A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1710 em: Maio 28, 2021, 09:52:56 am »
Lá para 2030 os dois primeiros NPO deverão ser oferecidos a CV e porventura a STP.

Abraços
Quando um Povo/Governo não Respeita as Suas FFAA, Não Respeita a Sua História nem se Respeita a Si Próprio  !!
 

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Charlie Jaguar

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1711 em: Maio 28, 2021, 10:05:37 am »
Começam a levantar-se vozes contra a "deriva" marítima da GNR em detrimento da Marinha

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Adriano Moreira e ex-Chefes da Armada alertam contra a "deriva" marítima da GNR

Valentina Marcelino
28 Maio 2021 — 00:13

Adriano Moreira, Viriato Soromenho Marques e o histórico da banca Artur Santos Silva, assinam com sete Almirantes uma carta aberta contra a "duplicação de capacidades" causada pela intrusão da GNR em alto mar e criticam a política do ministério da Administração Interna

Sete ex-Chefes de Estado-Maior da Armada (CEMA) , Almirantes Melo Gomes, Macieira Fragoso, Saldanha Lopes, Cruz Vilaça, Ribeiro Pacheco, Mendes Cabeçadas e Fuzeta da Ponte - os dois últimos igualmente antigos Chefes de Estado-Maior-General das Forças Armadas - subscrevem uma carta, a que o DN teve acesso, que tem à cabeça a assinatura do político e académico Adriano Moreira, a alertar contra a "deriva" marítima da GNR, da responsabilidade do ministério da Administração Interna (MAI). O texto, que conta também com a assinatura do histórico da Banca Artur Santos Silva e do professor universitário Viriato Soromenho Marques, membro da Academia da Marinha, salienta que apesar de a legislação assegurar o duplo-uso da ação no mar deste Ramo das Forças Armadas, quer na defesa da área marítima, quer no apoio às forças e serviços de segurança, com destaque para a Polícia Judiciária, "este modelo de atuação, que tem séculos de inestimáveis serviços prestados a Portugal, tem vindo a ser posto em causa" pelo MAI.

A "deriva", é assinalado, "foi patente" primeiro com a criação da Unidade de Controlo Costeiro da GNR, "importando diretamente modelos de Espanha (Guardia Civil) e de Itália (Guardia Costiera e Guardia e Finanza) (...) "desajustados à nossa realidade"; agravando-se com a "edificação" do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo (SIVICC), do qual, afirmam os signatários, a Marinha foi totalmente afastada, sem que exista sequer troca de informação entre o Ramo e a GNR. Mas a gota de água para esta carta pública avançar foi a recente aquisição pela GNR da megalancha Bojador, maior que as da Marinha. Segundo a GNR, comandada pelo General do Exército Rui Clero, a Bojador será utilizada "em missões de vigilância, patrulhamento e interceção terrestre ou marítima em toda a costa e mar territorial do continente e das regiões autónomas".

Conforme o DN noticiou, apesar de a decisão ter sido tomada em 2018 pelo governo, só no ano passado foi conhecida publicamente. A Marinha ficou "em estado de sítio" com a compra da embarcação por 8 485 770 milhões de euros (75% financiada com fundos europeus). Vários Oficiais-Generais, entre os quais alguns dos signatários desta carta, como o ex-CEMA Melo Gomes, vieram advertir para a duplicação de meios e para o custo no erário público da falta de racionalização. O próprio ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, apoiou publicamente o duplo-uso. Já o ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita, que prometeu para janeiro último uma resposta a justificar aquela compra, não o chegou a fazer.

"Foi sem surpresa, mas com indignação, que numa situação de gravíssima crise social, económica e financeira em que a Marinha tem vindo a sofrer, em paralelo com a sociedade, reduções nunca vistas nos recursos financeiros, humanos e materiais disponibilizados, a UCC alarga o seu modelo de atuação ao alto mar, contratando em menos de um ano, no estrangeiro, a construção de um navio por mais de oito milhões de euros sem sequer procurar compatibilizar requisitos operacionais com a Marinha", sublinham os Almirantes, Adriano Moreira, Artur Santos Silva e Viriato Soromenho Marques. "É o navio adequado à missão da UCC? Quanto custa a operação e a manutenção ao longo da vida e onde será feita? (...) Não há melhor rentabilidade e eficiência em despender recursos na tão necessária modernização dos meios da Marinha e da Autoridade Marítima Nacional? A própria GNR não terá outras prioridades mais atinentes à sua vocação e imprescindível serviço, em vez de alargar a sua ambição ao domínio do Mar, onde não tem experiência, nem o conhecimento que 700 anos e serviço conferiram à Marinha? Alguém estudou o assunto?", é questionado.

Para os signatários "a principal questão será, contudo, a de saber se quem tem responsabilidades nas opções tomadas ponderou adequadamente as consequências". Isto porque, asseveram, "as Forças Armadas e de Segurança em democracia obedecem e não deliberam e o resultado é que, enquanto a Marinha definha, continuando a aguardar pelos meios que lhe permitam cumprir melhor a sua missão, assiste-se à tomada de decisões de pendor corporativo que não têm em conta o superior interesse nacional". Na carta é assinalado que "o orçamento da Marinha decresceu cerca de 31% nos últimos 10 anos, como uma redução particularmente acentuada nas verbas para as Operações (menos 32%) e para a Manutenção (menos 45%)" e que, perdeu "cerca de 40% dos seus efetivos desde 2001"
.

A Bojador foi inaugurada a sete de maio, com Eduardo Cabrita a valorizar "o reforço da GNR como Guarda Costeira". A evidenciar o mal-estar, nenhum representante da Marinha ou do Comando Naval estiveram presentes. "Movidos pelas certezas de que a Marinha vem há séculos servindo adequadamente e a contento Portugal e os Portugueses e de que o caminho a seguir é o de melhorar as suas capacidades, e de não ignorar o seu património e serviço ímpar, os signatários vêm alertar o poder político, por dever e por convicção, no sentido de se reverter uma situação que, a prolongar-se, terá inevitavelmente graves efeitos negativos e relação ao maior ativo material de que ainda dispomos, o "nosso" Mar", conclui a carta.

LEIA AQUI A CARTA NA ÍNTEGRA: https://www.dn.pt/DNMultimedia/DOCS+PDFS/Scan%20Bojador.pdf


https://www.dn.pt/politica/adriano-moreira-e-ex-chefes-da-armada-alertam-contra-a-deriva-maritima-da-gnr-13776672.html


A mesma notícia, mas no semanário Expresso de hoje

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EXCLUSIVO
POLÍTICA
Almirantes contra Cabrita declaram guerra à marinha “amadora” da GNR

Vitor Matos
27 de Maio de 2021 - 23:50

Adriano Moreira e Artur Santos Silva juntaram-se a todos os antigos chefes da Armada numa carta contra a criação de uma guarda costeira que se sobrepõe à Marinha

Esta é uma nova guerra, onde as cartas são usadas como munições: ontem, foi enviada a terceira carta crítica de ex-chefes militares para o poder político em apenas dois meses, desta vez assinada por todos os sete ex-chefes do Estado-Maior da Armada (CEMA), subscrita à cabeça por Adriano Moreira — catedrático e ex-líder do CDS — e por mais três civis: Artur Santos Silva, ex-presidente do BPI, o académico Viriato Soromenho Marques e o advogado José da Cruz Vilaça. O documento critica a compra da megalancha “Bojador” para a GNR, inaugurada este mês, “sem sequer procurar compatibilizar requisitos com a Marinha”, e a cria­ção de uma guarda costeira que se sobrepõe às missões da Armada. O grupo considera que este investimento de €8 milhões num navio de 35 metros “duplica” o que já existe, para uma entidade “sem vocação”, classificada como “amadora” por “falta de experiência de vida no mar”.

“A GNR não terá outras prioridades mais atinentes à sua vocação e imprescindível serviço, em vez de alargar a sua ambição ao mar, onde não tem experiência nem o conhecimento de 700 anos da Marinha? Alguém estudou o assunto?”, questio­nam os almirantes que lideraram a Armada desde o 25 de Abril. O documento, enviado para o Presidente da República, primeiro-ministro, ministro da Defesa e grupos parlamentares, acusa o Governo de favorecer uma força de segurança em vez dos interesses do país: “Enquanto a Marinha definha, continuando a aguardar pelos meios que lhe permitam cumprir melhor a sua missão, assiste-se à tomada de decisões de pendor corporativo que não têm em conta o superior interesse nacional.”

Em Dezembro, o Expresso noticiava que a GNR seria a "força favorita do Governo" - a propósito da reestruturação do SEF -, mas o ministro Eduardo Cabrita apresentou uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social onde se "reputa como falsa a informação" de que a compra de lanchas para a GNR tivesse um "potencial indício de ingerência nas áreas de competência da Marinha". Os almirantes acham o contrário. Os antigos CEMA identificam uma "deriva" que começou em 2007, com a criação da Unidade de Controlo Costeiro da GNR, acentuada com a criação do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Contro (SIVICC), no qual a Marinha colaborou e que devia disponibilizar informações e um oficial de ligação ao Comando Naval. Mas, segundo o texto, esta cooperação inicial foi "invertida": "Até hoje, a informação nunca foi disponibilizada e os elementos de ligação desapareceram." Os almirantes acusam mesmo a GNR de ter criado um "centro operacional paralelo", dispensando a interligação e a necessidade absoluta de fundir informação, para que de facto se possa saber o que no mar se passa".

Os signatários lamentam a "duplicação de capacidades num quadro de enormes constrangimentos" da Marinha, cujo orçamento caiu 31% nos últimos 10 anos e que perdeu 45% das verbas para a manutenção dos navios, causando graves constrangimentos operacionais. Na mesma linha, a defender a filosofia de duplo uso (civil e militar) da Marinha, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, escreveu um artigo no "Diário de Notícias" em outubro: "O exercício da autoridade do Estado no mar exige que as capacidades sejam devidamente articuladas entre si e entre instituições, algo que acontece com grande regularidade e naturalidade", e dava como exemplo a coordenação da Marinha com a PJ, sem mencionar a GNR.

Depois de os oficiais-generais reformados do Grupo de Reflexão Estratégica Independente terem enviado aos responsáveis da Defesa um estudo a contestar a reforma do comando superior das Forças Armadas (em debate na especialidade no Parlamento), 28 ex-chefes de Estado-Maior, com Ramalho Eanes à cabeça, fizeram o mesmo. Agora foi a vez dos almirantes, na semana em que Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, visitou Portugal para inaugurar uma academia de ciberdefesa em Oeiras e participar no Conselho de Estado e na reunião dos ministros da Defesa da UE.


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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1712 em: Maio 28, 2021, 10:33:23 am »
Quero é depois ver como vai ser quando a GNR começar a receber meios aéreos para vigilância marítima costeira e SAR costeiro. :mrgreen: Isso é que vai ser super engraçado ver.

Cumprimentos,
:snip: :snip: :Tanque:
 

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1713 em: Maio 28, 2021, 10:55:39 am »
A Autoridade Marítima é uma aberração e a treta dos 700 anos é para papalvos — a Marinha foi essencialmente civil durante a maior parte desses 700 anos. A Armada tem que se concentrar nas missões militares, mas parece preferir as missões civis — talvez porque têm maior visibilidade pública.

Descuram tudo o que é militar, só pensam nas suas carreiras e viagens aos PALOP. Só se preocuparam com o estado de degradação da Armada quando o seu poder é posto em causa — seja pela LOBOFA seja pelas lanchas da GNR. Não fossem estes dois acontecimentos, o público nunca iria saber de nada. PQP os almirantes e o tretarone!
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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1714 em: Maio 28, 2021, 11:23:23 am »
Por falar em Tretratrone, será que se fez luz (olha os F35, Merlin AEW, navios modernos. Sera que o homem viu ou a mascarilha tapou-lhe os olhos) ?  :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:









Saudações  :mrgreen: :mrgreen:

P.S. Agora é que era bem feito uma nova entrevista. Podiam começar por: "Sr. Ministro, depois de ter visto in loko os meios Nato, bem de perto, ainda acha que a marinha é moderna?"  :mrgreen: :mrgreen:

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Defesa Nacional

O Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e o Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, visitaram esta 5a feira, o porta-aviões Queen Elizabeth, ao largo da costa portuguesa, onde decorre por estes dias o maior exercício da Aliança Atlântica em 2021, o Steadfast Defender 21.



"Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos." W.Churchil

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1715 em: Maio 28, 2021, 12:19:37 pm »
P.S. Foi e veio do Queen Elizabeth num Merlin da Royal Navy, ao que parece... ::)
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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1716 em: Maio 28, 2021, 12:40:42 pm »
"Pff, vocês na Royal Navy têm um PA moderníssimo, mas com aviões americanos? Que incompetência, em Portugal isso não acontecia" - Cravinho

 :mrgreen:

É de facto engraçado, dias depois de o homem andar a dizer que a Marinha estava bem equipada, ir visitar um navio de guerra a sério de um país que investe a sério na defesa. Pelo menos ficou a saber o que é um strike group com navios modernos, desde o PA, às escoltas, aos navios auxiliares.
 
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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1717 em: Maio 28, 2021, 01:08:36 pm »
Tendo em linha de conta a teimosia e a arrogância destes governantes, temo que esta última carta aberta tenha um efeito contraproducente e resulte ainda em mais poderes e mais meios para a GNR....
"[Os portugueses são]um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico"
-Dom Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas
 

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1718 em: Maio 28, 2021, 01:18:26 pm »
Tendo em linha de conta a teimosia e a arrogância destes governantes, temo que esta última carta aberta tenha um efeito contraproducente e resulte ainda em mais poderes e mais meios para a GNR....

Se o Cabrita e o Leão continuarem a ter mais peso (e favorecimento) político que o Titi por parte do Costa, não tenhas dúvidas que a GNR continuará a ser a favorita do Governo.

Entretanto, ontem no QE aquilo deve ter sido um dia de grandes emoções para o Titterington. Gosto sobretudo de uma foto que apareceu algures por aí (não consigo agora encontrá-la) dele no convés de voo do porta-aviões, entre um Merlin AEW e um F-35B, a olhar lá longe para o Patiño. :mrgreen:
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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1719 em: Maio 28, 2021, 01:43:56 pm »
Começam a levantar-se vozes contra a "deriva" marítima da GNR em detrimento da Marinha

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Adriano Moreira e ex-Chefes da Armada alertam contra a "deriva" marítima da GNR

Valentina Marcelino
28 Maio 2021 — 00:13

Adriano Moreira, Viriato Soromenho Marques e o histórico da banca Artur Santos Silva, assinam com sete Almirantes uma carta aberta contra a "duplicação de capacidades" causada pela intrusão da GNR em alto mar e criticam a política do ministério da Administração Interna

Sete ex-Chefes de Estado-Maior da Armada (CEMA) , Almirantes Melo Gomes, Macieira Fragoso, Saldanha Lopes, Cruz Vilaça, Ribeiro Pacheco, Mendes Cabeçadas e Fuzeta da Ponte - os dois últimos igualmente antigos Chefes de Estado-Maior-General das Forças Armadas - subscrevem uma carta, a que o DN teve acesso, que tem à cabeça a assinatura do político e académico Adriano Moreira, a alertar contra a "deriva" marítima da GNR, da responsabilidade do ministério da Administração Interna (MAI). O texto, que conta também com a assinatura do histórico da Banca Artur Santos Silva e do professor universitário Viriato Soromenho Marques, membro da Academia da Marinha, salienta que apesar de a legislação assegurar o duplo-uso da ação no mar deste Ramo das Forças Armadas, quer na defesa da área marítima, quer no apoio às forças e serviços de segurança, com destaque para a Polícia Judiciária, "este modelo de atuação, que tem séculos de inestimáveis serviços prestados a Portugal, tem vindo a ser posto em causa" pelo MAI.

A "deriva", é assinalado, "foi patente" primeiro com a criação da Unidade de Controlo Costeiro da GNR, "importando diretamente modelos de Espanha (Guardia Civil) e de Itália (Guardia Costiera e Guardia e Finanza) (...) "desajustados à nossa realidade"; agravando-se com a "edificação" do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Controlo (SIVICC), do qual, afirmam os signatários, a Marinha foi totalmente afastada, sem que exista sequer troca de informação entre o Ramo e a GNR. Mas a gota de água para esta carta pública avançar foi a recente aquisição pela GNR da megalancha Bojador, maior que as da Marinha. Segundo a GNR, comandada pelo General do Exército Rui Clero, a Bojador será utilizada "em missões de vigilância, patrulhamento e interceção terrestre ou marítima em toda a costa e mar territorial do continente e das regiões autónomas".

Conforme o DN noticiou, apesar de a decisão ter sido tomada em 2018 pelo governo, só no ano passado foi conhecida publicamente. A Marinha ficou "em estado de sítio" com a compra da embarcação por 8 485 770 milhões de euros (75% financiada com fundos europeus). Vários Oficiais-Generais, entre os quais alguns dos signatários desta carta, como o ex-CEMA Melo Gomes, vieram advertir para a duplicação de meios e para o custo no erário público da falta de racionalização. O próprio ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, apoiou publicamente o duplo-uso. Já o ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita, que prometeu para janeiro último uma resposta a justificar aquela compra, não o chegou a fazer.

"Foi sem surpresa, mas com indignação, que numa situação de gravíssima crise social, económica e financeira em que a Marinha tem vindo a sofrer, em paralelo com a sociedade, reduções nunca vistas nos recursos financeiros, humanos e materiais disponibilizados, a UCC alarga o seu modelo de atuação ao alto mar, contratando em menos de um ano, no estrangeiro, a construção de um navio por mais de oito milhões de euros sem sequer procurar compatibilizar requisitos operacionais com a Marinha", sublinham os Almirantes, Adriano Moreira, Artur Santos Silva e Viriato Soromenho Marques. "É o navio adequado à missão da UCC? Quanto custa a operação e a manutenção ao longo da vida e onde será feita? (...) Não há melhor rentabilidade e eficiência em despender recursos na tão necessária modernização dos meios da Marinha e da Autoridade Marítima Nacional? A própria GNR não terá outras prioridades mais atinentes à sua vocação e imprescindível serviço, em vez de alargar a sua ambição ao domínio do Mar, onde não tem experiência, nem o conhecimento que 700 anos e serviço conferiram à Marinha? Alguém estudou o assunto?", é questionado.

Para os signatários "a principal questão será, contudo, a de saber se quem tem responsabilidades nas opções tomadas ponderou adequadamente as consequências". Isto porque, asseveram, "as Forças Armadas e de Segurança em democracia obedecem e não deliberam e o resultado é que, enquanto a Marinha definha, continuando a aguardar pelos meios que lhe permitam cumprir melhor a sua missão, assiste-se à tomada de decisões de pendor corporativo que não têm em conta o superior interesse nacional". Na carta é assinalado que "o orçamento da Marinha decresceu cerca de 31% nos últimos 10 anos, como uma redução particularmente acentuada nas verbas para as Operações (menos 32%) e para a Manutenção (menos 45%)" e que, perdeu "cerca de 40% dos seus efetivos desde 2001"
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A Bojador foi inaugurada a sete de maio, com Eduardo Cabrita a valorizar "o reforço da GNR como Guarda Costeira". A evidenciar o mal-estar, nenhum representante da Marinha ou do Comando Naval estiveram presentes. "Movidos pelas certezas de que a Marinha vem há séculos servindo adequadamente e a contento Portugal e os Portugueses e de que o caminho a seguir é o de melhorar as suas capacidades, e de não ignorar o seu património e serviço ímpar, os signatários vêm alertar o poder político, por dever e por convicção, no sentido de se reverter uma situação que, a prolongar-se, terá inevitavelmente graves efeitos negativos e relação ao maior ativo material de que ainda dispomos, o "nosso" Mar", conclui a carta.

LEIA AQUI A CARTA NA ÍNTEGRA: https://www.dn.pt/DNMultimedia/DOCS+PDFS/Scan%20Bojador.pdf


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A mesma notícia, mas no semanário Expresso de hoje

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Almirantes contra Cabrita declaram guerra à marinha “amadora” da GNR

Vitor Matos
27 de Maio de 2021 - 23:50

Adriano Moreira e Artur Santos Silva juntaram-se a todos os antigos chefes da Armada numa carta contra a criação de uma guarda costeira que se sobrepõe à Marinha

Esta é uma nova guerra, onde as cartas são usadas como munições: ontem, foi enviada a terceira carta crítica de ex-chefes militares para o poder político em apenas dois meses, desta vez assinada por todos os sete ex-chefes do Estado-Maior da Armada (CEMA), subscrita à cabeça por Adriano Moreira — catedrático e ex-líder do CDS — e por mais três civis: Artur Santos Silva, ex-presidente do BPI, o académico Viriato Soromenho Marques e o advogado José da Cruz Vilaça. O documento critica a compra da megalancha “Bojador” para a GNR, inaugurada este mês, “sem sequer procurar compatibilizar requisitos com a Marinha”, e a cria­ção de uma guarda costeira que se sobrepõe às missões da Armada. O grupo considera que este investimento de €8 milhões num navio de 35 metros “duplica” o que já existe, para uma entidade “sem vocação”, classificada como “amadora” por “falta de experiência de vida no mar”.

“A GNR não terá outras prioridades mais atinentes à sua vocação e imprescindível serviço, em vez de alargar a sua ambição ao mar, onde não tem experiência nem o conhecimento de 700 anos da Marinha? Alguém estudou o assunto?”, questio­nam os almirantes que lideraram a Armada desde o 25 de Abril. O documento, enviado para o Presidente da República, primeiro-ministro, ministro da Defesa e grupos parlamentares, acusa o Governo de favorecer uma força de segurança em vez dos interesses do país: “Enquanto a Marinha definha, continuando a aguardar pelos meios que lhe permitam cumprir melhor a sua missão, assiste-se à tomada de decisões de pendor corporativo que não têm em conta o superior interesse nacional.”

Em Dezembro, o Expresso noticiava que a GNR seria a "força favorita do Governo" - a propósito da reestruturação do SEF -, mas o ministro Eduardo Cabrita apresentou uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social onde se "reputa como falsa a informação" de que a compra de lanchas para a GNR tivesse um "potencial indício de ingerência nas áreas de competência da Marinha". Os almirantes acham o contrário. Os antigos CEMA identificam uma "deriva" que começou em 2007, com a criação da Unidade de Controlo Costeiro da GNR, acentuada com a criação do Sistema Integrado de Vigilância, Comando e Contro (SIVICC), no qual a Marinha colaborou e que devia disponibilizar informações e um oficial de ligação ao Comando Naval. Mas, segundo o texto, esta cooperação inicial foi "invertida": "Até hoje, a informação nunca foi disponibilizada e os elementos de ligação desapareceram." Os almirantes acusam mesmo a GNR de ter criado um "centro operacional paralelo", dispensando a interligação e a necessidade absoluta de fundir informação, para que de facto se possa saber o que no mar se passa".

Os signatários lamentam a "duplicação de capacidades num quadro de enormes constrangimentos" da Marinha, cujo orçamento caiu 31% nos últimos 10 anos e que perdeu 45% das verbas para a manutenção dos navios, causando graves constrangimentos operacionais. Na mesma linha, a defender a filosofia de duplo uso (civil e militar) da Marinha, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, escreveu um artigo no "Diário de Notícias" em outubro: "O exercício da autoridade do Estado no mar exige que as capacidades sejam devidamente articuladas entre si e entre instituições, algo que acontece com grande regularidade e naturalidade", e dava como exemplo a coordenação da Marinha com a PJ, sem mencionar a GNR.

Depois de os oficiais-generais reformados do Grupo de Reflexão Estratégica Independente terem enviado aos responsáveis da Defesa um estudo a contestar a reforma do comando superior das Forças Armadas (em debate na especialidade no Parlamento), 28 ex-chefes de Estado-Maior, com Ramalho Eanes à cabeça, fizeram o mesmo. Agora foi a vez dos almirantes, na semana em que Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, visitou Portugal para inaugurar uma academia de ciberdefesa em Oeiras e participar no Conselho de Estado e na reunião dos ministros da Defesa da UE.


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Esses cortes na Marinha são inacreditáveis, só por aqui se vê o mal aproveitamento das verbas ou para onde vão as verbas da Defesa, porque se o orçamento da Defesa tem vindo a aumentar como é que o valor real que chega aos 3 ramos é cada vez menor?

Esta guerra GNR-Marinha em termos práticos tem pouco interesse, mas é bom que aconteça porque é mais uma maneira de mostrar o estado miserável a que chegou a Marinha, o valor dos cortes é absolutamente inaceitável, a falta de meios e as fragatas obsoletas e inoperacionais são mais uma mostra do que estes cortes contantes ao orçamento têm provocado na Marinha ou seja um autêntico zero naval. A verdade é que todas as semanas se tem atacado o ministro e  o governo devido ao estado catastrófico da marinha e é bom que continuem a atacar, esta situação tem de mudar este desinvestimento nas FA não pode continuar e é bom que cada vez mais vozes se levantem contra o estado a que isto chegou, o golpe final seria o CEMA, o CEME, CEMFA e o CEMGFA virem também falar que chegámos ao ponto de rutura e que a soberania nacional está em risco ou se investe rapidamente nas FA ou o futuro de Portugal está em risco e se nada for feito apresentam a sua demissão imediata (claro que nada disto vai acontecer, mas se realmente querem o melhor para as FA e Portugal era o que os chefes militares deveriam fazer).
 

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1720 em: Maio 28, 2021, 01:45:26 pm »

Entretanto, ontem no QE aquilo deve ter sido um dia de grandes emoções para o Titterington. Gosto sobretudo de uma foto que apareceu algures por aí (não consigo agora encontrá-la) dele no convés de voo do porta-aviões, entre um Merlin AEW e um F-35B, a olhar lá longe para o Patiño. :mrgreen:

Creio que estará enganado: ele pode ter estado lá, mas não "estava lá".
O tipo é um saco vazio, um NPC. Os tipos dos chavões são invariavelmente assim.

 
« Última modificação: Maio 28, 2021, 01:54:57 pm por Luso »
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 
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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1721 em: Maio 28, 2021, 02:01:51 pm »
P.S. Foi e veio do Queen Elizabeth num Merlin da Royal Navy, ao que parece... ::)

Então, os nossos não aterram no QE? É o peso dos extras que fura o convés de voo?





Tendo em linha de conta a teimosia e a arrogância destes governantes, temo que esta última carta aberta tenha um efeito contraproducente e resulte ainda em mais poderes e mais meios para a GNR....

Se o Cabrita e o Leão continuarem a ter mais peso (e favorecimento) político que o Titi por parte do Costa, não tenhas dúvidas que a GNR continuará a ser a favorita do Governo.

Entretanto, ontem no QE aquilo deve ter sido um dia de grandes emoções para o Titterington. Gosto sobretudo de uma foto que apareceu algures por aí (não consigo agora encontrá-la) dele no convés de voo do porta-aviões, entre um Merlin AEW e um F-35B, a olhar lá longe para o Patiño. :mrgreen:

Por isso só olha. Não os tem no sítio para exigir guito para 2 seawatcher quanto mais um AOR. :mrgreen: :mrgreen:



Cumprimentos

"Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos." W.Churchil

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1722 em: Maio 28, 2021, 02:09:44 pm »
P.S. Foi e veio do Queen Elizabeth num Merlin da Royal Navy, ao que parece... ::)

Então, os nossos não aterram no QE? É o peso dos extras que fura o convés de voo?

Não deves é ter muitos disponíveis para servir de táxi. E usar um Koala era pouco digno.  :mrgreen:

Mesmo que houvesse um Merlin disponível, os pilotos não devem, presumo eu, ter certificação para aterrar em navios, a própria RN não devia permitir. Com os Lynx talvez já fosse diferente, mas esses...  ::)
 

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1723 em: Maio 28, 2021, 02:10:56 pm »
P.S. Foi e veio do Queen Elizabeth num Merlin da Royal Navy, ao que parece... ::)

Então, os nossos não aterram no QE? É o peso dos extras que fura o convés de voo?





Tendo em linha de conta a teimosia e a arrogância destes governantes, temo que esta última carta aberta tenha um efeito contraproducente e resulte ainda em mais poderes e mais meios para a GNR....

Se o Cabrita e o Leão continuarem a ter mais peso (e favorecimento) político que o Titi por parte do Costa, não tenhas dúvidas que a GNR continuará a ser a favorita do Governo.

Entretanto, ontem no QE aquilo deve ter sido um dia de grandes emoções para o Titterington. Gosto sobretudo de uma foto que apareceu algures por aí (não consigo agora encontrá-la) dele no convés de voo do porta-aviões, entre um Merlin AEW e um F-35B, a olhar lá longe para o Patiño. :mrgreen:

Por isso só olha. Não os tem no sítio para exigir guito para 2 seawatcher quanto mais um AOR. :mrgreen: :mrgreen:



Cumprimentos

Este MDN é um bonequito que anda de Xafarica em xafarica sem nada fazer, nada mais que isso !!
Até ao fim da próxima legislatura iremos assistir ao fim das poucas unidades de combate que as FFAA possuem !
Fragatas, F's, CC's irão aos poucos tombar inoperacionais por falta de verbas para a suas MNT e modernizações !!

Abraços
Quando um Povo/Governo não Respeita as Suas FFAA, Não Respeita a Sua História nem se Respeita a Si Próprio  !!
 

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tenente

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Re: A Marinha Portuguesa e o Zero Naval !
« Responder #1724 em: Maio 28, 2021, 02:14:03 pm »
P.S. Foi e veio do Queen Elizabeth num Merlin da Royal Navy, ao que parece... ::)

Então, os nossos não aterram no QE? É o peso dos extras que fura o convés de voo?

Não deves é ter muitos disponíveis para servir de táxi. E usar um Koala era pouco digno.  :mrgreen:

Mesmo que houvesse um Merlin disponível, os pilotos não devem, presumo eu, ter certificação para aterrar em navios, a própria RN não devia permitir. Com os Lynx talvez já fosse diferente, mas esses...  ::)

Os trabalhos e custos de modernização dos lynx não estão a ser o que se esperava devido ao estado de algumas células ,e,  como os pagamentos, não são atempados nem suficientes, vai daí....... e mais não digo que se faz tarde ! :bang:

Abraços
Quando um Povo/Governo não Respeita as Suas FFAA, Não Respeita a Sua História nem se Respeita a Si Próprio  !!