A visão russa sobre a NOM (nova ordem mundial) foi finalmente e de uma forma clara, anunciada. O seu anuncio foi brutal, sem pudor, sem meias-palavras, ...à maneira russa. A Europa faz parte do menu, é o principal prémio para o vencedor da luta entre os dois blocos que competem pela liderança da NOM : de um lado, o mundo anglo-saxão (com os EUA à frente)... do outro lado, o eixo russo-chinês.
Podemos pôr de parte a ideia de uma Rússia aliada da Europa, no mais que certo conflito , em que os nossos adversários principais serão os chineses e a ideologia que professam.
Perversa e ambiciosa, ultrapassada pelos acontecimentos, diabolizada, ostracizada, a Rússia escolheu mal, escolheu aliar-se aos chineses para dominar a Eurásia. Esta aliança Rússia/China é, como já escrevi antes, completamente contranatura, é uma aliança de ocasião cujo fim seria ou será um conflito entre os dois, ... tantas são as diferenças a nível ideológico, cultural, demográfico e económico.
Um bloco "Eurásia" é um pesadelo para o poder mundial dos anglo-saxões, já que este continente simplesmente tem tudo. Das matérias-primas à matéria cinzenta, a “Eurásia” é autossuficiente em tudo, dominá-la é dominar o mundo, os anglo-saxões sabem-no.
A Eurásia foi uma ideia gaullista, foi Charles de Gaulle quem esteve na origem da ideia de uma "Grande Europa" do Atlântico aos Urais, uma Europa em paz, sem linha de partilha ou confronto entre blocos... belo projeto mas uma Eurásia dominada pela Rússia e pela China ? definitivamente não !!
A nova rota da seda idealizada pela China, para além do aspeto prático, o de facilitar o transito das mercadoria, tem sobretudo um alcance ideológico, é a primeira grande etapa para a concretização de um plano elaborado meticulosa e pacientemente e cujo objetivo é a liderança da NOM . A Rússia... por acaso, ou de uma forma premeditada, tornou-se numa das pontas de lança do objetivo chinês. Ao perder a Rússia, a Europa perdeu o seu melhor potencial aliado contra a China, perdeu também a mais rica fonte de recursos do planeta.
A Europa não tem matérias-primas, não tem fábricas, não tem exército, ... o que temos é uma oligarquia composta de altos-funcionários não eleitos e incapazes ou mesmo impossibilitados de tomar as decisões mais adequadas ; de qualquer das maneiras já não temos tempo para reagir : não se consegue relocalizar as nossas fábricas em meia dúzia de meses, muito menos formar e equipar um exército europeu.
Um antigo governante português afirmou que Portugal sem o Ultramar era um país inviável, perderia a sua independência ; podemos ir mais longe e afirmar a mesma coisa em relação à Europa Ocidental : sem o acesso privilegiado às matérias primas, a Europa perderá a sua independência, será para sempre dependente dos EUA, quer na sua economia quer na sua defesa.
Como sobreviver a isto ? será a Europa capaz de pôr na gaveta os grandes princípios filosóficos , privar de influência os seus agentes e adotar uma politica pragmática , mesmo que isso signifique atropelar alguns "nobres" princípios ? Será capaz de reconquistar a sua zona de influência e os acessos às fontes de recursos que precisamos para manter o nosso nível de vida ? Para isto é preciso força, muita força. O desespero leva as pessoas a optar por regimes de força, leva a que pacatos burgueses que tradicionalmente votam em partidos "civilizados" passem a votar nos extremos, naqueles que preconizam politicas radicais.
Espero com ansiedade os resultados das presidenciais em França.