África pode ser o continente mais atingido pela crise global
África poderá tornar-se o continente mais atingido pela crise económica global, com consequências humanas «devastadoras», alerta o Banco Mundial, que defende a concessão de 20 mil milhões de dólares aos países africanos mais atingidos.
«A crise económica global pode conduzir a uma crise humana em África. Se se verificar uma desaceleração do crescimento que tem sido típica no passado, calculamos que mais 700.000 crianças morrerão antes de atingirem um ano de idade», salienta o Banco Mundial, em nota hoje divulgada a propósito da Reunião de Primavera da instituição, no passado fim-de-semana.
«A pobreza estava a decrescer e muitos indicadores de desenvolvimento humano - em particular a prevalência do VIH/SIDA - estavam a melhorar. Agora, as esperanças suscitadas por uma década de crescimento estão a ser goradas. O que se segue, poderá ser agitação política e social», adianta.
O impacto nos países africanos é verificável na redução dos fluxos de capital privado, que estão em declínio, depois de em 2007 terem pela primeira vez excedido o montante de ajuda externa ao continente.
No passado recente, afirma, «o aumento das entradas de capital tinha criado expectativas de que as economias africanas tinham dado a volta - para ver agora essas expectativas goradas por razões de que os africanos não têm a mínima culpa».
Também as remessas de emigrantes africanos, que normalmente são contra-cíclicas, aumentando quando as famílias estão em dificuldades, deverão diminuir 4,4 por cento em 2009.
«Desta vez, a crise está nos países que enviam as remessas», afirma o Banco Mundial.
Também são esperados cortes ao nível da ajuda externa dos países ocidentais a África, a par de quebras nos orçamentos públicos de nações como Angola, fortemente dependentes das receitas de matérias primas como o petróleo.
«Até mesmo aqueles exportadores de petróleo que pouparam cuidadosamente as suas inesperadas receitas petrolíferas em 2008 (Angola, Gabão e Nigéria) estão a ressentir-se, porque o seu sector não-petrolífero é muito reduzido e muito dependente de despesas governamentais. Prevê-se que o PIB de Angola caia 23 por cento em termos nominais», salienta o Banco Mundial.
«Embora seja a região menos integrada na economia global», adianta, «África poderá ser a mais atingida pela crise económica mundial».
O impacto acaba por ser agravado em muitos países que já registavam desequilíbrios macroeconómicos, como a Etiópia que tem uma taxa de inflação de 60 por cento ou o Gana que tem um défice fiscal de 14 por cento do PIB.
O crescimento médio das economias africanas, que no ano passado ascendeu a 6,4 por cento à boleia dos preços recorde das matérias-primas, irá abrandar, na melhor das hipóteses, segundo as últimas previsões.
Mas, salienta, «uma quebra de dois a três pontos percentuais pode ter consequências devastadoras para uma região de baixos rendimentos».
«A maioria dos governos tem escassa ou nenhuma margem fiscal para estimular a procura. Muitos estão preocupados que os compromissos da ajuda não sejam cumpridos e hesitam por isso em antecipar desembolsos», adianta.
Até agora, a reacção tem passado por reescalonar as prioridades de despesa, aprofundar as reformas, reversão de políticas ou explorando novas fontes de financiamento.
Para fazer face à difícil conjuntura dos países africanos, o Banco Mundial propõe um pacote de ajudas avaliado em pelo menos 20 mil milhões de dólares, nomeadamente para apoiar a balança de pagamentos e as necessidades infraestruturais de África.
«Esta não é uma carência nova: é o que os líderes mundiais pensavam em 2005 que seria necessário para que África tivesse uma razoável possibilidade de alcançar os objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Se alguma vez houve necessidade imperiosa desses recursos adicionais, essa vez é agora», conclui a instituição.
Lusa