Não temos de falar todos a uma voz, caramba nem os ucranianos falam a uma só voz..
Não está em causa que todos tenham que falar a uma só voz, a questão não é nem poderia ser essa, a questão é outra, mais profunda e mais dissimulada.
A questão é nuclear, no sentido de que há quem pretenda criar a ideia de que, o nevoeigo da guerra é resultado de notícias filtradas e que são resultado de um sistema nebuloso parecido com a censura.
Ora, essa tentativa tem que ser desmascarada sempre que possível, porque a partir daí criam-se as falsas equivalencias, que são uma das armas na mão dos russos, do regime fascista russo e dos proto-fascistas portugueses, acoitados no que costumava ser um Partido Comunista.
Se me disserem que há em muitos casos, o que se chama, operacionalização da verdade, isso é uma coisa, mas afirmar que as notícias são filtradas, isso é outra completamente diferente.
Do ponto de vista tático, aind não tinha chegado o verão e já todos tinhamos percebido que a ofensiva ucraniana tardava em começar, e isso tinha apenas uma interpretação possível. A Ucrânia não tem os meios de que precisava para a efetuar com sucesso.
Sem aviação a ofensiva teria sempre uma terrível dificuldade em prosseguir. O Zelensky andou a tentar obtyer aviões, mas não é um militar e não entende (como aparente muitos militares ucranianos) que existe uma diferença abissal entre a formação dada a um piloto russo ou ucraniano e a um piloto de uma força aérea da NATO.
Muitos dos problemas foram identificados neste fórum há meses.
Várias pessoas, entre as quais eu próprio, chamaram à atenção de que o exército ucraniano é na essencia um exército russo, com muitas das suas estruturas operacionais no terreno, decalcadas da era soviética, ou então adaptadas à pressa.
Não se cria um novo exército de um dia para o outro.
Ainda hoje, estive a ouvir um dos últimos podcasts do The Telegraph, onde se afirma que por debaixo da mesa os americanos criticaram os ucranianos, por não terem sido capazes de prever a existência de vastíssimos campos minados, e de não terem desenvolvido capacidades nesse campo, com equipas de batedores que tivessem permitido evitar algumas das baixas iniciais.
Os ucranianos, por seu lado, quinze dias depois de terem iniciado a ofensiva, voltaram às táticas tradicionais, também utilizadas pelos russos, de pequenos grupos de combate e combates de exploração, que é basicamente o que os russos fizeram em Bakmut e estão a fazer em Avdivka.
Depois os ocidentais terão criticado fortemente a pressão ucraniana na área de Bakhmut, afirmando que os ucranianos deveriam ter colocado a maioria das suas forças a sul, para tentarem chegar ao mar de Azov.
Os ucranianos ripostaram que sem aviação, essa ofensiva estaria condenada ao fracasso.
Mas este tipo de informações ou rumores são do conhecimento público quase duas ou três semanas após os factos terem ocorrido.
Mas a opinião pública no geral, não está muito interessada nestes pequenos detalhes.
O pessoal está habituado aos debates do futebol, onde o pessoal ganha sempre e em que está tudo resolvido no final do programa. No mundo real as coisas são diferentes.
A Russia é um país muito menos desenvolvido que os ocidentais pensavam. Em termos sociais, e em termos de comportamento, os russos aceitam muito mais a morte do que no ocidente. Não porque gostam da morte, mas porque a morte ou a prisão, são as alternativas.
Se a Russia não fosse uma ditadura, não resistiria como resistiu.
Mas se a Russia não fosse uma ditadura cruel e assassina, a guerra não teria começado.