Orgulho de Ser Português

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« Responder #45 em: Outubro 18, 2008, 10:44:53 am »
não percebi...vais tatuar a bandeira, é isso?
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Cabeça de Martelo

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« Responder #46 em: Outubro 18, 2008, 12:47:00 pm »
Não, apenas vai ser um dos elementos da tatuagem (que segundo me parece vai ser para o grandito).
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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comanche

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« Responder #47 em: Outubro 18, 2008, 11:57:31 pm »
Santarém, Uma cidade tomada de assalto



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Santarém parecia impossível de conquistar. Situada no alto de um monte, rodeada de muralhas e torreões, equipada com boas máquinas de guerra e defendida por soldados aguerridos, era um alvo desanimador. Mas D. Afonso Henriques, em vez de recuar perante as dificuldades, aplicava-se a imaginar soluções engenhosas para alcançar o que queria. E queria absolutamente conquistar Santarém.

Depois de muito pensar, decidiu incumbir Mem Ramires de ir sozinho e em segredo escolher os melhores caminhos para se aproximarem da cidade e um lugar do muro que se pudesse escalar com alguma segurança. Só depois de receber essas informações traçou o plano final.

No dia 9 de Março de 1147 saiu de Coimbra com um pequeno exército, tendo o cuidado de não dizer exactamente ao que iam. Quatro dias depois acampavam em Pernes, e então sim, reuniu os homens, explicou o que tencionava fazer e distribuiu tarefas. Antes de mais nada, era necessário construir escadas, dez escadas que a coberto da escuridão se encostariam à muralha. Todas ao mesmo tempo. Junto de cada escada estariam doze homens prontos a subir com rapidez, e assim, quando
 

os mouros dessem por isso, já lá estariam em cima cento e vinte cristãos. Os cavaleiros entusiasmaram-se com o projecto mas pediram-lhe que não participasse, pois receavam que lhe acontecesse alguma coisa e não queriam ficar sem rei. Mas D. Afonso Henriques respondeu:

- Eu estou convosco e serei o primeiro. Ninguém poderá separar-me da vossa companhia quer na vida quer na morte. E se tiver que morrer sem esta cidade estar conquistada, peço a Deus que não me deixe sair vivo deste combate!

As suas palavras levaram o exército ao rubro. E como nessa noite viram uma grande estrela cadente riscar o céu e cair para as bandas do mar, todos acharam que era bom presságio.

De madrugada puseram-se em marcha rumo ao local escolhido por Mem Ramires. Quando os primeiros homens lá chegaram acima ouviram as sentinelas mouras perguntar: «Manhu?», o que significa «Quem sois?». Não responderam, e então as sentinelas deram o alarme, gritando: «Annachara! Annachara!», ou seja, «Cilada de cristãos!»

Mas era tarde de mais. Na muralha circulavam já de espada em punho muitos cavaleiros de D. Afonso Henriques, outros destruíam as portas de madeira com machados e pedras... A conquista foi rápida e fulminante; poucas horas depois Santarém fazia parte do reino de Portugal. (1)
 

(1) Esta descrição da conquista de Santarém foi feita com base no relato escrito por um cavaleiro que se julga ter participado no assalto à cidade. O relato chegou até aos nossos dias.

 

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comanche

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« Responder #48 em: Outubro 19, 2008, 12:06:29 am »
A gesta de Egas Moniz


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Egas Moniz passeou toda a noite na muralha do castelo de Guimarães. De vez em quando suspendia a marcha e debruçava-se a olhar as fogueiras acesas no acampamento inimigo. O vento trazia-lhe vozes, risos, palavras soltas que a distância não lhe permitia entender. Em todo o caso, uma coisa era certa: a vantagem estava do lado de lá! D. Afonso VII trouxera consigo muitos cavaleiros, muitas armas e decerto mantimentos para aguentar um cerco prolongado.

Ora dentro do castelo passava-se exactamente o contrário. Poucos eram os homens disponíveis e capazes para a luta. Escasseavam as armas, e se ficassem ali fechados muito tempo faltariam não só os alimentos como até a água.

Na qualidade de guerreiro apetecia-lhe apoiar os ímpetos de Afonso Henriques, que apesar de muito jovem insistia em mandar abrir os portões para jogar tudo por tudo numa luta em campo aberto. Mas o senso próprio da idade impedia-o. Já repetira várias vezes diante dos mais novos: «Só vale a pena ir à luta quando há hipótese de vencer. Levantar a espada para uma derrota certa não é bravura, é loucura.»

Mas, por muito que se esforçasse, não conseguia convencer nem Afonso Henriques nem o seu filho Lourenço, que o espicaçava por trás a dizer que eles os dois valiam por dez e dariam cabo dos inimigos à espadeirada. A situação não podia prolongar-se indefinidamente; era preciso tomar uma decisão rápida, não fossem os acontecimentos precipitar-se da pior maneira. Sempre passeando para cá e para lá nas muralhas, Egas Moniz meditava: «D. Teresa encarregou-me de educar e proteger Afonso Henriques; essa é a minha primeira obrigação. Não posso portanto consentir que arrisque a vida num acto tresloucado. Que fazer, meu Deus?»
 

Para melhor equacionar o problema, foi formulando perguntas-chave, às quais dava resposta pronta.

«O que quer Afonso VII? Quer obrigar D. Teresa a jurar-lhe obediência. Ora ela não está cá, e se estivesse também não sei o que faria; mas isso agora não interessa. Preciso de forçar Afonso VII a partir com os seus homens sem que haja luta. Vou falar com ele.»

A primeira decisão estava tomada. Faltava decidir o que havia de lhe dizer. Depois de muito pensar, resolveu que tudo se passaria da seguinte maneira: saía a horas mortas, para que ninguém se apercebesse, dirigia-se à tenda do rei e comprometia-se sob palavra de honra a que no dia em que D. Afonso Henriques sucedesse à mãe no governo do Condado Portucalense lhe juraria obediência.

E assim foi. O rei aceitou a proposta; na manhã seguinte levantou o cerco e partiu.

No castelo de Guimarães toda a gente festejou o afastamento dos inimigos, e como não sabiam o porquê da retirada inventaram-se logo uma série de versões.

No ano seguinte D. Afonso Henriques revoltou-se contra a mãe, derrotou os cavaleiros dela na batalha de S. Mamede e tomou conta do governo. Só então Egas Moniz lhe contou a verdade sobre o cerco de Guimarães. Em vez de agradecer, Afonso Henriques enfureceu-se:

- Jurar obediência ao meu primo? Prestar vassalagem a um homem que vale menos do que eu? Nunca! Ele herdou o reino de Leão  mas eu hei-de transformar o meu condado num reino independente.

Egas Moniz orgulhava-se de o ouvir falar assim, e não tentou dissuadi-lo. Mas como tinha dado a sua palavra de honra, pensou que só a morte podia servir de resgate. Então dirigiu-se à cidade de Toledo levando a mulher e os filhos, pois a vergonha da mentira recaía sobre toda a família. Apresentaram-se diante de D. Afonso VII descalços, com o traje dos condenados à morte e uma corda ao pescoço. Perante o assombro da corte, Egas Moniz declarou que, não podendo cumprir o juramento, estava ali disposto a morrer com os seus. Pedia apenas para não ser enterrado por estranhos. Acompanhava-o um criado a quem gostaria que encarregassem do serviço.

Afonso VII ficou profundamente impressionado. Um homem tão leal não merecia a morte! Libertou-o do compromisso e mandou que regressasse a casa com a família em liberdade.

O túmulo de Egas Moniz encontra-se na igreja de Paço de Sousa e está decorado com figuras talhadas na pedra que ilustram a história. Nem sequer falta o criado com a pá às costas.

 
 

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comanche

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« Responder #49 em: Outubro 19, 2008, 12:09:36 am »
A Lenda de Martim Moniz


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O nome de Martim Moniz está ligado à conquista de Lisboa aos Mouros e figura na memória da cidade através de uma praça com o seu nome.

A lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade, ajudado pelos muitos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa. O cerco durou ainda algum tempo, durante o qual se travavam pequenas investidas por parte dos cristãos. Numa dessas tentativas de assalto a uma das portas da cidade, Martim Moniz enfrentou os mouros que saíam para repelir os cristãos e conseguiu manter a porta aberta mesmo a custo da sua própria vida. O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos liderados por D. Afonso Henriques entrassem na cidade. Ferido gravemente, Martim Moniz entrou com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os seus inimigos, antes de cair morto.

D. Afonso Henriques quis honrar a sua valentia e o sacrifício da sua vida ordenando que aquela entrada passasse a ter o nome de Martim Moniz.

O povo diz que foi D. Afonso Henriques que mandou colocar o busto do herói num nicho de pedra, onde ainda hoje se encontra, junto à Praça de Martim Moniz.
 

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comanche

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« Responder #50 em: Outubro 19, 2008, 12:11:06 am »
D. Filipa de Vilhena


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Esta heróica senhora, cujo nome ficou célebre na história do país, nasceu em Lisboa onde também faleceu a 1 de Abril de 1651. Era filha de D. Jerónimo Coutinho, que foi nomeado vice-rei da Índia, mas não aceitou a nomeação.

Casou com o 5º conde de Atouguia, D. Luís de Ataíde, que morreu, deixando-a com 2 filhos: D. Jerónimo de Ataíde e D. Francisco Coutinho. Senhora resoluta e briosa, teve conhecimento de todos os preparativos da revolução de 1 de Dezembro de 1640, e aconselhou a seus filhos que a ela aderissem e partilhassem os perigos de seus irmãos em fidalguia e em nacionalidade.

Na madrugada de 1 de Dezembro, mostrando realmente uma resolução mais que humana, armou ela própria os seus dois filhos cavaleiros, e mandou-os combater pela pátria, dizendo-lhes que não voltassem senão honrados com os louros da vitória.

0 drama de Garrett, intitulado D. Filipa de Vilhena, ainda mais contribuiu para idealizar esta figura feminina, que ficou sendo como um símbolo enérgico do patriotismo.

D. Filipa de Vilhena foi chamada ao paço pela nova rainha de Portugal, D. Luísa de Gusmão, e recebeu o cargo de camareira-mor e de aia do príncipe D. Afonso, mais tarde el-rei D. Afonso V
 

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André

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« Responder #51 em: Outubro 19, 2008, 01:13:27 am »

D. Duarte de Almeida o Decepado

Duarte de Almeida

Alferes-mor de D. Afonso V, conhecido na história pela alcunha do Decepado. Era filho de Pedro Lourenço de Almeida. Na batalha de Toro, em 1 de Março de 1476, entre tropas portuguesas e castelhanas, em que tanto se distinguiu o príncipe D. João, depois o rei D. João II, praticaram-se actos de valentia e heroísmo; entre os guerreiros que se tornaram notáveis, conta-se Gonçalo Pires e Duarte de Almeida, o alferes-mor do rei, a quem estava confiado o estandarte real português. A luta foi enorme; as quatro grandes divisões castelhanas, vendo os seus em perigo, acudiram a auxiliá-los, ao mesmo tempo que o arcebispo de Toledo, o conde de Monsanto, o duque de Guimarães e o conde de Vila Real avançavam em socorro dos portugueses. Subjugados pela superioridade do número, os portugueses caíram em desordem, abandonando o pavilhão real. Imediatamente, inúmeras lanças e espadas o cobrem, e todos à porfia pretendem apoderar-se de semelhante troféu. Duarte de Almeida, num supremo esforço, envolto num turbilhão de lanças, empunha de novo a bandeira, e defende-a com heróica bravura. Uma cutilada corta-lhe a mão direita; indiferente à dor, empunha com a esquerda o estandarte confiado à sua Honra e lealdade; decepam-lhe também a mão esquerda; Duarte de Almeida, desesperado, toma o estandarte nos dentes, e rasgado, despedaçado, os olhos em fogo, resiste ainda, resiste sempre. Então os castelhanos o rodearam, e caiem às lançadas sobre o heróico alferes-mor, que afinal, cai moribundo. Os castelhanos apoderaram-se então da bandeira, mas Gonçalo Pires (V. este nome), conseguiu arrancá-la. Este acto de heroicidade foi admirado até pelos próprios inimigos.

Duarte de Almeida foi conduzido semimorto para o acampamento castelhano, onde recebeu o primeiro curativo, sendo depois mandado para um Hospital de Castela. No fim de muitos meses, voltou à, pátria, e foi viver para o castelo de Vilarigas, que herdara de seu pai. Havia casado com D. Maria de Azevedo, filha do senhor da Lousã, Rodrigo Afonso Valente e de D. Leonor de Azevedo. Diz-se que Duarte de Almeida morreu na miséria e quase esquecido, apesar da sua valentia e bravura com que se houve na batalha de Toro, que lhe custou ficar inutilizado pela falta das suas mãos. Camilo Castelo Branco, porém, nas Noites de insónia, diz que o Decepado não acabara tão pobre como se dizia, porque além do castelo de Vilarigas, seu pai possuía outro na quinta da Cavalaria, e em quanto ele esteve na guerra, sua mulher havia herdado boa fortuna duma sua tia, chamada D. Inês Gomes de Avelar. D. Afonso V, um ano antes da batalha, estando em Samora, lhe fizera mercê, pelos seus grandes serviços, para ele e seus filhos, de um reguengo no concelho de Lafões.


Transcrito por Manuel Amaral

 :Soldado2:  :Soldado2:  :Soldado2:

 

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André

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« Responder #52 em: Outubro 19, 2008, 01:42:14 am »
Já está no tópico Herois Esquecidos da nossa história mas achei bem também postar aqui ...  :Soldado2:  :Soldado2:  :Soldado2:

 

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TOMSK

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« Responder #53 em: Outubro 20, 2008, 05:35:04 pm »
"A GNR é mais temida nas ruas de Dilí do que as tropas da Nova Zelândia, Austrália e Malásia."
Reportagem da televisão neo-zelandesa sobre a GNR.

http://www.youtube.com/watch?v=g4nXsG47Ts4
 

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André

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« Responder #54 em: Outubro 20, 2008, 05:55:42 pm »

 

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André

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« Responder #55 em: Outubro 20, 2008, 11:54:30 pm »
Aproveito a ideia do Cromwell e ponho aqui esta batalha memoravel que eu por acaso não conhecia, no tópico apropriado  :wink:


Achém - Maio de 1569



Em princípios de Maio de 1569, largaram de Goa, em conserva (navegando em conjunto mas sem qualquer espécie de subordinação), um galeão e uma pequena nau. O galeão, capitaneado por João Gago de Andrade, tinha como missão levar gente e abastecimentos para as Molucas; a nau era particular, sendo seu proprietário e capitão Mem Lopes Carrasco. O seu destino era Sunda, onde, provavelmente, ia buscar pimenta, considerada de melhor qualidade que a do Malabar.
Enquanto navegou ao longo da costa indiana, onde existia o risco de ataques de corsários, Lopes Carrasco conservou-se perto do galeão, embora a sua nau fosse mais rápida, uma vez que ia praticamente vazia em contraste com aquele, que levava muita carga. Porém, logo que foi ultrapassado o cabo Comorim, fez força de vela e foi ganhando avanço ao galeão até o perder de vista. Deste modo chegou à costa noroeste da ilha de Samatra, onde ficava situado o reino do Achém, muito antes daquele.

O vento era fraco e a nau, apesar de levar postas monetas (tiras de pano cosidas nas esteiras das velas destinadas a aumentar a sua área), ia a andar muito pouco. Foi então que começaram a ser avistadas numerosas velas saindo do porto do Achém.

Tratava-se de uma poderosa armada, composta por vinte galés, vinte juncos e cerca de duzentos navios mais pequenos, com que o rei daquela cidade se preparava para ir novamente pôr cerco a Malaca. Vendo aparecer inesperadamente uma nau portuguesa deu imediatamente ordem aos seus navios para a irem tomar.

Eis como Diogo do Couto descreve o combate que se seguiu: «Tanto que Mem Lopes viu a Armada, de que se não podia desviar (por falta de vento), preparou-se para se defender dela, porque bem sabia que lhe era assim necessário para remédio, e vida de todos, porque aqueles inimigos não havia poder-se pleitear com eles, porque não dão a vida a Português algum pelo mortalíssimo ódio que lhe têm: e assim mandou tirar as monetas, e encher tinas de água (para apagar os incêndios), e preparar sua artilharia, de que levava sete, ou oito peças, camelos, esperas, e falcões; e a gente que levava, que eram quarenta homens, repartiu pelos lugares mais arriscados, pondo na proa Martim Lopes Carrasco seu filho com dez homens; e Francisco da Costa ... pôs na popa com outros dez soldados; e a um Martim Daço primo de Mem Lopes encarregou a artilharia; e ele ficou no convés com os mais, e com eles o Padre Francisco Cabral da Companhia de Jesus ... e um Frade de São Francisco, que ambos com um Crucifixo nas mãos andavam animando a todos a se defenderem daquela Armada, que já tinha cercado a nau, e a começou a bater com grande terror, e braveza, e logo a começaram a destroçar, e desenxarcear, e abrir-lhe muitas arrombadas com os pelouros que varavam a nau; mas também os nossos fizeram valorosamente seu ofício, destroçando-lhes com sua artilharia muitas das suas embarcações, e matando-lhes muita gente; porque como o mar estava coberto de embarcações, não tinham as balas da nossa artilharia, por perdidas que fossem, onde dar, senão nelas.

Durou esta refrega todo o dia, porque já era véspera (tarde), quando a batalha se começou, que a armada do Achém se apartou, e surgiu (fundeou); e os nossos, de que havia já alguns feridos, se curaram, e mandaram remediar, e tapar as aberturas que as bombardas lhe fizeram, e preparando-se para outras que esperavam, porque a Armada do inimigo também surgiu afastada para lançar os mortos no mar, e curar os feridos que eram muitos.

Ao outro dia tanto que amanheceu, tornou a Armada a rodear a nau, e a batê-la, e destroçá-la com nova fúria; mas também os nossos lhe responderam, como se estivessem muito descansados, e inteiros, obrando todos altas cavalarias: os inimigos apertaram tanto, que chegaram três galés muito poderosas a abordar a nau, andando neste conflito os Padres ambos no meio de todos com Crucifixos levantados, animando os nossos a pelejarem pela Fé de Cristo, que se lhes apresentava diante por Capitão; e de tal modo acendeu esta exortação a fúria, e valor aos nossos, que deram com os inimigos ao mar, e com aquele ímpeto, e furor se lançou após eles em uma das galés o Martim Daço com uma espada, e rodela (escudo), fazendo grande estrago nos Mouros, sendo de cima ajudado com a espingardaria; e chamando Mem Lopes Carrasco por ele que se recolhesse, lhe respondeu, que o não havia de fazer até render aquela galé, porque a havia de tomar em lugar do batel da nau que os Mouros lhe tinham já tomado; e sendo a galé socorrida de outras, foi forçado ao Martim Daço recolher-se com algumas feridas bem grandes.

O Mem Lopes Capitão, e Senhorio da nau andou todo aquele tempo como um alarve (insaciável) encarniçado na briga, e tinto da pólvora, e de seu sangue, de feição que o não conheciam pelo rosto, senão pelas armas; e andando socorrendo pelas partes todas, em que os nossos pelejavam valorosamente, lhe deram uma bombardada por uma perna, e logo correu fama pela nau que ele era morto: chegou ao castelo de proa onde seu filho Martim Lopes Carrasco tinha feito maravilhas em sua defensão; e dizendo-lhe um soldado que seu pai era morto (respondeu): 'Se assim é, morreu um só homem, e aqui ficamos muitos, que defenderemos a nau. O Mem Lopes, como a ferida não foi mortal, e não lhe impediu o andar, fez seu oficio com grande valor, andando sempre a par dele o Padre Francisco Cabral da Companhia muito inteiro, e com grande ânimo, e prudência animando, e consolando a todos, ... O Padre de São Francisco sempre andou também com o Crucifixo alentando os soldados, e chamando pelo Bem-Aventurado Santiago, animando os homens com palavras muito honradas; e por não cansar os leitores, e mais os deste tempo, a quem estas coisas juntamente envergonham, e enfastiam (tal como hoje!), basta dizermos que três dias contínuos foram os nossos batidos de toda aquela Armada, até os deixarem arrasados de todos os castelos, e mastros, e a maior parte da gente morta, e os mais feridos, e no fim dos ditos três dias os inimigos se afastaram, por aparecer o galeão de João Gago de Andrade; e foi o dano tanto que os nossos fizeram neles, que se tornaram para o Achém com mais de quarenta embarcações menos, e as mais tão destroçadas, que se não atreveram a prosseguir na começada viagem, ficando o Rei tão afrontado, e colérico, que ia bradando contra Mafamede, e contra os seus, dos quais mandou despedaçar muitos, por tomar neles a vingança que nos Portugueses não pôde.»

João Gago forneceu a Mem Lopes Carrasco o material necessário para armar guindolas (mastros improvisados) e logo seguiu à sua frente para Malaca, possivelmente agastado por aquele o ter abandonado durante a travessia do golfo de Bengala. Porém, chegado àquela cidade recebeu ordens do capitão da praça para voltar atrás a fim de escoltar a nau de Lopes Carrasco, o que ele fez, por certo de má vontade. Em Malaca, os vencedores da frota do Achém foram recebidos triunfalmente. No entanto, a nau ficara em tal estado que Lopes Carrasco se viu obrigado a desistir da viagem a Sunda, regressando à Índia quando foi tempo disso.
Mais tarde, quando a notícia do combate chegou a Lisboa, o rei D.Sebastião mandou a Mem Lopes Carrasco o alvará de fidalgo e o hábito de Cristo, acompanhados de uma boa tença.

Na verdade, o combate que aquele travou ao largo do Achém, em fins de Maio de 1569, é um dos mais espantosos combates navais de todos os tempos, em que uma única nau, guarnecia apenas com quarenta soldados, se bateu durante três dias consecutivos com mais de duzentos navios inimigos, dos quais afundou cerca de quarenta, obrigando os restantes a bater em retirada muito destroçados. Qualquer outro Povo que tivesse na História da sua Marinha um feito semelhante, não se cansaria de o celebrar. Mas os Portugueses, com a sua habitual falta de sensibilidade para as coisas do Mar e uma espécie de acanhamento saloio por terem sido, em tempos idos, uma grande potência naval, limitam-se, pura e simplesmente, ... a ignorá-lo!


Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa»


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« Última modificação: Outubro 31, 2008, 10:13:56 pm por André »

 

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TOMSK

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« Responder #56 em: Outubro 21, 2008, 12:02:55 am »
Citar
Mas os Portugueses, com a sua habitual falta de sensibilidade para as coisas do Mar e uma espécie de acanhamento saloio por terem sido, em tempos idos, uma grande potência naval, limitam-se, pura e simplesmente, ... a ignorá-lo!


A maior parte dos portugueses talvez, mas acredito que, pelo menos neste fórum, ninguém vai esquecer o feito de Mem Lopes e dos camaradas!

Obrigado, André :wink:
 

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André

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« Responder #57 em: Outubro 21, 2008, 12:17:01 am »
E ainda para mais não era um navio militar mas sim comercial, já que o seu capitão Mem Lopes era comerciante ...

 :Soldado2:

 

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TOMSK

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« Responder #58 em: Outubro 21, 2008, 06:24:11 pm »
Batalha do Salado

Em 1339 o emir Abul Hassan, de Marrocos, e o rei Yussuf Ibn Nasser, de Granada, aliaram-se e formaram um poderoso exército com o qual pretendiam retirar aos reinos cristãos os territórios já recuperados aos Mouros. Avançaram por Castela.



Afonso XI, de Castela, pediu socorro aos outros reinos cristãos. Ora, como estava em guerra com Portugal, tratou de fazer as pazes. Afonso XI enviou sua esposa, a «formosíssima Maria», filha de D.Afonso IV, a pedir-lhe auxílio a seu pai, e este aceitou formar um exército e partiu para Castela, a fim de enfrentar a ameaça de nova invasão dos Mouros.



Estava-se a 30 de Outubro de 1340. As hostes cristãs juntaram-se em Badajoz e avançaram para sul. Encontraram o exército mouro nas margens do rio Salado. A batalha estalou com enorme violência. O choque entre os dois exércitos foi terrível: a corrida e embate brutal de homens e animais, a gritaria dos soldados, o tilintar das espadas, o relinchar dos cavalos, tudo se misturara num estrondo que fazia tremer montes e vales.



Os cristãos lutaram com todas as suas forças e no fim os mouros fugiram, deixando atrás de si valiosos despojos.
Foi uma grande vitória dos cristãos e D.Afonso IV bateu-se como um bravo!
Afonso XI foi ter com o sogro e disse-lhe:
-Senhor, de grande valor foi a vossa lide e grande honra mereceste. Escolhei de entre os despojos o que vos aprouver.
-Não vim para ganhar riquezas, senhor meu genro, basta-me a honra de ter vencido os infiéis - disse D.Afonso IV, e ficou apenas com uma ou duas peças, simbolicamente.

Pela bravura com que se bateu, ganhou o cognome de « o Bravo» "


Como podem ver também ajudámos os vizinhos quando eles precisaram, não foi só dar neles... :lol:  :lol:
 

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TOMSK

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« Responder #59 em: Outubro 21, 2008, 06:31:59 pm »
Introdução do já célebre livro "Homens, Espadas e Tomates", muito falado por estas bandas:


"É um erro considerarmos a História como um passado que morreu, que já não interessa e que deve ser arquivado. A História é a mais viva das raízes da nossa existência, é a memória colectiva do que os nossos antepassados fizeram para nos oferecer a nossa maneira de ser e estar.

A História escrita por um povo é uma aglomeração de factos consumados, criados por milhões de vontades individuais que, conscientes disso ou não, agiram em conformidade.

Portugal teve um papel de relevo na evolução da humanidade, escrevendo a sua história, não só dentro do seu torrão natal, como também por todo o mundo.

A nossa identidade está ligada às acções dos nossos antepassados como os anéis de crescimento anual dentro do tronco de uma árvore!

Raras vezes damos conta disso, mas tanto as acções positivas como outras criticáveis, tornam-se mais ou menos compreensíveis por derivarem de comportamentos ancestrais. Tantas vezes me lembro disso mesmo quando vejo automobilistas entrarem, sem a mínima precaução, para dentro de um cruzamento, para depois se "desenrascarem" com seja qual for a situação que encontrem! O saltar para o meio da moirama, sem plano, nem grandes probabilidades de sobrevivência, para "dar Santiago neles" até dizer chega e sair gloriosamente, com a cara mais serena do mundo, como se de um simples passeio se tivesse tratado, é uma atitude, no mínimo, insensata, mas é também um desafio ao heroísmo (tangente à loucura), que ainda hoje reconheço na nossa forma de conduzir.

O toureiro dos nossos dias, que esconde a espada por detrás da sua capa, enfrentando um adversário vinte vezes mais pesado, mas não menos ágil, faz-me lembrar o português seiscentista que enrolava a sua capa no braço esquerdo para enfrentar o adversário com capa e espada.

Um outro amigo meu, que foi forcado na sua juventude, disse-me o que sentia quando se colocava à cabeça do seu grupo, incintando o touro, pronto para se lançar sobre a enorme cabeça, evitando os cornos e agarrando-se ao tremendo pescoço do animal, contando que outros o viessem acudir. «Bem, a gente não pisava arena sem se preparar com uma pinga; e, já aí estando, não se podia deixar ficar mal a malta; incitava o animal, fazia o sinal da cruz e será o que Deus quiser». Não me admiro que só em Portugal se enfrenta o touro sem arma de espécie alguma na mão! Não me admiro que muitos dos actuais forcados sejam descendentes dos grandes navegadores e homens de guerra portugueses dos séculos passados!

A dada altura, comandou Afonso de Albuquerque seis naus nossas, com cerca de 400 homens a bordo. Após ter subjugado e, em parte, destruído diversos portos tributários ao Rei de Ormuz, fez o que ninguém julgou possível: entrou na baía de Ormuz, ficando cercado por 250 navios de guerra inimigos e juntando-se, em terra, um exército de 20.000 guerreiros, todos prontos para o aniquilar! Quando o Rei lhe mandou um emissário a bordo para questionar sobre os seus intentos, Afonso de Albuquerque enviou-lhe a seguinte mensagem: «Renda-se!!!»

Não há dúvida de que Albuquerque deve ser um dos antepassados espirituais destes rapazes que, ainda hoje, enfrentam o touro!

Quando, nos anos setenta, vi jovens açorianos desafiarem tudo e todos, deslocarem-se a Lisboa e içarem a bandeira azul e branca com o símbolo do açor protegendo as nove ilhas num mastro do aeroporto da Portela, no Castelo de S.Jorge e no monumento do Marquês de Pombal, vi também mais uns descendentes destes ilimitados portugueses quinhentistas!

Mergulhando um pouco nas histórias do passado, é possível encontrarmos mais compreensão pelo presente e alguma esperança no futuro, porque a única certeza que os inimigos da lusa gente podem ter é a de que o gene luso encontrará forma de vir ao de cima, derrubando seja o que for que contra ele tramarem."


Rainer Daehnhardt