Operação MAR VERDE

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Mar Verde

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Operação MAR VERDE
« em: Novembro 01, 2005, 11:39:47 am »
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BATALHAS E COMBATES da Marinha Portuguesa

Conakry - 22 de Novembro de 1970


A guerra subversiva é um tipo de guerra em que se visa obter o controlo de determinado território por intermédio da acção de guerrilhas actuando no seu interior. Evitando sistematicamente o confronto com forças superiores e restringindo a sua actuação a ataques de surpresa nas mais diversas localidades e itinerários, as guerrilhas procuram fundamentalmente convencer a população, as forças governamentais e o próprio Governo do território de que este não dispõe de meios para as dominar e que, consequentemente, mais tarde ou mais cedo não terá outro remédio senão submeter-se às suas exigências de carácter político.
Como é evidente, para que as forças governamentais possam ganhar uma guerra subversiva é necessário que sejam capazes de neutralizar as guerrilhas. Para isso existem, teoricamente, três linhas de acção estratégica possíveis: a primeira consiste em localizar e destruir as guerrilhas através do combate directo com elas; a segunda consiste em cortar as comunicações entre as guerrilhas e as bases, geralmente situadas em países vizinhos, que as abastecem; a terceira consiste em neutralizar essas bases por intermédio de acções militares, pressões económicas ou arranjos diplomáticos.
Só que qualquer destas linhas de acção, salvo em circunstâncias especiais, é muito difícil de pôr em prática. A localização das guerrilhas por meio de informações, da observação aérea ou do patrulhamento intensivo do terreno raramente é conseguida. Mesmo depois de localizado um grupo de guerrilheiros é quase sempre impossível aniquilá-lo, uma vez que em poucos minutos dispersam e afastam-se para longe, ou se escondem ou misturam com a população. Por último, quando as guerrilhas se sentem particularmente acossadas numa dada zona, retiram para as suas bases situadas em território estrangeiro e aí se refazem, para voltarem a aparecer mais tarde na mesma ou noutra zona.
Cortar as comunicações entre as guerrilhas e as suas bases também não é fácil, em primeiro lugar porque é praticamente impossível exercer uma vigilância eficaz sobre as fronteiras terrestres que podem atingir centenas ou mesmo milhares de quilómetros; em segundo lugar, porque as guerrilhas, no que toca a alimentação, são normalmente abastecias pelas próprias populações dos territórios onde actuam, sendo indiferente que estas o façam voluntariamente ou sob coacção.
Destruir as bases das guerrilhas situadas nos países vizinhos é, sem dúvida, o processo teoricamente mais rápido e mais eficaz para conseguir a sua neutralização. Mas isso implica a possibilidade de eclosão de um conflito armado de grandes proporções com esses países, risco que um pequeno pais, como era o caso de Portugal, não podia correr dado o seu fraco potencial militar e económico e o seu isolamento internacional.
Do que foi dito se poderá inferir, à primeira vista, que Portugal não tinha a menor possibilidade de ganhar uma guerra subversiva na Guiné, em Angola ou em Moçambique. Trata-se porém de uma conclusão demasiado simplista.
Na realidade, embora seja praticamente impossível localizar e destruir uma parte substancial das guerrilhas que actuam no interior de um dado território, é possível, desde que se disponha dos meios militares adequados, exercer sobre elas uma pressão constante que acabe por tolher consideravelmente os seus movimentos e manter dentro de limites razoáveis os inconvenientes resultantes da sua acção. Embora não seja possível tornar impermeáveis as fronteiras terrestres, é possível, através da ocupação em força de certos pontos, do patrulhamento intensivo de certos troços, do uso de pisteiros e da observação aérea, dificultar consideravelmente a passagem de armas, munições e pessoal para o interior do território. Procedendo ao aldeamento das populações e dispondo de um bom serviço de informações é possível limitar os contactos daquelas com os guerrilheiros e, consequentemente, dificultar o abastecimento destes.
Em resumo, apesar de não ser possível pôr termo rapidamente a uma guerra de guerrilhas por meios militares, é perfeitamente possível limitar os seus efeitos por forma a permitir que o progresso económico e social do território continue como em tempo de paz. Nisto consiste ganhar militarmente uma guerra subversiva. Aliás, foi o que aconteceu em Angola e em Moçambique, mas que só muito dificilmente poderia ter acontecido na Guiné, dada a extensão das suas fronteiras terrestres em relação à exiguidade do seu território, e a sua densa cobertura vegetal.
De notar que em Cabo Verde e em São Tomé não houve guerras subversivas porque o domínio do mar e do ar de que dispúnhamos tornava impraticável apoiar a partir do exterior uma guerrilha que eventualmente se formasse em qualquer das suas ilhas.
Em princípios de 1969 soubera-se em Bissau que a Guiné-Conakry havia recebido da URSS três vedetas-torpedeiras da classe «Komar» e o PAIGC quatro vedetas-torpedeiras da classe «P6». As primeiras eram navios de 75 toneladas, armados com duas peças AA de 25 mm e dois mísseis superfície-superfície; as segundas eram navios de 66 toneladas, armados com duas peças AA de 25 rnm e dois tubos lança-torpedos. Umas e outras podiam atingir uma velocidade superior a 40 nós.
Como é evidente, tratava-se de uma ameaça grave para nós. Durante a noite poderiam essas vedetas chegar a Bissau sem serem detectadas e afundar em poucos minutos um transporte de tropas ou qualquer outro navio de carga que lá se encontrasse.
Logo após a operação «Nebulosa» (Agosto de 1969) o comandante Alpoim Calvão, que era especializado em mergulhador-sapador, idealizou uma nova operação destinada a liquidar de uma assentada tanto as vedetas-torpedeiras do PAIGC como as da Guiné-Conakry. De acordo com o seu plano, uma das nossas LFG's aproximar-se-ia sub-repticiamente, durante a noite, do porto de Conakry e colocaria na água várias equipas de homens-rãs que iriam fixar minas-lapa nos cascos das vedetas. Feito isso, regressariam à LFG, que desapareceria sem deixar rasto. Algumas horas mais tarde as minas explodiriam e aquelas iriam ao fundo sem que ninguém pudesse saber exactamente o que tinha acontecido!
Como seria de esperar, o brigadeiro Spinola aprovou com entusiasmo a ideia. Calvão foi a Lisboa, conseguiu o apoio do chefe do Estado-Maior da Armada (vice-almirante Reboredo e Silva), que provavelmente terá informado o Ministro da Marinha (vice-almirante Pereira Crespo), e seguiu depois para a África do Sul, acompanhado por um inspector da DGS, a fim de tentar obter aí as minas-lapa necessárias para a operação, uma vez que a nossa Marinha não as possuía. Conseguidas estas, trouxe-as para Lisboa como se fossem bagagem pessoal e, seguidamente, mandou-as para a Guiné.
Tratava-se agora de obter um plano actualizado do porto de Conakry, de que também não existia nenhum em Lisboa ou em Bissau. Para resolver o problema o comandante Calvão propôs ao comandante da Defesa Marítima da Guiné (comodoro Luciano Bastos) que uma LFG disfarçada fosse fazer um reconhecimento a Conakry durante a noite. Concordou aquele e em meados de Setembro de 1969 Alpoim Calvão embarcou na Sagitário, de que era comandante o capitão-tenente Camacho de Campos, e dirigiu-se para a ilha João Vieira, onde o navio foi disfarçado por forma a dar impressão de que pertencia ao PAIGC. Foi também combinado que se a LFG se cruzasse com quaisquer outros navios ou embarcações durante o trajecto para Conakry só apareceriam no exterior os elementos africanos da sua guarnição. Um cabo fuzileiro com boné de capitão-tenente representaria o comandante. E assim foi feito, conseguindo a lancha chegar a Conakry pelas zero horas do dia 17 de Setembro sem levantar suspeitas, apesar de se ter cruzado pelo caminho com diversos pesqueiros guineenses!
Dando uma volta larga para se apresentar diante da cidade como se viesse do sul, a Sagitárío entrou no canal que separa as ilhas Loos da península de Conakry cerca das duas horas. Então, utilizando o radar, foram localizadas com rigor as posições dos diversos cais acostáveis. Uma hora mais tarde a lancha dirigiu-se para a saída. Mas, inesperadamente, o gerador avariou-se e o navio foi obrigado a fundear, o que submeteu os nervos dos seus tripulantes a uma rude prova. Felizmente a avaria foi rapidamente reparada e a Sagitário pôde continuar viagem e regressar a Bissau sem novidade. Indubitavelmente uma das mais audaciosas e mais bem sucedidas operações de reconhecimento levadas a cabo pela nossa Armada.
Animado pelo êxito da «visita» a Conakry Calvão resolveu alargar o âmbito da operação que estava a planear. Porque não, fazer um raide àquela cidade, cuja aproximação parecia tão fácil, e, simultaneamente, destruir as vedetas e libertar os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam? Era uma ideia que desde há muito germinava na sua mente e que agora se afigurava possível de levar à prática. E logo se apressou a apresentar a proposta a Spínola. Concordou de imediato o comandante-chefe com a ampliação dos objectivos da operação, a que havia sido dado o nome de código «Mar Verde», mas entendeu que, já que se ia entrar à viva força em Conakry, então que se aproveitasse para destruir também as instalações que o PAIGC ali tinha! A verdade é que o sucessivo alargamento dos objectivos a alcançar ainda não ia ficar por aqui.
Desde 1964 havia contactos entre as autoridades portuguesas, tanto de Lisboa como de Bissau, com a FLNG (Front de Libération National Guinéen), um dos principais partidos da oposição clandestina ao regime despótico de Sekou Touré. A partir da chegada do brigadeiro António de Spinola à Guiné esses contactos intensificaram-se. Era sua intenção auxiliar a FLNG a estabelecer bases de guerrilha no nosso território a fim de fomentar uma guerra subversiva no interior da Guiné-Conakry que levasse à deposição de Sekou Touré e à instauração de um regime que nos fosse favorável, isto é, que pusesse cobro às acções militares que o PAIGC vinha efectuando contra nós a partir daquele país. No entanto o projecto estava a avançar com muita lentidão por se recear que pudesse acarretar graves complicações internacionais.
Foi então que o comandante Calvão teve a ideia de aproveitar o projectado ataque a Conakry para, com a ajuda de forças da FLNG (que haveria que organizar), tentar também levar a cabo um golpe de Estado naquela cidade que conduzisse à liquidação imediata do regime de Sekou Touré! E, mais uma vez, obteve o apoio imediato do já então general Spínola. Encontravam-se finalmente definidos os quatro objectivos da operação «Mar Verde»: destruir as vedetas-torpedeiras; libertar os prisioneiros portugueses; inutilizar as instalações do PAIGC em Conakry; substituir o governo de Sekou Touré por um governo da FLNG.
Quanto a nós, a ampliação dos objectivos iniciais da operação foi um erro. A forma de a levar a cabo também não nos parece que tenha sido a mais aconselhável. Pensamos que a forma mais correcta de destruir as vedetas inimigas seria através da colocação de minas-lapa, conforme inicialmente previsto, efectuada por mergulhadores-sapadores a partir de um ou dois submarinos. A verdade, porém, é que o êxito alcançado parece justificar o plano que foi adoptado.
Uma das maiores dificuldades, além de conservar o mais rigoroso segredo, era reunir na Guiné Portuguesa os combatentes da FLNG que se encontravam refugiados no Senegal, Gâmbia, Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim.
Para resolver o problema, Alpoim Calvão foi por diversas vezes a Paris, Genebra e outras cidades a fim de contactar os dirigentes da FLNG e combinar com eles os locais, as datas e os sinais de reconhecimento a utilizar na recolha daqueles elementos. Após cada um desses contactos, ia ele próprio numa LFG, durante a noite, ao local preestabelecido e, em botes de borracha, recolhia os homens da FLNG, na sua maioria antigos militares do exército colonial francês ou do exército da.Guiné-Conakry. Operações difíceis e melindrosas sob o ponto de vista da navegação que puseram à prova a elevada competência profissional e o arrojo dos comandantes das nossas lanchas.
À medida que os combatentes da FLNG iam chegando à Guiné, eram levados para a ilha Soga, donde não mais saíam a fim de manter o sigilo da operação em vista. Na referida ilha, onde haviam sido construidos aquartelamentos, foram os mesmos submetidos a um treino intensivo sob a orientação de instrutores portugueses. Todo este processo teve lugar entre Janeiro e Novembro de 1970.
Em meados de Novembro de 1970 estava tudo praticamente pronto para pôr em marcha a operação «Mar Verde», faltando apenas obter a necessária autorização do governo central. Para isso, o comandante Calvão foi mandado a Lisboa a 14, sendo portador de uma carta-credencial do general Spinola para o Presidente do Conselho (professor Marcelo Caetano), a quem expôs de viva voz o propósito e o plano da operação. Seduzido pela perspectiva de um sucesso que o tirasse do beco sem saída que era a guerra da Guiné e tentando convencer-se a si próprio de que seria possível efectuar uma acção de tão grande envergadura sem deixar rasto, Caetano autorizou de imediato a sua execução desde que não fosse deixado em Conakry o mais pequeno vestígio da nossa participação

CONAKRY - 1970


Quanto a nós, a decisão de Marcelo Caetano é, no mínimo, muito discutível. Quer fosse bem ou mal sucedido, o ataque a Conakry poderia dar lugar a uma reacção por parte da URSS de consequências francamente negativas para nós. O reforço do apoio militar e político aos movimentos que conduziam as guerras subversivas na Guiné, em Angola e em Moçarnbique, ou mesmo o apoio à República da Guiné-Conakry para uma acção de retaliação em grande escala, eram riscos reais que, em nossa opinião, não se justificava correr, sobretudo tendo em conta que o teatro de operações da Guiné era um teatro de operações indiscutivelmente secundário no conjunto da guerra de defesa do Ultramar.
De qualquer forma, a decisão fora tomada e os dados estavam lançados. Pelas dezanove e cinquenta do dia 20 de Novembro largou da ilha Soga, sob o comando superior do capitão-tenente Alpoim Calvão, uma força naval constituída pelas LFG's (Lanchas de fiscalização grandes) Orion (capitão-tenente Faria dos Santos), Cassiopeia (capitão-tenente Lago Domingues), Dragão (primeiro-tenente Duque Martinho) e Hidra (primeiro-tenente Fialho Góis), e pelas LDG's (Lanchas de desembarque grandes) Bombarda (capitão-tenente Aguiar de Jesus) e Montante (primeiro-tenente Costa Correia), em que iam embarcadas as forças da FLNG, cerca de 200 homens, a companhia de comandos africanos (capitão Bacar Juló) e o DFE21, também africano (primeiro-tenente Cunha e Silva).
Será oportuno referir que dois oficiais, um da Marinha e outro do Exército, ao ser-lhes dado conhecimento da natureza da operação, puseram fortes reticências. Pensavam eles que não era legítimo atacar de surpresa um país com quem Portugal estava oficialmente em paz (apesar de esse país permitir que nos estivesse sendo feita a guerra a partir do seu território) e que também não era legítimo utilizar tropas portuguesas com uniforme estrangeiro e sem qualquer sinal de identificação pessoal (o que, aliás, acontece com frequência na guerra subversiva). Afinal, acabaram ambos por ceder às exortações de Spínola e de Calvão, que, como militares natos que eram, entendiam que a guerra é por natureza um acto de violência que não pode ser praticado com excessivos escrúpulos e muito menos sem correr grandes riscos.
Navegando com o apoio de um avião P2V5 da FAP (Força Aérea Portuguesa), a nossa força naval conseguiu evitar o encontro com qualquer outro navio e chegar às imediações de Conakry sem ser detectada às vinte horas de 21 de Novembro de 1970, um sábado, com a Lua prestes a nascer e a maré já muito próxima do preia-mar, ou seja nas condições ideais para o sucesso da operação.
Às vinte e vinte, pouco depois de ter sido avistado o farol das ilhas Loos, os navios receberam ordem para dispersar e seguir para os fundeadouros que lhes haviam sido destinados. Pouco depois foi promulgada a hora do desembarque: uma e trinta de domingo, dia 22.

CONAKRY - 1970


A LFG Orion, em que ia embarcado o comandante Calvão, fundeou sensivelmente a NNW do quebra-mar que protege o porto de Conakry a cerca de meia milha dele. Um grupo de navios constituído pelas LFG's Cassiopeia e Dragão e pela LDG Montante foi fundear a norte da cidade. Um outro grupo constituído pela LFG Hidra e pela LDG Bombarda dirigiu-se para sul daquela.
As tropas embarcadas haviam sido organizadas em equipas, designadas por letras do alfabeto NATO, a cada uma das quais tinha sido atribuído um objectivo especifico.
Um dos pontos fundamentais da ideia de manobra era eliminar antes de mais nada as vedetas-torpedeiras da Guiné-Conakry e do PAIGC, não só por isso ser um dos objectivos principais da operação, mas também para garantir o domínio do mar, factor essencial para que pudesse ser levada por diante. Da sua destruição foi encarregada a equipa VICTOR, composta por catorze fuzileiros especiais africanos sob o comando do segundo-tenente Rebordão de Brito, o braço direito de Alpoim Calvão e o homem sempre escolhido para as tarefas mais difíceis e de maior responsabilidade.
Postos na água os botes de borracha, a equipa embarcou neles no mais absoluto silêncio e, pela meia-noite e quarenta e cinco, deixou a Orion e dirigiu-se para o quebra-mar. Acompanhado por alguns dos seus homens, Rebordão de Brito escalou-o e, com o auxílio do binóculo, procurou localizar as vedetas. Porém, na doca do cais bananeiro, onde pensava encontrá-las, apenas conseguiu divisar aquilo que lhe pareceu ser ... uma fragata! Mas nem por isso se desconcertou, limitando-se a dizer para os seus companheiros: - Afinal, parece que temos de nos haver com uma fragata! Se calhar vamos lá ficar todos! Mas eles também não hão-de sair dali!
E voltou para os botes firmemente disposto a tomar a fragata à abordagem!
Contornando pelo sul o quebra-mar, a equipa VICTOR dirigiu-se para a doca do cais bananeiro. Penetrando nela, pôde então o tenente Rebordão de Brito constatar com alívio que afinal aquilo que supusera ser uma fragata não era mais que o conjunto formado pelas quatro vedetas «P6» do PAIGC amarradas de braço dado umas às outras e tendo atrás de si uma barcaça de desembarque. Do outro lado do pontão a que se encontravam atracadas estavam as três «Komar» da República da Guiné-Conakri, também amarradas de braço dado umas às outras. No pontão divisava-se uma sentinela, que parecia estar a dormir.
Atracados mansamente os botes, o grumete Abu Camará aproximou-se da sentinela sem ser pressentido e, com uma punhalada, liquidou-a. Precipitaram-se os restantes elementos da equipa sobre as vedetas «P6» e «Komar» e pelas escotilhas das cobertas e das casas dos motores começaram a atirar para o seu interior granadas de mão, que mataram todos quantos estavam a bordo e deram origem a vários incêndios. Só então uma metralhadora, instalada no telhado de um armazém sobranceiro à doca, abriu fogo sobre os fuzileiros. Mas estes, a coberto da escuridão, escaparam-se para os botes, sofrendo apenas alguns ferimentos ligeiros, e iniciaram o regresso à Orion, deixando as sete vedetas em chamas. Poucos minutos decorridos estas explodiam, elevando-se do local onde se encontravam duas enormes bolas de fogo! Um golpe de mão clássico magistralmente executado, a que correspondeu um sucesso a cem por cento.
À uma e quarenta largaram da Dragão e da Cassiopeia dez botes de borracha transportando a equipa ZULU, encarregada de se apoderar de um complexo militar situado a cerca de 7 quilômetros a NE de Conakry. No caminho alguns dos botes embaraçaram-se em armações de pesca, pelo que só às duas e quinze chegaram a terra. Dividiu-se então a equipa em três grupos. O primeiro dirigiu-se para a prisão La Montaigne, onde se encontravam detidos 26 militares portugueses, que foram libertados depois de um curto mas violento combate com a respectiva guarda. Pode imaginar-se a alegria desses militares que, mergulhados havia meses e anos nas trevas do cativeiro, viam abrir-se de repente, como que por encanto, as portas da liberdade! O segundo grupo atacou as instalações do PAIGC, destruindo cinco edifícios e várias viaturas, e abateu diversos militantes que lá se encontravam. O terceiro grupo tomou à sua conta o campo das milícias e a Vila Silly, residência alternativa de Sekou Touré que se encontrava fortemente guardada. Ambos foram ocupados após violentos combates, em que os defensores sofreram pesadas baixas.
Da LDG Montante partiram as equipas ÓSCAR, ÍNDIA e MIKE. A primeira, utilizando botes de borracha, abicou ao quartel da Guarda Republicana, que, após um duro combate, conseguiu tornar, libertando cerca de 400 presos políticos que lá se encontravam, muitos dos quais pegaram imediatamente em armas.

CONAKRY - 1970


Para desembarcar com maior rapidez as outras duas equipas, o comandante da Montante resolveu atracar directamente ao cais do Yacht Club, o que conseguiu com uma excelente manobra. A equipa ÍNDIA encaminhou-se para a central eléctrica, que ocupou depois de ter neutralizado a respectiva guarda. Seguidamente cortou a luz para a cidade a fim de mergulhar esta na escuridão e aumentar a confusão e a desorientação entre as forças de Sekou Touré. Eram então duas e quinze.
A equipa MIKE tomou o caminho do campo militar de Samory, que ocupou sem resistência. Porém, pouco depois teve de travar combate com uma coluna motorizada que acorreu ao local, mas que acabou por ser destroçada.
Desta forma, pelas quatro da manhã, todos os objectivos que haviam sido atribuídos às equipas que desembarcaram do lado norte de Conakry tinham sido alcançados, à custa de baixas ligeiras da nossa parte e pesadas baixas da parte do adversário. Do lado sul, por razões fortuitas, as coisas não correram tão bem.
À uma haviam largado da Bombarda dois botes de borracha com a equipa HOTEL encarregada de se apoderar da emissora de radiodifusão. Porém, após o desembarque, o seu comandante, um alferes natural da Guiné Portuguesa, desorientou-se e ficou pregado no terreno sem saber o que fazer. Entretanto, em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as equipas ALFA, BRAVO, CHARLIE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF, que ocuparam sem dificuldade de maior diversos objectivos estratégicos no interior da cidade. Apenas no quartel da Gendarmerie foi encontrada forte resistência, que acabou por ser dominada. No âmbito destas acções foi destruída uma coluna de blindados que se preparava para sair de um quartel. No palácio presidencial, tal como havia acontecido na Vila Silly, não foi encontrado Sekou Touré, que por mero acaso se tinha deslocado nessa noite para o interior do país. Pelas ruas grupos de populares vitoriavam as nossas tropas e as tropas da FLNG.
Da LFG Hidra largou, pela meia-noite e um quarto, a equipa SIERRA, que tinha por missão ocupar o aeroporto de Conakry e destruir os aviões de caça «Mig», de fabrico soviético, que se supunha lá estarem e cuja neutralização era outro dos factores considerados essenciais para que a operação pudesse ser coroada de êxito. O desembarque teve lugar pela uma e meia, conforme previsto, dirigindo-se a equipa de imediato, em marcha acelerada, para o aeroporto, que se encontrava a cerca de um quilómetro e meio do ponto onde os botes abicaram. Inesperadamente, durante o trajecto, um tenente natural da nossa Guiné, que fazia parte da equipa, desertou, levando consigo vinte homens! (Constou mais tarde em Bissau que o referido tenente havia sido mandado executar por Sekou Touré, não se sabendo sob que pretexto.) Apesar de ter ficado com a sua força consideravelmente reduzida, o comandante da equipa SIERRA, capitão paraquedista Lopes Morais, continuou em frente e ocupou o aeroporto sem encontrar resistência. Só que os «Migs», o seu objectivo principal, não se encontravam lá. Por razões fortuitas haviam sido transferidos alguns dias antes para outro aeródromo no interior do país.
A intenção do comandante Calvão era continuar em Conakry até que a FLNG estivesse firmemente instalada no governo. Mas para tal era indispensável que o domínio do ar não estivesse nas mãos do adversário. Por isso, ao ter conhecimento de que os «Migs» não tinham sido destruídos e que, consequentemente, poderiam atacar os nossos navios ao romper do dia, decidiu dar por finda a operação e ordenou o reembarque. Para esta sua decisão contribuiu também o facto de ter constatado que a implatação da FLNG em Conakry, tanto política como militar, era bastante inferior à que os seus dirigentes propalavam.
A recolha das equipas que estavam em terra teve início cerca das quatro e quarenta e ficou concluída cerca das nove, portanto já com dia claro, processando-se na generalidade sem qualquer incidente digno de menção. Somente pelas sete e quarenta foram feitos de terra quatro tiros de morteiro sobre a Montante que não a atingiram. A pronta intervenção da Dragão, que fez alguns tiros para o local donde tinham partido as morteiradas, resolveu o assunto.
No que toca aos elementos da FLNG que haviam tomado parte na operação, foram recolhidos todos aqueles que o desejaram. Uns tantos, que tinham tomado parte no assalto ao complexo militar, preferiram continuar em terra, junto aos prisioneiros que haviam libertado, e continuaram a resistir durante vários dias ao contra-ataque lançado pelas tropas cubanas e fiéis a Sekou Touré vindas do interior.
O tão temido ataque aéreo dos «Migs» não chegou a concretizar-se. Apenas foi avistado um deles voando alto que não fez qualquer menção de querer atacar os nossos navios. Soube-se mais tarde que os pilotos guineenses ainda se encontravam em fase de treino e não eram capazes de utilizar os aviões em acções de combate. Daí que o regresso da nossa força naval à ilha Soga, onde chegou às dezasseis e vinte cinco do dia seguinte, tenha decorrido sem qualquer incidente.
Sob o ponto de vista puramente militar, isto é, de organização, logística, estratégia operacional, táctica e técnica, a operação «Mar Verde» constituiu um sucesso espectacular, atendendo ao rigor com que foi planeada e executada, aos reduzidíssimos meios que utilizou, ao pequeno número de baixas sofridas pelas nossas tropas (apenas 3 mortos e 3 feridos graves) quando comparadas com as sofridas pelo adversário (cerca de 500 mortos) e, sobretudo, pelo facto de ter levado à destruição de todas as vedetas-torpedeiras e à libertação de todos os prisioneiros portugueses que estavam em Conakry.
Sob o ponto de vista da grande estratégia (parte da política nacional relacionada com a guerra), não pode deixar de ser considerada um fracasso, uma vez que um dos seus objectivos principais, a substituição do governo de Sekou Touré por um governo da FLNG, não foi conseguida. No entanto, quanto a nós esse fracasso poderá ter sido providencial. Se os «Migs» tivessem sido destruídos é muito provável que Alpoim Calvão se tivesse deixado ficar em Conakry até que ali fosse instalado um governo da FLNG e que este solicitasse o concurso, ainda que disfarçado, das tropas e da aviação portuguesa da Guiné para assegurar o controlo do resto do território, o que poderia ter arrastado Portugal para uma guerra aberta do tipo tradicional com a Guiné-Conakry. Nesse caso seria de esperar que a URSS fornecesse a esta grandes quantidades de material de guerra e fizesse convergir para lá efectivos consideráveis de tropas cubanas. O mais certo é que acabássemos por sofrer uma derrota humilhante que não poderia deixar de afectar negativamente o moral da população metropolitana e das tropas que estavam a combater em Angola e em Moçambique.
Tal como as coisas se passaram, o Governo Português pôde assumir a posição de que era inteiramente alheio ao acontecimento, as reacções, tanto da ONU como da URSS, foram menos violentas do que seria de esperar e o assunto, ao fim de poucos meses, caiu no esquecimento!
Não obstante, pensamos, e como nós muitos oficiais das Forças Armadas, que a posição assumida por Marcelo Caetano não terá sido a mais digna nem a mais correcta. A nosso ver teria sido preferível que o Governo Português tivesse assumido publicamente a paternidade da operação, afirmando que os seus objectivos tinham sido unicamente a destruição das vedetas-torpedeiras do PAIGC (que nos estava atacando a Guiné) e a libertação dos militares portugueses detidos em Conakry (contrariamente ao estipulado pelo Direito Internacional); que quanto à tentativa de golpe de Estado levada a cabo pelas forças da FLNG se tratara apenas do aproveitamento de uma oportunidade da exclusiva responsabilidade desta. Dado o êxito militar que a operação constituiu, a sua divulgação teria tido certamente um efeito psicológico francamente positivo, tanto em relação à população da Metrópole como em relação às tropas que estavam a combater nas outras províncias ultramarinas. Afinal tudo isso se perdeu devido à falta de estatura política de Marcelo Caetano.
Para impedir que os Portugueses pudessem realizar novo ataque a Conakry Sekou Touré pediu a protecção naval da URSS, que enviou para lá duas fragatas com guarnições russas.
Será oportuno chamar a atenção do leitor para o facto de que o ataque a Conakry de 22 de Novembro de 1970 foi a única operação realizada pela nossa armada desde a batalha do cabo de São Vicente (1833) com implicações de ordem estratégica, isto é, com possibilidade de alterar o curso da guerra. Foi também a última acção naval em que os Portugueses tiraram partido do domínio do mar para tentar ganhar uma guerra.
Como é evidente, a grande figura do ataque a Conakry foi o comandante Alpoim Calvão, um dos mais notáveis marinheiros militares portugueses dos últimos séculos, cujas acções na Guiné nos fazem vir à lembrança aqueles rudes e indómitos cavaleiros de outros tempos, sempre prontos para lutar em terra ou no mar, sem olhar a dificuldades nem à escassez de meios, e que foram os principais obreiros do Império, império que, como todos os impérios, tinha necessariamente de acabar um dia, mas que bem podia e devia ter tido um fim menos triste.


Saturnino Monteiro                
em «Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa» (Vol.VIII)

Bibliografia:
Calvão, Alpoim, De Conakry ao M.D.L.P., Editorial Intervenção, Lisboa, 1976, p. 64
Conversas do autor com os Comandantes Alpoim Calvão, Rebordão de Brito, Lago Domingues e outros


http://www.edinfor.pt/anc/anchistoria-comb-1970a.html
 

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Yosy

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« Responder #1 em: Novembro 01, 2005, 03:28:26 pm »
O alargamento de objectivos para coup d'etat na Guiné-Conacri deve ter sido das coisas mais parvas que se fez em toda a Guerra Colonial. Em que planeta é que Spínola e os outros estavam na altura para pensarem que uma Baía dos Porcos tuga planeada em cima do joelho podia ser bem-sucedida? E esperar que um governo soberano não-branco de uma nação africana continuasse a apoiar Portugal é de doidos.

Se se mantivesse os objectivos iniciais (destruição dos vasos de guerra, libertação dos prisioneiros portugueses e destruição das bases do PAIGC) a operação teria sido um completo sucesso, ao melhor estilo "Cães da Guerra" e "Gansos Selvagens". Sendo como foi, tornou-se um fracasso, apesar da parte militar descrita acima ter sido muito bem-sucedida.
 

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papatango

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« Responder #2 em: Novembro 07, 2005, 08:17:13 pm »
O objectivo inicial da operação era libertar os portugueses (que estavam prisioneiros na Rep. da Guiné).
Esse objectivo foi atingido.

O seguinte objectivo era destruir as lanchas com capacidade para lançar misseis, e esse objectivo também foi atingido.

Os MIG-21 não estavam em Konacri, e por isso não foram destruidos.

A possibilidade de um golpe, não era assim tão absurda. Aliás, muitos dos golpes-de-mão em países africanos foram feitos exactamente dessa maneira.

O regime que se colocaria no poder, seria um regime negro, removendo Sekou Touré e implantando um outro qualquer.

Spínola terá perguntado a Caetano, o que fazer com a questão dos rebeldes da Guiné e Caetano limitou-se a responder que se houvesse possibilidade, então que se aproveitasse a possibilidade.

Quando se concluiu que os MIG não estavam em Konacri, e que não poderia haver cobertura aérea, essa parte da operação deixou de ser considerada.

A operação foi tudo menos planeada em cima do joelho. Levou meses a planear, e as tropas rebeldes foram treinadas algures no arquipelago das Bijagós.

= = =

Não me parece correcto dizer que a operação foi um fracasso, porque os seus objectivos principais foram atingidos (excepto a questão dos MIG-21). Naquele tempo, havia alguns países africanos que atacavam Portugal nas Nações Unidas, mas por debaixo da mesa pediam auxilio a Portugal. Foi por exemplo o caso da Zambia, para já não falar do Malawi.

Alguns historiadores, interessados em branquear o cataclismo criminoso que foi a rendição portuguesa aos movimentos terroristas (também conhecida por descolonização exemplar), tentam criar a ideia de que os portugueses eram uma espécie de "Bette Noir" em África.

A realidade no entanto, anda bastante longe.

= = = =

Uma outra curiosidade:
Há dias, num fórum espanhol, lembrei-me da questão dos pilotos dos MIG-21. Segundo algumas fontes, os pilotos dos MIG, e os pilotos dos principais aviões da Força Aérea da Guiné Konacri seriam de origem nigeriana, enviados depois da posição portuguesa favorável ao Biafra e contrária ao governo nigeriano, que tería enfurecido especialmente os lideres da Nigéria contra Portugal. Creio que foi muito mais tonto o apoio aos rebeldes do Biafra que a acção "Mar Verde".

Mas claro, o apoio da França (principal apoiante dos rebeldes) também era importante para Portugal.

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dremanu

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« Responder #3 em: Novembro 09, 2005, 12:13:45 am »
A operação foi um fracasso!? LOL...Tendo em conta os resultados obtidos o que é que pode ser considerado um operação com sucesso? Quanto muito foi uma operação que foi um fracasso a nível estratégico, e um sucesso a nível táctico.

De resto, belo exemplo de como os Portuguêses quando precisam sabem(ou sabiam) agir com determinação em momentos de guerra na defesa dos nossos interesses.

Viva Portugal!
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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Yosy

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« Responder #4 em: Novembro 09, 2005, 07:40:55 pm »
A operação foi um sucesso do ponto de vista táctico-militar sem duvida, mas um fracasso porque não conseguiu cumprir o seu mais importante objectivo.
 

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pedro

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« Responder #5 em: Novembro 09, 2005, 08:29:28 pm »
bem aqui esta a verdadeira armada portuguesa. :D
 

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papatango

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« Responder #6 em: Novembro 12, 2005, 12:41:43 am »
Yosy:

O principal objectivo era libertar os prisioneiros.

No entanto, a minha opinião foi formada não pelo texto acima, mas por uma reportagem da RTP, em que se chegaram a entrevistar militares da Guiné Konakri, os quais até reconheceram que o objectivo dos portugueses era legítimo, porque apenas íam libertar os seus prisioneiros.

Foram também entrevistados alguns dos militares presos em Konakri, que descreveram o momento, pensando eles que estavam esquecidos e que íam ficar ali ad eternum.

Você poderia dizer que, foi um sucesso do ponto de vista táctico, mas em termos estratégicos foi uma derrota, se consideramos que existia um objectivo secundário que consistia no derrube da ditadura de Sekou Touré.

Aliás, posteriormente, acabámos por deixar de ter o controlo absoluto do mar, por causa dos barcos que os russos mandaram para a Guiné.

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Rui Elias

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« Responder #7 em: Fevereiro 09, 2006, 10:58:38 am »
Independentemente das considerações que se possam fazer sobre a guerra colonial que Portugal desenvolveu em África, esta operação teve como objectivo primordial a libertação dos prisioneiros portugueses e a neutralização da força naval que o PAIGC detinha.

E iso foi conseguido.

Relativamente legítimo, e daí os fracos protestos internacionais havidos.

Mais grave seria a agressão a um país soberano, e por isso os cuidados havidos para que oficialmente Portugal não aparecesse, antes se entregando a missão da deposição do regime de Sekou Touré aos oposicionistas, que aliás pareciam não ter grandes apioos locais.

Se Portugal quisesse aparacer mais a sério, poderia ter apoiado essa missão com uma fragata a proteger as lanchas, e até com o recurso à aviação.

Mas isso seria uma declaração de guerra portuguesa à Guiné-Conakry.

Os mentores desse golpe de mão, e o poder politico de Lisboa parece que sabiam o que estavam a fazer.

E fizeram-no bem.

O problema radica no facto de independentemente do poder militar português, a guerra politicamente estava perdida.
 

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Yosy

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« Responder #8 em: Fevereiro 09, 2006, 03:07:47 pm »
Não é bem assim:

Do livro "Guerra Colonial"

O objectivo principal era "a execução de um golpe de Estado na Guiné-Conacri, sendo os objectivos secundários a captura do líder do PAIGC, Amílcar Cabral e a libertação dos militares portugueses prisioneiros que se encontravam em Conacri."

Existiam também graves deficiencias nas informações "assumidas pelo inspector Matos Rodrigues da DGS, que apoiou a acção. Os mapas foram  obtidos a partir de folhetos turísticos desactualizados, o porto de Conacri observado através de uma acção de reconhecimento efectuada à distância por um navio português. Em Conacri não existia qualquer informador da DGS que actualizasse elementos e permistisse cruzar informações. Apesar destas graves deficiências e de não haver uma situação militar tão crítica no terreno que justificasse correr os riscos dela decorrentes, a operação foi desencadeada."

"Hoje persistem interrogações sobre o futuro do general Spínola e sobre o destino do próprio Marcelo Caetano, caso os objectivos tivessem sido alcançados. O primeiro seria inevitavelmente apresentado como o principal responsável por uma aventura deste tipo, que lhe retiraria credibilidade como dirigente político em qualquer solução alternativa para o regime português. O segundo não deixaria de ter de suportar os custos políticos, internos e externos, em especial quanto à credibilidade da sua anunciada política de abertura, que ainda mantinha alguns apoios.
As razões que levaram estes dois homens a patrocinar uma operação que envolvia tais riscos continuam, hoje, difíceis de entender".
 

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Yosy

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« Responder #9 em: Março 31, 2006, 06:50:28 pm »
Saíu um livro muito recente chamado "Operação Mar Verde" de António Luís Marinho. Vi à venda e parece excelente: muitos documentos e fotografias. Alguém conhece?
 

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Rui Elias

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« Responder #10 em: Abril 05, 2006, 09:41:07 am »
Já o vi recentemente à venda.

Mas a minha LPM não mo permitiu comprar nesta altura   :oops:

Acho que o custo ronda os 22 €
 

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Yosy

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« Responder #11 em: Abril 05, 2006, 08:01:44 pm »
Citação de: "Rui Elias"
Já o vi recentemente à venda.

Mas a minha LPM não mo permitiu comprar nesta altura   :wink:
 

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Duarte

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Operação Mar Verde
« Responder #12 em: Novembro 18, 2009, 04:21:02 am »
http://www.youtube.com/watch?v=sBJ8LNFc4QA

Acho que não há dúvidas de que Sekou Touré foi avisado de uma possível operação deste tipo. O facto de se encontrar ausente da capital, e os Mig estarem deslocados para outra base são prova suficiente. Acho que tal facto se deve a um pormenor importante. O armamento utilizado na operação, todo de fabrico Soviético, 250 AK-47, 12 RPG7 e dois morteiros de 82mm, foi comprado na Bulgária, e pago pela DGS  :shock:
Não havia armas capturadas suficientes? Acho que isto foi um descuido enorme no planeamento da operação, e causa do não cumprimento de alguns dos seus objectivos mais importantes.
слава Україна!

“Putin’s failing Ukraine invasion proves Russia is no superpower"

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papatango

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Re: Operação MAR VERDE
« Responder #13 em: Novembro 19, 2009, 09:35:15 pm »
Eu não sei se existiriam armas capturadas em numero suficiente, mas de qualquer forma, apenas na Guiné provavelmente não existiam.

Se você tivesse várias armas capturadas por exemplo em Moçambique e em Angola e começasse a transportar as armas de um lado para o outro, isso de imediato levantaria suspeitas. Os movimentos «subversivos«, tinham olhos em todo o lado, e em Portugal recebiam o apoio directo dos operacionais do Partido Comunista, pelo que a melhor solução passaria sempre por comprar as armas aos bulgaros.

Nestes casos, os cuidados são sempre muitos e não acredito que a PIDE/DGS fosse imbecil ao ponto de enviar gente à Bulgária a dizer que Portugal queria comprar armas.
Dito isto, não creio que a compra de armas russas aos bulgaros fosse a razão que ditou a fuga do ditador Sekou Touré e a remoção dos MiG.

Há outros potênciais pontos de fuga de informação:
É impossível manter uma operação com aquela envergadura completamente secreta. Mesmo que não haja indícios directos, há indícios resultado da análise das circunstâncias.
A PIDE estava infiltrada por gente do Partido Comunista, pelo que não é absolutamente nada de extraordinário que tenha vindo da própria PIDE a informação que permitiu a fuga do ditador guineense.

Por outro lado, os soviéticos, tendo tido informação sobre o que se ía passar, não íam deixar de aproveitar a oportunidade. Seria possível resistir se eles quisessem, mas se não resistiram, mas estavam avisados, então a conclusão é que pretendiam que Portugal atacasse, para depois acusarem Portugal de agressão e pedirem auxilio directo a União Soviética.

Como sabemos, depois da operação Mar Verde, os russos enviaram uma fragata para Conakry.

Estava criado o precedente de que eles tinham necessidade.
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LM

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Re: Operação MAR VERDE
« Responder #14 em: Abril 16, 2023, 11:11:09 pm »
https://twitter.com/EE_EspadaEscudo/status/1647690785762992130?t=fUWaCwiVzQWbozFngX_0_A&s=19

FORÇAS ESPECIAIS PORTUGUESAS EM ASSALTO ANFÍBIO SOBRE CONAKRY
Guiné-Conakry
22 de Novembro de 1970
Quidquid latine dictum sit, altum videtur
 
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