La Lys - Alemães eram mais que as moscas

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JoseMFernandes

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« Responder #45 em: Abril 30, 2008, 11:18:22 am »
A revista francesa "Batailles - l'histoire militaire du XX siécle" dedica todo o seu último numero  (n°27 de abril-maio 2008 ) a 'As Ofensivas Alemãs de 1918' sendo dois dos seus artigos referentes a participação portuguesa na IGM e em especial ao tema em questão.

Atendendo a que, e apenas de meu conhecimento imediato,  já outra revista francesa tinha  publicado muito recentemente artigos e 'dossiers' referentes  aos portugueses na Flandres (recordo os extractos aqui apresentados por mim e retirados de 'Champs de Bataille' de Jan°/2008) não se pode dizer que os portugueses continuem exactamente ' les inconnus soldats portugais ' como até agora tem sido qualificados... .

O primeiro artigo da autoria de Dominique Bussillet  'Os Soldados portugueses na Grande Guerra' retraça e enquadra o envolvimento português, sem grandes novidades em relação ao artigo da "Champs de Bataille"  que aqui evoquei.Insiste nos 'ruídos' acerca dos "perigos que poderiam ameaçar a expansão colonial portuguesa, e pior, um acordo anglo-alemão de Agosto/1913 que tornaria bem reais as ameaças que pesam sobre as colónias: o Reino Unido interessa-se em Moçambique, enquanto a Alemanha pretenderia Angola devido a proximidade  das suas colónias com os territórios portugueses".
Dominique Bussillet apresenta como razoes para a entrada de Portugal no conflito: "o desejo de manter as suas colónias e assim poder reivindicar a sua plena soberania no fim da guerra; a necessidade de criar uma legitimidade para a jovem república e ao mesmo tempo uma identidade distinta da Espanha, com uma verdadeira independência nacional, sem esquecer o desejo do governo de então (do Partido Democrático de Afonso Costa) se afirmar politicamente na cena europeia."
Realça-se o trabalho do Ministro da Guerra (gen. Norton de Matos) e do gen. Tamagnini  na organização de tropas operacionais no mais breve espaço de tempo possível(não esquecendo que 50 000 homens teriam ja sido enviados para as Colónias)."o desafio era considerável: em tempo 'record' teriam de se transformar homens habituados a uma vida pacífica e básicamente rural em combatentes aguerridos para um conflito de que era bem conhecida a sua dureza"
"A organização do CEP é tanto mais dificil de montar quanto a extrema repugnancia que os soldados e oficiais portugueses demonstram em intervir no conflito europeu, o qual lhes parece ultrapassar de longe as capacidades de Portugal, seja em meios financeiros como humanos.No fim de 1916 uma revolta de militares conduzida por Machado dos Santos opõe-se a intervenção em França, mas embora  fracassada acabaria por levar para a prisão numerosos oficiais do CEP, que se viu assim privado de uma parte das suas chefias, enquanto outros eram hospitalizados ou considerados inaptos para o serviço activo"
"Bem ou mal começou entretanto o embarque das Forças Armadas, de uma maneira que se pretendia secreta, mas que viria a  acontecer na maior confusão, na maior parte das vezes sem o acompanhamento  de médicos ou veterinários, que eram obviamente necessários.De 2/2/1917 a 28/10/1917 formaram-se comboios de navios com destino a Brest.Os dois navios portugueses ('Pedro Nunes' e 'Gil Eanes') bem com sete navios britânicos eram escoltados por contra-torpedeiros ingleses.O navio Pedro Nunes que efectuará onze viagens com uma duração média de três dias fica mesmo conhecido como o 'navio-fantasma' ao evitar os submarinos alemães, e  também explicação da lentidão no encaminhamento.

Serão assim transportados:
-2 122 oficiais
-2 879 sargentos
-54 382 praças
- 7 783 cavalos
- 1 501 viaturas
-    312 camiões
Depois de uma breve estadia em Brest, as tropas são encaminhadas em comboio para a 'frente' na Flandres; cada comboio transporta perto de 1400 homens e a viagem dura mais três dias.
"
É realçada a combatividade portuguesa no seu sector, nomeadamente a 2 de Março, em que um batalhão alemão efectua um 'raid' nos sub-sectores de Chapigny e Neuve-Chapelle com artilharia, gás, morteiros e metralhadoras obrigando o 4° Bat° de infantaria (de Faro) a recuar para segunda linha, mas com resposta corajosa da artilharia portuguesa e  do CEP que efectuaram 'raids' até junto das trincheiras alemãs.A 9 de março a 1.Comp. do Bat.Inf 21, sob as ordens de Ribeiro de Carvalho efectua uma ofensiva em 'Ferme du Bois', capturando homens, material e destruindo abrigos.A 18 de março, uma companhia de 100 voluntários do BI 14, do cap°. Vale d'Andrade fez um forte ataque, também no sector de Neuve-Chapelle.
"Em 6 de Abril as perdas portuguesas elevam-se a 1044 mortos, 2183 feridos, 1594 'gazeados', 403 'acidentados' 102 prisioneiros e 94 desaparecidos.O Gen. Gomes da Costa  comanda então a 2Div. do CEP.No papel ele dispõe de 20 000 homens para defender 11 Kms de 'frente'; em comparação o exército americano dispoe de 60 000 homens para 14 Kms.

O comando britanico sabe bem que as tropas portuguesas estão extenuadas: batalhões inteiros não foram rendidos ha mais de nove meses!Os homens sofrem com o trabalho incessante na dura manutenção das trincheiras, com o mau equipamento, com as condições climáticas e uma alimentação no mais baixo nível e a propaganda alemã não cessa de afirmar que o governo de Sidónio Paes não quer esta guerra.Gomes da Costa informa oficialmente o general Tamagnini, de quem depende, que declina toda a responsabilidade sobre o que possa acontecer...
A indicação do gen. Haking não poderia porém ser mais clara: a missão dos soldados portugueses, mais precisamente a 2.Div, é aguentar as posições custe o que custar e de  
' morrer sobre a linha B ' "

Derrota na LYS
"Entretanto o general Ludendorff programa a operação Georgette, contra as forças portuguesas, para o 8/4/1918...
a partir das 4h15, da manhã de 9/4 começam com rara violência os bombardeamentos alemães, utilizando artilharia pesada e 'gás de mostarda'; em pouco tempo o quartel general da 2Div. foi isolado das suas tropas com as comunicações cortadas.Apesar de uma resistência desesperada, as forças portuguesas sofrem uma derrota total; a batalha da Lys, num só dia, custou-lhes a morte de 29 oficiais e 369 soldados tendo sido feitos prisioneiros 270 oficiais e 6 315 soldados.

Se bem que a Batalha da Lys fosse uma derrota total e dramática para o CEP e apesar de uma resistência portuguesa enfraquecida em razão das circunstancias, estes combates acabariam por possibilitar às forças aliadas uma vitória estratégica.

Querendo mostrar a sua boa vontade, o governo de Sidonio Paes quis ainda enviar depois destes combates, 15 000 homens suplementares , mas o governo inglês não disponibilizou navios para o transporte de tropas..."



E aqui tentei resumir, através de alguns trechos em directo, o texto de Dominique Bussillet.
Resta o outro artigo, que espero  apresentar, também nas suas linhas gerais, logo que possa...é da autoria de Yves Buffetaut e o título não deixa de ser sugestivo:

"Que se passou em 9 de Abril de 1918 ?"

O autor francês indica, depois de  profundas pesquisas, 'ter descoberto nos arquivos britânicos' (National Archives- Kew-Londres) uma série de documentos( eventualmente contraditórios é certo)  emanados das autoridades inglesas e portuguesas  que  ajudam a compreender a 'grave crise' que afectou então as relações luso-britânicas (e que inclui os testemunhos escritos do Gen. Horne e do futuro Marechal Gomes da Costa).
 

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Paisano

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« Responder #46 em: Maio 03, 2008, 03:26:03 am »
Realmente, impressionante... :shock:
As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leva-as no coração. (Dom Hélder Câmara)
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« Responder #47 em: Maio 03, 2008, 11:19:23 am »
Sem dúvida!
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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zocuni

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« Responder #48 em: Maio 04, 2008, 03:41:52 am »
Confesso que estou estupefacto. :shock:  :shock:

Abraços,
zocuni
 

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JoseMFernandes

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« Responder #49 em: Maio 05, 2008, 10:23:31 am »
"que se passou em 9 de Abril de 1918 ?"

Aqui está o que Yves Buffetaut no n°27 de Abril-Maio/2008 de 'Batailles-Histoire Militaire du XX siécle' nos desvenda:

"Logo após a perda de fôlego da primeira ofensiva Ludendorff, frente a Amiens, , os alemães atacam de novo em Abril, desta vez entre Arras e Armentiéres.É o começo da batalha da Lys ('La Lys' na terminologia consagrada em  Portugal).O primeiro choque abate-se sobre três divisões aliadas: duas britânicas e a 2.Div.Inf. portuguesa.

A frente rompeu-se em poucas horas e a progressão alemã foi ainda mais notoria que em 21 de Março.A situação tornou-se rapidamente dramática  para os britânicos porque, ao contrário do mês anterior, eles tem muito pouco espaço de manobra: o mar estava relativamente proximo e Haig temia que os alemães alcançassem os portos da Mancha, dividindo em dois o exército britânico.Mas não é nossa intenção descrever o desenvolvimento desta ofensiva (designada Georgette) que acabaria por 'morrer' junto ao monte Kemmel e nas proximidades da floresta de Nieppe, obrigando de passagem os britânicos a abandonar todo o terreno tão duramente conquistado no Verão anterior, entre Ypres e Passchendaele.

Culpa de quem ?

Desde o fim de Abril de 1918 que rumores contraditórios começam a circular, especialmente na imprensa francesa e britânica, e em breve retomada por jornais portugueses.
A 2Div. portuguesa apanhou com todo o peso da ofensiva alemã, e foi aniquilada em 9 de Abril entre La Bassée e Estaires.Mas em que condições? O rumor mais persistente que apareceu foi que a 40.Inf.Div. recuando diante do assalto alemão, deixara 'desprotegido' o flanco português, por onde o adversário se precipitara destruindo a grande unidade portuguesa.
A polémica sobe de tom, e a tal ponto que uma crise diplomática entre os governos britânico e português foi evitada por muito pouco depois de uma troca de correio oficial pouco sereno entre embaixadores e representantes das autoridades políticas dos dois países.
Descobrimos nos arquivos britânicos uma série de documentos que mostram a importância da crise.Estamos assim em posição de vos apresentar diversos documentos contraditórios, e que emanam das autoridades militares britânica e portuguesa.

O testemunho do general HORNE
O documento seguinte encontra-se nos  National Archives de Kew, Londres(cota WO 158/710).Trata-se de um relatório datado de 6/5/1918 e redigido pelo general Horne, comandante da First Army.
Este relatório é essencialmente factual, indicando a posição das duas unidades.Neste caso , o sector da divisão portuguesa está assim delimitado: E de Richebourg-l'Avoué, E de Neuve-Chapelle, E de Fauquissart, S de Pétillon.Ali a divisão esta em contacto com a 40°Div, que mantém a frente de Fleurbaix até E de Bois Grenier, onde começa a 'frente' da 34°Divisão.

«por volta das 4h05, começou um violento bombardeamento em toda a frente, do canal de La Bassée a Bois Grenier, com pesados tiros de obus explosivos e de gas, até a rectaguarda.Este bombardeamento enfraqueceu a partir das 6h30 mas redobrou de intensidade a partir das 8 horas e prosseguiu até às 9 horas quando o assalto principiou.
Antes do ataque principal houve pequenas acções menores de infantaria, patrulhas e 'raids' lançados pelos alemães, aproveitando o bombardeamento e o espesso nevoeiro ;
Por volta das 8 horas, o inimigo conseguiu tomar posição em dois pequenos postos na 'frente' da brigada de direita da 40.Div.
Perto das 8 horas, parece que o inimigo conseguiu apoderar-se da quase totalidade da 'frente' sustentada pela 2Div. portuguesa; e perto das 9H00 conquistara também toda a linha "B" da divisão portuguesa.Não há indicações que as tropas portuguesas tenham oferecido uma mínima e séria resistência.
Os relatórios dos oficiais da missão britânica junto da divisão portuguesa, bem como os oficiais das divisoes 55th, 50th e 40th, na direita, nas linhas de comunicação e na esquerda da 2Div portuguesa, e da artilharia pesada atras do 'front'  português, mostram que entre as 9 e as 10 horas da manhã, o grosso das tropas portuguesas passou através da linha
Lacouture- Le Drumez a cerca de 5 Kms da sua 'frente' e qua praticamente a totalidade das tropas portuguesas que conseguiram retroceder se encontrava para lá dessa linha ás 11 horas.

As tropas portuguesas não retrocediam em boa ordem.Elas encontravam-se em fuga, a maior parte sem armas, outros sem sapatos e enfim alguns meio-despidos.Os seus oficiais nada tentavam para os reagrupar, mesmo depois de passarem através das linhas britanicas.
Nalguns casos resistiam mesmo a tentativas de reorganização por parte dos oficiais britanicos.Nessa altura o inimigo não estava em sua perseguição e teria sido possivel reorganizá-los.As tropas portuguesas da rectaguarda quando viram que os da primeira linha não se detinham, fugiram também com eles.╗

Esta é pois a descrição de Horne sobre os acontecimentos na 'frente' portuguesa.Um pouco adiante, no seu relatorio, ele indica que a partir das 8h45 o flanco direito da 40thDivision começou a ser 'ladeada'
pelos alemães que prosseguiam no sector português.

Horne conclui assim o seu relatorio:

"Devido a todos estes detalhes, é evidente que os boatos que correm em Lisboa segundo os quais as tropas portuguesas teriam sido 'batidas' por causa da incapacidade da 40thDiv poder cobrir os seus flancos não tem fundamento.A verdade é que as tropas portuguesas não foram capazes de oferecer uma resistencia séria e fugiram.A fraca resistência oferecida foi tão rapidamente 'varrida' que o flanco direito da 40thDiv foi envolvido antes que as tropas de reserva pudessem intervir.
O comandante e o Estado-Maior do corpo portugues estão bem ao corrente do que se passou que imediatamente após a batalha estavam conscientes do desmoronar das suas tropas;A mudança de tom que se constata agora é devida a mensagem enviada ao governo português pelo Foreign Office e pelos relatórios enganadores que apareceram na imprensa francesa e inglesa."

Assim para Horne a culpa pertence aos portugueses: foram eles que cederam e abriram uma brecha no 'front' aliado, que os alemães imediatamente aproveitaram.Mas a verdade nunca é assim tão categórica.
Os arquivos britânicos detém também um longo relatório do general Gomes da Costa que comandava a divisão portuguesa.E não se duvide que a sua versão é bem diferente da do general inglês.

Introdução á versão portuguesa

O general Gomes da Costa não tenta esconder as fraquezas da sua divisão, e o seu relatório apresenta alguns esclarecimentos, muito interessantes, sobre a situação das tropas portuguesas no momento do ataque.
O general Horne que leu essse relatório, dá aliás algumas   indicaçoes novas, que vale a pena serem conhecidas: assim ele indica que o sector da 'frente' detido pelos portugueses era normalmente impraticável para qualquer ofensiva antes do mês de Maio, devido a sua humidade.A planície da Flandres é realmente muito pantanosa, mas em 1918, o Inverno tinha sido particularmente seco e o terreno estaria mais transitável que de costume.
E Horne escreve a seguir:
«Quando as possibilidades de ataque se tornavam evidentes, parecia ser necessário que os portugueses fossem revezados  ou, pelo menos, que a  a sua 'frente' seja reduzida.Era também evidente que o moral e a condição geral das tropas não eram bons»
Horne explica isso por razões de fundo: a organização portuguesa era deficiente, os oficiais não partilhavam nem a vida nem os rudes serviços dos seus homens.Além disso a divisão tinha necessidade de reforços; os seus efectivos estavam abaixo do normal, especialmente em oficiais pois os pedidos feitos nesse sentido ao comandante do CEP não foram tidos em conta.E enfim, os sargentos e praças nunca obtinham licença para ir a Portugal, enquanto os oficiais partiam frequentemente e muitos deles nem sequer voltavam!
Em Março de 1918 a organização da 'frente' portuguesa deveria mudar, e o sector seria 'encurtado'.Mas as transformações desejadas por Gomes da Costa não estavam ainda em vigor no momento da ofensiva alemã.

O General Gomes da Costa

O Gen. Gomes da costa estende-se muito longamente no seu relatório  nos efeitos da artilharia alemã sobre as baterias portuguesas e sobre as trincheiras de primeira linha.Ele escreve por exemplo:
«Debaixo dos tiros de artilharia e das Minenwerfer do inimigo, as nossas primeira e segunda linhas são totalmente destruidas e as 7 horas todo o sector não é mais que montes de terra de onde emergem braços, pernas ou cabeças.
Os homens da guarnição que escaparam ao massacre abrigam-se em crateras entre a frente e a linha B; eles estão evidentemente desmoralizados pela extraordinária intensidade do bombardeamento.
As 7h00, a coberto da barragem de artilharia e de um intenso nevoeiro, a infantaria alemã saiu das trincheiras e avançou para as nossas linhas em sucessivas vagas de assalto, separadas de 120 metros.Cada linha era formada de secções de 30 a 50 homens em linha e dupla fila.O intervalo entre as secções era de 50 a 100 passos e as tropas marchavam a passo.
Cada grupo era precedido de quatro metralhadoras ligeiras que varriam o terreno a sua frente ; o resto das tropas de assalto avançava com fuzil na mão ; os oficiais marchavam á frente dos seus homens e o comandante com o seu bastão.
O arame farpado diante das nossas trincheiras desapareceu totalmente e o inimigo atravessou a primeira linha... então pequenos grupos dispersaram-se para limpar as crateras da linha B, retomando o seu avanço em direcção á linha das aldeias.
As vagas de assalto do inimigo eram sustentadas nos flancos por grossas colunas talvez  com a dimensão de uma brigada ;  essas colunas penetraram pelos flancos esquerdo e direito da nossa posição  junto a nossa junção com as divisões britânicas.
A 55Div estava a nossa direita.Vendo o avanço inimigo e compreendendo que a nossa segunda linha não aguentaria, ela contituiu um flanco defensivo sobre a sua esquerda o que tornou ainda mais fácil a penetração alemã.
Sobre a nossa esquerda, o intervalo com a 40Div. é ainda maior.Para remediar essa situação foi criado um pequeno posto, mas toda a sua guarnição fora morta.»

Nestas circunstâncias, estavam preenchidas todas as condições para um desastre.
Sobre a direita, o PC da 5Brig.Portuguesa é submergido e todos os seus oficiais são mortos ou feridos.A aldeia de Touret é capturada e apenas  o ponto de apoio de Lacouture consegue reter os alemães por algum tempo.
No flanco esquerdo, Gomes da Costa escreve que os alemães passam pelas posições britânicas da 40thDiv, no sector de Fleurbaix.Tendo sido atingida a linha B, os alemães voltam-se contra as posições portuguesas.Os restos do 8°Bat° são submersos ; alguns sobreviventes conseguem alcançar o PC do 29°Bat°.O seu chefe, o comandante Xavier da Costa, reagrupa todos os homens que encontra e defende-se passo a passo e recuando para Laventie.Mas os alemães são muito largamente superiores em número e apenas três sobreviventes alcançam Laventie.Xavier da Costa não faz parte deles pois foi morto no caminho.

O 20°Bat° resiste nas suas posiçoes até perto das 8 horas e ao retroceder vai  ‘cair’ sobre a linha B que já tinha sido conquistada pelos alemães.
É num ponto de apoio de Lacouture que os portugueses oferecem a sua melhor defesa, com duas companhias do 13°Bat°, uma do 15° e alguns soldados ingleses.Por volta das 9h30 o capitão Bento Roma vendo os alemães aproximarem-se, contra-ataca com a sua companhia.Mas esta carga é desfeita pelo adversário.Entretanto os alemães apenas conseguem por o pé nessa posição por volta das 16h30.E aí apenas encontram mortos…



E agora a conclusão do articulista francês :

Ao ler este relatório de que citamos apenas uma pequena parte, compreende-se que os portugueses ficaram completamente aturdidos pelo bombardeamento alemão e que os britânicos  sofreram  igualmente bastante.Nestas condições parece-nos que cada uma das divisões se fechou sobre ela mesma, tentando evitar ser submersa, mas ficando incapaz de conservar as suas ligações com as unidades vizinhas.
Nestas condições os portugueses não se comportaram pior que os britânicos e não podem  em caso algum ser tidos como responsáveis pela ‘derrocada’ aliada do 9 de Abril.Eles provávelmente resistiram menos tempo, mas a sua divisão era evidentemente mais fraca e menos treinada que as unidades vizinhas
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Paisano

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« Responder #50 em: Maio 09, 2008, 07:43:27 pm »
Moçambique e a batalha de Lys na França*

Fonte: www.grandesguerras.com.br/

Citar
Ações dos portugueses para preservar o seu império colonial das grandes potências na Primeira Guerra Mundial.

Qual era a situação de Portugal quando do início das hostilidades? Um ditado famoso no período de antes da Guerra dizia que a “Turquia era o homem doente da Europa”, aludindo ao fato de que o Império Otomano tinha problemas muito sérios. Mas se a Turquia era considerada um “homem doente”, por outro lado, ela ainda era vista como uma potência, devendo ser respeitada pelos inimigos e adulada por possíveis aliados. Tal avaliação não se aplicava a Portugal.

Os antecedentes

Apesar do país ter tido um glorioso passado nos séculos XVI e XVII, formando o império colonial africano mais antigo, no final do século XIX, Portugal era visto com desprezo e seu império como uma preza em potencial pelas grandes potências. Quando os governos europeus finalmente passaram a se interessar pela África Negra, no início dos anos 1880, os lusos já tinham um projeto geopolítico para suas colônias, tendo iniciado um programa visando a controlar o Rio Congo e com o objetivo de longo prazo de unir por terra suas colônias no Atlântico (Angola) e no Índico (Moçambique).

Ambos os projetos tiveram que ser descartados. O primeiro na Conferência de Berlim, de 1884, que caprichosamente em um arranjo entre Inglaterra, Alemanha e França, concedeu o Congo (atual Zaire) ao Rei dos Belgas, como uma colônia pessoal, Portugal recebendo apenas o enclave de Cabinda como consolo. No segundo caso, a proposta de unir os dois oceanos, compartilhada por alemães e franceses, esbarrou na política de magnatas ingleses, que buscavam uma união entre a Colônia do Cabo e o Cairo. No caso, Cecil Rhodes barrou o avanço português, com a formação da Rodésia (atuais Zâmbia e Zimbabwe) . Em 1890 Portugal foi forçado a aceitar um humilhante ultimatum inglês, que obrigava-o a retirar tropas suas de uma área na África, um cruzador britânico esperando a resposta. O governo Português cedeu, o que causou grande revolta entre os nacionalistas locais.

Na verdade, o pequeno país, e os próprios africanos não tinham como fazer valer seus interesses. Tudo foi feito dentro do ponto de vista das grandes potências européias, que partilharam a África entre os brancos como se os habitantes locais - os verdadeiros donos da terra - não existissem e não tivessem suas próprias culturas, uma das razões das diversas guerras civis que se seguiriam ao movimento de descolonização. De fato, com a exceção da pequena Libéria e do reino cristão da Abissínia (Etiópia), todo o continente tinha sido “repartido” entre os europeus, seguindo os ajustes da política européia, ignorando as realidades africanas.

Portugal quase que foi tratado como esses “nativos”, ignorando-se os seus quatrocentos anos de ações na África. A Alemanha se apoderou da região de Quionga em 1894. A Alemanha, que tinha chegado tardiamente à corrida colonial, passava a se configurar como o principal perigo às colônias lusitanas na África, pois estas eram vistas como uma “presa fácil”. A Inglaterra, a tradicional “aliada”, não estava interessada em proteger os interesses lusitanos. Na verdade, cobiçava um pedaço das possessões, como versava um acordo secreto anglo-alemão de 1898, de possível partição das áreas administradas por Portugal.

A situação precária do país, na virada do século, se acentuou em 1910, quando uma revolução derrubou a monarquia, implantando a República (o Brasil e a Argentina foram os primeiros a reconhecer o novo regime, o que só foi feito pelas grandes potências européias no ano seguinte). O novo regime, visto com desconfiança pelas casas reinantes, ainda sofria com problemas de instabilidade interna, com diversos movimentos monárquicos e de rebelião. Do ponto de vista militar, o processo de modernização do Exército, que no novo regime passava de uma força voluntária para outra conscrita, com seis divisões de infantaria, duas de cavalaria e uma brigada independente de cavalaria (150.000 homens na metrópole, dos quais apenas 12.000 regulares), resultava em problemas na formação de uma força moderna.

Como no caso da maior parte dos pequenos países, o conflito geraria situações tendentes à agravar os problemas internos existentes. Com uma economia em muito dependente da Inglaterra - um dos beligerantes - e sem uma produção de artigos essenciais ao esforço de guerra, era natural que o país sofresse com o início das hostilidades, com a redução do comércio internacional, procura de trocas de moeda em papel em metal, inflação e arrocho salarial - tudo tendente à agravar a situação.

Com esses problemas e havendo grupos favoráveis a paz (os monarquistas), grupos que apoiavam os alemães e outros que apoiavam os aliados (como os partidos socialista e democrático), a posição inicial de Portugal em relação ao conflito não foi das mais claras. As medidas iniciais foram no sentido de se reforçar as guarnições no África, enviando sucessivas expedições militares para Angola e Moçambique, vizinhas a grandes colônias alemães (a África do Sudoeste Alemã - atual Namíbia e a África Oriental Alemã, atual Tanzânia) e inglesas, região onde as hostilidades seriam inevitáveis.

Devido à pressão diplomática inglesa - e a diversos incidentes com os alemães na África, entre os quais se destaca o “massacre de Cuangar” –, o congresso português, em 3 de novembro de 1914, autorizou o governo a participar da guerra ao lado de seu tradicional aliado, a Grã-Bretanha, país com que Portugal tinha um tratado de defesa mútua (mas que os britânticos insistiam que não fosse usado por Portugal para justificar a entrada na guerra). O congresso autorizou que, de imediato, 20.000 fuzis e 56 canhões fossem entregues aos ingleses - uma medida que não é tão insignificante quanto pode parecer, pois havia uma terrível falta de armas no Reino Unido, muitos voluntários treinando com armas de madeira, por falta de fuzis modernos, ainda em 1915.

Mas nenhuma medida efetiva chegou a ser realmente tomada, pois o general Pimenta de Castro, pró-alemão, deu um golpe junto com o presidente Arriaga, interrompendo o processo de entrada na guerra. Efetivamente, o que foi feito, foi o envio de mais uma expedição militar a Angola, com funções meramente defensivas.

A agitação interna na metrópole continuava. A ditadura do General Pimenta de Castro é derrubada pelos membros do Partido Democrático (pró-aliado) depois de sérios distúrbios em Lisboa, onde a população saqueara armazéns em busca de alimentos (14 de maio de 1915). Novas eleições legislativas dão maioria absoluta no congresso ao Partido Democrático, e isto é decisivo para a entrada de Portugal na guerra, ao lado dos aliados.

Em 23 de fevereiro de 1916, atendendo um pedido da Inglaterra, que se achava desesperada a procura de vapores por causa da campanha de submarinos alemã, os portugueses apreendem os 71 navios mercantes alemães que se encontravam internados em seu país, para serem colocados à “serviço da causa comum anglo-portuguesa”. A Alemanha viu isso como um casus belli e declara guerra a Portugal.

O esforço militar

A participação portuguesa poderia ter sido nula, se limitar ao seu papel de propaganda, já que os ingleses usaram o fato de forma intensiva, devido às antigas relações entre os dois países. Uma participação em combate poderia ter se resumido a lutar na África, mas o perigo em Angola já não mais existia, pois a África do Sudoeste Alemã (Namíbia), tinha se rendido ao general Botha em julho de 1915. Em Moçambique, as poucas forças existentes (tropas coloniais, reforçadas por cinco batalhões de infantaria, cinco baterias de artilharia, dois esquadrões de cavalaria metropolitanos, somando tudo cerca e 14.000 homens para cobrir uma área de 800 mil quilômetros quadrados, comparável a superfície da França e Alemanha - juntas) empalideciam quando comparados aos efetivos do Império Britânico destinados, infrutiferamente, a capturar Letow-Vorbeck, o comandante militar da África Oriental Alemã (apesar disso, o território de Quionga logo é reocupado, para atender à principal reivindicação portuguesa).

Contudo, Portugal se recusou a aceitar o pedido inicial aliada, de envio de pessoal para a Frente Ocidental apenas para atuar como batalhões de trabalhadores. Esta posição teria como objetivo garantir uma melhor posição numa eventual negociação de paz, especialmente considerando a manutenção a longo prazo de suas colônias, cobiçadas pelas potências européias. Assim, o Governo insistiu que as forças portuguesas deveriam assumir um papel de combatentes ativos, decidindo pela formação de uma divisão reforçada para serviço na Europa, o CEP (Corpo Expedicionário Português). Essas duas faces do esforço militar português (África e França) serão tratadas a seguir.

Os portugueses na África

Uma série de incidentes, supostamente causados por alemães, como o já citado massacre de Cuangar, ou o combate de Naulila (69 mortos portugueses), além de revoltas de nativos, todas ocorridos em Angola antes do início oficial do conflito, tinham sido um dos motivos para levar a crescente hostilidade de certos setores da sociedade portuguesa contra a causa das Potência Centrais. Apesar disso, pouco foi feito antes de 1916, a não ser o envio de sucessivas expedições de reforço à África.

Com a declaração de guerra, as forças em Moçambique puderam iniciar as operações contra os alemães, cruzando a fronteira (o rio Rovuna) em diversas ocasiões em 1916. Contudo, os alemães, mesmo inferiorizados, conseguiram repelir os ataques lusitanos, a situação se estabilizando até o final de 1917. Em 21 de novembro daquele ano, as forças do general alemão Lettow-Vorbeck, fugindo da pressão inglesa, invadiram Moçambique. Sete dias depois, no combate de Negomano, na fronteira, os alemães obtiveram uma surpresa e grande vitória sobre os portugueses, causando cerca de 300 baixas (mortos e feridos) e capturando 550 homens.

Isso marcaria o conflito na África Portuguesa. Apesar de ter havido diversos outros recontros, os portugueses, a partir daquele momento, procuraram evitar o contato direto com as forças germânicas na África, se retirando a frente deles, até que forças britânicas pudessem se reunir à defesa.

Desta forma, uma situação sui generis se configurou: os ingleses perseguiam os alemães, que por sua vez perseguiam os portugueses, estes deixando uma boa parte do norte de Moçambique aberto às colunas de Lettow-Vorbeck. O ponto final da penetração alemã foi Nhamacurra, povoação pouco ao norte do rio Zambesi e bem ao sul de Lourenço Marques, a capital da colônia. Lá, uma força britânica sob o comando do major Gore-Browne foi surpreendida e destroçada. Com a vitória foi possível reequipar e remuniciar as forças alemães. Estas, a partir daí, se retiraram de volta à África Oriental Alemã, acabando as operações em Moçambique, mas não antes de derrotar novamente os ingleses em Numanoe. Ou seja, a ação de Portugal não África foi basicamente passiva, apesar dos grandes efetivos (se comparados aos alemães) ali existentes.

Os portugueses na Frente Ocidental

Em 22 de julho de 1916 é formado em Tancos o Corpo Expedicionário Português, inicialmente sob o comando do general Norton de Matos (posteriormente, seria o ministro da guerra), com cerca de 30.000 homens, uma divisão de infantaria reforçada. Mais tarde, em dezembro, o governo francês solicitou a Portugal pessoal de artilharia para manejar de 25 a 30 baterias de artilharia pesada, sendo esta a origem do Corpo de Artilharia Pesada - CAP/Corpo de Artilharia Pesada Independente - CAPI, que se somariam à tropa expedicionária.

A infantaria do CEP foi subordinada aos ingleses, e a 1ª Brigada saiu de Portugal no final de janeiro, embarcada em navios britânicos. Em fevereiro seguiria a 2ª Brigada, ficando as tropas na retaguarda até a sua aclimatação na frente, terem recebido material mais adequado às condições francesas (como uniformes para o clima mais rigoroso) e treinamento adicional. Em abril é aberta na França uma escola de morteiros de trincheira para a CEP e no mês seguinte é aberta uma escola de guerra química, esta em Mametz.

Neste momento, o novo comandante do CEP (a unidade teria diversos comandantes durante a guerra) propõe a elevação da unidade ao nível de Corpo de Exército, com o acréscimo de mais uma divisão. Isto é aceito e o Corpo de Exército começa a ser organizado em abril, mais ou menos na mesma época em que as primeiras unidades entram na linha de trincheiras (o primeiro soldado português a morrer em combate, António Gonçalves Curado, caiu em 4 de abril).

Ainda tentando manter o papel de propaganda que a entrada das forças portuguesas na linha de frente permitiria, a imprensa inglesa - e a portuguesa, é claro - tentou gerar o máximo possível de notícias sobre o assunto, como quando da captura (em 14 de setembro) de quatro soldados alemães pelo alferes miliciano Gomes Teixeira (e seu pelotão, é claro), a primeira vez que isso era feito pelo CEP, ou quando da entrega, em 13 de Outubro das primeiras Cruzes de Guerra ao pessoal lusitano (10 oficiais, 8 sargentos e 27 cabos e soldados). Tal como no caso inglês, tentou-se até criar um apelido carinhoso para os soldados portugueses servindo na França, passando-o a apelida-los de “antônios”, como era o caso dos “tommies” ingleses ou dos “poilus” franceses. Os ingleses na frente ocidental, contudo, tinham um certo desprezo pelos portugueses, apelidando-os pejorativamente de “pork and beans” (carne de porco e feijão, alusivo a dieta dos soldados). De qualquer forma, as forças portuguesas foram mantidas em um setor calmo da linha de frente, não se envolvendo em ofensivas.

No caso da colaboração com a França, o Corpo de Artilharia Pesada (batizado pelos franceses de Corps d’Artillerie Lourde Portugais - CALP), demorou mais a ser formado. Organizado em 10 baterias, inicialmente sob o comando do Cel. João Clímaco Pereira Homem Teles, sua formação data de maio e sua chegada na França, de outubro de 17, assumindo o seu papel na linha de batalha apenas em março do ano seguinte, quando as duas divisões do CEP já se encontravam na linha de frente a diversos meses (os primeiros contingentes da segunda divisão começam a entrar na linha no final de setembro de 1917).

Mas a situação em 1918 era outra.

O Dezembrismo

A situação interna de Portugal não tinha se acalmado com a entrada oficial no conflito, muito pelo contrário. Os problemas básicos econômicos e de instabilidade política continuaram - os gabinetes portugueses ficavam no governo por uma média de apenas quatro Meses. Em dezembro de 1916, em Tomar, houve uma tentativa de revolução. Nas eleições de 1917, apenas 15% dos eleitores compareceram às urnas. As greves eram rotineiras e saques em mercearias e armazéns ocorreram em Lisboa e no Porto, sendo que o estado de sítio é declarado em Lisboa e nos municípios vizinhos. Tudo isso propício a mais um movimento golpista, o que ocorreria em 5 de dezembro, sob o comando do major Sidónio Paes.

O movimento de Sidónio Paes (Dezembrismo), tinha uma visão diferente - muito mais fria - da guerra do que o governo anterior, do Partido Democrático e isto logo teve seus reflexos na frente. As licenças aos oficiais para ir para casa aumentaram em número e duração (mas não para os praças, que tinham que permanecer na linha de frente). Cargos mais agradáveis eram oferecidos aos oficiais que quisessem retornar e se parou de enviar reforços para a França.

Somando-se a estas medidas, tendentes a mostrar um certo desprezo pelo esforço de guerra, deve-se levar em consideração que boa parte do corpo de oficiais era simpático a causa alemã, que a constante troca de comando das unidades não era condizente a criar confiança nos homens, que alguns comandantes abusaram dos seus privilégios, como um general de brigada, que estabeleceu seu quartel general em París, a dezenas de quilômetros da linha de frente e as condições gerais da linha de frente, e até um inverno particularmente frio e úmido, na famosa lama de Flandres. Finalmente, As notícias dos distúrbios domésticos eram terríveis para todos.

O resultado seria o de se esperar: a moral da tropa despencou de forma abrupta e significativa, a ponto da eficiência em combate das tropas portugueses (nunca muito respeitada pelo ingleses) ter sido colocada em dúvida pelo comando britânico, que decidiu, em 5 de abril, remover a 1ª Divisão da linha de frente, colocando-a em reserva. A situação moral e material da 2ª Divisão, igualmente subordinada ao 11º Corpo de Exército do General Hacking, era a mesma, sendo que agora eles tinham que guarnecer todo o setor anteriormente ocupado pelo corpo português, já que os ingleses não tinham enviado tropas para substituir a 1ª Divisão. Uma visita de Hacking mostrou que a outra divisão também deveria ser retirada da linha de frente, isto devendo ser feito a partir de 9 de abril. Entretanto, isso não pode ser feito, por causa da ofensiva de Ludendorf.

A ofensiva de Lys

A história do Corpo Expedicionário Português na Europa é marcado pela batalha de Lys, a segunda das ofensivas de Ludendorf (também conhecidas como Kaiserschlacht), iniciadas em março de 1918. Os livros anglo-saxões lidos para a redação deste texto e que tratam da batalha, em geral dão uma certa relevância ao fato da 2ª Divisão portuguesa ter sido destruída no primeiro dia da ofensiva, tal como pode ser visto nesta passagem do livro de John Toland (No Man’s Land: 1918 - the last Year of the Great War):

“(...) as 8:45 [de 9 de abril] o assalto de infantaria [alemã] começou. As ondas de vanguarda de quatro divisões convergindo sobre a 2ª Divisão Portuguesa acharam a maior parte das trincheis da linha de frente vazias. Pequenos grupos somente podiam fazer uma resistência breve, se bem que heróica, e as tropas de assalto avançaram a frente em cinco quilômetros. Não era que os Portugueses fossem covardes. Eles viam poucos motivos para lutar. Além disso, eles estavam espalhados de forma muito tênue. O resultado foi uma fuga em pânico. ‘Alguns chegaram a tirar suas botas para correr mais rápido’ [?], escreveu Haig, ‘e outros roubaram as bicicletas do Corpo de Ciclistas, que foram enviados para a frente, para defender La Couture e as vizinhanças’”

Uma visão nada lisonjeira, considerando que o livro de Toland é um dos poucos textos que trata os portugueses com um certo respeito (!), tentando colocar a situação em contexto, apesar de reproduzir críticas comuns a atuação lusitana.

É fato que a 2ª Divisão portuguesa foi destruída no primeiro dia do ataque, e que isso resultou em grande avanço alemão, em termos da Primeira Guerra Mundial. Mas seria essa forma de atuação culpa apenas da “covardia” ou da “falta de vontade de lutar” dos portugueses?

Na verdade, analisando a batalha, as colocações dos livros anglo-saxões parecem um pouco descabidas - ou uma desculpa para o que aconteceu, uma forma de achar um “bode expiatório”, para esconder o fato de que a ofensiva foi um tremendo sucesso tático alemão - inclusive em áreas longe da frente mantida pelos portugueses, fazendo com que os ingleses perdessem uma imensa fatia de território, inclusive Passchendaele, local de sangrentas batalhas no ano anterior.

Para colocar as coisas em perspectiva, devemos ter em mente os seguintes fatos: a ofensiva alemã tinha como objetivo alcançar a cidade de Hazebruck, situada a 26 quilômetros da linha de frente um ponto considerado de importância, devido a sua função como centro de suprimentos e de transportes. Foi travada pelos 4º e 6º exércitos alemães (61 divisões) contra os 1º e 2º exércitos britânicos (o CEP estava subordinado a este último), além do exército belga, todos com um total de apenas 34 divisões. No ataque os alemães usariam as técnicas de tropas de assalto (stosztruppen), desenvolvidas recentemente na Frente Oriental e aplicadas com imenso sucesso na ofensiva anterior em St. Quentin (a primeria do conjunto de ofensivas de Ludendorf, conhecidas como Kaiserschlacht). Na área específica do CEP, os alemães empregaram quatro divisões descansadas, o que dava uma superioridade de mais de quatro para um, em relação as forças lusitanas, dispersas de forma tênue.

Além das vantagens mais óbvias, houve uma terrível preparação de artilharia: o 6º exército alemão tinha 1.686 canhões, contra apenas 521 do 1º exército britânico (uma superioridade de 3.3 para 1 e uma densidade de 100 canhões por quilômetro de frente - a maior de toda a guerra, antes e depois). Esses canhões, muitos deles de calibre mais pesado que os ingleses, usariam as técnicas desenvolvidas pelo Coronel Bruchmüller, um gênio neste tipo de operação. Um milhão e quatrocentos mil disparos de artilharia foram feitos no primeiro dia do ataque, que se concentrou na frente defendida pelos portugueses.

Finalmente, Haig, o comandante em chefe inglês, já sabia que um ataque alemão viria a acontecer nas proximidades da área defendida pelo Corpo Português, com um ataque de três ou quatro divisões contra o CEP. De fato, no dia 6 de abril, Haig tinha escrito a Foch: ”Todas as informações apontam para a intenção do inimigo de continuar seu esforço para destruir o exército britânico. Com isto em mente, ele parece estar preparando uma força de 25 a 35 divisões para dar um pesado golpe na frente de Bethune-Arras”. O CEP estava posicionado justamente ao norte de Bethune mas, apesar disso, nada foi feito para reforçá-lo, especialmente considerando que eles ocupavam um setor muito grande, anteriormente defendido pelo dobro de tropas.

O resultado da ofensiva não poderia ser outro: moral abalada ou não, a 2ª Divisão do CEP inevitavelmente seria esmagada. No ataque, ela perdeu cerca 7.500 baixas, dos quais mais de mil mortos, metade do total de portugueses caídos em França. A destruição da divisão permitindo um avanço de cerca de 5 km, como colocado acima, apesar deste não ter sido o único avanço profundo do dia, outros, de igual profundidade tendo acontecido no flanco norte do CEP, defendido por tropas inglesas.

Nos dias seguintes os alemães prosseguiram sua ofensiva, ampliando-a, agora apenas contra os ingleses, já que não havia mais unidades organizadas do CEP na frente. A situação era tão desesperadora que Haig chegou a publicar a famosa ordem do dia “de costas para a parede”, conclamando à defesa até o fim:

”Não há outro caminho aberto a nós a não ser lutar. Cada posição deve ser defendida até o último homem. Não haverá retiradas. Com nossas costas contra a parede e acreditando na justiça de nossa causa, devemos lutar até o fim. Tanto a segurança de nossos lares como a liberdade da humanidade dependem da conduta de cada um de nós neste momento crítico”

Felizmente para os aliados, como todas as ofensivas da Kaiserschlacht, a batalha de Lys, apesar de ter sido um grande sucesso tático (no total das cinco ofensivas, os aliados perderam 948.000 baixas, 225.000 prisioneiros de guerra e 2.500 canhões), não alcançou o objetivo estratégico, a ofensiva sendo encerrada a 29 de abril, quando os alemães ainda estavam a oito quilômetros de Hazebruck.

Mas isso não é o mais relevante para este texto. O importante aqui é apontar que, apesar do que escreveram os britânicos, os portugueses não tinham a mínima condição de resistir ao ataque e não foi culpa deles a vitória tática alemã. Como colocamos acima, eles assumiram o conveniente papel de “bode expiatório”, quando os ingleses tinham que explicar o sucesso alemão, muito superior aos custosos ganhos das ofensivas inglesas no Somme, de 1916.

A conclusão da Guerra

As ofensivas de Ludendorf, a Kaiserschlacht, tinham sido o último fôlego alemão. Ao falhar em obter uma vitória estratégica, a derrota alemã tornou-se inevitável. O pouco mais de um milhão de baixas sofridas por ingleses e franceses foi praticamente integralmente reposto pela chegada por um número apenas ligeiramente inferior de tropas americanas, frescas, enquanto as igualmente pesadas baixas alemães não podiam ser repostas.

Para os portugueses isto não significou muito. O CEP foi recomposto, mas manteve-se na retaguarda até o final da Guerra. Um corpo de 400 portugueses desfilou sob o arco do triunfo na parada da Vitória de 14 de julho de 1919, ano em que as tropas finalmente voltaram para casa. Contudo, mais importante para Portugal, foi a sua participação no Congresso de Versalhes. Lá, o objetivo inicial da participação na guerra foi obtido, a manutenção do império colonial na África, que perduraria até 1974.

Deve-se dizer que os medos lusitanos de ataques ao seu império não eram infundados: nas discussões de paz chegou a ser proposto transformar Moçambique em um território administrado por mandado da liga das nações. Entretanto, isso foi veementemente recusado e não podia ser imposto a um aliado no conflito. Se tivesse acontecido, significaria uma transferência de posse, como foi o caso das antigas colônias alemães (a Namíbia, antiga África do Sudoeste Alemã, dada como “mandato da liga das Nações” para a África do Sul só se tornou independente em 1990, muitos anos depois da Liga das Nações ter sido extinta).

Finalmente, o território de Quionga, em Moçambique foi recuperado e Portugal teve direito à uma cota nas reparações de guerra de Versalhes.

O custo social, contudo, foi muito alto. O custo em vidas foi alto. Além dos 7.222 mortos sofridos pelo país, devem ser somados 13.751 feridos e 12.318 prisioneiros e desaparecidos, um total de 33.291 homens de 100.000 empregados em combate. A inflação tornou-se galopante (a libre valia 7 escudos e 50 centavos em 1919, 27 escudos e 40 centavos em 1934). Politicamente, o país passou por revoluções e guerras civis, o que tornaria a ascensão de Salazar - e sua longeva ditadura - uma conseqüência previsível. Infelizmente, para quase todos fora de Portugal, a participação lusitana na guerra é ignorada.

*Adler Homero F. de Castro
As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leva-as no coração. (Dom Hélder Câmara)
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Volta Redonda
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Lancero

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« Responder #51 em: Abril 17, 2009, 10:48:33 pm »
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França: Cerimónias de La Lys assinalam contribuição portuguesa para "liberdade europeia" - embaixador  



    Paris, 17 Abr (Lusa) - As cerimónias evocativas do 91º Aniversário da Batalha de La Lys assinalam "o vínculo português" à liberdade europeia, considerou hoje o embaixador português em França, Francisco Seixas da Costa.

 

    "Um dos pontos fundamentais", no assinalar do 09 de Abril de 1918 é "sublinhar a nossa vinculação à própria liberdade europeia", disse à Lusa o diplomata português sobre as cerimónias de sábado em França.  

 

    É o "mostrar que o sacrifício daquelas pessoas, em 1918, tem algum significado", adiantou.  

 

    Seixas da Costa vai discursas nas cerimónias evocativas da Batalha de La Lys e da participação portuguesa na I Guerra Mundial, que este ano se realizam a 18 de Abril, em Richebourg e La Couture, França, e estará acompanhado de autoridades civis e militares, portuguesas e francesas.  

 

    "Os franceses partilham connosco este momento. Fico honrado com o poder participar nesta cerimónia ao lado de pessoas francesas", acrescentou o diplomata.  

 

    As cerimónias deste ano acontecem no Cemitério Militar Português de Richebourg e no Monumento aos Combatentes em La Couture.  

 

    A Batalha de La Lys é um marco da participação do Corpo Expedicionário Português (CEP) na I Guerra Mundial (ao lado da França, contra a Alemanha) em 1918.  

 

    Na frente de combate de La Lys estava a 2ª Divisão do CEP, composta por 20 mil homens, dos quais 15 mil estavam nas primeiras linhas.  

 

    Nas quatro primeiras horas de combate, Portugal perdeu cerca de 7500 homens, entre mortos, feridos, desaparecidos e prisioneiros.  

 

    Portugal mobilizou para a I Guerra Mundial mais de 50 mil militares e contam-se em cerca de 12 mil as baixas portuguesas durante todo o conflito.

 

 

    Da participação portuguesa na Guerra de 1914-1918, um nome ficou para a História, a do soldado Milhões (Aníbal Milhais de seu verdadeiro nome).
 

    Milhões foi o único soldado raso português a ser condecorado com o colar da Ordem de Torre e Espada, a mais alta condecoração portuguesa.  

 

    Aníbal Milhais, natural de Valongo, Murça, enfrentou sozinho colunas de Alemães, salvando, quatro dias depois do início dos combates, um médico escocês de morrer num pântano.  

 

    Foi esse médico que informou o exército Aliado da bravura do soldado transmontano.  
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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JACARÉ

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« Responder #52 em: Maio 28, 2009, 03:36:48 pm »
Alguém sabe como era a orgânica dos batalhões do CEP?
 

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Granadeiro

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« Responder #53 em: Maio 29, 2009, 02:24:43 pm »
 

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pedrojaneiro

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Re: La Lys-Alemães eram mais que as moscas
« Responder #54 em: Novembro 12, 2009, 04:53:09 am »
Como posso saber mais informações dos soldados presos na Batalha de la Lys?
O meu bisavô foi militar na 1ª grande guerra e foi preso pelos alemães, mas nem sequer sei se foi em la Lys, só sei praticamente isto, quem sabia mais já não está cá.
grande forum. parabéns
Abraços, Pedro Janeiro
 


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cromwell

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Re: La Lys-Alemães eram mais que as moscas
« Responder #56 em: Abril 09, 2010, 11:48:05 am »


Foi há 92 anos.
"A Patria não caiu, a Pátria não cairá!"- Cromwell, membro do ForumDefesa
 

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drum major

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Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
« Responder #57 em: Abril 10, 2010, 08:49:16 pm »
Os motivos principais por termos entrado na guerra:
- Necessidade de defender as Colónias de outras potências, particularmente da Alemanha.
- Imprescindível necessidade de afirmação política do jovem, regime republicano no concerto das nações, onde as diversas casas reinantes não nutriam grande simpatia pela república de 1910
-Poder participar nas futuras conversações de paz

E o que no meio de tudo isto me deixa triste é só se falar e comemorar o C.E.P a França.

Os desgraçados que combateram heróicamente no Sul de Angola e no Norte de Moçambique totalmente abandonados pla república são os eternos esquecidos desta guerra!!! Ainda não sei bem porquê?
Drum Major
 

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Luso

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Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
« Responder #58 em: Abril 10, 2010, 10:03:14 pm »
Citação de: "drum major"
Os motivos principais por termos entrado na guerra:
- Necessidade de defender as Colónias de outras potências, particularmente da Alemanha.
- Imprescindível necessidade de afirmação política do jovem, regime republicano no concerto das nações, onde as diversas casas reinantes não nutriam grande simpatia pela república de 1910
-Poder participar nas futuras conversações de paz

E o que no meio de tudo itso me deixa triste é só se falar e comemorar o C.E.P a França.

Os desgraçados que combateram heróicamente no Sul de Angola e no Norte de Moçambique totalmente abandonados pla república são os eternos esquecidos desta guerra!!! Ainda não sei bem porquê?
Drum Major


Ainda não sabe porquê?
Porque África é para esquecer, eis porquê.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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drum major

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Re: La Lys - Alemães eram mais que as moscas
« Responder #59 em: Abril 11, 2010, 12:43:27 am »
É verdade África é para esquecer, mas... embora um pouco fora do âmbito de La Lyz, mas dentro da temática 1.ª grande Guerra, poderei acrescentar que:

Aos alemães, até determinada data, não lhes interessava a África, mas Bismark, depois de grande resistência, consentiu que a Alemanha tentasse lá estabelecer-se, neste sentido, no ano de 1884, o Togo e o Camarão foram ocupados e declarados Protectorados Alemães assim como umas parcelas do território do Sudoeste Africano, onde residiam muitos germãnicos.

Em 1897 conseguiu que Portugal lhe cedesse os seus direitos sobre o território entre o Cabo Frio e o Baixo Cunene, assim o território alemão aproximou-se muito da fronteiras com Angola, e desse modo constituiu a Damaralândia, na costa ocidental ao sul desse nosso território.

Na África Oriental, a norte de Moçambique, havia uma companhia de negociantes alemães, que em sintonia com os sucessos obtidos na África Ocidental, declararam que aquela região passaria a ser de futuro a África Oriental Alemã!

Em 1898 o governo inglês e alemão decidiram entre si partilhar a influência mercantil em Angola, aparecendo na imprensa estrangeira uma série de artigos de opinião. O jornal alemão "Post" em Dezembro de 1911 publicava (...) Lembremo-nos, de que nos arquivos de Londres e Berlim, existe um tratado que assinámos em 1898, com a Inglaterra, e pelo qual as possessões de Portugal, na África, nos são garantidas. Seriam compensações, que deviam dar-se-nos, em troca das vantagens da partilha da Pérsia(...)

Precisamente pela mesma ocasião o jornal inglês "Daily Mail" publicava num artigo assinado pelo alemão Hans Delbruck o seguimte: (...)é inevitável, uma diminuição do poder portugu~es em África, e uma partilha das possessões da República, ali, entre a  Inglaterra e a Alemanha, partilha feita há muito tempo, se não fosse a repugnância da Inglaterra, ter intervindo desvantajosamente na ideia da expansão alemã (...)

Não restam dúvidas de que Angola e Moçambique estavam nos projectos expansionistas da Alemanha. Devido a diversas e sucessivas campanhas na imprensa germânica, começaram-se a infiltrar em Angola, muitos alemães, alegando motivos de estudos tropicais, safaris, missões, etc.

A 25 de Agosto de 1914 os alemães atacam o nosso posto de maziua, na África Oriental Portuguesa, matando-nos gente, saqueando e destruindo o posto; a 11 de Setembro, embarcam as nossas tropas para Moçambique ali chegando a 16 de Outubro; a 12 de Setembro, partem as tropas para Angola, onde desembarcam em Mossamedes a 1 de Outubro, começando assim as nossas campanhas defensivas de África contra o invasor alemão.

A 18 de Outubro do mesmo ano dá-se o incidente de Naulila e a 31, do mesmo mês, o de Cuangar, matando o comandante, oficiais e incendiando o posto; a Alemanha declara guerra contra Portugal a 9 de Março de 1916 e Portugal só a declarou, oficialmente, no dia 19 de Maio do mesmo ano.

Infelizmente as nossas acções em África contra os alemães e os nossos heróis, que ali combateram e sofreram, são sempre olvidados, até nas comemorações oficiais e nos monumentos que existem espalhados pelo nosso país, nenhum tem uma estátua em bronze ou pedra referente a um combatente de Angola ou Moçambique, apenas legendas...terá sido por vergonha de terem enviado militares combaterem para África sem as mínimas condições e votados a um total abandono? Terá sido pela incompetência por parte dos principais dirigentes e políticos da época?

Pois é assim... talvez volte a este assunto brevemente...
Drum Major