Meio século já não se pode considerar «cedo» para falar do inicio da guerra em África ou da invasão de Goa.
O tempo está a começar agora, na segunda década do século XXI.
É agora que a História se vai começar a fazer.
E em nome da verdade histórica, será altura de começar a olhar para as vozes do passado, mesmo os documentários feitos pelo regime, como documentos históricos, que podem não dizer a verdade, mas que sem dúvida ajudam a entender o que se passou.
Isto claro, no que respeita a Angola e ao inicio da guerra.
Mas não podemos mesmo aí, meter toda a gente no mesmo saco, nem mesmo no que respeita ao MPLA. Há um MPLA de Agostinho Neto e há outro que o sucedeu, da atual corja. Para estudar a corja de criminosos angolanos, terá que passar mais tempo.
Lembro que Ouari Boumediene da Argelia foi tratado em Moscovo, de doença incurável (foi enviado para a Argélia já inconsciente para morrer). Pouco tempo depois a mesma coisa aconteceu com Agostinho Neto.
Neto, morreu na capital russa, o seu cadáver foi transportado como uma bola de ping-pong entre Moscovo e Luanda, porque se achava que o corpo tinha sido trocado pelos russos.
A explicação oficial dos soviéticos, foi a de que Agostinho Neto tinha sido enviado para Luanda sem óculos. Por causa disso, os angolanos devolveram o cadáver para que os russos lhe colocassem os óculos e o voltassem a enviar para Luanda.
Os dois líderes, tinham dúvidas sobre a vantagem de alinhar os seus países com a União Soviética. Boumediene, chegou mesmo a enviar cartas nos melhores termos para o presidente americano (cartas recentemente desclassificadas).
Mas sobre os acontecimentos dos finais dos anos 70, temos que esperar por 2028, para começar a contar a História.
Nem sequer podemos tecer comentários à guerra em Angola, considerando os angolanos que hoje estão no poder, porque os que lutaram contra Portugal foram mortos. E não foram mortos pelos portugueses.
Se os russos tiverem morto Boumediene e Agostinho Neto (e eu não estou a afirmar que o fizeram, estou a apontar factos e circunstâncias), porque não poderiam ter morto Amilcar Cabral e Eduardo Mondlane ?
Este último, claramente tinha o apoio da América.
Teriamos então uma guerra na África portuguesa, em que os principais líderes da resistência teriam de fato sido mortos não pelos portugueses, mas pelos seus supostos amigos...
A tese do assassinato de Cabral pela PIDE tem-se esboroado. Agora até os mais resistentes já afirmam que a PIDE se aproveitou das divisões internas dentro do PAIGC. No caso de Moçambique teremos que esperar mais tempo. No caso de Angola, a coisa é ainda mais complicada, porque Neto foi morto depois da independência.