Quase duas semanas após o inicio da crise que conclusões se podem tirar?
- Parece hoje meridianamente claro que o presidente georgiano caiu numa armadilha montada pelo governo russo e Putin (the KGB man...) em particular.
Com efeito não é credível que o exército russo respondesse tão rapidamente, em cerca de 24h, e de forma tão organizada e eficiente a um conflito numa região tão remota, a não ser que estivesse a contar com ele. (Isso é para quem acredita que o exército russo é um modelo de organização, eu não me incluo nesse grupo).
Claro que Moscovo não podia ter a certeza de que o "ingenuo de Tbilissi" ía cair na armadilha que lhe foi montada. Isso foi somente a cereja georgiana em cima do bolo russo.
O que estava programado era sem qualquer dúvida, a resolução "de facto" do problema da Ossétia do Sul e da Abkhazia, promovendo a sua cesseção definitiva da Georgia. Para tal foi dada redea solta aos paramilitares (criminosos diria eu, embora reconheça que os há de ambos os lados!!) daquelas regiões para que provocassem os militares da georgia de modo a que os militares russos pudessem intervir e rechaçar a presença desses militares dos territórios da Ossétia do Sul e da Abkhazia.
Há videos no youtube, de origem russa e georgiana, colocados lá em Julho e inicio de Agosto que documentam abundantemente este tipo de comportamento.
Que o "tótó de Tbilissi" tivesse caído na esparrela e ordenasse ao exercito georgiano que invadisse a Ossétia do Sul foi algo que "caiu do céu" aos drigentes russos e lhes permitiu concretizar o seu plano a quase 100%, permitindo aos militares russos:
a) Expulsar o exército da Georgia daqueles territórios de uma penada, coisa que de quaquer maneira já vinham fazendo há semanas, mas que assim se concluiu num ápice.
b) Fazer uma demonstração de força que cai sempre bem a quem tão necessitada estava dela como é o caso da Rússia.
Em minha opinião toda esta história começou há muitos meses atrás, aquando do reconhecimento do Kosovo por grande parte dos países ocidentais. Isso foi considerado como uma autentica bofetada pelos russos, que se viram incapazes de ajudar os seus aliados sérvios.
Chegados aqui é necessário perceber que Rússia e Servia fazem parte do mesmo ramo civilizacional, trata-se países que compartilham a mesma cultura, religião e alfabeto, ou seja, não é à toa que Rússia e Servia são aliados. Outro país que faz parte deste ramo civilizacional é a Grécia, que aliás sempre viu com maus olhos não só a independência do Kosovo mas também toda a intervenção da NATO nos Balcans.
No próprio dia da independência do Kosovo a Rússia fez um paralelismo expresso com a situação da Ossétia do Sul e da Abkhazia. E começou a planear o que se consumou este mês...
Concordo em absoluto com aqueles que dizem que nos últimos vinte e tal anos os políticos e os militares russos NÃO APRENDERAM NADA NEM ESQUECERAM NADA.
Para eles continuam válidas as teorias das esferas de influência, como se os países limitrofes da Rússia tivessem de se ajoelhar aos senhores do Kremlin e olhar para Moscovo antes de tomar qualquer decisão sobre o seu futuro.
Para eles o inimigo ainda está a ocidente, como se a Rússia hoje ou nas décadas mais próximas, pudesse ter a ambição de ser um poder global. Ignoram que a verdadeira ameaça está a leste, na China e talvez um dia, mais cedo do que pensam, vão precisar da ajuda do ocidente quando as centenas de milhões de chineses desafiarem os poucos milhões de russos da longinqua sibéria oriental.
- Mas chegados aqui como sair da crise?
Para mim, apesar de toda a retórica dos EUA sobre a integridade territorial da Georgia, o que deverá vir a acontecer é isto:
a) A Georgia abdicar da Ossétia do Sul e da Abkhazia, territórios em que a esmagadora maioria da população lhe é hostil e que, no caso da Ossétia pelo menos, não tem nem nunca teve qualquer afinidade com a Georgia, a não ser pelo facto de Estaline ter integrado o território da Ossétia na Georgia, quando até aí (1921), fazia parte da Rússia.
b) Integrar a Georgia na NATO de modo a mostrar a Moscovo (e a Putin!!) os limites do seu poder.
A declaração de Angela Merkel de que a Georgia fará parte da NATO se assim o entender, vindo da dirigente alemã, que ainda há pouco mais de 3 mmeses se opôs veementemente à entrada da Georgia na NATO, é disso mesmo indicadora e tanto mais de saudar quanto a Europa é constantemente acusada de abdicar frente aos russos e de um modo geral sempre que estão em jogo questões de defesa.
Claro que para o ocidente sobra um problema... Até que ponto a Georgia e os seus dirigentes terão maturidade para integrar uma aliança como a NATO?
É que quando a cabeça, ou seja os dirigentes, não tem juízo, o corpo, ou seja o povo, é que paga, e neste caso podemos pagar todos nós...