Ricardo Nunes:
Folgo em saber que a maioria dos colegas deste forum foram contra a invasão (embora eu pensasse o contrário).
Como compreenderá tenho que ser muito comedido nas minhas considerações sobre este conflito, mas acho que lhe posso dizer que o mal está feito.
Não cabe a quem sempre se opôs à invasão, por princípio arranjar agora soluções para um conflito apresentado como libertador, e que rápidamente se percebeu que foi:
1 - Motivado pelas 3 mentiras (ADM's, ligações do regime de Saddam ao terrorismo islamista democratização da região, tendo como apêndice a resolução do conflito israelo-palestiniano).
2 - Não foi a invasão bem recebida pela maioria da população iraquiana, ao contrário da propaganda ocidental, nomedamente pelos xiitas, maioritários, e vítimas do jugo de Saddam, mas que preferem implantar um regime islâmico, que pró-ocidental (e ainda se há-de tornar evidente a influência que o Irão tem tido nos últimos meses no desenrolar dos acontecimentos).
Quanto a soluções, cabe pois a quem se meteu no atoleiro encontrá-las e não a quem se opôs a ele.
Mas agora, que a situação é a que é, há que não enveredar por um governo fantoche baseado no de Karzay.
Esse será o primeiro erro de palmatória, porque nunca será representativo e será visto pela população como um governo de traidores e vendidos ( a fazer lembrar a França de Vichy).
Julgo que os ocupantes terão que encontrar rápidamente um grupo (um conselho minimamente representativo da população e passar o poder político para esse conselho (a data de 30 de Junho é apenas simbólica, pois o satus quo manter-se-á, e até que se realizem eleições muita água há-de correr pelo Tigre e muitos roquetes hão-de ser disparados.
Porque nem sequer se sabe quantos eleitores há no Iraque.
Se a ideia é formar uma espécie de "constituinte" é porque sabem que nunca mais haverá acordo.
Exportar modelos ocidentais à força faz lembrar de facto as cruzadas e nesse caso estão a dar razão aos fanáticos seguidores das teses dos waabitas.
Creio que uma democracia orgânica surgida do conjunto da sociedade iraquiana, com poderes locais que se congregassem numa figura minimamente aceitável por todos seria o ideal, mas dado o extremar de posições a que se chegou, parece-me impossível.
O que preconizo é um modelo federal, básicamente dividido em 4 grandes regiões (norte para os curdos, centro-oeste para os sunitas, centro e centro leste, incluíndo Bagdad para xiitas e sul para os xiitas)
Bagdad seria uma espécie de capital federal com uma pequena região circundante.
Mas só uma mão de ferro, pelo menos nos primeiros tempos é que conseguiria levar qualquer plano a bom porto.
E a mão de ferro deverá ser iraquiana e não americana.
Esse foi o pecado original desta aventura militar.
Quanto a uma retirada apressada, esta não acontecerá já que a restência iraquiana tem características diferentes da guerrilha do Vietname, que nos útimos anos lutou de forma mais convencional.