É engraçada a irritação dos russofilos com a questão da ofensiva...
Que a coisa mais lógica que os ucranianos poderão fazer, é evidentemente criar condições para um ataque a sul, que consiga cortar os russos em dois e assim complicar extraordinariamente a defesa da Crimeia, é uma especie de segredo de Polichinelo...
O problema, é que os ucranianos têm menos pessoal que os russos e não podem desperdiçar 100.000 homens, sem mais nem menos.
Um dos problemas que se começa a levantar, é um dos problemas das democracias perante as ditaduras, e especialmente perante uma ditadura fascista, assassina e obscena como a de Putin.
Em 2024 haverá eleições na Ucrânia. O Zelensky tem esse problema adicional. E à medida que o tempo passa o problema torna-se mais real e tanto mais quanto uma ofensiva falhada ou com pouco sucesso se poderá refletir numa derrota eleitoral.
A imprensa dos países ocidentais, nomeadamente a americana, vive destas coisas e está a ser um problema, porque exige acção, quando não há ainda condições para isso.
Os ucranianos ainda agora aprenderam a andar com os tanques Leopard, e eles não são solução milagrosa para coisa nenhuma.
Uma ofensiva é uma questão extraordinariamente complicada.
Os ucranianos têm capacidade para perfurar a frente russa entre 30 a 50km, o problema é a profundidade do ataque e o facto de que podem não possuir forças suficientes para ocupar os flancos.
Quando se pretende cortar o inimigo em dois, por cada quilometro que se avança, criam-se dois quilómetros de flanco, um de cada lado.
Os ucranianos para avançarem na direção de Melitopol, precisam avançar cerca de 80km, o que implica ter uma frente de 30km, mais duas frentes de 80km cada uma. São virtualmente mais duzentos quilómetros de frente.
Para esta ofensiva, os ucranianos poderão por isso precisar de ainda mais material que o que possuem, considerando que os russos colocaram fortes efetivos naquelas áreas.
Não só colocaram fortes efetivos naquelas áreas, como desguarneceram outros setores da frente.
As recentes incursões na área de Belgorod, são um fator de preocupação para os ucranianos.
O principal problema detetado com as incursões das milícias russas apoiadas pela Ucrânia, foi que não havia nada para defender a fronteira russa. Literalmente NADA.
Isto constitui um mau sinal, porque implica que os russos estão tão seguros da direção do ataque ucraniano, que optaram por esvaziar tudo de áreas não vitais, e colocar tropas em massa na frente sul.
Os ataques contra Belgorod e a facilidade com que pequenas forças atingiram uma cidade fronteiriça russa, que mesmo assim está a 40km da fronteira, é uma indicação preciosa para os ucranianos.
É quase como fazer a quadratura do circulo.
As fugas de informação recentes, poderão de alguma forma ter influenciado as decisões. A verdade é que não sabemos o que se passa e isso ao mesmo tempo é bom, porque também é um fator a influenciar as opções dos russos.