Angola: Seca

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comanche

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Angola: Seca
« em: Janeiro 27, 2008, 02:58:28 pm »
Angola: Seca agrava-se no sul do país, quatro pessoas já morreram

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Benguela, Angola, 27 Jan (Lusa) - A seca que afecta o sul de Angola já provocou quatro mortes na província da Huila, onde não chove desde Novembro, enquanto em outras regiões várias famílias estão afectadas pela fome, segundo as autoridades locais.

As primeiras quatro mortes associadas à seca foram relatadas pela Rádio 2000, do Lubango, capital da Huila, e ainda pelo jornal Cruzeiro do Sul, que confirmaram a informação junto das autoridades da administração municipal.

Em plena época das chuvas há ainda registo de milhares de hectares de culturas perdidas e os apelos para a intervenção do governo de Luanda sucedem-se por parte das populações.

Na Huila, o último registo de chuva é de Novembro e em pequena quantidade, comprometendo seriamente as colheitas deste ano, que são o garante da subsistência de milhares de famílias camponesas.

As culturas mais afectadas na província da Huila 8interior-sul9 são o milho, batata e algumas frutas, enquanto na vizinha província do Namibe, região árida fronteiriça ao deserto da Namíbia, e no litoral os números apontam já para centenas de cabeças de gado perdidas e milhares em risco.

Nesta região do litoral sul de Angola o impacto da seca está igualmente a ser sentido noutras sectores, como explicou à Rádio Morena Comercial o administrador municipal do Namibe, Manuel Valentim.

Um dos exemplos é o ano lectivo, que não está a correr de forma normal porque, tratando-se de uma região com muita pastorícia, as crianças não estão a ser matriculadas na escola porque os pais foram obrigados a levar o gado para longe em busca de pastagens.

E os poucos locais onde ainda é possível dar pasto ao gado está a ser totalmente aproveitado, a ponto de as imediações do aeroporto do Namibe, como confirmaram à Lusa as autoridades aeroportuárias, estarem ocupadas por centenas de animais, constituindo um perigo potencial para as aeronaves que usam aquela pista.

A estiagem no Namibe está ainda a levar alguns criadores de gado a deslocarem-se para norte, em direcção à província de Benguela, sendo já visível um elevado número de rebanhos no município de Chongoroi, na zona de fronteira.

No município de Chongoroi, como descreveu à Lusa o administrador municipal, António Kayete, a fome já está a afectar severamente centenas de famílias por causa das elevadas perdas, mais de 50 por cento, nas culturas de milho, mandioca e feijão.

António Kayete garantiu que o grau de desnutrição entre a população "é já muito elevado" e lançou mesmo um apelo às organizações nacionais e internacionais para que ocorram ao local de forma a "evitar que a situação ganhe dimensão de catástrofe humana".

Os municípios mais afectados em Benguela são Chongoroi, Cubal, Ganda, Caimbambo, Bocoio e Balombo, todos na região mais a sul da província, na zona de fronteira com o Namibe.

Algumas Organizações Não-Governamentais (ONG) que mantêm projectos comunitários ligados à agricultura contactadas pela Lusa dizem sentir-se incapacitadas para actuar por "falta de articulação" com as autoridades administrativas provinciais.

Face à prolongada estiagem no sul de Angola, os produtos que servem de alimentação de base às populações têm sofrido "rápidos e constantes" aumentos, apontam estas ONG.

Exemplo disso é a farinha de milho, que representa 50 por cento da dieta alimentar das populações rurais nas províncias de Benguela, Kwanza-Sul e Huila, que em escassas semanas passou de 45 kwanzas (45 cêntimos de euro) para 100 kwanzas o quilo.

Igual cenário está a desenvolver-se na província do Kwanza-Sul, onde as primeiras sementeiras foram "quase na totalidade perdidas", disse à Lusa fonte de uma associação comunitária de agricultores. A esperança nesta província reside no "ainda possível sucesso das novas sementeiras" se chover atempadamente.

Em 2006, a zona sul de Angola foi assolada igualmente pela seca, embora com um impacto menor do que aquele que está a ser sentido este ano.

Como resposta a este cenário que tem sucedido a intervalos cada vez mais curtos, o ministro da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, Afonso Kanga, anunciou, em Benguela, a construção de estruturas de apoio à produção, como sistemas de irrigação em várias províncias do país, nomeadamente aquelas que são mais afectadas pela estiagem.

O governo estima que nos próximos anos Angola tenha mais cerca de 100 mil hectares irrigados para fazer face às dificuldades dos agricultores que, na esmagadora maioria, ainda dependem da pluviosidade para as suas colheitas.

O ministro explicou que as famílias afectadas pela seca estão a ser acompanhadas e apoiadas com novas sementes e ferramentas para que possam aproveitar com sucesso as segundas colheitas que dependem da melhoria nas condições climatéricas.

Afonso Kanga garantiu ainda que o governo tem condições preparadas para assistir as populações quanto à sua alimentação.