« Responder #40 em: Dezembro 04, 2007, 07:07:48 pm »
Bispo de Cartum quer o Darfur na agenda da cimeira da UE com ÁfricaDarfur deve integrar a agenda da cimeira UE-África, a realizar este fim-de-semana em Lisboa, e os 27 devem questionar o governo sudanês sobre a situação na província, defendeu hoje o bispo auxiliar de Cartum, de visita a Portugal.
«Certamente, como não poderia estar? Eu ficaria surpreendido se não estivesse», afirmou D. Daniel Adwok em declarações à Agência Lusa a propósito da inclusão daquele tema na agenda da cimeira entre os líderes da União Europeia e africanos.
O bispo auxiliar de Cartum defendeu que «a UE devia perguntar ao governo do Sudão o que se está a passar, qual é o problema».
O conflito na região do Darfur (oeste do Sudão) provocou mais de 200.000 mortos e 2,5 milhões de refugiados desde que em 2003 rebeldes da maioria étnica africana pegaram em armas contra o governo, acusado de armar milícias árabes locais, conhecidas por «janjawid», que aterrorizam a população africana.
Para D. Daniel Adwok, será «doloroso» para o povo do Darfur ver que nada é mencionado sobre a sua situação na cimeira porque o governo de Sudão fala de «soberania».
«O Sudão tem falhado o respeito da sua soberania sobre o seu povo», sustentou, considerando que «soberania não é ditadura, é a capacidade de governar com o respeito pela dignidade humana e os direitos das pessoas e se há conflito no Sudão é porque a dignidade e os direitos das pessoas estão a ser maltratados».
Mesmo admitindo que «o encontro entre os líderes africanos e os líderes da UE é sobretudo sobre o desenvolvimento económico», D. Daniel Adwok questionou: «podemos desenvolver realmente um país sem o seu povo?».
Nesse sentido, defendeu que o desenvolvimento proposto ao Sudão seja «um desenvolvimento com uma face humana».
«Primeiro, paz e segurança devem ser garantidas, também para o sul agora que o acordo de paz enfrenta dificuldades de aplicação», afirmou.
Segundo o bispo auxiliar de Cartum, «o governo do Sudão é traiçoeiro e joga com os interesses económicos dos países, mas o que está em jogo é a dignidade humana e os direitos humanos».
«Acredito que seja difícil lidar com países que têm interesses económicos ou outros», mas «o desenvolvimento tem de ser para o bem do homem e não para o manipular», defendeu D. Daniel Adwok.
Ordenado bispo auxiliar de Cartum em Fevereiro de 1993, D. Daniel Adwok iniciou sexta-feira uma visita de 10 dias a Portugal a convite da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, instituição dependente do Vaticano e que integra a plataforma portuguesa por Darfur.
A visita do bispo auxiliar foi programada para coincidir com a II Cimeira UE-África e D. Daniel Adwok estará presente em algumas iniciativas da Plataforma para lembrar o drama de Darfur na semana que antecede o encontro.
Quarta-feira, participa numa conferência juntamente com o advogado sudanês Salih Osman, agraciado com o Prémio Sakharov 2007 do Parlamento Europeu pelo trabalho a favor das vítimas da guerra civil na região de Darfur.
A Plataforma tem previsto para o mesmo dia o lançamento da colectânea Artistas Portugueses por Darfur, um CD com 29 temas, quatro inéditos, cujas receitas se destinam a projectos no Sudão.
Entre os projectos que beneficiarão das vendas do CD está o de uma escola em Nyala (Darfur) a cargo de um missionário português e o da arquidiocese de Cartum «Manter as escolas abertas», que garante a mais de 33.000 crianças sudanesas, «a maioria refugiada», assistência escolar e alimentar, segundo Filipe Pedrosa, secretário da Plataforma e colaborador dos Missionários Combonianos.
Na quarta-feira, será ainda inaugurada a exposição itinerante Darfur/Darfur, que até dia 10 ficará instalada no exterior da Gare do Oriente, perto do Pavilhão Atlântico, onde sábado e domingo se reunirão os participantes da cimeira UE-África.
A exposição consiste em 150 fotografias que retratam o dia-a-dia do Darfur, que são projectadas num triângulo gigante ao som de música de inspiração sudanesa.
Antes da cimeira União Europeia-África, a Plataforma por Darfur pretende ainda entregar ao presidente em exercício do Conselho Europeu e primeiro-ministro português, José Sócrates, a Petição de Urgência pelo Darfur, que conta até ao momento com «cerca de 16 mil assinaturas», disse à Lusa Filipe Pedrosa.
Os signatários pedem que «o drama humanitário no Darfur seja assumido como prioridade na agenda da Cimeira Europa-África» e que a União Europeia assuma como prioridades «conseguir um acordo global para a paz no Sudão» e «o fim da impunidade dos responsáveis pelos crimes de guerra e pelos crimes contra a humanidade no Darfur».
Além de lembrar as vítimas do conflito, a petição assinala que «muitos refugiados, sendo mais de um milhão crianças, não têm acesso à ajuda internacional e estão expostos à morte por má nutrição e doenças» e que «a acção das organizações humanitárias, que no terreno prestam ajuda de emergência, tem sido intencionalmente dificultada ou mesmo impedida».
Salienta ainda que «o Tribunal Penal Internacional qualificou as acções cometidas contra as populações do Darfur como crimes de guerra e crimes contra a humanidade».
Diário Digital / Lusa