líderes políticos africanos pro-occidentales inclinados a colaborar con Portugal, así como lugar de preparación de operaciones secretas destinadas a la vuelta al poder de algunos de ellos, y centro de reclutamiento de mercenarios.



Carta de Salazar a Franco sobre la necesidad de la ayuda española, 1961:

«Absolutamente confiados na sua promessa, continuamos a contar com esse apoio - ser-nos-á necessário contar com ele [...] Certamente a luta é extraordinariamente difícil e custosa; nem podemos convencer-nos de que por ora estamos aptos a lutar eficazmente contra tal género de guerra [...] Todos aquí temos a maior confiança no apoio e ajuda que pela Espanha Vossa Excelência nos promete».

Camiones Barreiros del Ejércitoportugués en Luanda (Angola):


Otra muestra de las exportaciones españolas son las granadas de fusil Instalaza (Tipo I y Tipo II), con capacidad contracarro.

Fuente: https://aquellasarmasdeguerra.wordpress.com/2012/06/04/algunas-armas-utilizadas-en-la-guerra-colonial-portuguesa-1961-1974/

Comando portugués utilizando una granada Instalaza Tipo II:




A pesar de la victoria parcial en Angola y Mozambique, y el estancamiento en Guinea-Bisáu, Portugal abandonó los territorios tras la Revolución de los Claveles, con desastrosas consecuencias (guerras civiles, masacre de pro-portugueses o empobrecimiento).





Fuente:  @EstoriaEspanna
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #202 em: Setembro 17, 2022, 09:39:11 am »
Citar
NÓS, ANTIGOS COMBATENTES DA GUINÉ, QUEREMOS VOLTAR A SER PORTUGUESES

Em 1974, as novas autoridades de Lisboa deixaram sem nacionalidade 20 000 que serviam ou tinham servido as Forças Armadas Portuguesas. Esses homens tinham sido fiéis a Portugal. Portugal não lhes foi fiel a eles. Sem referendo, sem voto e sem possibilidade de recusa, esses patriotas portugueses, homens que haviam combatido e sangrado por Portugal, foram abandonados e deixados à sua sorte. Entre 700 e 5000 deles acabariam fuzilados, sozinhos ou com as famílias, em campos do PAIGC. Portugal nunca lhes pediu perdão. Portugal nunca lhes agradeceu.

O tempo não lava tudo. A traição aos antigos combatentes portugueses da Guiné continua a ser - será sempre - uma página vergonhosa na História de Portugal. Quanto a isso, nada a fazer. Mas àqueles portugueses de vontade, de provas dadas e sangue vertido podemos fazer a mais poderosa das reparações: a da sua dignidade de portugueses. Com a Associação de Antigos Combatentes do Exército Português na Guiné Bissau e numerosas personalidades, a Nova Portugalidade desenvolverá  todos os esforços para que estes portugueses fiéis possam voltar a ter como sua a bandeira que os viu nascer, que serviram e defenderam em campo de batalha. Já recolhemos 5000 assinaturas na Guiné. Agora, para chegarmos à Assembleia da República, precisamos de recolhê-las cá. E assim será, pois estes homens estão entre os melhores de nós. São portugueses de corpo e alma. Querem voltar a sê-lo de passaporte também, e nós não descansaremos até que assim seja

Por eles e pela honra de Portugal, para que não deixemos os nossos para trás, assine JÁ a petição da NP e da Associação de Antigos Combatentes do Exército Português na Guiné Bissau. Link nos comentários.



https://www.facebook.com/1702491076675919/posts/pfbid0KvuUZ5Ph8gmh5exCUyGjVb2BQW1Ckj1QHz88YEeGc59eCLFyXPFEvTffHh3nTgBrl/
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #203 em: Dezembro 23, 2022, 03:47:23 pm »
As cicatrizes de Wiriyamu. Aldeia de Moçambique recorda o massacre de há 50 anos


 

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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #204 em: Janeiro 26, 2023, 07:10:37 pm »
Não percebi o contexto deste pedido de desclassificação de documentos.  ???
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #205 em: Janeiro 27, 2023, 09:04:47 pm »
Não percebi o contexto deste pedido de desclassificação de documentos.  ???

Não gosto do  :jok: nem um pouco mas neste ponto dou-lhe razão.
Não sei o que o pessoal do BE tomou mas tambem quero  :mrgreen:

Entretanto fui investigar um pouco e a proposta de lei foi chumbada pelo PS, PSD e Chega. Voto a favor da bancada bloquista, do PCP, PAN e Livre.
https://www.dn.pt/politica/parlamento-chumba-desclassificacao-de-documentos-da-guerra-colonial--15728366.html
 
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Re: Guerra Colonial: Experiências/Testemunhos Pessoais
« Responder #206 em: Fevereiro 22, 2023, 05:47:35 pm »
Relato interessante do falecido João Salgueiro, Economista e político. E que tinha acesso a informação privilegiada ainda antes do Golpe de 25 de Abril de 74.

Pormenor interessante, o Rosa Coutinho instigou terroristas para assaltar e matar os português, com o objectivo claro de correr com todos os portugueses em Angola!!!!!

Outro aspecto que o revolta, Portugal com a descolonização, deu de borla todos os bens dos portugueses, incluindo casas, terras, empresas, bancos!!!!! Somos uns beneméritos e depois perguntamos porque andamos sempre de crise em crise!!!!! Pois pudera, parecemos o filho rico que dá sem medir o que está a dar e andamos sempre a pedir a mesada e a queixarmo-nos de mais uma crise!!!!!

João Salgueiro: "Os portugueses não se importam"

Despachava com Marcello Caetano, que o quis ouvir nas vésperas da revolução. Na altura do 25 de Abril teve duas conversas "rocambolescas", uma com António de Spínola, outra com Sanches Osório. Dizia que Portugal está atrasado porque "os portugueses não se importam". O humor fino era uma das suas características, e foi assim que escandalizou um grupo de senhoras que comentava touradas. Um retrato de João Salgueiro a partir de conversas inéditas.

"Cheguei ao gabinete do general Spínola, ele agarra-me por um braço e mete-me na casa de banho. Enquanto falava puxava o autoclismo constantemente: 'Estamos todos a ser escutados', 'isto não tem hipótese nenhuma'. Não me falou no golpe, mas [quando veio] não me admirei".

A história passou-se com João Salgueiro por altura do 25 de Abril. "Não estava a perceber nada do que se estava a passar. Pouco tempo antes dizia-se que estava tudo tranquilo; havia um problema no norte de Moçambique, mas, tirando isso, nada".

Para compreender as coisas perguntou a três ou quatro pessoas, e alguém lhe disse que Sanches Osório, porta-voz do Movimento das Forças Armadas, estaria disposto a recebê-lo para explicar tudo, tintim por tintim.

Telefonou ao major Sanches Osório e lá combinaram: "Onde?", perguntou. "Em minha casa, se puder". "Quando?" "Amanhã às quatro da manhã". João Salgueiro ri enquanto conta a história, mas segue as indicações à risca e, às três ou quatro da manhã, como combinado, está em casa do militar.

Ao longo das descargas de água, Spínola ia revelando: "Já fiz um disparate hoje"

"Disse-me coisas que me deixaram aterrado: 'Agora é que verdadeiramente começa a defesa do território nacional', 'tínhamos vergonha de andar fardados e agora temos orgulho na farda', 'a guerra vai ser outro afinco, estavam a defender uma ditadura e agora vão defender o país'. Isto - depois das manifestações dos soldados, de os oficiais se bandearem para o lado do inimigo, de entregarem as armas -, era inverosímil", considera.

Foi então que resolveu falar com António de Spínola, um encontro arranjado por José Blanco, da Fundação Calouste Gulbenkian. Ao longo das descargas de água, Spínola ia revelando: "Não sei como é que isto vai ser... Já fiz um disparate hoje; pensei que tinha sido inteligente, mas eles ficaram tão contentes com a minha decisão que, já percebi, enganei-me. Mandei o Rosa Coutinho para Angola, queria ver-me livre dele". "Eles", claro, eram os militares insurrectos.

Anos mais tarde, quando esteve no Instituto de Defesa Nacional, o seu diretor, Altino de Magalhães, que foi vice-chefe do Estado-Maior do Exército e governador do distrito de Uíge entre 1972 e 1974, contou a João Salgueiro "histórias de outra história".

"Disse-me que não havia ali problema nenhum e que quando a coisa se começou a agudizar - uns bandos de africanos com catanas e machados invadiram Luanda e começaram a arrombar as portas dos portugueses -, pôs um pelotão de 30 homens na rua e eles correram tanto a fugir que até deixaram os sapatos para trás".

Altino de Magalhães conta que deu voz de prisão a Rosa Coutinho, por este estar a provocar uma insurreição em Luanda e a fuga de portugueses. Mas diz que quando comunicou a decisão a Lisboa o mandaram libertar o "senhor governador", que estava a "cumprir instruções da capital".

Para João Salgueiro ficou claro que queriam correr com os portugueses de lá. "Então, na África do Sul, que tinha Apartheid, não houve problema nenhum e vamos ter problemas em Angola? Não tínhamos".

"Outra coisa simpática foi oferecer tudo o que era português ao governo de Angola e ao governo de Moçambique. Todas as empresas de portugueses que lá estavam, incluindo os bancos, foram oferecidos ao governo local, sem indemnização. Portanto, os tipos foram corridos artificialmente e ficaram sem nada porque o governo resolveu oferecer o que era dos portugueses. Isto é uma trafulhice de todo o tamanho", indigna-se.


A escolha do Quelhas

Tinha acabado o liceu quando leu um livro que o marcou profundamente, uma edição de bolso sobre a revolução industrial inglesa. "Era muito convincente, porque mostrava como um país que vivia na miséria - esgotos a céu aberto, epidemias constantes, revoltas em que a cavalaria entrava a malhar nos trabalhadores -, era uma potência mundial um século e meio depois, não só pelo poder económico, mas pelo avanço tecnológico e civilizacional".

Impressionado, João Salgueiro passou a interessar-se pelas questões do desenvolvimento. "O meu raciocínio era: se um país atrasado se pode transformar e desenvolver, é como dizer que as doenças podem ter cura. Aqui não é bem uma cura, mas, se o desenvolvimento está ao nosso alcance, é uma obrigação trabalhar para isso. Claro, cada um na sua esfera própria: um médico na saúde pública, um engenheiro nas estradas ou na indústria. Mas, se é possível, temos obrigação de colaborar nisso".

Nas Ciências Sociais, o curso mais parecido com o que queria era a licenciatura na única Faculdade de Economia, o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, atual ISEG.

No Quelhas aprendeu que há países com vocação agrícola, como Portugal - produzia bem cortiça, azeite e vinho -, e países com vocação industrial, como Inglaterra - que tinha ferro e carvão.

"Se o desenvolvimento está ao nosso alcance, é uma obrigação trabalhar para isso"

E aprendeu também o princípio das vantagens comparativas. "A teoria das vantagens comparativas, uma teoria respeitável de comércio internacional, diz que se um país tem uma vantagem em determinado setor, deve especializar-se nisso. No meu entender, era uma teoria fraudulenta: ao especializar-se na alimentação, onde o consumo é menor do que o de vestuário, por exemplo, um país fica em desvantagem, porque tem um mercado menor e que cresce mais devagar".

"Portanto, tínhamos obrigação de não tomar como bom aquilo que nos ensinavam no Quelhas, uma teoria obsoleta", defendia.

Quando acabou o curso, os convites que recebeu não o atraíram, a não ser o que, na prática, o levaria aos Planos de Fomento. Recusou tudo o que lhe parecia de carreira, "empresas que pagavam mais salário" ou "bancos comerciais que acreditavam que dar crédito ao consumo ou fundo de maneio a empresas era excitante". E começou o seu percurso profissional como economista no Banco de Fomento Nacional, onde esteve entre 1959 e 1963.

Foi então que foi especializar-se em Desenvolvimento Económico para os Países Baixos. Jan Tinbergen, que viria a ser prémio Nobel em 1968, era o orientador da pós-graduação. "Era preciso criar as condições para o país se desenvolver, e isso inspirou todo o meu trabalho", afirma o economista.

O objetivo era criar cá o gabinete de estudos do Banco de Fomento Nacional. Quando regressou, veio também Roberto Fernandes, filho do embaixador português em Washington, que acabaria por voltar para os Estados Unidos por não se adaptar a Portugal - "não percebia porque éramos tão atrasados".

João Salgueiro recorda que quando foi ao enterro do avô, perto de Braga, foi preciso parar cinco vezes pelo caminho "porque o rio saiu do leito e não havia pontes. Fomos obrigados a esperar que o nível das águas baixasse".

.......

https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/joao-salgueiro-os-portugueses-nao-se-importam
 
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« Responder #208 em: Maio 31, 2023, 01:22:35 pm »
 
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« Responder #209 em: Maio 31, 2023, 10:00:38 pm »
Do John P. Cann também há este sobre a Marinha fluvial.



É este sobre o poder aéreo
« Última modificação: Maio 31, 2023, 10:04:26 pm por Lightning »
 
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