Afeganistão: diversos

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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #646 em: Agosto 18, 2021, 08:07:47 am »
Uma pergunta simples.
Afinal para que serviram estes 20 anos de guerra?

Para muita gente encher os bolsos
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #648 em: Agosto 18, 2021, 09:11:30 am »
Tal como tinham comentado aqui, a China a tirar proveito da situação para usar contra Taiwan.

Chinese state media sets sights on Taiwan as US' Afghan retreat stokes nationalism
(18 de Agosto de 2021)
Citação de: Nectar Gan & Steve George, CNN
The chaotic US withdrawal from Afghanistan has presented Beijing with a propaganda boost, with Chinese state media capitalizing on the crisis to trumpet the supposed decline of America and taunt Taiwan with threats of invasion.
The jingoistic rhetoric coincided with air and naval drills launched Tuesday by the Chinese military, which sent fighter jets and warships near Taiwan in response to what it called the "repeated collusion in provocation" by Washington and Taipei.
In recent years, China's ruling Communist Party has sought to present the US as a fading global power. And now, the return of the Taliban to the streets of the Afghan capital is being touted by state media as the "death knell of US hegemony."

[continua]
Fonte: https://edition.cnn.com/2021/08/18/china/china-afghanistan-taiwan-mic-intl-hnk/index.html

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque:
 

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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #650 em: Agosto 18, 2021, 10:05:30 am »
Uma pergunta simples.
Afinal para que serviram estes 20 anos de guerra?

Serviu tanto que nos últimos anos uma grande parte da população lutava por direitos (melhor emprego, melhor educação, melhor saúde) que gerações anteriores privadas de liberdade nem sabiam que existiam.
Onde viu isso, na CNN?
É que eu só vejo miséria, desgraça,  morte, ..., com excepção de uma pequena minoria da população que viveu e aproveitou diretamente a presença estrangeira durante estes 20 anos.
Precisamente aqueles que fujiram ou querem fugir agora, a começar pelo Presidente.
E atenção, nem os estou a criticar a eles, porque no fim fizeram pela vida.
Falo é da fantasia que nos contaram durante estes 20 anos que, afinal, não passava disso mesmo.
Afinal a população é ou não maioritariamente apoiante dos Talibãs?
E revê-se ou não nas suas "doutrinas"?
E gostam ou não de viver como vivem, por muito que nos choque?
É isso que temos de entender quando queremos impor,  principalmente à força,  os nossos valores. Se os outros estão interessados.
Ignorar o problema,  óbviamente,  não é solução.
Mas querer decidir pelos outros deu os resultados que vemos no Afeganistão, Iraque, Líbia,...
A reeducação será a chave, mas isso não se faz à força. Demora tempo e neste caso perderam-se 20 anos.
Gostava por exemplo de saber, comparativamente, quanto se investiu em educação,  agricultura e indústria  versus armamento?
Certamente daria uma melhor ideia dos reais interesses presentes.
« Última modificação: Agosto 18, 2021, 10:06:47 am por Lampuka »
João Pereira
 

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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #651 em: Agosto 18, 2021, 11:18:43 am »
Portugal disponível para receber “de imediato” 50 cidadãos afegãos, diz Santos Silva
https://multinews.sapo.pt/atualidade/portugal-disponivel-para-receber-de-imediato-50-cidadaos-afegaos-diz-santos-silva/
Citar
Portugal está disponível para receber, numa primeira fase “mais imediata”, um total de cerca de 50 cidadãos vindos do Afeganistão. O anúncio foi feito ontem pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em declarações à ‘TVI 24’.

Segundo o responsável, logo no domingo quando os talibãs tomaram a capital Cabul, Portugal disponibilizou-se para receber 20 afegãos, no quadro da União Europeia (UE). Por sua vez, esta terça-feira, no quadro da NATO, o governo disse poder acolher mais 30.

“No quadro da União Europeia foi pedido a todos os Estados-membros que participassem num primeiro esforço para garantir que várias centenas de pessoas que colaboraram com o serviço europeu de ação externa e com a embaixada europeia em Cabul fossem protegidas”, começou por referir o ministro.

Santos Silva acrescentou que Portugal indicou no domingo “a disponibilidade para receber imediatamente 20 dessas pessoas. Já hoje (ontem), na reunião dos embaixadores da NATO, um esforço paralelo foi feito e nós também avançamos com uma proposta de três dezenas a acolher imediatamente”, disse.

O governante sublinhou ainda que a UE “tem obrigação de proteger e de salvaguardar a vida dos muitos milhares de afegãos que colaboraram com as forças internacionais, como tradutores ou intérpretes, que hoje têm a sua segurança posta em perigo”.

A expectativa, adiantou o ministro, é de que os talibãs cumpram as suas promessas relativas ao respeito pelos direitos humanos. “Os talibãs têm-se multiplicado em declarações, dizendo que são muito diferentes hoje do que eram há 20 anos”, disse.

Então e os que são portugueses e vivem na rua? Esses não têm direitos e nem precisam de ajuda.
Estes políticos de merd.. eu sei o que lhes faria, imbecis de merd...
Querem ajudar a casa dos outros, quando a sua própria casa está no caos.
 
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #652 em: Agosto 18, 2021, 11:20:03 am »
Uma análise diferente...
https://toranja-mecanica.blogspot.com/

Lê-se aqui (https://espectivas.wordpress.com/2021/08/17/o-islo-uma-barbrie/) que o Islão é "uma barbárie", isto a propósito da recente tomada de poder pelos Talibã no Afeganistão. A criatura que escreve isto, é um católico assumido e bem conhecido na blogosfera da direita conservadora/nacionalista portuguesa. Seria interessante saber se a criatura em questão, terá conhecimento do tempo em que a Igreja Católica queimava pessoas vivas em fogueiras, nos infames autos de fé.
Não existe um único Islão, da mesma forma que não existe um único Cristianismo, nem um único Judaísmo, nem um único Budismo, nem um único Hinduísmo, nem um único Comunismo, nem um único Fascismo, nem um único Capitalismo, nem um único Nacionalismo, nem um único Socialismo, nem um único Ecologismo, nem um único Anarquismo, etc... Todas as religiões e ideologias políticas, sem excepção, estão abertas a uma variedade de interpretações e no fundo, se quisermos, são também "pau para toda a obra", que depende inteiramente das conveniências e da vontade de quem num dado momento histórico detém as rédeas do poder.

O Islão não é uma barbárie e os Talibã também não são nenhuns bárbaros.

O Islão é, essencialmente, uma religião guerreira que nasceu e se desenvolveu num determinado contexto sócio-cultural e que conforme a interpretação, tanto pode ser uma religião da paz, como pode descambar na insanidade total e em violências extremas, como as que vimos a serem praticadas pelo autodenominado "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque.

Os Talibã que acabaram de tomar o poder em Cabul, já não são os mesmos Talibã que haviam tomado conta do Afeganistão na década de 1990. Os Talibã de 2021 parecem ser muito mais moderados e a prova disso, é a amnistia geral que acabam de declarar, em compasso com o facto de já não estarem a obrigar as mulheres a usar burca e quererem até que as mesmas participem no governo. Os Talibã estão claramente a assumir uma nova postura perante a sociedade, porque estão também intelectualmente mais maduros e capazes e por isso mesmo, a interpretação que estão a fazer da Lei Islâmica, também vai ser necessariamente diferente daquela que faziam em 1996, ano em que tomaram o poder pela primeira vez.

A última prova de que os Talibã estão, de facto, mais moderados e intelectualmente maduros, é a recente sugestão da parte dos mesmos, de que estes poderão vir a adoptar como base legal a Constituição Afegã de 1964, que é uma Constituição monárquica e bastante equilibrada para o contexto social com que estamos aqui a lidar. Diga-se de passagem que não é ao acaso que os Talibã estão a querer resgatar alguma da herança monárquica do Afeganistão, isto trata-se de estratégia política e visa também, tanto a nível interno, como externo, conferir legitimidade legal e social ao novo regime.

Por agora, os Talibã estão a ir no bom caminho e tudo aponta para que os mesmos venham a conseguir governar o Afeganistão com muito maior competência e seriedade, do que o imensamente corrupto e incompetente governo-fantoche, que os EUA/NATO deixaram instalado em Cabul. O próximo passo, agora, é o reconhecimento oficial do Emirado Islâmico do Afeganistão, por parte da China e da Rússia, que parecem estar rapidamente a caminho de se tornarem os grandes parceiros dos Talibã no concerto internacional das nações. Um eventual acordo de segurança mútua entre estes países e o Afeganistão dos Talibã, pode também ser vislumbrado no horizonte, isto se os Talibã se comportarem bem e provarem através das suas acções, que realmente mudaram de vez.

Já agora, aproveito para informar o governo apócrifo de Portugal, de que não há qualquer motivo para estar a evacuar portugueses do Afeganistão. Os Talibã já garantiram oficialmente a segurança de todas as embaixadas estrangeiras no País e não é do interesse dos Talibã atacarem estrangeiros. O embaixador russo continua em Cabul e já está até activamente a trabalhar de perto com os Talibã. Só a rapaziada da NATO é que "deu à sola" em pânico, talvez por saberem a quantidade de civis afegãos inocentes que mataram ou mutilaram à bomba nos últimos vinte anos e por isso mesmo, temiam represálias da parte dos novos senhores de Cabul. Ora, tal não vai acontecer, pelo simples motivo de que os Talibã são tudo menos estúpidos e estão também a demonstrar um elevado grau de disciplina e responsabilidade.

É uma evidência que os Talibã que foram diabolizados e atacados de todas as formas pela NATO nos últimos vinte anos, são agora os mesmos Talibã que estão a prometer garantir a segurança das embaixadas da NATO no Afeganistão. Ontem e perante os continuados ataques da parte dos governos e media dos EUA/NATO, os Talibã deram uma conferência de imprensa em que afirmaram explicitamente que querem "ter boas relações" com todos os países do Mundo. Enquanto os EUA e a NATO continuam com uma retórica de ódio total aos Talibã e uma postura de arrogância sem limites, os Talibã, pelo contrário, estão a estender um ramo de oliveira e a oferecer a paz. Afinal de contas, quem é que são os verdadeiros bárbaros?...
« Última modificação: Agosto 18, 2021, 11:21:33 am por Luso »
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #653 em: Agosto 18, 2021, 12:20:08 pm »
Ao fim ao cabo e confirmando-se a tal postura agora mais "moderada" dos talibãs, parece que nos últimos 20 anos apenas estes e o seu discurso evoluiu. Os restantes "players" mantêm-se bloqueados.
Obviamente que mesmo que tal se confirme existirão sempre casos de extremismo num futuro próximo. Por indisciplina, intolerância,  estupidez... algo que não será unico no mundo actual. Fazer destes casos minoritários a regra é que voltará a ser um erro.
Quanto ao comportamento de Portugal, a nível diplomático, mais uma vez um desastre.
Continuamos a seguir os outros com uma visão com palas em vez de tentarmos cimentar a nossa presença nesta fase crítica.
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #654 em: Agosto 18, 2021, 12:24:26 pm »
https://www.dailymail.co.uk/news/article-9901613/Mastermind-steaming-Taliban-takeover-Kabul-released-Guantanamo-Obama-2014.html


Former president released five Taliban commanders from Guantanamo in 2014

He promised US public Taliban Five would be stopped from harming Afghanistan

But one of them ended up brokering terms of US troop withdrawal this year

Khairullah Khairkhwa was sent to Qatar after detention camp but formed regime

He promised Biden's Afghanistan envoy that Taliban wouldn't launch offensive

But the warlords are now trying to track down Afghans who sided with allies 

US soldier they were exchanged for has since been dishonourably discharged
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #655 em: Agosto 18, 2021, 01:23:08 pm »
Citar

Mais um episódio infame na política externa americana, sobre os ombros de um presidente que, embora não responsável pelos meios que levaram a esta situação, será certamente culpado pelas suas escolhas para o triste fım alcançado. Resta-nos aguardar pelo inevitável ressurgimento do extremismo e do ódio pelo Ocidente, e uma conta muito mais alta a pagar, principalmente por todos os que são deixados para trás e para quem a paz é agora um sonho ainda mais inatingível do que há 20 anos.

https://observador.pt/opiniao/biden-e-a-traicao-do-sonho-afegao/amp/


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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #656 em: Agosto 18, 2021, 02:08:26 pm »
Começo a parecer o "copipeisteiro" cá da casa, mas paciência: deixo-vos mais um postal que creio merecer o vosso tempo...

https://inconveniente.pt/crepusculo-afegao/
Crepúsculo afegão

O resultado das guerras costuma ser determinante no destino das nações, e ganhar ou perder depende frequentemente, como a História mostra, da vontade e da capacidade de uso da força.

Como dizia Tu Yu em “A Arte da Guerra”, de Sun Tsu (séc. IV a.C.): 

“Há ocasiões, na guerra, em que muitos não podem atacar poucos e outras em que os fracos podem dominar os fortes. Quem tais circunstâncias souber manipular, sairá vitorioso.”

Esta é uma verdade cartesianamente evidente que podemos comprovar não só nas guerras que a História documenta, mas também nos episódios de pancadaria que eram comuns na infância de anteriores gerações em tempos em que, pelo menos os rapazes tinham de, por si mesmos, literalmente lutar para estabelecer a sua posição na hierarquia dos grupos de que iam fazendo parte. É verdade que os mais fortes tinham uma vantagem inicial, pela percepção de poder que incutiam nos outros, mas alguns putos, mais reguilas e destemidos, ainda que franzinos, conseguiam, em regra, marcar também a sua posição, porque eram temerários e não se encolhiam.

Foi assim também em incontáveis batalhas e guerras.

Para não ir mais longe, em Aljubarrota, numa batalha cujo aniversário se comemorou há três dias, o exército castelhano, ainda que largamente superior, em número, armas, treino e equipamento, desmoronou-se psicologicamente, debandou desordenadamente, e sofreu uma espantosa derrota.

No Afeganistão, para além das estratégias, das tácticas, dos pormenores, e das diversas incidências circunstanciais, terá acontecido algo parecido e o Exército afegão, muito superior em número, equipamento e organização, evaporou-se quase instantaneamente face a uma horda de “estudantes de teologia” cujas únicas vantagens são intangíveis, como a determinação, o querer e sobretudo uma crença.

Porque razão isto aconteceu, ainda se irá apurar em pormenor e haverá certamente as mais especiosas teorias.

Na minha opinião, o facto de ter sido formado e treinado à imagem do Ocidente, segundo um modelo funcional que há muito deixou de valorizar os incorpóreos de combate, para apostar todas as fichas no gesto técnico, no saber fazer, na tecnologia, na máquina, terá sido uma das explicações.

Este Exército, referem aqueles que por lá passaram, tinha tudo menos coesão e vontade de lutar e não tinha esses intangíveis, porque não só eles escasseiam também no arsenal daqueles que o construíram, como as próprias lealdades tribais se sobrepõem ali a qualquer identidade do tipo nacional.

O Ocidente, do qual fazem parte os militares que tentarem construir aquele Exército, é também cada vez mais uma frágil construção kantiana, relativista, que abomina o nacionalismo, aspira a ilegalizar a guerra e se acredita já para lá da História, tendendo a pensar que as guerras são indesejáveis reflexos de um mundo antigo e deixando-se embalar na ideia de que só devem ser travadas em tabuleiros assépticos, desenhados segundo determinadas regras.

Como nas guerras reais, o “outro” não colabora e não hesita em usar as regras “éticas” do inimigo para se proteger e atacar, os mais fortes surgem frequentemente em manifesta desvantagem porque embora disponham de capacidades organizacionais e tecnológicas aparentemente superiores, estão cada vez mais limitados no seu uso por uma intrincada teia de condicionamentos éticos, morais, legais, estratégicos, organizacionais e instrumentais que os transformam em Gullivers, enojados de si mesmos e voluntariamente à mercê de liliputianos determinados.

Por isso, não ganharão nenhuma guerra em que se confrontem com um “hostis” determinado e coeso. Essa foi a razão pela qual a guerra no Afeganistão se arrastou ao longo de tantos anos.

A NATO  e os países que colocaram tropas no terreno, auto-limitaram-se nos objectivos, nos meios, nas estratégias e no próprio uso da força face a inimigos que, sabendo não ter hardware para vencer, transferiram o esforço para o campo das vontades e dos interditos (legais e morais). No Afeganistão, o combate foi sempre levado a cabo sob múltiplas restrições e caveats a que, em 2006, o antigo SACEUR (Comandante Supremo Aliado para a Europa) da Nato, o general James Jones, chamou “cancro operacional”.

Como se a guerra fosse uma justa de cavalaria, com lanças embotadas e cavaleiros galantes e leais.

A vitória nestas condições era manifestamente impossível.

O efeito cumulativo e corrosivo das auto-limitações ao uso da força, traduz-se na redução da capacidade de dissuasão, encorajando os pequenos actores a avançar.

E assim, tendo vergonha de explorar a sua superioridade tecnológica, temendo as baixas próprias, civis e do inimigo, atormentado pela compulsão moralista de limitar os danos infligidos ao inimigo, o Ocidente vê-se sempre na contingência, ou de combater em desvantagem ou de declarar unilateralmente a derrota e render-se.

É que, quando as batalhas não se travam ou não decidem, a guerra é um mero teste de vontades e será ganha por aquele que a mostre como inabalável. Quem usa a força de forma previsível, tíbia, limitada e pouco dissuasora, estimula apenas a agressão e não a desistência do inimigo.

Foi assim que os EUA perderam a guerra do Vietname, foi assim que a NATO perdeu no Afeganistão.

Mas a fuga desordenada do Exército afegão, tem uma outra causa: a desastrosa decisão da Administração Biden, embebida até à medula de ideologia “woke”, de não lutar.

Não lhe teria sido difícil parar a ofensiva taliban.

Com alguns ataques aéreos maciços tinha feito duas coisas essenciais, no campo das vontades: incutir medo aos atacantes, dissuadindo-os de avançar; e dar confiança ao Exército afegão. A dissuasão depende da percepção (pelo adversário) da nossa capacidade e vontade de usar a força e a Administração Biden deu todos os sinais de que não tinha essa vontade.

Em consequência, os taliban avançaram com o destemor do puto reguila e os soldados do Exército afegão percepcionaram-se a si mesmos como derrotados. Ninguém luta muito por algo a que não “pertence” e dai ao medo e ao pânico foi um instante e o matulão fugiu do recreio acossado pelo puto franzino.

O que há aqui é sobretudo uma assimetria de querer. De um lado há paixão, causas, crenças e outros intangíveis; do outro lado, apenas armas e gente que não se reconhece em nada de relevante, que não tem um “nós” que agregue e pelo qual lute. De um lado identidade, pertença e coesão; do outro alteridade, relativismo e atomização.

Como escreveu Yeats, em The Second Coming (1919):

“The best lack all conviction, while the worst   
Are full of passionate intensity.”

(“Aos melhores faltam convicções,
enquanto os piores estão cheios de uma intensidade apaixonada”).

Esta falta de querer e de pertença, é também facilmente discernível nas nossas sociedades nas quais, por via ideológica ou por emergência de determinados valores que substituem aqueles pelos quais se luta e se morre, o nosso “nós” está a desagregar-se e a tornar-se detestável a largos sectores da sociedade, conduzindo ao ódio a si mesmo e ao grupo do qual se faz parte.

Anteontem, Yanis Varoufakis, o darling grego da esquerda festiva e woke, manifestava a sua alegria pela “derrota do imperialismo e do liberal-neo-conservadorismo”, o qual aconteceu às mãos de um movimento retrógrado islamista.   Quanto às mulheres, condenadas à irrelevância, à ignorância e à subalternidade, atirou-lhes um hipócrita “aguentem-se”. Que diria a espantosa criatura se fosse a sua filha a ter de “aguentar-se” na escravatura?…

Esta derrota no Afeganistão não é contudo um mero problema local, mas mais um sinal de que o matulão tem medo e foge.

Os inimigos do Ocidente percebem bem isto e, tal como a URSS aproveitou a débacle americana do Vietname para avançar em todos os palcos, naquilo que, durante uns tempos, foi uma ofensiva imparável, o que se segue a esta derrota, e sobretudo à forma como ocorreu, vai reforçar as percepções de que o recreio tem novos senhores.

E quando o antigo senhor se retrai, trai os amigos e se morde a si mesmo, como está a acontecer pela marcada divisão interna, a perda de coesão, de orgulho nacional, e de pertença, as hienas avançam e impõem a sua regra.

Esta Administração americana, tão louvada pelos média, tão protegida pelas redes sociais, tão lustrada pelos fracos políticos europeus, soma desastres sobre desastres e, a menos que haja uma ressurgência do patriotismo, da confiança e do orgulho nacional, o Afeganistão poderá muito bem ter sido o prego mais determinante no caixão da era americana. E, por consequência, o sinal do advento de uma nova era na qual os nossos descendentes, aqui também na Europa, vão ter de sair do condomínio kantiano e enfrentar por si mesmos a realidade hobbesiana que os novos bárbaros lhe trarão até às portas.

Num conflito existencial o que importa é quem prevalece, e não se pode ser agnóstico ou neutral em questões existenciais. Há que assumir que, em determinadas circunstâncias, o uso da força não só é legítimo como necessário. Mas só eficaz quando se baseia num núcleo duro de valores indiscutíveis, em torno dos quais se endurece a coesão.

Quem deseja a paz, não pode vacilar na vontade de pagar o preço desse bem essencial que jamais foi gratuito. E que, muito menos, depende dos apelos patéticos do Secretário-Geral Guterres e do Papa Bergoglio, cujas intervenções cada vez mais fazem lembrar a converseta das misses nos concursos de beleza.

Igitur qui desiderat pacem, praeparet bellum (“Portanto, quem quer a paz, prepare a guerra”) escreveu Vegécio, há mais de 1.500 anos. Oxalá não tenhamos de reaprender isto da pior maneira.


José do Carmo
Editor de Defesa do Inconveniente
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #657 em: Agosto 18, 2021, 04:39:34 pm »
The Taliban began air patrols in Herat province aboard a Mi-17 multipurpose helicopter.

 The new leadership of Herat announced an amnesty for the former military and security officials, banning their persecution.

https://twitter.com/theragex/status/1427581615161724936
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #658 em: Agosto 18, 2021, 09:12:54 pm »
Ao fim ao cabo e confirmando-se a tal postura agora mais "moderada" dos talibãs, parece que nos últimos 20 anos apenas estes e o seu discurso evoluiu. Os restantes "players" mantêm-se bloqueados.
Obviamente que mesmo que tal se confirme existirão sempre casos de extremismo num futuro próximo. Por indisciplina, intolerância,  estupidez... algo que não será unico no mundo actual. Fazer destes casos minoritários a regra é que voltará a ser um erro.
Quanto ao comportamento de Portugal, a nível diplomático, mais uma vez um desastre.
Continuamos a seguir os outros com uma visão com palas em vez de tentarmos cimentar a nossa presença nesta fase crítica.
Não é à toa que outros o fazem...


Mas que postura moderada??!?!

Isso é areia para os olhos dos ocidentais tolos e fracos.

Segue uma página que mostra a moderação dos "novos Taliban"

 :arrow: https://www.kaotic.com/mediaSearch/?search=afghanistan&paged=1



Educação à paulada. Com paus fofinhos e claro, igualdade para homens, mulheres e não binários.

 :arrow: https://www.kaotic.com/video/648eedcf_20210817100811_t


Mais moderação para com os apoiantes do governo.
 :arrow:  https://www.kaotic.com/video/94ba106d_20210802101325_t


Aqui foi no dia antes de serem moderados. Depois passaram a ser contra estas coisas.
https://www.kaotic.com/video/4a3d2279_20210629051950_t


As crianças que participavam nestes apedrejamentos agora devem ser adultos bastante moderados e passaram a utilizar pedras fofinhas.
 :arrow: https://www.kaotic.com/video/NLr7VRdx_2018202050246_t


As execuções de militares afegãos que se rendam também são bastantes moderadas.
 :arrow: https://twitter.com/i/status/1412927431946686464


Claro que amor gera amor...
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O conflito é tribal e étnico! Os Pashtun tomaram conta daquilo e assim se justifica a pouca resistência.
Já quando lá estávamos na ultima missão eles queriam a saída das forças da NATO.
Os Azari e Tajik vão sofrer.

« Última modificação: Agosto 18, 2021, 11:21:05 pm por HSMW »
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Re: Afeganistão: diversos
« Responder #659 em: Agosto 18, 2021, 09:22:43 pm »
The Taliban began air patrols in Herat province aboard a Mi-17 multipurpose helicopter.

 The new leadership of Herat announced an amnesty for the former military and security officials, banning their persecution.

https://twitter.com/theragex/status/1427581615161724936

O Bush porque começou esta guerra, o Obama porque foi um frouxo, o Trump porque minou os acordos e a pouca autoridade que o governa afegão tinha, e o Biden era o ultimo que poderia travar este desfecho.

Que aliado dos EUA agora confia no seu apoio em caso de conflito?


2001 - 2021 o inicio da queda da civilização ocidental.

Segue-se outro conflito, o fim da NATO e a consolidação do domínio do poder por uma nova potência.


Citar
Footage of a crying Afghan National Army Commando who refused the order to surrender his weapon has appeared online.
Unlike the Afghan National Army many Commandos are against the ordered surrender to the Taliban.

There are also reports that a serious resistance force of about at least 10,000 fighters is already being created in Afghanistans Panjshir Valley a place that is traditionally widely opposed to the taliban.

In 2017, the Commandos made up 7% of the ANDSF but did 70-80% of the fighting. U.S. Commander of Afghanistan General Nicholson said "the Taliban never won against the Commandos... they never will."
« Última modificação: Agosto 18, 2021, 09:40:37 pm por HSMW »
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