Não sabia em que tópico colocar.
Trata-se de comentários acerca do ensino dos Lusíadas, abordado no âmbito das comemorações do 10 de junho. Uma troca de comentários entre "Muja" e "JF" que considero interessantes.
Pessoalmente identifico-me com a visão do Muja (infelizmente ou não).
Retirado daqui:
https://portadaloja.blogspot.com/2023/06/os-lusiadas-de-camoes.html#disqus_threadmuja
Quem é que dá alguma importância aos Lusíadas, deixando Camões para o folclore das personagens célebres, cuja vida nem sequer se conhece bem?
É uma pergunta.Outra pergunta é: e para quê?
Conhecer os Lusíadas para se indignarem muito com as afrontas dos sem-patriotas mas depois dizerem que o Salazar errou porque não "negociou" o que os Lusíadas deixaram?
Se é para isso, mais vale passar ao olvido juntamente com os que eram dignos do poema.
É como certas ruínas romanas que se desenterraram e agora são deixadas expostas aos elementos, degradando-se sem a protecção que a terra e o esquecimento lhes davam. Mais valia continuarem enterradas.
J. F.
E negociou a Índia? Macau, sim…onde se escreveu Os Lusíadas…e os lusitanos são os heróis da gesta. Desde os tempos de um Sertório, aliás um traidor até D Manuel I. Depois disso passou muita água debaixo das pontes. Até fomos espanhóis…e conseguimos recuperar a independência.
muja
Quanto à Índia remeto-o para os artigos que o Brandão Ferreira tem escrito nestes dias. Nada poderia acrescentar.
De resto, escreve isso como se Portugal fosse mais dependente no tempo dos Filipes do que agora é, formalmente ou na prática. Não era.
E já passou muita água debaixo da ponte, como diz. Entretanto, já não há nem reis, nem reino, nem ponte, a bem dizer. Há uma espécie de faz de conta que somos de alguma forma a mesma gente que essa gente era, e não apenas uma gente que calhou de nascer no mesmo sítio. Já acreditei mais nisso.
E nem vejo bem onde está a dependência dos Filipes pior ou mais humilhante que a das Ursulas e dos Verhofstadts.
J. F.
Escrevo para dizer que entre nós alguns traidores houve algumas vezes, citando Camões. De resto o estudo dos Lusíadas tem importância para se perceber quem fomos para sabermos como queremos ser e ao mesmo tempo nos cultivarmos escolarmente.
muja
Pois, para cultivo e erudição está bem. Quem se queira dedicar ao estudo da língua portuguesa e assim. Arqueologia, no fundo.
Nisso do fomos é que já discordo. Fomos nascidos no mesmo sítio, uns e outros. Para mais do que isso já me parece complicado de empregar a 1.ª pessoa do plural. É cada vez mais como se andássemos aqui a dizer que somos visigodos, suevos ou romanos.
J. F.
E na verdade "somos visigodos, suevos ou romanos." Como somos judeus e árabes. E outras raças ainda. Somos uma mistura.
Para saber tais coisas os Lusíadas também contam, porque compendiam o saber da época, mormente os cronistas que já tinham escrito sobre o que fizemos como povo.
Portanto, "fomos", está certo na media em que somos um povo uniformizado em cultura e raça desde há muitos séculos. Somos uma nação, praticamente desde o séc. XII, com o interregno de 60 anos em que fomos castelhanos também, embora sem o sermos.
Quase ninguém na Europa pode dizer o mesmo.
muja
Somos uma mistura? A seguir ainda vai dizer que somos pessoas…
Quem é que não é “uma mistura”?
Isso do somos uma nação também é discutível.
Conservamos o nome de uma nação e algumas ruínas por aí, em melhor ou pior estado. Falamos uma coisa cada vez menos parecida à língua deles, sem que se possa já dizer que a conservemos. A religião idem. E por aí fora da mesma maneira.
Síndrome do impostor? Só se não for verdade…
J. F.
"Quem é que não é “uma mistura”?"
os arianos...e o povo escolhido. E há outros, no extremo-oriente. E na África também e nas Américas. Em todo o lado há quem não seja produto de mistura racial. Nós somos.
Quanto à nação e ruínas temos quase 900 anos de história. Não é para já que desapareceremos, como alvitrava alguém por termos perdido o Ultramar que só tivemos praticamente há menos de 150 anos.
Por falar nisso, um dos melhores poemas de Camões foi dedicado a uma indiana ou...chinesa que o mesmo trazia para cá, quando naufragou e ela morreu.
Alma minha gentil que te partiste...
muja
Pelo seu paleio, acho que já desaparecemos.
J. F.
No tempo dos Filipes perdemos a nossa armada por força do uso a favor dos interesses espanhóis e nós tínhamos uma Aliança com os ingleses que agora faz 650 anos. Só isso responde ao assunto da dependência.
muja
Oh se responde!
Pois, é verdade que hoje não teríamos o mesmo problema já que nem Armada temos.
Falta-me golpe de vista, claramente.
J. F.
Éramos aliados de Inglaterra, como ainda somos e fomos durante o episódio novecentista do "mapa-cor-de-rosa". E no entanto, a nossa dependência de Espanha levou-nos a perder a armada toda metendo-nos numa guerra alheia com a dita Inglaterra. Tal como em Verdun, no início do sec. XX em que perdemos muitos militares e em que nos metemos numa guerra que não era nossa e os republicanos jacobinos e maçónicos fizeram questão que fosse.
Em 1939 não tomamos parte, porque Salazar evitou. Porém, se a Alemanha vencesse ficaríamos irremediavelmente sem o Ultramar. E não haveria Lusíadas que nos valesse.
E no episódio do "mapa-cor-de-rosa" metemos o rabo entre as penas e recuamos para as fronteiras que não afrontassem os nossos aliados ingleses.
muja
Para si, a única coisa no mundo invitável era perder o Ultramar…
muja
Se virámos as costas à epopeia propriamente dita logicamente o poema que a celebra não pode ter sentido nenhum. Isto é evidente.
Ninguém adora o retrato de uma pessoa que rejeitou ou renegou, a não ser que se arrependa de tal ter feito.
Mas é sempre possível racionalizar que a fotografia está bem tirada e que tem valor artístico. Por mim então mais vale metê-la num museu.
(...)