Além de tudo isto que temos vindo a falar, também é ridículo o número de efectivos planeado para o horizonte temporal de 2020/22: 30 mil militares. Este número não enche sequer metade do Estádio da Luz! E o "povão", inevitável caixa de ressonância analfabeta de políticos sem escrúpulos e sem qualquer interesse na instituição castrense, na maior parte das vezes não sabe que dos 30 mil homens e mulheres que servem nas Forças Armadas nem todos são tropas especiais, pilotos e marinheiros.
De facto, para que queremos um LPD? Teríamos tripulação para ele, para as suas necessárias escoltas, e militares e meios para nele embarcar? E os Super Lynx? É verdade que dos aliados europeus fomos os últimos a adquirir este modelo de helicóptero em 1993, mas por toda a Europa o Westland Lynx/Super Lynx está em fim de vida prestes a ser substituído ou já foi inclusivamente retirado de serviço e suplantado por helicópteros navais mais modernos (NH90, MH-60R, AW159 Wildcat).
Não há Pandurs anfíbios; o número de aparelhos de asa rotativa no inventário das Forças Armadas será menor e de cariz mais ligeiro, com o Merlin para trabalhos pesados/missões de longo alcance e todos os outros meios para missões ligeiras. Não temos nada actualmente (nem previsto) que se compare com um Puma de médio porte para alguma missão para a qual a utilização do Merlin seja excessiva/desnecessária, e meios como os Super Lynx e o futuro heli ligeiro pura e simplesmente não a possam cumprir.
A modernização das fragatas ainda é um pouco uma incógnita; se virmos que com o abate das corvetas os únicos verdadeiros meios de combate de superfície serão as 5 fragatas das duas classes, e que ainda assim nem todas irão ser modernizadas na extensão do que seria necessário, a capacidade de combate da Marinha será cada vez mais diminuta. Com patrulhas novos e "novos" com reduzida ou inexistente capacidade combatente, o que nos resta? Duas BD modernizadas mas não tanto como as congéneres holandesas e belgas, e 3 VdG ligeiramente melhoradas e usadas no futuro para patrulha costeira com tripulação reduzida? É ridículo! A Armada transformar-se-ia, ou transformar-se-á, principalmente numa "brown water navy"!
Nós que gastamos aqui tempo, paciência e neurónios a debater a realidade das nossas Forças Armadas, vamo-nos apercebendo que a pouco e pouco tudo vai ficando cada vez mais reduzido e diminuto. Se fosse adepto de teorias da conspiração, diria sem problemas que haveria uma agenda, uma clara intenção por detrás destas decisões, para além de o ter de haver sempre um saco azul para salvar BPP's, BPN's, Banif's, Espiritos Santos, CGD's, Montepio's, etc. Pareço cada vez mais um velho do Restelo a alertar que podemos entrar em conflito a qualquer momento, e que ao contrário do mundo que despertou do torpor da austeridade e se começa a rearmar e a preparar para essa eventualidade, Portugal parece seguir no sentido contrário. A própria afirmação do inenarrável Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, na semana passada em Washington que o nosso país se compromete a gastar 2% do PIB em Defesa daqui a dez anos (dez anos!), revela bem como toda a classe política, sem excepção, aborda a existência das Forças Armadas.
Mas pronto, viva a estabilidade financeira dos bancos, o aeroporto Cristiano Ronaldo, a discussão sobre a liderança da Liga Portuguesa de Futebol, a vinda do Papa a Fátima, o sol e bom tempo, o Verão que aí se aproxima, as resmas de turistas que invadem Portugal e deixam cá muitas divisas pese embora dificultem imenso a vida das pessoas nos grandes centros, as tricas políticas, etc, etc, etc.