Mas isso no Campo Pequeno foi mesmo o quê?
Estão todos a tentar vender a normalidade para atrair turistas estrangeiros. Mas o facto de nunca termos deixado de ter novos casos, mesmo quando estava toda a gente fechada em casa, mostra que a doença não está controlada. O que está controlado, para já, são as hospitalizações e as mortes.
Quando leio sobre "experts" a falar na baixa taxa de mortalidade da doença, entendo três coisas:
1. Que falam sem saber o que é uma taxa de mortalidade. Esta não é um número fixo e varia consoante o número de casos e com a existência ou não de tratamento. Em 2004 a taxa de mortalidade para o HIV era o dobro do que é hoje. E já não falo da taxa de mortalidade dos anos 80/90. O mesmo acontece actualmente com a pandemia. O facto de através do confinamento se ter conseguido manter uma taxa de mortalidade global baixa, não quer dizer que após desconfinamento ela não possa aumentar rapidamente.
2. Que se quer reabrir o país rapidamente. Afinal de contas está aí o Verão e convém fingir que está tudo controlado para atrair os "bifes". As mortes para já estão em números aceitáveis e o PS até está à beira da maioria absoluta...
3. Que não percebem muito de virologia. Os vírus podem sofrer mutações de forma muito rápida e a possibilidade de aparecer uma estirpe mais letal aumenta com cada nova infecção, sendo que isso acontece com mais frequência nos vírus RNA (que é o caso). Por exemplo utilizam-se "cocktails" de várias drogas para combater o HIV porque se só se usar uma única droga a probabilidade de aparecer uma mutação nos vírus que lhes confere resistência aumenta exponencialmente, logo tornando a droga ineficiente e aumentando a probabilidade de morte da doença. E lá vem por aí acima a famosa taxa de mortalidade.
O que até agora manteve tudo sobre controlo, foi o medo e o confinamento quase obrigatório. Agora que as pessoas começam a perder o medo, especialmente aqui na zona de Lisboa e Vale do Tejo, o potencial para se perder o controlo da situação é grande. Os transportes públicos, as lojas, os cafés, restaurantes, e acima de tudo locais de trabalho com poucas condições para ter distanciamento de segurança são ideais para a curva derrapar. Trabalho todo o dia num hospital, e mesmo depois de ter tido vários casos de colegas com COVID e alguns com internamentos e necessidade de ventilação assistida, nunca senti qualquer medo no meu local de trabalho. Mas quando vou às compras ao Continente, começo logo a suar das mãos, tal é a falta de noção e de civismo de grande parte da população. O medo é muito bom conselheiro quando se trata de pandemias.