Ministro espanhol critica concessões a Gibraltar
Depois de seis semanas de conflito entre Espanha e Reino Unido, a discórdia dos dois países em relação a Gibraltar continua. O ministro dos Negócios Estrageiros espanhol, José Manuel García Margallo, foi hoje ao Parlamento explicar a situação e garantiu que Gibraltar "é, foi e será uma prioridade nacional", mas classifica o conflito com os britânicos como um "incêndio".
O atual ministro dos Negócios Estrangeiros criticou duramente o seu antecessor no cargo, o socialista Miguel Ángel Moratinos, por ter criado em 2004 o fórum tripartido, um mecanismo que previa conversações constantes entre Gilbraltar, Reino Unido e Espanha sobre tudo o que dizia respeito ao 'Rochedo'. O fórum foi interrompido, no ano passado, pelo Governo de Mariano Rajoy, mas Margallo classificou-o de "erro infinito".
"Estou convencido que Miguel Ángel Moratinos criou o fórum com boas intenções, mas equivocou-se", explicou, citado pelo jornal espanhol El País. "Pôs-se Gibraltar em igualdade e não se conseguiu conquistar o carinho do povo local", acrescentou Margallo, criticando os socialistas pelas concessões que fizeram e por tratarem o "inquilino" - Gibraltar, entenda-se - "como se fosse um proprietário".
José Margallo citou o historiador espanhol Nicolás Sánchez Albornoz para garantir que Gibraltar não é indiferente para Espanha, situação que já se arrasta desde 1703, quando os britânicos entraram no 'Rochedo'. "Não pode haver um espanhol digno de tal nome capaz de escrever sem corar que Gibraltar não é espanhol", afirmou.
Gibraltar é um território ultramarino inglês, mas com Governo autónomo, na ponta sul da Península Ibérica, fazendo, por isso, fronteira com Espanha. A 'paz' entre os diferentes intervenientes foi quebrada há seis semanas, quando o Governo da colónia britânica lançou 70 blocos de cimento nas zonas de aterros à volta de Gibraltar, o que, além de aumentar a área do "Rochedo", prejudicou a faina aos pescadores espanhóis da zona.
Indignados, os espanhóis responderam com o aperto do controlo fronteiriço entre Espanha e Gibraltar, criando o caos no 'Rochedo', com filas de quilómetros devido às verificações demoradas das autoridades. O Governo britânico de David Cameron pediu a intervenção da Comissão Europeia - que entretanto já prometeu o envio de uma equipa de observadores -, mas os espanhóis justificaram a legalidade do controlo com o facto de Gibraltar não pertencer ao espaço Schengen e se ter verificado recentemente um aumento de contrabando de tabaco na zona, algo que o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol voltou a referir no Parlamento.
Só no ano passado, Gibraltar, que tem 29 mil habitantes, importou mais de 140 milhões de embalagens de tabaco, provocando queixas espanholas da "falta de colaboração" dos 'vizinhos' no controlo do contrabando. "A economia de Gibraltar é a quarta mundial em termos de rendimento per capita. Em 2012 cresceu a um ritmo de 7,8%. É surpreendente que um país periférico e sem recursos naturais alcance esses números", ironizou, acrescentando que a economia do 'Rochedo' "floresce" por "causas não conhecidas".
"A felicidade dos outros é bem-vinda, mas não tão bem-vinda se chega à nossa custa", concluiu.
Expresso