« Responder #69 em: Maio 31, 2004, 11:53:08 am »
JN
Os combates entre as tropas da coligação no Iraque e os milicianos do radical xiita Moqtada al Sadr, agrupados sob o denominado Exército do Mehidin, continuaram ontem na cidade santa xiita de Najaf, erodindo ainda mais a frágil trégua acordada entre Sadr e
a coligação, com os bons ofícios exercidos por clérigos xiitas, no dia 27. Os confrontos ocorreram perto de um cemitério onde testemunhas, citadas pela agência Efe, juraram ter ouvido fortes explosões causadas pelo disparo de morteiros. no mesmo dia, em Bagdade, dois mercenários morreram e três outros ficaram feridos, aparentemente todos ocidentais, num ataque às três viaturas em que seguiam. Meia dúzia de outras pessoas que escapou ilesa ao ataque entrou com as suas armas numa quarta viatura que fugiu, segundo testemunha citada pela AFP.
Não obstante o aumento anunciado das despesas relativas à segurança no terreno, com o acréscimo de 500 milhões de dólares no orçamento da Autoridade Provisória da Coligação, nomeadamente para contratar mais mercenários que, de acordo com o "Washington Post", actuarão claramente como extensão das forças militares no terreno (dada a falta de soldados na coligação, que o Reino Unido poderá compensar com o envio de 3000 homens), aqueles dois incidentes parecem ter sido os únicos a ocorrer num país que ainda
no mês de Abril se encontrava a ferro e fogo.
É como se todo o país, guerrilheiros radicais incluídos, estivesse na expectativa de conhecer a composição final do novo Governo Interino Iraquiano (com um presidente, dois vices e 26 ministérios), depositário da soberania do país a 30 de Junho, e que deveria ter sido anunciada ontem. Não foi. A mais dura batalha do Iraque transferiu-se, assim, para o plano diplomático, travada em torno da escolha do novo presidente daquele Governo e dos titulares dos ministérios-chave.
A reunião dos políticos iraquianos com os três homens encarregados de formar o novo Executivo - o enviado da ONU, Lakhdar Brahimi, o pró-cônsul dos EUA, Paul Bremer, e o enviado da Casa Branca, Robert D. Blackwill -, iniciada na noite de anteontem, prosseguiu sem conclusões. Simplesmente, o Governo Provisório - formado por iraquianos que estiveram no exílio - quer impor as suas escolhas aos EUA, o que já conseguiu com o primeiro-ministro, o xiita Ayad Allawi, contrariando Brahimi.
Para presidente, a escolha dos EUA e da ONU recai sobre o sunita moderado Adnan Pachachi, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros nos anos 60, antes de Saddam Hussein tomar o poder; os iraquianos preferem, todavia, o xeque tribal sunita e detentor da Presidência rotativa do Governo, Ghazi Ywar.
As vice-Presidências também estão a ser disputadas, com dois nomes em análise: Ibrahim Jafari, do Partido Dawa (xiita) e Rowsch Schaways, do Partido Democrático do Curdistão. Para ministro das Finanças, foi ventilado Adel Abdel-Mehdi, do Supremo Conselho para a Revolução Islâmica, e Sameer Shaker Sumaidaie para ministro do Interior. Os curdos poderão ficar com o Ministério da Defesa para Hoshyar Zubari (actual ministro dos Negócios Estrangeiros, que esteve em Lisboa a semana passada) , que seria substituído no actual cargo pelo curdo Barham Salih.
Irão não coopera
O Irão não irá cooperar com as tropas da coligação, nomeadamente as norte-americanas, na reconstrução do Iraque. De acordo com o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hamid Reza Assefi, "o Irão não pode cooperar com uma força ocupante que cometeu, nos últimos dias, os crimes mais bárbaros contra os lugares santos" xiitas no Iraque, disse, referindo-se aos confrontos em Abril e Maio nas cidades de Najaf e Kerbala.
Troféu presidencial
O presidente dos EUA, George W. Bush, guarda no Salão Oval da Casa Branca uma recordação do maior inimigo da família, a pistola que Saddam Hussein tinha na altura em que foi detido, em Dezembro, pelos soldados dos EUA em Dawr, próximo de Tikrit, norte do Iraque, e gosta imenso de exibi-la às visitas. "Gosta realmente de mostrá-la", afirmou uma das pessoas que pode observá-la na residência presidencial, garantindo que Bush "estava mesmo orgulhoso" do seu troféu.