Orgulho de Ser Português

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legionario

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« Responder #225 em: Dezembro 22, 2008, 07:23:18 pm »
Tantos filmes de chacha que se fazem em Portugal, para quando um produtor que invista num filme que retrate alguns dos episodios mais notaveis da nossa Historia ? Se eu fosse rico era o que eu fazia (ou pagava para fazerem  :)
 

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legionario

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« Responder #226 em: Dezembro 22, 2008, 07:39:37 pm »
Citação de: "HSMW"
Citar
o ano de 1195 (1233 da era espanhola)
:?:  Alguem me pode explicar?


Portugal e a Espanha adoptaram ao mesmo tempo o calendario gregoriano, tendo sido esta reforma estudada e realizada por matematicos da universidade de Salmanca e apresentado ao  papa Gregorio XXIII (dai o nome) em 1582 ;  antes vigorava o calendario Juliano em ambos os paises, (penso eu que) .
O resto dos paises do mundo foi adoptando progressivamente o calendario Gregoriano, calendario este que hoje vigora em todo o mundo ,sendo o ultimo a adopta-lo a Grécia em 1923, (a Inglaterra em 1752).
Nao faço a minima ideia do porquê desta diferença 1195 / 1233  :?
 

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TOMSK

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« Responder #227 em: Dezembro 23, 2008, 01:20:09 am »
A Batalha de Valverde



«Depois da Batalha de Aljubarrota, as coisas políticas do país ficaram numa relativa quietação até aos fins de Setembro, época em que se soube que o inimigo se estava apresentando na Andaluzia, para novamente invadir Portugal e vingar a sua derrota.

Desta vez, resolveu D. Nuno Álvares Pereira agir por si e não consultar ninguém, nem o próprio Rei. Com a sua natural impetuosidade, prepara-se para a luta e dá ordem ao seu exército para entrar em território inimigo.

Tinham-se os Portugueses já internado catorze léguas em território inimigo, quando o Mestre de Santiago, Pedro Moniz de Godoy e os seus capitães mandaram desafiar D. Nuno para uma batalha. O mensageiro levava um feixe de varas, e apresentou-lhas separadamente, em nome de cada um dos desafiantes. D. Nuno aceitou de boamente o desafio, dizendo ao mensageiro que guardaria cuidadosamente as varas, para com elas castigar os provocadores.

Os dois exércitos avistam-se em Valverde a 15 de Outubro desse ano, e logo se inicia uma renhida batalha, que só veio a terminar no fim da tarde do dia seguinte. Diz-se que nela tomaram parte todos os homens válidos da Estremadura e de Aragão.

Como o inimigo supunha, D. Nuno via-se forçado a dar batalha numa grande inferioridade de forças e em território estrangeiro, sendo-lhe para mais as circunstâncias do terreno inteiramente desfavoráveis, e ainda as suas forças numericamente muito inferiores, identicamente ao que sucedera em Aljubarrota.

Durante a contenda, D. Nuno apareceu em toda a parte, batalhando e incutindo coragem aos seus soldados, alguns dos quais, cansados e extenuados, já a certa altura da batalha se tinham atirado ao chão, certos da derrota. Mas D. Nuno surge diante deles, fá-los levantar, e é tal o dinamismo do seu carácter e da sua bravura, que, sem quase darem por isso, eles lá estavam outra vez de pé e no mais aceso da batalha.

Contudo, apesar dos seus desesperados esforços, as coisas começaram a correr mal, e é então que D. Nuno procura auxílio nos seus patronos celestiais. Sem ninguém dar por isso, escapa-se por uns momentos da luta e, em sitío próximo, entre penedos, cai de joelhos e implora auxílio divino, fazendo ao mesmo tempo o voto, se vitória o favorecesse, de levantar em Lisboa um mosteiro em honra de Nossa Senhora.

Durante a sua oração, parecia em extâse, e alguns autores dizem mesmo que, naquela altura, Nossa Senhora lhe apareceu e falou. Quando deram por sua falta, os seus homens supuseram que ele tinha sido morto e, ainda mais desanimados, começaram a vacilar diante dos furiosos ataques do inimigo.

Reconhecendo que só o Condestável os poderia salvar, procuram-no por toda a parte, até que Ruy Gonçalves, um dos seus sequazes, finalmente o descobriu.
Diante do espectáculo que então se lhe ofereceu, quedou-se estupefacto.

Dom Nuno Álvares Pereira estava de joelhos, imóvel, com as mãos levantadas e os olhos fitos no céu, parecendo alheio a tudo quanto o rodeava. Parecia surdo ao clamor e ao estrondo da batalha que decorria na vizinhança, surdo aos gritos dos que o chamavam para que retomasse o lugar de comando diante da sua bandeira, surdo a tudo que não fossem os seus pedidos e orações a Deus e à Virgem para que viessem em seu auxílio.

Após um momento de hesitação, Ruy Gonçalves chama-o e tenta fazer-lhe ver a necessidade de novamente vir comandar as suas tropas, animando com a sua presença os soldados, que o reclamavam, mas não consegue obter resposta. Aproxima-se então outro seu sequaz, Gonçalo Annes de Abreu, o qual, igualmente surpreendido por aquele alheamento, lhe grita:

"-Senhor, prossiga nas suas orações em outra ocasião, mas agora acuda às suas tropas, senão está tudo perdido!"

D. Nuno, porém, não dá sinal de ter ouvido e continua orando a Deus.

Quando, finalmente, volta à terra, levanta-se com ligeireza, olha sorridente para todos os que o rodeavam, e dá ordem ao seu porta-estandarte, Diogo Gil(que não arredara pé) para erguer o pendão e seguir atrás dele onde a batalha fosse mais renhida.

A presença de D. Nuno dá o efeito desejado: as tropas cerram fileiras à sua volta, combatem dali em diante furiosamente; e, embora a batalha tenha ainda durado bastante tempo, obtiveram por fim um tiunfo completo, que foi considerado verdadeiro milagre, atenta a desigualdade de situações.

O inimigo perdeu neste combate um considerável despojo, e nele ficaram mortas muitas pessoas de grande destaque, entre eles, o próprio Mestre de Santiago.

Após dezoito dias de ausência do país, D.Nuno e o seu vitorioso exército reentram em Portel. Num constante exemplo de procurar para si o posto de mais perigo, quando atravessaram o rio Cara, na fronteira de Elvas, o Condestável, que cavalgava na vanguarda, passou de repente para a rectaguarda visto o inimigo ter agora ficado para trás.»

Vida e Obra de Dom Nuno Álvares Pereira
O Santo Condestável




Para que se lembrem que a Independência de Portugal não se jogou apenas em Aljubarrota...
 

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André

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« Responder #228 em: Dezembro 23, 2008, 01:38:04 am »
Batalha do Rio Duyon
21 de Outubro a 6 de Dezembro de 1629


 
A tomada de Ormuz pelos Persas, com a ajuda dos Ingleses, funcionou como uma espécie de despertador para o rei do Achém, lembrando-lhe que não tinha tempo a perder se quisesse apoderar-se de Malaca. Era evidente que o poder dos Portugueses estava francamente em declínio e que o dos Holandeses era cada vez maior. Se não se apressasse, era inevitável que estes, mais dia menos dia, tomassem aquela praça.

Começou, por isso, o rei do Achém a reunir navios, armas e homens para esse fim. No ano de 1628, estando os preparativos para a conquista de Malaca já bastante adiantados, mandou para lá uma armada de cerca de cem navios com a incumbência de a ir enfraquecendo através do ataque sistemático aos navios que lhe levavam abastecimentos. Porém, como já referimos, essa armada foi aniquilada pelos Portugueses.
Apesar deste duro revés, o rei do Achém não desistiu dos seus intentos e, em Maio de 1629, considerando dispor já do potencial necessário para a conquista de Malaca, promoveu uma reunião dos principais capitães do seu reino em que lhes deu conta da sua intenção de não adiar por mais tempo a dita conquista e lhes pediu os seus pareceres. As opiniões dividiram-se. Lançamane, experimentado capitão que já por diversas vezes tinha terçado armas com os Portugueses, mostrou-se contrário à operação, alegando que Malaca se encontrava poderosamente fortificada e que os Portugueses, apesar das dificuldades por que estavam passando, continuavam a ser combatentes de respeito, sobretudo no mar, conforme havia ficado provado na batalha travada no ano anterior.

De opinião contrária era Marraja, outro experimentado e valoroso capitão que tinha queimado o galeão de D. João da Silveira, ao largo do rio Formoso, em 1615. Entendia ele que os Portugueses se encontravam muito enfraquecidos e que Malaca, apesar das suas fortificações, não poderia resistir a um cerco demorado, a não ser que lhe fossem enviados da Índia reforços consideráveis, o que, de momento, não parecia possível. Em sua opinião o que mais importava era actuar depressa e com decisão. Era isto mesmo que o Rei queria ouvir e, naturalmente, foi esta a linha de acção que perfilhou.

Entretanto, em Malaca, desde que o rei do Achém derrotara decisivamente o de Jor (1623), receava-se que viesse em força atacar a cidade. Por isso, em 1626 fora enviado ao Achém, na qualidade de embaixador, Pêro de Abreu, cidadão de Malaca, para sondar o ânimo do Rei e tentar confirmar um tratado de paz celebrado com ele um ou dois anos antes. Mas a reacção daquele a esta embaixada foi nada menos do que mandar prender o nosso embaixador, o que só por si esclarecia definitivamente quais eram as suas intenções. A partir daí só faltava saber quando é que teria lugar o ataque a Malaca, o que levou António Pinto da Fonseca, capitão-geral da guerra no Sul, e Gaspar de Melo de Sampaio, capitão da praça, a acelerar os trabalhos de defesa em que estavam empenhados e a pedir ao Vice-Rei que lhes mandasse reforços. Após a batalha do rio Langat tornou-se claro que o ataque dos Achéns não devia tardar.

Possivelmente depois da reunião do rei do Achém com os seus capitães, Pero de Abreu conseguiu fazer chegar a Malaca uma carta dando conta dos preparativos daquele. Sem perda de tempo, António Pinto da Fonseca mandou seguir para a Índia uma galeota a avisar o Vice-Rei, mandou pedir auxílio ao rei de Pão e enviou para a costa do Achém Francisco Lopes, capitão-mor do mar de Malaca, com algumas jáleas em missão de reconhecimento.

Não sendo tempo de navegar na costa ocidental da Índia, a galeota que levava as cartas para o Vice-Rei dirigiu-se a São Tomé de Meliapor, donde aquelas foram mandadas por terra para Goa. O rei de Pão ofereceu grande quantidade de mantimentos e prometeu enviar um exército e uma armada em socorro de Malaca se o ataque do Achém se chegasse a concretizar. Francisco Lopes, poucos dias depois de ter chegado à costa do Achém, teve a sorte de capturar um navio que transportava o próprio genro do rei, acompanhado por outros príncipes que vinham fugindo à tirania daquele. Por eles ficou António Pinto da Fonseca a saber tudo quanto lhe interessava acerca das intenções e da força do inimigo.

Por esta altura já o vice-rei D. Francisco da Gama tinha deixado a Índia, depois de ter entregue o governo, conforme ordens recebidas de Lisboa, a D. Frei Luís de Brito, bispo de Cochim, homem muito respeitado pela sua integridade mas velho e doente. Recebendo este as cartas de Malaca em Junho (?), o que não lhe permitia de imediato enviar socorros da Índia, mandou ordem a Miguel Pereira Borralho, que se encontrava a patrulhar a costa do Coromandel com cinco fustas, para que se dirigisse imediatamente para lá e dissesse a António Pinto da Fonseca que em Setembro iria novo socorro de Goa. No entanto, o tempo ia passando e o bispo nada fazia para organizar esse socorro, o que já estava provocando certa celeuma.

Providencialmente, segundo o cronista, D. Frei Luís de Brito faleceu a 29 de Junho de 1629. Abertas as vias de sucessão, verificou-se que o governo da Índia devia caber a D. Nuno Álvares Pereira ... que não se sabia quem fosse! Para ser Nuno Álvares Pereira, capitão de Sofala, faltava-lhe o «dom»; para ser Nuno Álvares Botelho, capitão-mor da armada de alto bordo, aparecia o apelido «Pereira» em vez de «Botelho», se bem que ele também fosse «Pereira» por parte da mãe e tivesse em tempos usado esse apelido. Apesar de toda a gente estar convencia de que a sucessão se referia de facto a Nuno Álvares Botelho, a situação era em extremo melindrosa, prestando-se a dúvidas e a polémicas. E Malaca não podia esperar!

Fazendo mais uma vez prova da sua habitual isenção, Nuno Álvares Botelho não teve dificuldade em resolver o problema. Como as vias de sucessão estipulavam que, no caso de Nuno Álvares Pereira se encontrar ausente de Goa, governasse interinamente uma junta formada pelo bispo, pelo capitão da cidade e pelo conselheiro de Estado mais velho, e como ele próprio era o conselheiro de Estado mais velho, propôs que essa junta entrasse imediatamente em funções a fim de não atrasar o socorro a Malaca, oferecendo-se de imediato para capitanear esse socorro, embora sem abdicar dos direitos que lhe viessem a caber relativamente ao governo da Índia. Concordaram os restantes membros do Conselho de Estado e o governo da Índia passou a ser exercido interinamente por um triunvirato constituído por D. Lourenço da Cunha, capitão de Goa, Gonçalo Pinto da Fonseca, chanceler-mor (em substituição do bispo que não quis aceitar o cargo) e Nuno Álvares Botelho.

A partir desse instante não desperdiçou este último um só minuto no aprontamento da armada destinada a Malaca. E graças à sua capacidade de organização, à sua extrema afabilidade e ao enorme prestígio de que gozava, tudo correu sobre esferas, aparecendo como que por encanto o dinheiro, as armas e os homens sem que fosse necessário tomar qualquer medida coercitiva. O mesmo patriotismo que haviam manifestado os Portugueses da Metrópole quando se tratara de recuperar a Baía, manifestavam-no agora os Portugueses da Índia, tanto europeus como nativos, para socorrer Malaca.

Durante a preparação da armada foi tal a liberalidade de Nuno Álvares Botelho, que ficou sem um tostão de seu. Por último, para ajudar dois capitães nos seus aprestos, deu-lhes dois cavalos que tinha, únicos bens que lhe restavam, e passou a andar a pé! Como seria de esperar, tal procedimento, pouco habitual na Índia, encheu de pasmo toda a gente e tornou-o adorado pelos seus homens.

Finalmente, a 8 de Setembro, a armada, muito bem provida e guarnecida, encontrava-se pronta para largar. Compunham-na, provavelmente, um patacho, cinco galeotas e vinte e três fustas, em que iam embarcados cerca de novecentos portugueses, o que fazia dela a mais poderosa que os Portugueses tinham enviado para o Sueste Asiático desde 1615. Por essa altura já Malaca suportava, havia dois meses, os rigores de mais um cerco.

Em meados de Junho de 1629 o rei do Achém fizera-se ao mar com uma armada de duzentos e trinta e seis navios, dos quais trinta e oito eram grandes galés, armadas com canhões de quarenta libras (capazes de disparar pelouros de cerca de vinte quilos) e com três mastros, dois deles com gáveas, o que fazia delas verdadeiras galeaças. Na armada iam embarcados dezanove mil e quatrocentos homens dispondo de abundante artilharia e material de expugnação.

Era intenção do rei comandar ele próprio a expedição. Porém, passados poucos dias de viagem, possivelmente por pensar que na sua ausência alguém se poderia apoderar do trono, decidiu regressar à cidade de Achém, entregando o comando geral das forças a Lançamane e o da armada a Marraja.

Nos primeiros dias de Julho de 1629 apareceu a armada do Achém diante de Malaca, enchendo de terror os seus habitantes, que não viam como seria possível resistir a tão grande poder. A guarnição de Malaca era então constituída apenas por duzentos e sessenta soldados, cento e vinte «casados» capazes de pegar em armas e quatrocentos naturais. Mas poucos dias depois do início do cerco chegaram cerca de dois mil soldados, enviados, conforme havia prometido, pelo rei de Jor. De resto, a cidade encontrava-se bem fortificada e não faltavam armas, nem munições, nem mantimentos, graças à previdência de António Pinto da Fonseca.

Foi então que Lançamane cometeu um erro que viria a revelar-se fatal. Receando que os seus navios, após o desembarque das tropas, pudessem ser tomados por uma armada de socorro vinda da Índia, resolveu metê-los num rio situado cerca de uma légua sul de Malaca, que António Pinto da Fonseca diz ser o rio Duyon e o padre Manuel Xavier diz ser o rio Pongor. Ao contrário do que dissemos na 1ª edição desta obra, estamos em crer que devia, de facto, ser o rio Duyon, uma vez que será lógico admitir que a informação de António Pinto da Fonseca seja mais correcta do que a informação do padre Xavier. Além disso o rio Duyon está mais perto de Malaca e é mais largo que o rio Pongor, o que logicamente o teria levado a ser preferido pelos achéns. Por último a distância de uma légua entre Malaca e o rio onde os achéns meteram os seus navios, indicada pelo padre Xavier, aproxima-se mais da distância a que está daquela cidade o rio Duyon.

Encontrando-se a barra do dito rio muito assoreada, foi preciso fazer grandes escavações para que as galés pudessem entrar em águas vivas, o que as deixou prisioneiras até às marés vivas seguintes. (Como se sabe, as marés vivas ocorrem aproximadamente de duas em duas semanas.) Apenas sete galés, com as guarnições completas, acompanhadas por outros navios mais pequenos, ficaram do lado de fora a fim de interceptar todos os navios que se dirigissem para Malaca. Ao que parece não tiveram os chefes achéns o elementar cuidado de destacar algumas fustas para o cabo Rachado a fim de serem prevenidos a tempo da chegada da armada da Índia, o que lhe teria permitido reembarcar as suas tropas antes de lhe ir dar combate, tal como tinha feito Matelief em 1606.

Diga-se desde já que o bloqueio marítimo à cidade teve um sucesso muito limitado. Na altura havia somente em Malaca seis jáleas, dado que nos últimos anos tinha sido adoptada a política de fazer regressar a Goa todos os navios que de lá chegavam com socorros a fim de evitar que as respectivas guarnições se dispersassem, que era o que geralmente acontecia quando ficavam na cidade. Por isso, António Pinto, após a chegada dos achéns, nada mais pôde fazer do que mandar alguns bantins e balões para Pulo Butum e para o estreito de Singapura a fim de avisar os navios que vinham respectivamente do Norte e do Sul para que ali se conservassem à espera de escolta. E, quando era avisado de que havia algum nessas condições, mandava lá as seis jáleas, sob o comando de Francisco Lopes, capitão-mor do mar, para o trazer para Malaca durante a noite, cosido com a costa e durante as horas de baixa-mar, por forma que as galés inimigas não lhe pudessem chegar. Graças a esta judiciosa estratégia, nunca deixaram de chegar a Malaca, durante todo o tempo que durou o cerco, numerosos pequenos navios e embarcações com mantimentos. Não obstante, dezassete deles foram tomados pelas galés do Achém.



A 6 de Julho, considerando Lançamane e Marraja que os seus navios se encontravam em segurança, começaram a desembarcar as tropas que, cortando o mato que cobria o terreno, logo se puseram em marcha em direcção a Malaca. Saíram ao seu encontro António Pinto da Fonseca e Gaspar Melo de Sampaio com cerca de duzentos soldados, entre portugueses e malaios, e numa batalha que durou perto de seis horas mataram mais de trezentos homens ao inimigo sem perder nenhum. No entanto, dada a esmagadora superioridade dos achéns, acabaram por ser forçados a retirar para as tranqueiras do outeiro de São João e da igreja de Nossa Senhora da Piedade.

Construiu o inimigo outras tranqueiras fronteiras a estas, onde montou poderosa artilharia, e durante vários dias não cessou o canhoneio entre umas e outras, entrecortado por surtidas de parte a parte. Quando a pressão inimiga se tornou insustentável, os portugueses abandonaram as tranqueiras e recolheram à praça. Isso permitiu aos achéns instalar as suas baterias no outeiro de São João e na igreja de Nossa Senhora da Piedade, donde começaram a bater as muralhas e os baluartes daquela. E durante mais duas semanas prosseguiu o gigantesco duelo de artilharia entre sitiados e sitiantes, com pesadas perdas para estes últimos. A dada altura, é também provável que os achéns tenham começado a perder muita gente por motivo de qualquer epidemia que terá começado a grassar nas suas hostes.

Não obstante, a 4 de Agosto lançaram um forte ataque contra o convento da Madre de Deus, posição chave para a defesa de Malaca por se encontrar situado numa colina donde se podia bater a praça com tiro mergulhante. Repelido o ataque, começou o inimigo a rodear o convento com tranqueiras e a bombardeá-lo intensamente com artilharia. A 20 de Agosto, para não ficarem isolados, os defensores do convento puseram-lhe fogo e retiraram também para a praça, deixando todo o arrabalde da banda de Ilher nas mãos dos achéns. Ocupada a colina da Madre de Deus, avançaram aqueles até ao rio de Malaca e começaram a construir grandes jangadas para passarem para o outro lado e fecharem o cerco à cidade por terra.

Pela mesma altura resolveram Lançamane e Marraja mandar seguir para o Achém duas das sete galés que tinham deixado de fora a fim de darem conta ao Rei da conquista do convento e de o informarem de que estavam esperançados que dentro de trinta dias seriam senhores de Malaca. Porém, pouco depois daquelas terem largado, apareceu uma armada de sessenta navios do rei de Pão que, possivelmente, tendo-as apanhado encalmadas, as tomou. As outras cinco, receando vir a ter a mesma sorte, meteram-se no rio Duyon logo que chegou o preia-mar. Desta forma as comunicações de Malaca com o exterior ficaram completamente livres, o que afastou definitivamente a hipótese de a cidade poder vir a render-se pela fome.

Pela armada que em tão boa hora chegou a Malaca mandou o rei de Pão aviso a António Pinto da Fonseca de que ficava aprestando uma maior, composta por navios seus e de sua tia rainha de Patane, com que muito em breve viria em pessoa socorrer a cidade. De notar que, curiosamente, nesta época a influência dos Holandeses na península Malaia era praticamente nula e todos os reis dela, com receio de virem a ser subjugados pelo tirânico rei do Achém e seduzidos pela política de boa vizinhança de António Pinto da Fonseca, procuravam afanosamente a aliança com os Portugueses como nos tempos antigos!

Logo que surgiu a armada de Pão, teria sido lógico que Lançamane e Marraja tivessem passado à defensiva em terra e tivessem reactivado a sua a fim de lhe dar combate e restabelecer o bloqueio à cidade. Não o tendo feito, só lhes restava agora a hipótese de tomarem a praça por meio de um assalto à viva força, o que era bastante duvidoso. Mas nem mesmo isso tentaram. Aparentemente indecisos quanto à estratégia a adoptar, deixaram passar todo o mês de Setembro sem tomar qualquer decisão, limitando as operações de assédio à continuação do duelo de artilharia.

Mas o tempo acaba sempre por favorecer aquele que desfruta do domínio do mar. A 30 de Setembro chegaram a Malaca as cinco fustas de Miguel Pereira Borralho com uma centena de soldados, o que provocou grande regozijo entre os sitiados. Mas também os achéns ficaram contentes, pois pensaram que a essas cinco fustas se resumia todo o socorro que nesse ano viria da Índia.

Por esta altura ainda a armada de Nuno Álvares Botelho estava navegando a sul de Ceilão, lutando contra violentos temporais que fizeram desgarrar uma das fustas. Não obstante, embora com os navios muito maltratados e as guarnições extenuadas, conseguiu aquele chegar a salvamento a Pulo Butum a 14 de Outubro, onde encontrou à sua espera um bantim com informações acerca da situação em Malaca. Detendo-se somente um dia para fazer aguada, Nuno Álvares Botelho retomou de imediato a viagem, levando em sua companhia três patachos portugueses, um de Cochim e dois de Negapatão, que estavam em Pulo Butum à espera da armada da Índia.

Cerca de seis dias terá gasto para alcançar o cabo Rachado, onde encontrou outro bantim com cartas de António Pinto da Fonseca ordenando ao capitão que viesse com o socorro da Índia para não passar avante sem ordem sua, provavelmente por recear que, entretanto, a poderosa armada do Achém se fizesse ao mar e que a nossa lhe fosse muito inferior.

Embora não tendo que obedecer a ninguém, uma vez que levava poderes de Governador da Índia, Nuno Álvares Botelho resolveu reunir conselho, no qual foi deliberado que, dada a força da nossa armada, a única coisa que havia a fazer era seguir o mais rapidamente possível para Malaca. Em resultado desta decisão tomou aquela o rumo de Malaca, onde chegou ao alvorecer do dia 21 de Outubro de 1629, de bandeiras desfraldadas e atroando os ares com o disparo da artilharia e mosquetaria, o toque das trombetas, dos tambores e dos pífaros e a vozearia das guarnições. Os defensores da cidade, que não esperavam um socorro daquela envergadura, deram largas ao seu entusiasmo; os sitiantes, igualmente surpreendidos, logo perceberam que estavam perdidos. Instalados no convento da Madre de Deus, Lançamane e Marraja, perante o imponente espectáculo que a nossa armada oferecia, maldiziam a hora em que tinham metido as suas galés dentro do rio Duyon, de onde só poderiam sair em águas vivas. No seu desespero terá dito o primeiro: «Ditoso capitão, ditosa armada que tomas o teu inimigo com a espada na baínha, e mofino de mim Lançamane!» A verdade é que a estratégia adoptada por Lançamane e Marraja durante toda a campanha deixou muito a desejar.

Logo que a nossa armada fundeou, vieram a bordo da capitânia de Nuno Álvares Botelho, António Pinto da Fonseca, Gaspar de Melo de Sampaio e João Soares Vivas que estava desempenhando as funções de capitão-mor do campo. Posto ao corrente da situação e assente a estratégia a adoptar para a completa derrota dos achéns, Nuno Álvares desembarcou para visitar a cidade, enquanto a armada, sob o comando de João Soares Vivas, se ia postar na boca do rio Duyon por forma a engarrafar definitivamente a inimiga. Ao fim da tarde, seguro de que a situação em terra se encontrava perfeitamente controlada, Nuno Álvares Botelho reassumiu o comando da armada, voltando o Vivas para terra.
Compunha-se aquela, neste momento, de quatro patachos, cinco galeotas e doze fustas, além das seis jáleas de Malaca, de numerosos balões e bantins e dos sessenta navios da armada do rei de Jor. Segundo parece, onze das fustas vindas da Índia terão sido temporariamente desarmadas, possivelmente para reforçar as guarnições das jáleas, bantins e balões, embarcações particularmente úteis nas circunstâncias devido ao seu pequeno calado.

No rio Duyon encontravam-se trinta e seis galés do Achém e cerca de uma centena de navios mais pequenos, já que muitos outros tinham sido desfeitos para com a sua madeira construir tranqueiras. Na boca do rio tinham os achéns construído, numa e outra margem, baluartes fortemente artilhados, prolongados para montante por valos e trincheiras.
No dia seguinte ao da chegada da armada de Nuno Álvares Botelho, receando que este lhes tomasse as galés, Lançamane e Marraja apressaram-se a abandonar todas as posições que à custa de tantos sacrifícios tinham conquistado em redor de Malaca e a retirar para os navios. Exemplo bem elucidativo da forma como funciona o poder naval.



No entanto, apesar de se encontrar engarrafada, a armada do Achém encontrava-se relativamente segura, pelo menos a curto prazo. Os nossos patachos e galeotas não podiam entrar no rio porque calavam bastante mais do que as galés achéns. Também não era fácil aos portugueses desembarcar e atacar a armada inimiga pelo lado de terra por causa das poderosas fortificações que a protegiam e do grande número de soldados que as guarneciam. Por isso, Nuno Alvares Botelho começou por tomar as disposições necessárias para que em caso algum as galés inimigas se pudessem fazer ao mar mandando afundar um navio carregado com pedras na foz do rio e cravar à sua volta grossas estacas pelos intervalos das quais só as jáleas, os bantins e os balões podiam passar. Depois, mandou vir de Malaca duas grandes barcaças em que montou duas peças grossas, muito bem protegidas com arrombadas, paveses e mantas. E com elas começou a bombardear intensamente os navios inimigos que se encontravam amontoados dentro do rio. Duas galés foram afundadas e todas as outras gravemente avariadas.
De início os achéns responderam ao nosso bombardeamento com grande vigor. E como dispunham de boa artilharia e bons artilheiros conseguiram mesmo afundar uma das nossas barcaças. Sem desanimar, Nuno Álvares Botelho mandou meter num dos patachos uma peça de trinta e quatro libras, fê-lo rebocar para perto da outra barcaça e a bateria continuou com a mesma intensidade. Ao mesmo tempo, mandou meter outra peça de grosso calibre numa das galeotas, devidamente protegida com arrombadas, paveses e mantas, e colocou-a no lugar da barcaça que tinha sido afundada.

A 29 de Outubro Nuno Álvares intimou os achéns a renderem-se. Respondeu o Marraja desafiando-o a que o deixasse sair para poderem combater no mar como bons cavaleiros. Claro que aquele não aceitou o desafio e o bombardeamento continuou. Era evidente que nesta altura a única coisa em que Lançamane e Marraja pensavam era na forma de se escaparem da ratoeira em que por si próprios se tinham metido. Em resultado das baixas sofridas em combate, das doenças e das deserções, o exército do Achém encontrava-se, por essa altura, reduzido a pouco mais de quatro mil homens capazes de pegar em armas.

Nos primeiros dias de Novembro um certo número de embarcações inimigas fizeram uma surtida durante a noite para tentar arrancar as estacas e afastar o navio carregado com pedras com que tínhamos obstruído a boca do rio a fim de abrirem caminho para a saída das galés. Mas as nossas jáleas, bantins e balões acorreram de pronto e, após um breve combate no meio das trevas, obrigaram-nas a bater em retirada sem terem conseguido os seus intentos. Não obstante, a 8 de Novembro, aproveitando uma maré viva, a armada do Achém fez uma tentativa para sair para o mar. À frente vinha o Marraja numa enorme galé chamada Espanto do Mundo, equipada com numerosas bombardas e guarnecida com perto de setecentos homens entre remadores e soldados!

Dado o alarme, Nuno Álvares Botelho mandou logo contra ela Francisco Lopes com as suas jáleas, bantins e balões que, atracando-se a ela, lhe começaram a lançar para dentro grande quantidade de panelas de pólvora. Ao mesmo tempo, as nossas quatro galeotas aproximaram-se e submeteram-na a um intenso bombardeamento. Embaraçada nas estacas e no navio afundado, a Espanto do Mundo ficou imobilizada, tendo de suportar sozinha o peso de toda a nossa armada, uma vez que as galés que vinham atrás de si, tendo o caminho obstruído, nada mais podiam fazer do que fornecer-lhe gente para substituir a que ia caindo. Vendo o seu navio em chamas, com um dos mastros partidos, pejado de mortos e feridos e sem possibilidade de avançar, Marraja deu ordem às outras galés para o puxarem novamente para dentro do rio.

A partir desse dia acentuou-se a desintegração das forças do Achém debaixo do bombardeamento impiedoso das nossas barcaças e dos nossos patachos. Na manhã de 25 de Novembro o inimigo arvorou uma bandeira branca e propôs a abertura de negociações para se entregar. Mas Nuno Álvares Botelho impôs como condição prévia a libertação imediata de Pêro de Abreu que os achéns tinham trazido consigo. Não se tendo chegado a acordo, continuaram os nossos canhões a disparar furiosamente sobre os baluartes e os navios inimigos a fim de demonstrar a Lançamane e ao Marraja que não tinham outra alternativa senão renderem-se sem condições. Só nessse dia fizeram-se para cima de quinhentos tiros!

A 30 de Novembro morreu o Marraja, não se sabe se por doença se por ter sido atingido por algum pelouro perdido. Para esconder a sua morte os achéns simularam grandes festejos, o que deve ter deixado os portugueses um tanto desconcertados.

Nesse mesmo dia chegou à ilha Grande, que fica um pouco a sul do rio Pongor, o rei de Pão com uma armada de cento e sessenta velas, sessenta suas e cem da rainha de Patane, guarnecias com nove mil homens. Entre os navios que compunham a referida armada contavam-se quinze galés. Nuno Alvares Botelho ainda pensou em mandar-lhe recado para que não passasse para norte da ilha Grande a fim de que não se dissesse depois que a rendição dos achéns, esperada a todo o momento, se ficaria a dever à sua vinda. Porém, receando que isso o pudesse ofender, acabou por lhe enviar um emissário convidando-o a vir com a sua armada para junto da portuguesa.

Apesar de tudo, é natural que a chegada da armada de Pão tenha sido o factor que fez decidir Lançamane a não protelar por mais tempo a rendição, uma vez que isso, até certo ponto, lhe permitia salvar a face. A 3 de Dezembro os achéns dispararam continuamente a sua artilharia durante todo o dia como quem já só pretende gastar munições. Ao amanhecer do dia 4, estando Nuno Álvares Botelho a ultimar os preparativos para desembarcar e ir atacar as fortificações inimigas que protegiam os navios, os achéns enviaram Pêro de Abreu com as suas propostas de rendição. A única coisa que Lançamane pretendia era que o deixassem sair com três galés e outros navios mais pequenos a fim de retirar para o Achém com os quatro mil homens válidos que lhe restavam. Respondeu Nuno Álvares Botelho exigindo a rendição imediata e incondicional, comprometendo-se somente a poupar as vidas aos vencidos. Durante todo o dia 5 prosseguiram as negociações sem que se tenha conseguido chegar a qualquer acordo.

No dia 6, sem que os portugueses se tivessem apercebido disso, Lançamane abandonou os navios e as fortificações e meteu-se pela terra dentro na intenção de se dirigir a Pão e aí entregar-se. Naqueles e naquelas ficaram muitos soldados doentes que não estavam em condições de marchar. Já noite fechada, não sentindo qualquer movimento no campo inimigo e tendo cessado por completo o seu fogo, Nuno Álvares Botelho meteu-se num balão com cinco homens e foi atracar a um dos baluartes que defendiam a entrada da barra. Apercebendo-se então que estava vazio, mandou tocar as trombetas ordenando o assalto geral! Num ápice acorreram todas as nossas jáleas, bantins e balões carregados de soldados. Mas ninguém lhes resistiu, limitando-se os achéns, quase todos doentes que tinham ficado nos navios, a pôr-lhes fogo. Por isso, o único trabalho que os nossos soldados tiveram foi apagar os incêndios, tendo conseguido ainda salvar trinta galés e muitos outros navios mais pequenos, embora em muito mau estado devido ao tiro da nossa artilharia. Juntamente com eles foram capturadas cento e setenta peças grossas de fabrico inglês, português, holandês e turco, centenas de outras peças de menor calibre e milhares de mosquetes, arcabuzes e outras armas.

Consumada a vitória, Nuno Álvares Botelho concedeu aos seus soldados, que tão fielmente o haviam servido durante toda a campanha, vinte e quatro horas de saque, sendo de considerável valor o espólio de que se apoderaram. Para si escolheu apenas uma cacatua por ter sido informado que era uma ave de estimação de Lançamane.

A 8 de Dezembro, acompanhado pela armada do rei de Pão, Nuno Álvares Botelho regressou a Malaca, onde foi recebido triunfalmente.
A 9, para dar ainda maior sabor ao triunfo, apresentou-se naquela cidade um embaixador do rei de Perak declarando que o seu soberano havia repudiado a vassalagem ao rei do Achém, que desejava voltar a ser vassalo do rei de Portugal e que estava pronto a pagar o respectivo tributo e a entregar muita fazenda que Lançamane lá deixara quando ia a caminho de Malaca!

A 10, estando Nuno Álvares Botelho já de novo embarcado, recebeu a visita do rei de Pão, que o foi felicitar pela grande vitória que alcançara, ao qual ofereceu as galés e a artilharia que quisesse levar. Recusou aquele polidamente, pedindo somente autorização para visitar Malaca. Ao outro dia, com pompa e circunstância, teve lugar a visita do rei. Depois das agruras da guerra era um nunca mais acabar de festas, tanto mais que a população e a guarnição da cidade pouco haviam sofrido com o cerco. Bastará dizer que tanto em terra como no mar tinham morrido, por junto, poucos mais de sessenta portugueses. A 12 de Dezembro retirou o rei de Pão, sendo acompanhado até seis léguas de Malaca pela nossa armada.

Resta acrescentar que em Janeiro de 1630 Lançamane se entregou ao rei de Pão que, por sua vez, o entregou a Nuno Álvares Botelho. Enviado para a Índia a fim de seguir para Portugal, acabou por morrer em Colombo. A galé Espanto do Mundo foi também mandada para Goa a fim de que na Índia se pudesse avaliar melhor a extensão da estrondosa vitória que acabava de ser conseguia sobre os Achéns.
Na realidade, a batalha do rio Duyon de 1629 constituiu um dos maiores feitos de armas dos Portugueses no Oriente. Dos duzentos e trinta e seis navios e dos dezanove mil homens que foram à conquista de Malaca nem um só regressou ao seu país! Em consequência da vitória alcançada sobre os Achéns, voltou aquela cidade, embora por pouco tempo, ao seu antigo esplendor e o nome de Portugal a ser novamente temido e respeitado em toda a península Malaia.



Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa»

 

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Xô Valente

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« Responder #229 em: Dezembro 23, 2008, 10:15:46 am »
Realmente o D. Nuno Álvares Pereira, entre outros tantos portugueses, é um herói nacional. Será que não dá para mandar vir um juntamente com o D. Sebastião quando houver nevoeiro?? :wink:
http://valente-city.myminicity.com/  -  Cria a tua minicidade também.
 

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nelson38899

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« Responder #230 em: Dezembro 23, 2008, 10:20:56 am »
Citação de: "Xô Valente"
Realmente o D. Nuno Álvares Pereira, entre outros tantos portugueses, é um herói nacional. Será que não dá para mandar vir um juntamente com o D. Sebastião quando houver nevoeiro?? :wink:


Tenho seguido este tópico com atenção e muito tenho aprendido sobre a história dos Portugueses por este mundo fora. Mas na minha maneira de ver que está na altura de pensarmos no futuro e deixar-mos o passado, excepto os erros é claro. Se continuar-mos apenas olhando para o passado nunca mais iremos sair deste buraco.
"Que todo o mundo seja «Portugal», isto é, que no mundo toda a gente se comporte como têm comportado os portugueses na história"
Agostinho da Silva
 

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TOMSK

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« Responder #231 em: Dezembro 23, 2008, 10:52:43 am »
Citação de: "nelson38899"
Tenho seguido este tópico com atenção e muito tenho aprendido sobre a história dos Portugueses por este mundo fora. Mas na minha maneira de ver que está na altura de pensarmos no futuro e deixar-mos o passado, excepto os erros é claro. Se continuar-mos apenas olhando para o passado nunca mais iremos sair deste buraco.


Claro que sim, mas parecendo que não, o passado dá-nos grandes lições sobre o futuro... :wink:
 

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André

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« Responder #232 em: Dezembro 23, 2008, 01:04:13 pm »
Citação de: "nelson38899"
Mas na minha maneira de ver que está na altura de pensarmos no futuro e deixar-mos o passado, excepto os erros é claro. Se continuar-mos apenas olhando para o passado nunca mais iremos sair deste buraco.


É importante saber a História do nosso pais para ficarmos a saber os erros do passado para não comete-los no presente e no futuro e vice-versa.  As pessoas mais importantes deste pais não olham muito para a História de Portugal, só se for quando é para o lucro (ex: caso Magalhães) por isso não é pela Historia que não saimos da situação onde estamos ...  :roll: Além disso serve para prestarmos homenagem aos Portugueses que lutaram pela pátria salvando-a de quem a queria exterminar e longe da pátria muitas vezes com o preço mais alto e que muitas vezes granjearam respeito e admiração nos nossos inimigos e também não tiveram a devida homenagem e a recompensa pelo que fizeram no seu tempo ...  :Soldado2:  :Soldado2:
« Última modificação: Janeiro 20, 2009, 11:05:19 pm por André »

 

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« Responder #233 em: Dezembro 30, 2008, 12:19:45 am »
E um pouco mais sobre esta célebre e curiosa personagem, já mencionada aqui no tópico...

Mimos e Memórias de um Vice-Rei na Índia


 
Verão de 1546. Combate-se em muitas frentes por toda a Índia, mas em nenhum lugar tanto como no Norte, em Diu, à entrada do Golfo de Cambaia. Pela segunda vez desde 1538, um poderoso exército guzarate submete a fortaleza portuguesa a um cerco impiedoso que irá fazer história. Os assaltos sucedem-se, com dezenas, centenas de mortos de cada vez que os adversários se encontram cara a cara. Passam-se 5 meses e tanto sitiados como sitiantes não ultrapassam por muito tempo as espessas muralhas, cada vez mais arruinadas, que os separavam. Com extrema dificuldade, pequenos navios à vela lá vão socorrendo de vez em quando os portugueses com algumas munições, pão e homens, mas os combates continuavam. Desgastados, feridos, sem comida e com os canhões silenciados por falta de pólvora, os defensores não irão suportar as investidas por muito mais tempo. Mas o mar que lambe os baluartes desta fortaleza marítima traz até eles a força que já ia faltando. Finalmente, no dia 11 de Novembro, um militar navegador e erudito homem de ciência, D. João de Castro, alcança uma vitória decisiva, desfazendo assim o delicado equílibrio bélico a favor dos portugueses. Em reconhecimento dos seus serviços, e D. João de Castro é nomeado Vice-Rei do Estado português da Índia, por entre grandes celebrações festivas com que é recebido em Goa, ao ponto de reconstituírem numa fortaleza reduzida à escala as principais acções que resultaram na vitória final.

Dias felizes para muitos, mas na sua mente recordaria ainda as palavras de D. Álvaro, seu filho, comunicando-lhe a morte do irmão, D. Fernando, durante o terrível cerco: "Meu irmão, que Deus haja, achei morto; é certo que Vossa Mercê perdeu um filho e eu um irmão para muito sentir, mas nós havemos de morrer e o manjar da Guerra são homens e os melhores" (carta de D. Álvaro de Castro a D. João de Castro, Diu, 27 de Agosto de 1546). Recordaria decerto a dor e a alegria de ter cumprido honradamente o seu dever, enquanto perdia alguém precioso. Assim era para muitos a vida na Índia naqueles meados do séc. XVI.

Durante o seu mandato (cumprido entre 1546 e 1548), o célebre D. João de Castro redigiu e recebeu vasta correspondência. Parte desta papelada dirigia-se aos seus dois filhos, D. Fernando e D. Álvaro. Nestas cartas, que chegaram aos nossos dias, as agitadas penas deitaram rios de tinta sobre os mais diversos assuntos. Para além da perspectiva puramente familiar, estão reflectidas as experiências de vida de cada um, os seus verdadeiros sentimentos e opiniões a respeito de personalidades e eventos contemporâneos. Tal sinceridade é rara nos documentos históricos que se conhecem para vultos desta importância. Certa carta sobreviveu, pelos caprichos da História, para nos lembrar um mau momento, mas que fica como exemplo de como as grandes personalidades são mesmo feitas de carne e osso, glórias àparte e se expressam como todos nós.

Escrevendo ao seu filho ainda durante o cerco de Diu, D. João de Castro aconselha severas medidas de represália contra os prisioneiros inimigos (a fazer lembrar os tempos de Afonso de Albuquerque, o Terribil) e desespera com a exasperante ineficácia e cobardia de certos capitães portugueses a quem se confiavam missões de reforço à guarnição da fortaleza sitiada.

As palavras são de uma extrema dureza, inigualáveis quanto à expressão do descontentamento:
"D. Álvaro, filho: …Parece-me muito bem mandardes degolar quantos Guzarates e Mouros se tomam, e eu outro tanto faço cá. …E estou para me enforcar dessas caravelas lá não serem, e merda para elas e para os que vão dentro, e para Gomes Vidal, porque são homens de merda que não sabem navegar senão para tomarem portos e comerem pão fresco e rabãos e saladas, e andarem às putas; e dizei-o assim ao capitão e a Vasco da Cunha e a Fr. Paulo, porque já não hei-de falar senão desta maneira; e merda para mestre Diogo e para quantos apóstolos vêm de Portugal, porque eu sirvo muito bem El-Rei nosso senhor, e eles são grandes hipócritas, que querem haver bispados para darem renda a seus filhos e terem mancebas gordas" (D. João de Castro a D. Álvaro de Castro, Baçaim, 14 de Outubro de 1546)

Sentimentos de uma personalidade austera, confirmados aliás nas palavras do cronista da Índia Diogo do Couto, o qual narra que no ano seguinte, "O Governador [D. João de Castro] depois de despedir seu filho D. Álvaro de Castro, ficou dando ordem, e despacho a algumas cousas. E, como além de ser muito Cavaleiro, era fonfarrão, e roncador, sabendo que andava gente de Cambaya naquela Cidade, que forçado havia de escrever lá novas, deitou fama que havia de ir até à Cidade de Amadabá, e tomar ElRei às mãos, e que o havia de espetar, e assar vivo. E mandou fazer na ferraria (que ele muitas vezes visitava) uns espetos de ferro mui grandes, dizendo «que eram pera assar ElRei, e os seus Capitães»." (Diogo do Couto, Década 6.ª). Nada mais, nada menos.

Já as cartas posteriores, sobretudo após o final do cerco são bem mais pacíficas, lembrando e confirmando com o seu agora filho único o envio de guloseimas, autênticos privilégios, fossem doces de "açúcar rosado", jarras de mel e caixas de marmelada ou mesmo umas apetecíveis perdizes engaioladas e "algumas amostras de vinho" (cartas de D. João de Castro a D. Álvaro de Castro, 1 e 3 de Novembro e 26 de Dezembro de 1546). A natural preocupação paterna pela saúde de D. Álvaro, convalescente de uma doença algo prolongada, é expressada nos seus conselhos para que "vos deixeis estar comendo e bebendo e levando muito boa vida".

Apesar das críticas ao seu feitio por vezes irascível, as reais capacidades de D. João de Castro eram plenamente reconhecidas pelos seus pares. Não foi excepção à regra um dos filhos de Vasco da Gama, D. Estêvão, tendo escrito ao rei: "Bem sey que pera sondar barras e debuxar saberá muy bem fazer", (carta a D. João III, Goa, 25 de Outubro de 1541).

Na verdade, basta um relance às suas "Taboas", isto é, roteiros de navegação elaborados a bordo de viagens no Oceano Índico, para admirarmos a qualidade das suas observações, dignas do seu mestre, o grande matemático Pedro Nunes.
As suas várias obras merecem uma leitura. Homem culto e polivalente, foi um dos pioneiros do experimentalismo científico em Portugal, levando à prática inúmeras observações. Da astronomia nautical à hidrografia e navegação, os seus estudos não impediram as suas prestações militares e navais. Enquanto navegava ao serviço da Coroa, D. João de Castro fazia-se acompanhar de cadernos onde tomava os seus apontamentos, ilustrados também por si, hábito que incutiu ao seu filho D. Álvaro.
O seu período de glória como Governador da Índia é sobejamente conhecido através das várias páginas de obras que o celebrizaram. Alguns episódios tornaram-se quase lendários. De facto, não é qualquer pessoa que empenha as próprias barbas para financiar a reedificação de uma fortaleza (Diu) após um monumental cerco de vários meses, ganhando o respeito de toda a população de Goa; e talvez não tenha sido puro acaso que tenha expirado nos braços de S. Francisco Xavier, apóstolo do Oriente. Episódios verídicos na carreira de um homem notável. Uma vida plena, que bem se pode resumir nas suas próprias linhas: na dedicatória do seu "Roteiro de Goa a Diu" (1538), Castro descreve as suas andanças marítimas: "...ora pelejando com os ventos, ora defendendo-me dos mares, às vezes correndo as costas, e outras caminhando por grandes e espantosos perigos".

Castro, homem prático e consciente da importância decisiva do poder naval para Portugal, não deixou de lançar um aviso pertinente:

"...a todos seja notório que os muros da Índia sam esta armada de Vossa Alteza" (carta de D. João de Castro, Diu, 1546)

A defesa da Índia deveria jogar-se preferencialmente no mar. Uma lógica que reconhecia neste elemento a superioridade efectiva e não tanto em terra, onde eramos gradualmente inferiores em número e organização, quase que resumindo as iniciativas militares a acções defensivas.
Ironicamente, se tivesse vivido mais alguns anos teria visto a corrupção e decadência, que já antes corroíam os alicerces do Estado da Índia, alastrar a partir justamente da segunda metade do séc. XVI, demarcando-se definitivamente da época de ouro portuguesa no Índico.

http://maritimo.blogspot.com/2003/09/mimos-e-memrias-de-um-vice-rei-na-ndia.html
 

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André

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« Responder #234 em: Dezembro 30, 2008, 03:51:01 pm »
Câmara de Viana festeja passagem ano com homenagem a Caramuru



A Câmara de Viana do Castelo inaugura quarta-feira, à meia-noite, uma estátua de homenagem a Caramuru, um navegador vianense muito ligado à história da fundação do Brasil, anunciou hoje fonte municipal.

Segundo a fonte a estátua, que ficará na Praça da República, é assinada pelo mestre José Rodrigues.

A iniciativa faz parte de uma «original» festa de passagem de ano, que integra ainda um espectáculo musical e uma sessão de pirotecnia.

A homenagem a Caramuru começa terça-feira, com a inauguração da exposição «Caramuru - o vianense criador da Brasilidade», no Museu do Traje.

No mesmo dia, terá lugar a apresentação da edição crítica de «Caramuru - Poema Épico do Descobrimento da Bahia», da autoria de Amadeu Torres.

Natural de Viana do Castelo, Caramuru (nome índio), ou Diogo Álvares Correia, foi um destemido navegador que naufragou na Bahia de Todos os Santos, no Brasil, em 1508, e que está intimamente ligado à história daquele país.

«Quando, a seguir ao naufrágio, usou a sua arma de fogo e matou um pássaro, surpreendeu de tal modo os índios que estes lhe atribuíram poderes divinos», explica a fonte municipal.

Acabou por casar com a filha do chefe da tribo Tupinambá, Paraguaçu, «tendo depois tido grande influência quer na miscigenação que caracteriza a nação brasileira, quer no acolhimento dos portugueses em terras de Vera Cruz».

Lusa

 

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TOMSK

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« Responder #235 em: Janeiro 13, 2009, 01:08:09 am »
Os Feitos de Diu
15 portugueses contra 400 mouros



Estavamos no dia 14 de Agosto, véspera de Nossa Senhora. Dia da passada Aljubarrota. Nessa manhã em Diu, saíram da fortaleza portuguesa Lopo de Sousa Coutinho e mais um pequeno grupo de portugueses, encarregados de dar protecção à gente míuda que ia buscar água e lenha à cidade, essa já em poder do inimigo. Restava pois a fortaleza, onde os portugueses se tinham refugiado, prontos a suster qualquer ataque.

É então que se encontram no caminho alguns mouros que deambulavam por ali, longe das suas hostes. A surpresa foi total. Eis então que o grito "Santiago" é ouvido, dando sinal ao ataque dos portugueses que imediatamente investiram contra os mouros. Estes, em estado de choque, fogem, apenas para avisar os seus camaradas que alguns portugueses tinham saído da fortaleza, e pois que com pouco esforço muitos dos seus poderiam apanhar os portugueses.

Assim foi. Quase de imediato, 400 mouros saiem do acampamento aos gritos e percorrem as ruas turtuosas em direcção ao pequeno bando de portugueses. Estes, ainda mal refeitos do choque, apercebem-se da imensa desvantagem numérica que se afigurava perante os seus olhos.

Os Portugueses da Índia eram«um bando de fidalgos aventureiros e degredados», Isto dizia o 1º Vice-Rey, Francisco de Almeida. E o episódio que se segue iria-lhe mais uma vez dar razão.

Estando Lopo de Sousa Coutinho, mais os seus 14 portugueses numa pequena e estreita rua, de onde se tinha dado o encontro inicial, aparece ao fundo desta grande ajuntamento de Mouros. Ultrapassando a tentação inicial de se lançarem como loucos ao inimigo, já uma tradição portuguesa da Índia, Simão Furtado, um grande cavaleiro e homem avisado, sai de fronte dos portugueses, impedindo-lhes a passagem, dizendo:
-" Deixai-os vir, deixai-os vir!  Que quanto mais se juntem e apinhem a rua, menos uso farão de suas armas! "
Pois assim foi.

Os portugueses esperaram, ombro a ombro, a chegada do inimigo em fúria. E deu-se o embate. Lanças, espadas, terçados, punhais, todos brilhavam perante a imensidão de homens que ali, naquela pequena rua se empurravam uns aos outros. Os mouros, que da sua primeira fila tinha sido empalada pelas lanças portugueses, subiam uns por cima dos outros, na ânsia de matarem um português. Nesta correria, muitos morriam espezinhados pelos seus compatriotas, outros subiam os telhados para se amandarem por cima dos portugueses, estes que, maravilha de se ver, resistiam a tudo e ainda tinham o valor de desferirem golpes de espada sobre o inimigo, um após o outro.
E se lhes faltava as armas, pois que faziam como Simão Furtado, que com as suas próprias mãos pegava nos mouros, e aos pontapés os enfiava para lá das suas linhas.

Mais uma vez se viu então como os poucos que os nossos eram, bastaram para lhes fazer conhecer como Deus primeiramente, e os lugares muitas vezes, dão a vitória a quem os conhece. Dos mouros, 30 mortos e muitos mais feridos, viram-se perante a impossibilidade de uma vitória, a escolha de uma debandada, voltando as costas aos portugueses. Dos nossos, o próprio Lopo de Sousa Coutinho que ao longo do combate esteve sempre à frente dos seus homens, encontrava-se ferido na perna esquerda, resultado de uma profunda cutilada. Mas a ordem e o desejo foi instantâneo. Pois então que os poucos portugueses puseram-se perseguindo os perros que fugiam, já arrependidos de ter entrado em batalha contra tão valorosos homens. E ainda mais tempo os perseguia, se não fosse chamarem-nos da fortaleza, que entretanto tinha se repleto de portugueses nas muralhas, assistindo com grande emoção à peleja de tão poucos contra tantos.
« Última modificação: Janeiro 13, 2009, 05:30:31 pm por TOMSK »
 

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« Responder #236 em: Janeiro 13, 2009, 04:18:54 pm »
Os Feitos de Diu
"As ruínas desta fortaleza se reparam com cabeças de Turcos!"



O Turco Rumecão, que nessa altura fazia guerra a Diu, conhecendo o estado em que se achavam os Portugueses, pelos poucos defensores e pela fortaleza quase destruída pelos incessantes ataques que tinha sofrido, quis jogar com o fraco ânimo das hostes lusitanas. Chegara a noite cerrada à Índia, e é então que no Baluarte de Santiago, onde estavam alguns portugueses a fazer guarda, ouvem chamar do lado de fora da fortaleza. Em língua portuguesa, dizia ser Simão Feio, que queria falar ao capitão-môr sobre um assunto importante.

Foi então chamado o Capitão Dom João Mascarenhas, e este mandou entrar o português. Frente a frente, este lhe disse que se chamava Simão Feio, e que tinha sido mandado por Rumecão, o turco que vendo o valor de tão grandes soldados como eram os Portugueses, queria-lhes poupar as vidas, que eles próprios tão desesperadamente defendiam. Ele bem via como a fortaleza portuguesa estava completamente arruinada, a maior parte dos defendores enfermos ou feridos, sem esperança alguma de socorro, com falta de munições e mantimentos. Era pois de bom-senso que se rendessem, porque para sua própria glória desejaria conservar vivos tão valorosos inimigos. Que nos trataria muito bem, dando-nos a liberdade e os nossos navios, se aceitássemos a rendição e abandonássemos a fortaleza. Se não, pois que todos os portugueses iriam ser passados pelas leis da guerra, e tratados como só os vitoriosos tratam os vencidos.

Quando ouviu esta afronta, o Capitão Dom João de Mascarenhas, com a mão no punho da espada, assim lhe respondeu:

"Se na fortaleza onde estão Portugueses não há muros, eles defendem-na em campo aberto;
Se duvida disto, então que no primeiro assalto que ousassem contra nós, assim o saberia; Diz ao Turco para ir pedir mais e melhores soldados ao Sultão dele, porque os Portugueses desprezam vitórias tão pequenas;
As ruínas da fortaleza, essas espero eu repará-las com as cabeças dos Turcos!
Se nos faltar mantimentos, ao próprio arraial do inimigo os iremos buscar como despojos. Que enquanto os Portugueses tenham as suas armas, isso basta para não nos faltar nada;
E à livre passagem marítima que o Turco nos oferecia se nos rendessemos, espero mais cedo eu próprio fazê-la, com a espada não mão por entre os inimigos.
E a ti, Simão Feio, que não mais venhas cá repetir palavras alheias, senão mando-te espingardear do muro!"


Crónica de Dom João de Castro
 

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« Responder #237 em: Janeiro 14, 2009, 12:47:16 pm »
A morte de um Herói da Pátria


Estávamos na meio da noite do dia 15 de Dezembro de 1515. O navio de Albuquerque, chegava, como era o seu desejo, à barra da sua amada Goa. O homem, que em tempos tinha sido um poço de força e impetuosidade, alcunhado de "O Terrível" pelos seus inimigos, estava já sem forças, e mal se consegui manter de pé. Quando disseram ao grande capitão que tinha chegado a Goa, este ergeu as mãos ao céu, e rendeu mil graças a Deus por lhe ter deixado chegar ao lugar de seu desejo.

Neste lugar esteve toda a noite acompanhado dos seus companheiros, abraçando o crucifixo, pedindo a um deles que lhe recitasse a paixão de Nosso Senhor segundo D.João, santo de que fora muito devoto. Ordenou que o revestissem com as insígnias de Santiago, de que era comendador, porque queria morrer com este hábito.
No Domingo, uma hora antes de amanhecer, rendeu a alma ao Criador.

Depois "d'O Grande Homem" ter morrido é que verdadeiramente se conheceu qual fôra a sua extraordinária influência sob os povos do Oriente. Referem que quando o corpo de Afonso de Albuquerque foi levado para o derradeiro asilo, os habitantes de Goa lhe fizeram sumptuosas exéquias. Todos os veteranos, que tantas vezes o havião seguido nas perigosas expedições, o acampanharam à capela qeu ele fazer erigir para lhe servir de sepultura temporária.

Vestido de Comendador da Ordem de Santiago, levado com o rosto descoberto, por homens que entre si disputavam a honra de levar tão grande capitão, dizem que os seus olhos não estavam fechados, e a sua longa barba, agitada pelo vento, sobre o seu peito flutuava.

Os índios e os muçulmanos não podiam acreditar no seu falecimento. Exclamavam:
-"Ele não morreu...foi comandar os exércitos do Céu!"-
 

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« Responder #238 em: Janeiro 15, 2009, 05:59:08 pm »
Peço a vossa atenção para esta emocionante carta do Governador da Índia, D. João de Castro, em que encarrega o filho de ir ajudar a socorrer a sitiada fortaleza portuguesa de Diu.



Carta de D. João de Castro ao seu filho D. Fernando de Castro

"Eu vos mando filho, com este socorro a Diu, que pelos avisos que tenho, hoje estará cercado de multidão de Turcos. Pelo que toca à vossa pessoa não fico com cuidado, porque por cada pedra daquela fortaleza arriscarei um filho.
Encomendo-vos que tenhais lembrança daqueles de quem vindes, que para a linhagem são vossos avós, e para as obras são vossos exemplos.
Fazei por merecer o apelido que herdaste, acordando-vos que o nascimento em todos é igual; As obras é que fazem os homens diferentes.
E lembro-vos, que o que vier mais honrado, esse será o meu filho. Esta é a benção que nos deixaram nossos maiores, morrer gloriosamente pela Lei, pelo Rei, pela Pátria!
Eu vos ponho no caminho da honra, em vós está agora ganhá-la!"


Foi efectivamente uma carta de despedida, já que o filho de D. João de Castro veio a falecer gloriosamente na missão que o pai lhe encarregou.
Haverá maior amor à Pátria quando nela se arrisca a vida do próprio filho?
 

*

TOMSK

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« Responder #239 em: Janeiro 19, 2009, 11:32:07 pm »
Os Heróis do baluarte



Ao dia 27 de Setembro de 1538 surgiu envolta na névoa da manhã, a poderosissíma armada turca,
A sua missão:  Destruir os portugueses que se encontravam sitiados em Diu.
Para isto, como se viessem a qualquer uma festividade, os Turcos decidiram engalanar os seus navios, cheios de "muitos estandartes e bandeiras de seda, os seus tendais com ricos paramentos que lhe rojavam pela água." Também os próprios turcos estavam todos vestidos de "festa e seus tambores e clarins soavam com grande ruído". Com o vento de feição, um navio atrás do outro ia bombardeando com os seus canhões, basiliscos e bombardas, o Baluarte da Vila das Rumes. Esta pequena forificação estava separada da fortaleza principal , pelo que os poucos portugueses que nela se encontravam, nenhuma esperança tinham de socorro.

Esta poderosa artilharia muitos danos fez aos nossos, matando muitos portugueses, destruíndo as muralhas do baluarte, causando incêndios, e explosões de pólvora por todo o lado. O ar era irespirável, e fumaça da pólvora afectava a visão dos combatentes. Para piorar, muitos dos canhões portugueses explodiram quando foram disparados. Alguma pólvora encontrada uns meses atrás na cidade foi roubada pelos portugueses, que não sabiam que aquela pólvora se destinava a tiro de mosquete e arcabuz. Pois quando se a utilizou nos canhões este erro foi mortal. Muitos dos nossos morreram nestas explosões, outros ficaram severamente feridos. E ainda pior, ficámos sem nenhum armamento pesado capaz de ripostar.

"Durou este bombardear dede que o Sol saiu até às dez horas do dia".  Incessante, o bombardeamento turco continuou até às quatro horas da tarde, derrubando uma parte das muralhas, que agora ficavam como escadas prontas ao inimigo subir. O desastre estava iminente.
Os capitães turcos, vendo que uma parte da muralha se tinha desmoronado, mandam avançar mais de 700 homens, homens, que deixando os seus navios, e em pequenas barcaças avançam para o baluarte, coberto de fumo. À frente destes, ia um Turco que levava uma "grande bandeira vermelha o qual foi com muita pressa subindo pela derrubada muralha, e atrás deles quanto o lugar podia agasalhar". E assim, subindo pelos destroços vieram os Turcos subindo o nosso baluarte.

Eis então que no patamar do baluarte surgem dois portugueses, com lanças muito compridas. A surpresa para os Turcos foi total já que estes pensavam que os portugueses estariam já todos mortos. Também da fortaleza portuguesa, os nossos iam assistindo com muita dor e tristeza, sabendo que nada podiam fazer para os ajudar. "E assim, com lágrimas e vontades, atirando-lhe da fortaleza bombardadas, faziam o possível". Restava-lhes assistir imponentes à desgraça dos seus compatriotas.

"Não cessavam, porém, os inimigos de com muita pressa e fervor trabalhar de superar os dois". Mas eles, como o lugar fosse apertado, com tanto ânimo e pouco temor o defendiam, como se todos os companheiros os ajudaram, dando-lhes com as lanças e deitando-lhes panelas de pólvora e outros artificíos que os de dentro lhes davam, fazendo sós" o que todos os outros chamariam de arriscado e perigoso. Desta maneira "pelejaram até ao Sol se pôr, derrubando muitos dos contrários das altas paredes abaixo", sendo apenas estes dois homens que sustinham o peso de tanta gente."

A só estes dois os turcos disparavam, e apesar de errarem em muitos desses tiros, por serem muitos causaram grandes feridas aos nossos dois heróis. "Mas nem por isso deixavam de mui esforçadamente pelejar, e tanto o fizeram, até que os inimigos desesperaram de aquela vez o tomar, e assim confundidos, de mal seu grado desceram, correndo espalhados uns por um lado e outros por outra, para que os portugueses não lhe dessem tiros da fortaleza, e assim recolheram aos seus navios, ainda estupefactos com tão esforçados homens que enfrentaram". Um deles chamava-se António Pinheiro, de apenas 25 anos, filho de um cavaleiro de Faro. Do outro não sabemos a sua identidade.
Fica aqui a homenagem aos Heróis do Baluarte da Vila dos Rumes.

O Primeiro Cerco de Diu, Lopo de Sousa Coutinho