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Conflitos => Conflitos do Passado e História Militar => Tópico iniciado por: Fencer em Fevereiro 08, 2011, 03:47:13 pm

Título: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 08, 2011, 03:47:13 pm
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
- Organização da ZOT (Zona Operacional de Tete)
- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)
- Casos e estórias passados na cidade e arredores
- Presença militar portuguesa em Vila Coutinho
- Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
Se alguém me puder ajudar, fico muito grato!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Cabecinhas em Fevereiro 08, 2011, 04:11:43 pm
Podes por começar a ler o Anjo Branco que tens lá muito bibliografia referente a essa altura.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: sergio21699 em Fevereiro 08, 2011, 05:28:42 pm
Acho que no documentário que deu á uns tempos na RTP deu um episódio sobre Tete
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 08, 2011, 06:00:10 pm
Citação de: "Cabecinhas"
Podes por começar a ler o Anjo Branco que tens lá muito bibliografia referente a essa altura.

Só se for mesmo a bibliografia, porque em termos históricos o livro é algo frouxo - sou simpático porque fui contemporâneo dele em Tete...

Mas obrigado pela sugestão!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 08, 2011, 06:01:47 pm
Citação de: "sergio21699"
Acho que no documentário que deu á uns tempos na RTP deu um episódio sobre Tete

Deu, sim. O problema é que prefiro consultar coisas escritas em vez de estar a tirar apontamentos de programas de TV. Ainda assim, obrigado pela ideia. Vou ver se vejo esse episódio!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: JLRC em Fevereiro 08, 2011, 08:46:15 pm
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
-- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)

Eu fiz a minha comissão em Moçambique em Moatize em 1972/74 e posso afirmar que nunca houve um ataque ao quartel de Moatize, nem antes nem depois. Não existia estação de rádio.
Julgo que houve foi um ataque ao aeroporto de Tete, nos fins de 1972, pouco antes de a minha companhia embarcar.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 09, 2011, 10:29:17 am
Citação de: "JLRC"
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
-- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)

Eu fiz a minha comissão em Moçambique em Moatize em 1972/74 e posso afirmar que nunca houve um ataque ao quartel de Moatize, nem antes nem depois. Não existia estação de rádio.
Julgo que houve foi um ataque ao aeroporto de Tete, nos fins de 1972, pouco antes de a minha companhia embarcar.

É curioso verificar como a memória nos prega partidas. Eu estava no Aeroclube de Tete durante esse ataque e estava convencido de que o ataque tinha sido mesmo ao Moatize! Assim sendo, altero a primeira parte do pedido de ajuda: alguém sabe mais sobre esse ataque ao aeroporto?

Muito obrigado pela correcção!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Desertas em Fevereiro 09, 2011, 11:45:04 am
Citação de: "JLRC"
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
-- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)

Eu fiz a minha comissão em Moçambique em Moatize em 1972/74 e posso afirmar que nunca houve um ataque ao quartel de Moatize, nem antes nem depois. Não existia estação de rádio.
Julgo que houve foi um ataque ao aeroporto de Tete, nos fins de 1972, pouco antes de a minha companhia embarcar.

Caro JLRC meu sogro também esteve em Moçambique entre 1972/74 no Daque na companhia de Caçadores 3555 batalhão de Caçadores 3886. Gostaria de saber se possível qual a sua unidade em Moatize .

Um Abraço
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 09, 2011, 09:22:41 pm
Citar
Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
É provavelmente muito cedo, para se fazerem análises sobre a situação.

Em minha opinião, a ofensiva do Tete foi por um lado, uma tentativa de desviar as atenções das forças portuguesas que tinham sido transferidas para o norte durante a operação Nó Górdio.
Do ponto de vista táctico a operação Nó Górdio foi eficaz, mas do ponto de vista estratégico, se fosse possível demonstrar que os terroristas podiam atacar noutras áreas com facilidade, então seria possível dar a impressão de que Nó Górdio tinha sido um completo fracasso e um gasto inutil de recursos.

Por outro lado a ofensiva no Tete, pretendi demonstrar a capacidade dos terroristas para minar ou impedir a construção da barragem de Cabora Bassa, que era vista como uma afirmação portuguesa de que os portugueses estavam para ficar e por isso faziam ali grandes investimentos.
Tanto quanto se sabe, a FRELIMO nunca conseguiu atrasar significativamente a construção da barragem que ficava bem no centro da província do Tete.

A conclusão que podemos retirar, é que a ofensiva do Tete, foi acima de tudo uma vitória estratégica da FRELIMO, que foi posteriormente utilizada para minar a moral dos portugueses, quer dos militares quer dos cidadãos na Metropole.

A ofensiva, justificou durante muito tempo a já estafada tese de que a guerra estava perdida.
A verdade, é que por um lado no norte, a FRELIMO teve as suas redes desarticuladas, mas como elas tinham a sua base na Tanzania, puderam ser redirigidas através do Malawi.
As relações entre Portugal e o ditador do Malawi, eram muito boas, pelo que se o tempo tivesse permitido, o corte desse tentáculo seria quase certo.

Um dos problemas que a FRELIMO tinha era o atravessamento do Malawi, o outro, eram os militares da Rodésia, que também actuavam na região. A via através da Zambia era mais complicada, porque a FRELIMO não tinha o mesmo tipo de facilidade por parte do governo de Kennet Kaunda da Zâmbia, que tinha do governo tanzaniano de Julius Nierere.

Aliás, li algures (não me lembro onde) que os rodesianos chegaram a queixar-se da ineficiência das tropas portuguesas, que eram muito mais numerosas que as deles, mas que pouco ou nada faziam. Os militares da Rodésia agiam contra os insurgentes da ZANU, mas alegadamente entravam em território português com facilidade. Esta última informação foi-me dada há bastante tempo, por pessoas que ficaram em Moçambique vários anos após a independência.
Aparentemente, os guerrilheiros negros contrários ao governo da Rodésia, tinham o  apoio do Kennet Kaunda, mas a FRELIMO não tinha esse apoio. Portugal e a Rodésia fizeram esforços para coordenar operações contra os dois movimentos, com o apoio logistico da Africa do Sul que fornecia helicópteros PUMA, porque Portugal tinha apenas seis desses helicópteros em Moçambique e só parte podiam ser permanentemente utilizados.

(nota: Foi a pensar neste tipo de operações que Portugal comprou mais de 20 aviões CASA AVIOCAR, que como grande parte do material adquirido não chegou de facto a ser utilizado na tal guerra que estava perdida)

Na verdade, acredito que muitos dos comandos portugueses achavam que não precisavam fazer praticamente nada.
Ocorre que ao optar por atacar no TETE, a FRELIMO cometeu o mesmo erro que o MPLA e a FNLA cometiam em Angola:
Para realizar uma operação os insurgentes tinham que percorrer centenas ou milhares de quilometros  e carregar o armamento às costas. Uma força com este problema, acaba vendo a sua operacionalidade muito reduzida. Eventualmente esta análise e apreciação táctica da situação, faria com que fosse preferível deixar a FRELIMO andar de um lado para o outro a carregar armas, porque o efeito real na vida das populações era mínimo.

No máximo eles realizavam uma operação de vez em quando e o objectivo dessas operações, é o de desonortear os militares ocidentais, e po-los a caçar gambusinos.
Foi a táctica utilizada contra os americanos no Vietname.
Os portugueses aparentemente fosse por inércia, fosse por falta de meios, fosse para evitar mais operações nó górdio, fosse por achar que não valia a pena, acabaram por não seguir essa via.

A ideia de que a guerra podia ser ganha, tentando ganhar o apoio das populações, enviando médicos e dando auxilio às aldeias isoladas, estava a começar a ser aceite por muita gente.

Era aliás o maior terror dos instrutores soviéticos, que nunca desenvolveram uma estratégia eficaz contra esta táctica.

Não precisaram.
Ganharam a guerra na secretaria em Lisboa, em 25 de Abril de 1974
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: JLRC em Fevereiro 10, 2011, 12:04:22 am
Citação de: "Desertas"
Caro JLRC meu sogro também esteve em Moçambique entre 1972/74 no Daque na companhia de Caçadores 3555 batalhão de Caçadores 3886. Gostaria de saber se possível qual a sua unidade em Moatize .

Um Abraço

2.ª Cart do Bart 6220.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Desertas em Fevereiro 10, 2011, 01:00:32 am
Ok JLRC !

Obrigado.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 10, 2011, 10:37:06 am
Citação de: "papatango"
Citar
Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
É provavelmente muito cedo, para se fazerem análises sobre a situação.

A ideia de que a guerra podia ser ganha, tentando ganhar o apoio das populações, enviando médicos e dando auxilio às aldeias isoladas, estava a começar a ser aceite por muita gente.

Era aliás o maior terror dos instrutores soviéticos, que nunca desenvolveram uma estratégia eficaz contra esta táctica.

Não precisaram.
Ganharam a guerra na secretaria em Lisboa, em 25 de Abril de 1974

Muito obrigado pela sua análise, Papa Tango. Tem toda a razão, é cedo para fazer uma análise, tantas são as opiniões divergentes! Acho que daqui a uns 200 ou 300 anos será possível escrever algo de preciso sobre o assunto!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 10, 2011, 03:43:24 pm
Acho que não serão necessários 200 anos. Os teóricos ou especialistas destas coisas, afirmam que o período de distanciamento típico é de 50 anos.
Passados 50 anos podemos começar a fazer análises mais coerentes e mais racionais sobre o que se passou, acredito que esse período é cada vez maior, à medida que a comunicação social, o cinema e a televisão, mantêm a realidade da guerra mais viva durante mais tempo.

Podemos hoje, por exemplo, perceber que ao contrário do que nos contaram durante muito tempo, o Salazar e o Franco não tinham nenhum entendimento especial e que as duas ditaduras ibéricas tinham na realidade apenas relações institucionais e débeis. O Salazar, a contragosto suportava o Franco e o Franco a contragosto suportava o Salazar.
Só passados esses anos, puderam ser publicados livros em que se explica que não só Portugal nunca colaborou com as tropas rebeldes de Franco (ao contrário do que afirmou Mário Soares), como ainda por cima o próprio Franco tinha planos para invadir Portugal.

Mas já passaram mais de 70 anos desde esse periodo. A ideia geral que vamos criando sobre a História dos anos 30 aos anos 50 é hoje diferente da que tinhamos logo a seguir a 1974. Aliás chega a ser perigoso o entendimento da verdade histórica, pois isso leva a que muitos portugueses tenham criado a ideia disparatada e absurda de que se vivia melhor em Portugal no tempo da ditadura que hoje.

Mas para o período do inicio dos anos 70 ainda não passou tempo suficiente. Pode-se dizer uma grande quantidade de coisas, mas as águas ainda não assentaram.

Dou-lhe um exemplo:
Não podemos ter uma ideia de facto fundamentada sobre o que foi a guerra que alguns chamam Colonial e outros Ultramarina, enquanto as televisões ainda passarem imagens sobre o sofrimento dos soldados em África. Essas imagens, como as que vimos recentemente na SIC, não permitem o raciocinio frio e objectivo.

A única coisa que sei, é que falando com alguns dos filhos dos combatentes da FRELIMO em Moçambique, eles são quase todos unanimes em afirmar «off the record», que dificilmente a FRELIMO teria conseguido trazer a guerra até Lourenço Marques. Poderiam fazer algumas operações mais vistosas, mas não tinham capacidade para de facto criar uma sensação de insegurança nas populações do sul de Moçambique, nomeadamente a população branca que se concentrava no sul entre Lourenço Marques e a Matola e que vivia nas provincias de Lourenço Marques, Inhambane e Gaza, as quais eram praticamente um mundo à parte.

Para os portugueses de Moçambique que viviam em Lourenço Marques, o Moçambique deles acabava na Beira, que era a cidade mais a norte.
O resto, era Quelimane e Nacala, que praticamente já não estavam em Moçambique.

Também seria de extrema importância estudar as relações entre os colonos e os militares portugueses vindos da metrópole.
Havia um ressentimento enorme entre os portugueses que viviam em Lourenço Marques e nas provincias do sul contra os soldados portugueses.
Esse ressentimento continua até hoje, e acredito que se falar com pessoas que tenham vindo de Moçambique, muitos vão confirmar que a imagem que se passava dos portugueses que vinham da metrópole era a de um exército de bêbados.

Quanto à operação do Tete propriamente dita, ela não tem especial relevância no Museu da Independência em Maputo, onde apenas existem uns mapas e diagramas gerais sobre as operações e combates que ocorreram durante a guerra.
O museu foi inaugurado pelo próprio Samora Machel em 1978, quatro anos após o finam da guerra.

Estava lá exposto, em 2007 por exemplo, o carro utilizado pelo Eduardo Mondlane, exactamente como estava em 1974.
Sobre as alegações de que Mondlane caiu resultado de uma luta interna dentro da FRELIMO, entre os pró ocidentais e a linha radical comunista, NEM UMA PALAVRA.

Os silêncios ainda falam muito alto. Qual seria a estratégia de Mondlane se não tivesse sido morto ?
As opções de luta escolhidas pelos conselheiros soviéticos foram as melhores ?

A opção por atacar na região de Tete, com o objectivo de mostrar que os Portugueses estavam a ser expulsos e não conseguiam construir Cabora Bassa teria sido certa ?

Porque é que no Museu da Revolução, com tanta imagem sobre a repressão, e sobre a patriótica vitória sobre os portugueses e a marcha de Samora Machel, não há nenhuma menção ao facto de os portugueses terem conseguido construir a barragem, que era o maior e mais impressionante sinal de que tinham vencido de facto a FRELIMO ?

Como é que os portugueses conseguiram construir uma barragem, que era na altura a maior obra de construção civil do continente africano, no meio de uma província onde decorria a tão famosa Ofensiva do Tete ?

Se a operação no Tete tivesse sido um sucesso, porque é que o maior símbolo português na província e em todo o continente africano, não foi afectado, quando foi declarado como alvo primordial ?

Enfim, há muito, muito, muito pano para mangas.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: PILAO251 em Fevereiro 10, 2011, 11:06:49 pm
Caro PT.
Não conheço o Museu de Maputo, mas conheço o de Luanda.
Nem um, nem outro devem ser referencia para coisa nenhuma.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 11, 2011, 12:27:38 am
Bom, eu não conheço o de Luanda, mas o que é importante no museu, pelo menos no de Maputo, não é o que lá está escrito, mas sim o que lá não está escrito.

É por isso que à medida que o tempo passa,  e quando vamos tendo tempo para juntar as várias peças, é impossível não ficar com uma ideia muito diferente sobre o que foi a realidade da guerra e na maioria dos casos, aparece-nos uma ideia e uma imagem diferente da que nos têm vendido.

Importante:
Diferente mesmo da imagem que nos têm vendido naqueles episódios do Joaquim Furtado, que são apresentados como um documentário isento.

Sobre a ofensiva do Tete, a própria Frelimo não dá uma especial importância à operação. Fala apenas em levar a guerra a TODO o país, embora os próprios mapas que eles lá colocam, mostrem que a maior concentração de acções foi no Nordeste de Moçambique e na área junto ao lago Nyassa.
A FRELIMO não foi capaz de levar a guerra a todo o Moçambique e hoje estou convencido que a ofensiva do Tete, foi apenas o que eles conseguiram e puderam organizar para continuar a existir.

De resto a FRELIMO não existia no sul do país, onde estava a maior parte da população.
A ofensiva do Tete, não pode ser dissociada de Cabora Bassa e Cabora Bassa está lá, a mostrar o que a ofensiva do Tete conseguiu.

Em 2007, o presidente de Moçambique declarou numa entrevista, que finalmente Moçambique controlava a barragem de Cabora Bassa.
Não deixa de ser engraçado e irónico, quando por vontade do partido dele, a barragem não existiria hoje.



De qualquer forma o mais interessante será provavelmente discutir o que foi feito para evitar as acções da FRELIMO, ou então para reduzir a eficácia das acções da FRELIMO.
Sei por exemplo que a FRELIMO tinhas terríveis problemas logísticos e que muitas vezes não atacava os portugueses porque só tinham algumas catanas.
Mal sabiam eles, que muitas das tropas portuguesas que eles tinham medo de atacar, em vários casos não tinham praticamente, munição para as G3, e que havia pelotões em que apenas o comandante de pelotão tinha arma, havendo depois um ou dois tiros para cada soldado português, se tanto.

Nós também tinhamos terríveis problemas logisticos. Conseguia-se algum apoio através da utilização de avionetas AUSTER, com motor de 130cv  que praticamente serviam só para entregar correio e as Dornier Do-27 com motor de 270cv que não tinham capacidade para carregar quase nada e eram quase apenas uma forma de entregar correio e coisas mais urgentes, ou efectuar alguma evacuação médica.

A chegada dos AVIOCAR, por pequenos que fossem, teria sido uma revolução.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 11, 2011, 10:44:47 am
Caros Amigos,

Antes de mais, muito obrigado por toda a colaboração! O fluxo de informação prova que a guerra em Moçambique dava para escrever, não uma tese nem um livro, mas uma verdadeira enciclopédia! O problema é que estou a perder o enfoque em Tete, mas não faz mal.

E agora, gostava de lançar outro pedido de ajuda: sabem se há alguma coisa publicada (em papel ou em virtual) sobre a forma como as forças portuguesas reagiram ao 25 de Abril? O pouco que descobri diz que a Frelimo manteve a acção, mas que houve casos de comandantes no terreno que, em contacto com os guerrilheiros, propuseram que se estabelecesse uma trégua. Sabem se isso foi regra ou se não passou de excepções? O que mais se sabe sobre essa fase?

Obrigado, again!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: PILAO251 em Fevereiro 11, 2011, 05:26:44 pm
Li algures que um general rodesiano não quiz escolher a cor castanha da boina para as suas tropas por causa da má impressão que ficou das nossas tropas .
Mas o branco da rodésia, lutava por aquilo que considerava a sua terra, pois tinha lá nascido, enquanto o minhoto mobilizado, apercebia-se da indiferença dos brancos de L.M., que chegavam a perguntar, se já não havia tropas em Portugal, se era preciso enviar o filho (dele) pró norte.
Diz um amigo meu que fez a comissão no norte, que o Kaúlza, olhou para o ninho de vespas e em vez de as manter controladas, deu-lhes uma paulada (Nó Górdio) e elas, as vespas, espalharam-se por todo o lado.
O meu velhote que estava pela 2ª vez na zona de Tete, disse-me que nenhum do material delicado, conhecido por carga crítica, foi afectado, nem afectando o bom funcionamento na barragem.        

A visão dum militar é sempre condicionada ao seu campo de actuação, exemplo, posso dizer-lhe muito por onde andei mas nunca terei uma visão alargada da situação, portanto há sempre que recolher material, nosso, rodésiano e moçambicano, sendo que qualquer dele será sempre afectado por pruridos nacionalistas, como alguém disse a 1ª vítima da guerra é sempre a verdade.  
No - Ultima missão - o relato do ataque a Cumbamory, pelo comandante Manecas, é perfeitamente desvalorizado, no entanto sou amigo pessoal dum dos intervenientes directos que me assegurou que o material apanhado corresponde ao relatado e conhecido, mas, voltamos á velha questão, ele viu muito, mas muito em relação a que?????????????
Muna-se duma boa couraça par fazer o seu trabalho.      

Isto foge um bocado ao tema,mas
Aconselho vivamente
Angola-Um gigante com pés de barro---Avassalador, pois desmitifica muitas das tretas que se diziam á boca velada.

Para quem quer passar um bom bocado a rir-Angola o dia a dia dum embaixador- de António Pinto da França.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Duarte em Fevereiro 11, 2011, 06:45:09 pm
Citação de: "PILAO251"
Li algures que um general rodesiano não quiz escolher a cor castanha da boina para as suas tropas por causa da má impressão que ficou das nossas tropas .

Não foi um general, mas o TCor. Reid-Daly, comandante dos Selous Scouts, aquando da escolha das cores e inssignias regimentais da unidade.
Citar
I was personally opposed anyway to brown berets...mainly, I think, because the infantry of the Portuguese Army had worn brown berets and I had not been overly impressed when working with some of them."
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: FoxTroop em Fevereiro 11, 2011, 07:23:28 pm
Pois é...... Muito se fala sobre o assunto sem se falar com quem esteve "enterrado até às orelhas" no assunto. Muito porque os que estiveram "enterrados" na jorda não são muito propensos a falar. Primeiro porque certas coisas não se falam, depois, porque certas coisas nunca serão compreendidas por quem não viu/viveu, e em último, porque assim sendo não vale a pena falar. Então, a morte ou o gajo alemão (Alzheimer) calam a memória para o revisionismo.

Pessoas que vivem num limbo estranho que, talvez só seja realmente compreendido pelos que bateram pela mesma bitola. Não os entendo, nem sequer o quero fazer pois à certas "portas" que não se passam, pois só abrem para um lado. Respeito-os, e muito.

Por isso, antes que a memória viva seja apagada, vou recolhendo depoimentos dos que por lá passaram. Os meu familiares, os da minha aldeia, os da aldeia da minha esposa, com o pessoal da "minha tropa" que por lá bateu, etc, etc.
Em todos esses depoimentos, nunca ouvi de ninguém isto:

Citar
que muitas das tropas portuguesas que eles tinham medo de atacar, em vários casos não tinham praticamente, munição para as G3, e que havia pelotões em que apenas o comandante de pelotão tinha arma, havendo depois um ou dois tiros para cada soldado português, se tanto

Estou a falar de Combatentes presentes em Nangololo, Mueda, Nazombe, Nancatari, Chai, Omar (um da minha aldeia escapou de ser feito prisioneiro em Omar por ter ido a Mueda por questões sanitárias), Vale de Miteda (entretando abandonado) Muidumbe, isto em Cabo Delgado. Do Niassa falei com pessoal que esteve em Vila Cabral e Metangula. Da ZOT existem apenas dois Combatentes, que são da aldeia da minha esposa, que estiveram lá, mas são os dois FZE's e de certeza que essas unidades não servem de termo de comparação para "necessidades de munição".

Pelo contrário, todos, sem excepção, dizem que o que nunca faltou foi munição em barda. Se o meu caro tem fontes ou dados que suportem isso que afirmou de o pessoal ir para as operações com "duas ou três munições por soldado", faça favor de as apresentar.

Quanto ao falhanço da Frelimo, veja onde fica Mueda e depois conte a distancia até à Beira. São mais de 1000 kms de avanço em dois anos. Claramente estavamos a ganhar  :evil:

PS: Não coloquei aqui os termos, com que as pessoas a quem fui confirmar a sua alegação, o brindaram.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 12, 2011, 12:06:04 am
FoxTroop->

Ao tentar fazer análises históricas, baseando-nos exclusivamente em comentários de pessoas que estiveram no local, corremos sempre o risco da distorção provocada pela falta de distanciamento, que é meio caminho andado, para não concluir coisa nenhuma.

Nós não estamos num tribunal, em que se apresentam provas a favor ou contra. Eu apenas lhe posso dizer que havia e houve casos em que as nossas tropas não tinham munições.
Não tinham munições porque nós não tínhamos um sistema de distribuição e de logística adequado e eficiente, especialmente para responder à dita ofensiva do Tete.
Quando não há munições num lugar, há sempre munição a mais noutro lugar qualquer. O que eu garanto é que houve casos de sub unidades que fizeram patrulhas e escoltas quase sem munições, porque tinham que fazer a escolta e a munição não chegava a tempo.
É claro que haveria lugares onde o que não faltava era munição e até havia de sobra, mas isso é mais uma prova de que o sistema logistico não estava a funcionar.
Era para resolver esse problema, reconhecido por todos, que se compraram mais de 20 AVIOCAR (alias se bem me lembro previu-se a compra de mais mas com o 25 de Abril foram cancelados).

Uma guerra não se ganha com umas quantas operações e uns quantos ataques. A verdade é que a FRELIMO tinha imensa dificuldade em chegar ao sul.


Quanto aos comentários de quem lhe respondeu, eu só posso dizer o seguinte:

Eu não também não lhe colocaria aqui as respostas que lhe daria um militar que tivesse estado debaixo do fogo da artilharia alemã durante a I guerra mundial.
Para eles, os combates dos portugueses em Moçambique não passariam de joguinhos de crianças.
Nunca um combatente em Moçambique alguma vez na vida poderia entender o que é uma barragem de artilharia pesada de centenas de peças de 8 polegadas.
Nenhum dos soldados de África, sofreu o terror dos ataques de gás.
Nenhum dos soldados de Africa poderia saber o que era estar meses e meses a fio, na lama podre das trincheiras da Flandres, com temperaturas negativas.


Não me venha com as descrições e os relatos pessoais ! ! !
Eles são sempre terríveis, são sempre maus, são sempre horriveis.

PARA OS SOLDADOS PORTUGUESES EM LA LYS, a GUERRA TAMBÉM ESTAVA PERDIDA. TÃO PERDIDA QUE SE RENDERAM AOS MILHARES.
Mas no fim, os aliados é que ganharam a guerra, que muitos acreditavam ser impossível de vencer.

Hoje podemos fazer uma análise do ponto de vista da estratégia, e concluir que embora o apoio do agente alemão Vladimir Lenine, ao retirar a Russia da guerra, tenha libertado as divisões alemãs que foram utilizadas nas três ofensivas da operação Kaiserschlacht (em que se inclui a ofensiva de La Lys), o apoio maciço da América acabaria sempre por vencer a Alemanha.

Mas para quem estava nas trincheiras, A GUERRA ESTAVA PERDIADA!
Ponha uma coisa na cabeça:
Quem está nas trincheiras pode ser Heroi, sem dúvida, mas nunca será um estratega !

As afirmações de quem lá esteve são importantes para criar uma imagem geral, mas não podem de forma alguma ser a palavra final quando se pretende determinar se a operação no Tete teve de facto sucesso.


Estamos a falar de História !
Temos que ser racionais e frios, ainda que isso possa parecer cruel, para quem passou pela guerra.
Tão frios para com os militares que sofreram em África, como para os que, de forma muito mais terrível, sofreram muito mas muito mais, nas trincheiras da Flandres em 1917 e 1918.

Os que afirmam que a Guerra estava perdida do ponto de vista militar, não conseguem apresentar um raciocínio estruturado que o justifique ou o explique, ainda mais quando a própria FRELIMO reconhece a situação desesperada em que se encontrava.
Se mais fosse necessário, bastaria dizer que a guerra foi ganha não com a nossa derrota no terreno, mas com um golpe, feito por um grupo de militares maçaricos em 1974.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Duarte em Fevereiro 12, 2011, 01:18:20 am
Citação de: "papatango"
Não tinham munições porque nós não tínhamos um sistema de distribuição e de logística adequado e eficiente, especialmente para responder à dita ofensiva do Tete.
Quando não há munições num lugar, há sempre munição a mais noutro lugar qualquer. O que eu garanto é que houve casos de sub unidades que fizeram patrulhas e escoltas quase sem munições, porque tinham que fazer a escolta e a munição não chegava a tempo.

É natural que tal tenha acontecido muitas vezes, postos isolados, etc.. Isto acontece em qualquer conflito e qualquer exército ou força militar sofre casos destes. Aposto que a FRELIMO ficou sem muniçes muitas vezes também dadas as longas rotas de reabastecimento.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Luso em Fevereiro 12, 2011, 12:57:47 pm
A propósito do tema do abastecimento de munições, coloquei a questão ao meu pai que esteve estacionado em Pauíla 1971/1972.
Fome algumas vezes, em resultado de rações monótonas, compensadas com caça, mas nunca falta de munições de arma ligeira e morteiro. Nenhuma operação decorria sem que cada militar estivesse equipado com 5/6 carregadores (depósitos) cheios (100 /120 tiros).
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: HSMW em Fevereiro 12, 2011, 01:33:26 pm
Citação de: "Luso"
Nenhuma operação decorria sem que cada militar estivesse equipado com 5/6 carregadores (depósitos) cheios (100 /120 tiros).
4 carregadores de 20 munições nos porta carregadores colocados no cinturão mais o carregador da arma.
Ainda hoje é assim.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 12, 2011, 03:12:32 pm
Meus senhores, vamos ver:

Tete. Ofensiva do Tete.

Na verdade, nem sei se podemos chamar aquilo de ofensiva, porque foi na prática o resultado de uma fuga, quando a FRELIMO entendeu que tinha que fugir do norte, por causa da operação Nó Górdio.
As falhas de fornecimento de munição para sub unidades, ocorreram. Não eram a regra, eram a excepção, mas ocorreram e especialmente na região do Tete, porque o grosso da capacidade logística portuguesa estava no norte.

É aliás por isso que a FRELIMO opta por acções nessa região. Mas a ofensiva do Tete, é acima de tudo propaganda. Não teve nem de perto nem de longe a influência que se lhe atribui, como prova do descalabro final das forças portuguesas.

A FRELIMO afirmava que tinha bases tanto a norte quanto a sul do Zambeze, mas essas bases não passavam de acampamentos sem qualquer tipo de condições. Não eram bases de suporte logistico, onde estivessem grandes quantidades de armas ou munições. Nem sequer comida eles tinham.
Além disso a proximidade da fronteira, reduzia enormemente a capacidade efectiva da FRELIMO.

O que eles tinham, disso não há qualquer dúvida, era um sistema de propaganda e guerra psicológica, que permitiu criar a impressão de que eram de facto muito mais poderosos que o que realmente eram.

As poucas operações que a FRELIMO realizou, esgotaram a capacidade da organização.
Para lhes piorar a situação, havia as pressões portuguesas contra a Zambia do Keneth Kaunda e as acções das forças operacionais da PIDE (especialmente na fronteira oeste), que eram utilizadas como forma de pressão para que a Zambia não apoiasse a FRELIMO (ou os movimentos angolanos).
Ao pressionar a Zambia, os portugueses garantiam um estrangular gradual da FRELIMO, porque lhes limitavam muito a capacidade de acção.

Mas as nossas dificuldades logísticas em Moçambique foram uma constante. Embora mais pequeno que Angola em termos de área, Moçambique tem distâncias muito maiores, por causa da sua configuração. El linha recta, em Angola da fronteira com a Namíbia ao rio Zaire são pouco mais de 1200km. Em Moçambique do Rovuma ao Maputo são praticamente 2.000km. Por estrada, de Lourenço Marques a Cabora Bassa eram cerca de 1700km.

Nenhum exército conseguiria de um momento para o outro, responder a uma ofensiva rapidamente e sem problemas, ainda mais quando tinha grande parte dos seus efectivos numa outra região igualmente remota.

A falta de material, era também comum na FRELIMO e é por isso que é quase ridículo falar de Ofensiva do Tete.
A FRELIMO pedia desesperadamente armamento aos países do bloco de leste. E quando o Nixon chegou ao poder, muitos dos regimes africanos, entenderam que os americanos passariam a olhar com mais atenção para qualquer apoio soviético directo ou indirecto. O receio de que os americanos cancelassem apoios financeiros se países como  Zambia ou a Tanzânia fossem vistos a apoiar abertamente a FRELIMO, causaram problemas exactamente quando essa ofensiva ocorreu.

A mudança da politica de Washington relativamente a Portugal, no inicio dos anos 70, facilitada pelo politica de abertura da Primavera Marcelista,  condicionou todas as três frentes da guerra. É por isso que em Moscovo, muitos dirigente comunistas que discutiam a questão portuguesa, concluíram que não era possível ganhar a guerra contra os portugueses em África.

Os métodos de guerrilha e combate assimétrico desenvolvidos pelos agentes da Russia comunista e satélites, para lutar contra os gordos e anafados ocidentais, não funcionavam contra o soldado portuga, habituado a passar fome na sua própria terra.

As minhas fontes para tirar as conclusões, são familiares meus que cumpriram serviço militar em Moçambique na Beira entre 1971 e 1973, juntamente com livros como Costa Gomes, o último marechal, o diario do Franco Nogueira, onde se descrevem os contactos não oficiais com os países vizinhos de Portugal ou o livro « Jorge Jardim, agente secreto » do Freire Antunes.
Sobre a abertura de Washington ao regime, pode-se consultar as memorias do embaixador de Portugal em Washington Hall Themido, da Dom Quixote.

Cumprimentos
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: PILAO251 em Fevereiro 12, 2011, 06:43:19 pm
Sr. PT

A questão de Tete é transversal, o meu amigo tem a sua opinião, eu tenho a minha, o vizinho de cima tem a dele e a minha prima tem a melhor de todas. Se bem que tem razão quando diz que a Frelimo, foi empurrada pela Nó Gordio e tinha as linhas de abastecimento muito alargadas, e não chegou a afectar o projecto da barragem.

Vamos ao que interessa.

Situações pontuais em que, devido á falta de colunas de abastecimento, fossem por a picada estar inop. devido as chuvas, ou as colunas não passarem devido á pressão do IN, isso aconteceu várias vezes, caso de Guilege, casos dos Postos de Vigilancia ao longo do rio Messalo, em que ao fim de 5 a 6 horas de fogo, as ditas começavam a escassear, chegando os mesmos a serem tomados e a guarnição ter que fugir, ou como no caso em 61 em que o Nº de atacantes e a surpresa do ataque levasse a que as munições tivessem que ser contadas.
Mas isto foram situações pontualíssimas.

Agora o Sr. não sai daqui sem por o preto no branco.
Qual o caso que conhece em que a Unidade, Pequena Unidade ou Sub-Unidade, isto é, qual o  Nº de Companhia, Pel. ou Grupo de Combate, em que o graduado, seja Alferes, ou Furriel, tivesse arma e os homens não tivessem arma, ou tinham arma, mas só meia dúzia de munições.
Não esquecer os Números das Unidades, e de preferência o nome dos Alferes ou Furrieis envolvidos.

Não me vai falar do caso de Omar, em que o pessoal foi agarrado à unha, ou da Companhia que abandonou o aquartelamento em cuecas em Angola em 75, pois não.
Att, um ex-Alf. Atr.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 12, 2011, 11:55:15 pm
Naturalmente que as opiniões são opiniões, mas não invalida que não se possam basear em informação correcta.

Eu discuti muitas vezes estas coisas com pessoas que estiveram no terreno, porque sempre tive curiosidade sobre o tema e por isso naturalmente sempre que possível puxava conversa.
Algumas das pessoas na verdade, até nem gostavam muito de falar nisso.
A pessoa que me referiu as dificuldades com o armamento, foi a mesma que sempre que falava desse tempo, falava sempre de um alferes que lhe tinha morrido nos braços.
Como é evidente, eu não perguntei às pessoas em causa - as quais tenho por absolutamente honestas - qual era o nome e o numero mecanográfico do oficial responsável pela unidade.
Quando recolhemos este tipo de testemunhos eles são o que são e devem ser interpretados para permitir ter uma ideia geral dos acontecimentos.

Quando os dados recolhidos avulso, por fontes que temos por boas e acima de suspeita, ainda por cima fazem sentido, quando analisamos por exemplo as aquisições de material militar, as movimentações no norte, a operação Nó Górdio, a qualidade das estradas, a capacidade dos meios aéreos disponíveis, o numero de pistas de aviação onde pudessem aterrar os Noratlas (os únicos aviões com alguma capacidade de que dispunhamos), as afirmações do governador de Moçambique ou do ministro dos negócios estrangeiros da altura,  então isso permite-nos ter uma opinião bastante segura sobre o que realmente aconteceu.

E o que aconteceu, foi que pelo menos na fase inicial da chamada ofensiva do Tete, houve situações em que os militares se queixaram da falta de capacidade de apoio logistico das Forças Armadas.
Conforme você disse, estas situações foram pontuais, mas ocorreram. E foram especialmente graves, quando a nossa capacidade logística estava concentrada no norte, e quase esgotada, porque Portugal não tinha capacidade para duas operações Nó Górdio.

Aliás, se não fosse para beneficiar da nossa desvantagem, as forças inimigas não tinham atacado onde atacaram.
Eles conheciam as nossas debilidades, e tentaram utilizar esse conhecimento em favor do lado deles, com algum sucesso.E nós cambaleámos no inicio. O problema do outro lado é que a FRELIMO deu um passo maior que a perna, porque eles também tinham problemas logísticos, ainda mais em áreas onde também actuavam as forças da Rodésia.

Peço desculpa, mas mesmo que eu tivesse o numero mecanográfico do primeiro-sargento que disse que faltava a quantidade regulamentar de munição, isso não teria qualquer influência numa análise sobre a situação estratégica no noroeste de Moçambique, e na análise das forças e interesses geopolíticos em jogo.


Cumprimentos
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: PILAO251 em Fevereiro 13, 2011, 09:20:06 am
Caro PT
Não pretendendo pessoalizar a questão, mas há coisas que tem que ser ditas.
No caso da dita ofensiva de Tete, estamos basicamente de acordo, ponto assente.

Neste Forum, que tem algumas pretensões, e legitimas, a servir de referência num debate que se propõe alargado na temática da defesa e respectivas implicações ou correlações, políticas e económicas, temos que ter como pedra basilar o fazer ou não, certas afirmações.
Fui claro quando afirmei que a visão dum qualquer interveniente, numa situação, de paroxismo anímico, é limitada pelo seu campo de actuação, se não mesmo, pelo seu campo de visão, e, á posteriori, o relato da situação peca por excesso em termos emocionais e por defeito em termos analíticos.
Neste caso concreto, a sua afirmação acerca do alferes ter arma e o resto da malta andar a ver navios, é como atirar o barro à parede,,,, a merda toda, é se cola.
Amanha temos os putos na rua a dizer que o meu pai andou lá, com fisgas, pois até conheço um gajo, que no grupo dele, só o alferes é que tinha arma ou outros não.
Isto ou pior.
Portanto, quando certo tipo de afirmações são postas no papel, temos que explicar muito CLARAMENTE, em que circunstâncias as mesmas se passaram ou, se nos poupamos, temos que nos abster, afim de evitar mal entendidos.

Caríssimo, no fundo a maka é esta, certos factos aqui descritos passarão a ter peso de lei, e por sua vez, qualquer erro, não rebatido, perpetuar-se-a, tal como qualquer afirmação dúbia.
Já não basta termos os de cima a cagarem em nós, quanto mais, os de baixo.

Desculpem a linguagem de caserna.      

Att. sempre a considerá-lo
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Ranger1972 em Fevereiro 13, 2011, 12:49:59 pm
Citação de: "Fencer"
Estou a preparar uma tese sobre a guerra colonial em Moçambique, especialmente na zona de Tete a partir de 1972. Já tenho alguma informação, mas precisava de saber mais coisas mais sobre:
- Organização da ZOT (Zona Operacional de Tete)
- Ataque ao quartel (ou à estação de rádio?) do Moatize (1973?)
- Casos e estórias passados na cidade e arredores
- Presença militar portuguesa em Vila Coutinho
- Em jeito de balanço, na ZOT para que lado pendia o conflito?
Se alguém me puder ajudar, fico muito grato!
Através do blogue
 http://coisasdomr.blogspot.com/ (http://coisasdomr.blogspot.com/)
Procure entrar em contacto com o Rui Souto que enquanto alferes foi comandante do G.E.801 que actou  na ZOT ,e que será dos homens que melhor conhece a problemática da guerra do ultramar em Tete.

cumprimentos.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 14, 2011, 11:20:18 am
Bem, nunca pensei que o meu pedido de informações gerasse tanta discussão. Mas ainda bem, pois permite-me ver que o PT tem razão quando afirma que ainda é cedo para escrever (ou mesmo para tentar escrever!) a história da guerra colonial.
Relativamente à questão do abastecimento, todos têm razão. As munições eram, é verdade, razoavelmente abundantes e, ao longo da minha pesquisa, encontrei muito poucas queixas de falta delas. Mas houve casos, sem dúvida. Falei com amigos que estiveram na região de Tete e que assumem que houve alturas em que houve "racionamento de tiros" porque o reabastecimento só podia ser feito de heli e estes não voavam quando as condições de segurança da LZ não estivessem garantidas. Outros viram-se sem munições quando estavam a fazer escolta de colunas e sofriam uma emboscada. Tenho nomes, unidades e locais, mas comprometi-me a manter os dados em segredo porque quem lá lutou será sempre patriota e "descurte" que se achincalhe a pátria, ainda que com razão.
Já quanto a alimentos, as coisas foram bem piores e havia locais onde se não se caçasse não se comia - e até as cobras eram um banquete.
Finalmente, as polémicas:
- Talvez a Frelimo não ganhasse a guerra no terreno, mas ganhou-a, certamente, na opinião pública (local, nacional ou internacional).
- Portugal também não ganharia a guerra, pura e simplesmente porque o envolvimento no terreno era demasiado escasso para controlar um país da dimensão de Moçambique. Para mim, estávamos perante um "empate técnico", que podia ter sido muito melhor resolvido com uma solução diplomática adequada.
- Os militares que fizeram o 25 de Abril não eram nem maçaricos, nem cobardes que queriam fugir da guerra, nem tachistas que queriam subir na carreira sem esforço. Ou melhor, talvez uns fossem. Muitos outros provaram no terreno a sua competência e coragem, estando na frente e não refugiados em quartéis com ar condicionado e cerveja Laurentina gelada. Generalizar é sempre um risco.
- A descolonização foi mal feita, é verdade, e acabámos por sair da guerra de uma forma desonrosa, mas isso não se deveu aos militares. Quem tornou Portugal no que hoje temos foram os políticos profissionais, que nunca fizeram mais nada na vida - porque não sabem!

Seja como for, obrigado a todos pela ajuda e pela forma como me estão a ajudar a conhecer melhor aquilo que vivi de longe!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: FoxTroop em Fevereiro 14, 2011, 11:46:33 pm
Citação de: "PILÃO251"
Fui claro quando afirmei que a visão dum qualquer interveniente, numa situação, de paroxismo anímico, é limitada pelo seu campo de actuação, se não mesmo, pelo seu campo de visão, e, á posteriori, o relato da situação peca por excesso em termos emocionais e por defeito em termos analíticos.

De acordo, os relatos dos participantes directos terão sempre uma alta carga emocional adjacente, mas não é possivel fazer um estudo sério e rigoroso sobre o que for, sem se conhecer e levar em conta o estado anímico e as prespectivas pessoais de quem está na linha da frente. São eles que combatem e são eles que num momento de dúvida ou fraqueza, de sagacidade ou valentia, decidem todo o resultado de um confronto, uma batalha e, por arrasto, o rumo de uma guerra. Colocar a coisa ao nível de peças de xadrez, sem vontades e medos, desprovidas de sentir e razão, é um erro de análise perigosíssimo.

Quanto à questão de Moçambique em si, o que é certo é que a FRELIMO efectuou um avanço brutal no terreno. Observando no mapa as ocorrencias, depois da Nó Gordio as acções da guerrilha alastraram como azeite na água e as FA's portuguesas passaram a correr atrás, perdendo qualquer iniciativa operacional. Se a FRELIMO deu um passo maior que a perna? Talvez, e também não acredito que conseguisse vencer militarmente (numa fase 3 á lá Giap). Mas que colocou um pressão enorme no TO é inegável.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 15, 2011, 03:03:58 pm
Tinha escrito um texto mais substancial, mas perdeu-se quando a sessão terminou. Fiz click para publicar e perdeu-se tudo...

Tentando resumir, o que tinha escrito: Basicamente.

Vantagem da FRELIMO no Norte:
Povos Macuas, entre os quais os Macondes, com apoio nas mesmas etnias na Tanzania.
Isto permite à FRELIMO uma vantagem considerável.
A ligação entre os povos e a FRELIMO é muito mais intensa e permite a remoção de aldeamentos inteiros.

O resultado é inevitável. A FRELIMO passa a ter um apoio popular muito mais esparso e dependente da actividade psico-social dos portugueses.
Onde tivessem passado médicos portugueses que tivessem curado crianças e velhos, a FRELIMO não tinha a mesma aceitação.
O problema étnico, foi o principal problema da ofensiva do Tete, porque sem o mesmo tipo de apoio por parte dos nyanjas (diz-se nhanja, e trata-se de uma étnia diferente), que tinha por parte dos vários povos Macuas, a FRELIMO também tinha problemas logísticos graves.

Soma-se a isto que a região é de maioria «nyanja», que não está relacionada com os «macuas», sendo que segundo consegui apurar, é de um grupo étnico aparentado com os «nyanja», os «sena», que vieram muitos dos moçambicanos recrutados para o exército português. Esta ligação entre a étnia Nyanja/Sena e o processo de africanização do exército, não a pude confirmar, porque apenas tenho impressões em primeira mão.

A ofensiva do Tete, realizou-se contra uma área onde a população não tinha o mesmo tipo de aceitação à FRELIMO e onde anda por cima se gerava um conflito em que havia muitos africanos a servir no exército.
Para determinar para que lado «pendia» a balança na ofensiva do Tete, temos que considerar:

A questão étnica, que complicava as linhas de abastecimento da FRELIMO e a sua capacidade para efectivamente montar ofensivas.
A pressão sobre a Zambia e sobre o Malawi, para garantir o não apoio à FRELIMO.
A pressão da Rodésia, cuja fronteira ficava a poucos quilometros.
O apoio crescente da África do Sul, maior quanto mais se avançasse para sul.

Creio que devem existir poucas dúvidas e a confirmação disto é fácil:
So a 26 de Abril de 1974 é que a maioria dos portugueses de Moçambique se começou a aperceber do que poderia vir a acontecer. A ofensiva do Tete, praticamente não existia para muitos portugueses.

Falar do avanço da FRELIMO no terreno não faz grande sentido, tratando-se de uma força irregular, que dependia de células ocultas.
A FRELIMO avançou no terreno, como avançou a ALQAEDA sobre a América em 11 e Setembro.

Do teatro operacional, resultou no entanto uma derrota estratégica, que prejudicou mais a posição portuguesa que todas as iniciativas da FRELIMO.

Essa derrota estratégica chamou-se Wiryamu.
O chamado massacre de Wiryamu (que foi uma brincadeira de crianças, quando comparada com a orgia de terror e morte, patrocinada pelo Samora depois da independência), foi fervorosamente aproveitado pelos comunistas e pelos movimentos contrários a Portugal.
Os acontecimentos de Wiryamu foram exagerados, multiplicados até à exaustão, dando uma ideia completamente absurda e despropositada do que aconteceu na realidade.

E claro, não é possível falar de Wiryamu, sem esquecer as rivalidades étnicas entre os Nyanja/Sena que são originários da área que vai da Beira, até à margem sul do Zambeze que têm fronteira, com outros povos Nyanja, na área Chemba-Moatize-Songo(Cabora Bassa).

A ofensiva do Tete, produziu apenas o efeito Wiryamu, a única vitória efectiva da FRELIMO e dos comunistas na Europa.
Foi um efeito terrível e que se prestou a dificultar a vida aos portugueses na Europa, numa altura em que a América aparecia muito mais favorável a Portugal, com a chegada dos republicanos ao poder em Washington.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Fevereiro 15, 2011, 04:12:53 pm
Citação de: "papatango"
Vantagem da FRELIMO no Norte:
Povos Macuas, entre os quais os Macondes, com apoio nas mesmas etnias na Tanzania.

Caro PT,

Lendo-o atentamente, chego à conclusão de que a visão que me propunha usar nesta tese é muito semelhante àquela que teve a bondade de partilhar - só não consigo é ser tão preciso e conciso. E é talvez por inveja que lhe faço uma correcção: os Macondes não são um povo Macua. Sim, são ambos povos Bantus, e como tal aparentados, mas os Macondes vivem mais ao Norte, bem junto da fronteira com a Tanzânia, e foram sempre favoráveis à Frelimo, enquanto os Macuas vivem mais abaixo, na zona de Nampula, e foram sempre amigáveis e hospitaleiros. Caso nas suas pesquisas tenha obtido dados diferentes, isso significa que tudo aquilo que aprendi em 46 anos de vida estava errado!

Muito obrigado pela ajuda!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: papatango em Fevereiro 15, 2011, 05:19:52 pm
Bom, como terá reparado as etnias não são o meu forte. No entanto, a informação que tenho é a de que os Macuas são de facto um povo Bantú.
Mas os Macondes são um povo Bantú, uma sub etnia (se é que o termo existe) dos Macuas.

A mesma coisa ocorre com os Nyanja (ou Nhanja) e os Sena. Os Sena são aparentemente aparentados com os Nyanja. Esta etnia e a sua rivalidade com os Macuas e Macondes, é importante para analisar as dificuldades da FRELIMO na operação contra o Tete.
Mas as próprias rivalidades entre Nhanjas e Senas também deveriam ser estudadas.

Para a maioria dos militares portugueses que estavam em operações, a verdade é que muitos não se apercebiam da situação. Para eles havia «pretos» que eram inimigos e havia os «pretos» que eram nossos amigos. Alguns deles até estavam na tropa.

Não conheço nada publicado, sobre as opções de africanização do exército português em Moçambique.
No entanto, considerando o que foi feito em Angola, em que na prática jogámos com umas etnias para atacar as outras (havia uma guerra entre a UNITA e o MPLA) antes do 25 de Abril, tudo leva a crer que ao mobilizar soldados de determinada etnia moçambicana, se poderia estar a tentar produzir um efeito semelhante.
Não tenho no entanto nenhum dado que comprove esta tese. Apenas as circunstâncias conhecidas, apontam para uma possibilidade que teria que ser estudada.


O que do meu ponto de vista é importante frisar quando falamos da ofensiva do Tete, é que ela foi apresentada como prova da derrota final.
Mas quando olhamos para as realidades no terreno, para os problemas étnicos e para as forças que se moviam naquela região de África (Zambia condicionada pela Rodésia e pela África do Sul e pelo enclausuramento e dependência do Kaunda dos portos portugueses, Tanzania relativamente fora do conflito após a operação Nó Górdio que colocou tropas portuguesas na fronteira e dificultou o apoio do Nyerere à FRELIMO, Malawi favorável a Portugal), as coisas não eram muito favoráveis à FRELIMO.

E claro, seria necessário também estudar o mais ruidoso dos silêncios: A possibilidade de a FRELIMO ser apoiada por militares portugueses, que poderiam ter desviado armas contra pagamento. Mas aí estamos a entrar no campo da especulação pura. Ninguém se atreveu a falar realmente no assunto.
Um dos ministros que se terá atrevido a estudar o que se fazia com os excedentes de armas em Portugal, chamava-se Adelino Amaro da Costa.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: gaia em Fevereiro 15, 2011, 06:32:38 pm
Acho que o Papatango , está a ter uma visão correcta .

Os macuas , eram aliados dos portugueses, e foram eles que , que posteriormente apoiaram a Renamo.

Acho , que devem ler este livro " Contra-Subversão em África " de John p. Cann.

Este autor , acha que a situação em Moçambique poderia ser revertida, como aconteceu em Angola . O sistema de informações era notável , face por exemplo ao americano no Vietnam, mas houve uma falha  " em 1969 a Frelimo começou por eliminar sistematicamente os chefes tribais no norte da Zambézia e a situação deteriorou-se rapidamente no que diz respeito à segurança , apanhando os portugueses desprevenidos "

Este autor não tem uma visão tão negativa , como a maioria dos portugueses tem actualmente, influenciados, pelo "politicamente correcto" em dizer que a guerra estava perdida, porque é algo que agrada aos políticos actuais e para dizerem que 25 A, foi   um acontecimento muito importante. mas história vai dizer o contrário , uma data infame , pelo o que aconteceu posteriormente em África , nas antigas colónias , mais de 2 milhões de mortos, e as consequentes desgraças a toda uma população , em beneficio de uma pequena maioria.

Segundo este autor , a guerra estava contida na Guiné, ganha em Angola e em Moçambique havia grandes hipóteses de ser ganha.

Este tipo ,de guerras que aparentemente , parecem perdidas, muitas vezes , existem volte faces extraordinários , e o exemplo disso , foi a vitória na frente leste.
Basta estes movimentos mão terem financiadores , ou os países que davam guarida às bases, começarem a sentirem-se pressionados , ou sofrerem retaliações .

A vitória em Angola , deve-se ao facto de  a Zambia , para exportar tinha de utilizar o caminho ferro em Angola, e a operações encobertas pouco conhecidas , pelas TE e GE, no Zaire e Zambia.

Conheço uma pessoa , que conheceu um líder terrorista ( treinado na URSS), que passou para o lado português com o seu grupo de 500 homens ,e foi morto numa emboscada no norte de Angola, quando ía com uma companhia portuguesa  .
O seu grupo para vingar a morte do seu chefe , entra no Zaire  , e faz muitas retaliações. Em Angola havia as TE , com elementos do antigo Catanga, em que entravam no Zaire , quando fosse necessário.

Os portugueses também tinham soluções de recurso, e que neste tipo de guerra assimétrica também contavam e intimidavam os vizinhos.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: templariolusitano em Fevereiro 25, 2011, 08:13:34 pm
Boas a todos do Fórum.
Sobre Tete e Zot, entre 1972 1 agosto de 73, posso fornecer informações .Fui Alferes da 3ª companhia de transportes na secção de via aérea, antes disso estive em Cabo Delgado e Chioco(Tete), tambem gostava de saber de alguns elementos em serviço nesses anos tanto na ZOT como na companhia do Chioco.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: macua em Março 17, 2011, 12:27:53 am
Caros companheiros do fórum.
É a primeira vez, que entro e foi por casualidade que encontrei numa busca de Tete/Zot.
Fui militar em Moçambique de 1970/73,como furriel e mais tarde graduado em Alferes, fiz o curso de comandos em Cabo Delgado(Montepuez ) e vivia numa zona de guerra enquanto civil. Na saída dos Comandos prestei serviço no Meluco Cabo Delgado e nas operações Nó Gordio, ao ser graduado foi formar uma companhia de intervenção e fomos destacados para Tete, para o  Chioco ao sul de tete e no caminho da Chicoa(cabora Bassa). Nos ultimos messes de tropa fui requesitado devido ás minhas funções enquanto civil para o quartel da ZOT ao serviço da 3ª compª de Transportes a chefiar a secção de via aérea.Então aqui é onde posso resumidamente contribuir com alguns eesclarecimentos,era da minha area requisitar e coordenar a logistica aérea de abastecimentos e correio para unidades no mato. Nunca faltou absolutamente nada desde que nos fosse requisitado tanto por aviões militares ou civis. Andei 26 messes em zona 100% em teatro de guerra, fui ferido, apanhei com minas, e nunca faltou munições e que eu saiba nunca faltou a ninguem, viveres frescos isso sim em especial na época das chuvas em que as picadas estavam intransitáveis e o abastecimento era feito apenas por via aérea.Eu estvie lá como civil e como militar, nunca houve segregação dos civis para com os militares, tanto os de lá como os do continente de onde sou natural e só fui para Moçambique com 17 anos.Agora lembrem-se escória há em todo o lado e tanto civis como militares.Há sempre excessos e se não vejamos agora não há guerra mas continua a haver abusos.
Não sei a quem pode servir as histórias da guerra do ultramar, ninguem dos que nunca estiveram lá sabem sequer o que é África ou guerra,medo ou heroismo. São conceitos tabus para quem os viveu, fico entristecido com o que se escreve sobre a guerra em especial de Moçambique. Enfim a mentira e ignorância sempre andaram de mãos dadas e temos esse exemplo ao vermos como fazem de certos elementos heróis e outros de traidores. Lembrem-se heróis são os que escaparam da guerra e não aqueles que fizeram tropa nas cidades e contam estórias mirambólicas, ADeQUADAS A LIVROS DO RAMBO...esses nunca estiveram na guerra, nunca o meu filho viu fotos ou ouviu da minha parte falar de guerra, é um tabu nosso, sentido no intimo, guardado nos confins da mente, mas sempre presente, podemos classificar como uma maldição , não pela guerra mas sim como somos retratados e tratados pela geração do pós guerra, nada sabem sobre ela só conhecem mentiras escritas por individuos que nunca estiveram lá.Estou a lembrar-me do livro Anjo Branco, é de lamentar que se ganhe dinheiro com inverdades, as verdades estavam com quem as viveu e eu estava lá, o personagem nunca escreveu e agora vem o badameco dum filho, que faz parte de uma elite que nos suga o sangue escrever algo que desconhece.Estarei ao dispor para esclarecimentos técnicos nunca psicológicos. Passem bem.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Fencer em Março 25, 2011, 04:35:52 pm
Caro Macua,
Muito obrigado pela sua intervenção e por confirmar algumas informações que já me tinham sido transmitidas. Permita-me, porém, que discorde de si relativamente a não se falar da guerra, colocando uma pedra sobre o assunto. Esse pacto de silêncio terá consequências dramáticas no futuro, pois permitirá que os nossos netos venham a aprender uma versão completamente falsa do que se passou nas ex-colónias, contada por quem não passou por lá ou, não sei se melhor ou pior, por quem, tendo lá estado, não saiu dos quartos das messes de oficiais ou dos gabinetes de Estado-Maior.
Como outros já escreveram neste tópico, é ainda cedo para contar a guerra colonial. Há demasiados intérpretes ainda vivos que têm, todos eles, versões diferentes dos factos. A guerra não é o que se vê nem o que se ouve. É o que se sente a cada instante. E cada um de nós sente de forma diferente os mesmos factos, criando memórias diversas e, em muitos casos, discrepantes. Mas cada um dos que passou por lá (mesmo aqueles que, como eu, não tinham ainda idade para combater e estavam como filhos de militares - apesar de ter visto muito e visitado locais bem "quentes") tem a obrigação moral de deixar registada a sua experiência. Só assim se poderá, um dia, escrever uma História minimamente precisa. Talvez muitos portugueses não o mereçam, mas Portugal merece-o, sem qualquer dúvida!
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: francisco_pereira em Junho 01, 2013, 05:30:54 pm
Caro amigo: é bom que alguém tente contar a história tal qual ela é e por isso vou dar-lhe uma ajuda.
Eu faço parte de um grupo de ex-combatentes que esteve em Moatize entre 1972/1974, que se reúne anualmente no mês de Maio para confraternizar. Atualmente somos 84 os que nos mantemos em estreito contacto. ,
Quando afirma que a relação entre militares e civis era má, só quem lá passou, por exemplo no natal de 1972 poderá testemunhar o carinho que tivemos enquanto militares perante os civis daquela região.
Relativamente ao que diz dos militares serem “os bêbados” eramos exercito Português ao serviço da nação com os melhores treinos à época.
Agora um esclarecimento, nunca nos foi dito para atacar alguém, embora tivéssemos treino para isso, e contrariamente ao que afirma, nunca saímos do quartel sem levar pelo menos 2 carregadores por cada soldado. A nossa Missão era defender os civis, fazer proteção ao caminho-de-ferro, que eram muito importantes para a passagem de todo o material para Cabora Bassa, bem como a proteção do transporte de geradores que eram transportados em camiões com 84 rodas. Se nunca isto teve estragos devesse à forte segurança que havia nesta zona. Na verdade eramos muitos mais, mas estes são os resultados que conseguimos não para a guerra mas para formação da riqueza daquele país. Como diz, de facto Cabora Bassa era o projeto mais importante de Africa, mas o seu sucesso deve-se em muito a proteção assegurada pelo exército português. Volto a afirmar que a nossa missão ainda era importante, quando protegíamos a passagem de todos os civis e mercadorias entre Tete, Maláui e Rodésia, bem como todas as mercadorias que vinham da Beira e que chegavam a ser entre vinte e trinta traileres em cada coluna militar. Ao nível dos cuidados médicos, enquanto militares não os andávamos a oferecer, mas sim estes eram nos solicitados, porque não existiam postos de socorros civis e muito menos os atuais Inem. Talvez sejamos mal vistos pelas novas gerações que pensam que fomos fazer guerra mas, para que fique escrito o nosso lema era defender e não fazer guerra! Para terminar, em memória dos meus colegas que foram feridos e dos que perderam a vida em defesa de brancos e negros (a distinção não é racista), que se tente contar a verdade e não heroísmos. Este são alguns esclarecimentos de uma vivência de 2 anos em Moatize.
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Lightning em Junho 04, 2013, 10:29:25 pm
Eu quase nada tenho a acrescentar ao tópico, não tenho familiares que tenham estado em Moçambique, mas o assunto da falta da munições lembrou-me um episodio parecido mas na Guiné.

Um meu familiar foi para-quedista na Guiné em 1970, mais ano menos ano, e ele disse-me que quando iam reforçar guarnições mais aflitas, que teve casos de soldados desses quarteis lhe pedirem munições, não sei se tinham alguma dificuldade logística como aqui se fala em Moçambique, mas agora pensando no assunto ...um quartel de quadricula na Guiné dos anos 70, nunca tem munições a mais :mrgreen: .
Título: Re: ZOT e a guerra em Tete
Enviado por: Carlos Rendel em Junho 10, 2013, 03:09:45 pm
Algumas questões em aberto: Eduardo Mondlane,Agostinho Neto e Amílcar Cabral, eram líderes de movimentos independistas das ex-colónias portuguesas,mas não eram homens de mão de Moscovo.

Ao morrerem de morte violenta a primeira suspeita era a PIDE. Dá-se que estes africanos, por formação e frequência eram moderados e passíveis de dialogar com os portugueses. Neste contexto  a

quem mais convinha o seu desaparecimento ?  As segundas linhas  do PAIGCV,MPLA e FRELIMO, eram homens preparados nos países de leste,onde frequentaram estudos universitários,designadamente

"o marxismo científico",se é que alguém saiba o que isto seja!  Quando forem abertos os arquivos dentro de algumas dezenas de anos se saberá. Tudo?  Se o prazo não fôr alargado...

Quanto á revolta dos moçambicanos contra as FA, julgo que isso tenha a vêr com a nossa maneira de fazer a guerra.Enquanto se viam rodesianos e sul africanos assumirem uma guerra activa de

enfrentamento e perseguição dos independistas, a nossa tropa aguardava desmotivada.Aliás o próprio governo  português  ao ver a guerra fria aquecer creía iminente  a guerra na Europa e aí sim,

seriam reconhecidos os méritos portugueses em África.Treze anos de guerra? Para Mao-Tse-Tung  "não há país que tenha beneficiado de uma guerra prolongada"

Cumprimentos,CR