EUA advertem para «consequências adversas» de acções russasO chefe do Pentágono, Robert Gates, disse hoje que a incursão militar da Rússia na Geórgia «põe em dúvida o diálogo» com os Estados Unidos, e advertiu para as «conseqüências adversas» que causará a longo prazo nas relações entre Washington e Moscovo.
«Se a Rússia não retroceder na sua postura agressiva e nas suas acções na Geórgia, as relações EUA-Rússia podem ser danificadas durante anos», disse Gates, em conferência de imprensa.
O chefe do Pentágono declarou que ele próprio e a secretária de Estado, Condoleezza Rice, tinham iniciado «um diálogo estratégico de longo alcance com a Rússia», mas indicou que «a conduta deste país põe em questão toda a premissa» do mesmo.
«Os russos estavam preparados para aproveitar qualquer oportunidade, e avançaram agressivamente sobre a Ossétia (do Sul)», disse o chefe do Pentágono.
«A mensagem de Moscovo a todas as partes da ex-União Soviética foi uma advertência acerca dos esforços para se integrarem no Ocidente e sair da tradicional esfera de influência russa», acrescentou.
Gates assinalou que os Estados Unidos não têm «nem desejo nem intenção» de retomar um confronto com Moscovo, como o que marcou a Guerra Fria.
«Por 45 anos, fizemos grandes esforços para evitar um confronto militar com a Rússia. Não vejo que haja razões para mudar agora esse enfoque», salientou Gates.
«No entanto, tem que haver consequências para as ações empreendidas pela Rússia contra uma nação soberana», acrescentou.
Considerou ainda que o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, tem interesse em reafirmar o estatuto da Rússia como grande potência, em reafirmar a sua tradicional esfera de influência, e em corrigir o que eles (os russos) vêem como concessões impostas depois do colapso da União Soviética na década de 1990.
«Infelizmente, (a Rússia) escolheu fazê-lo de maneira negativa», afirmou, considerando que «todas as nações passarão agora a olhar a Rússia de maneira diferente».
Gates estimou que é pouco provável que os Estados Unidos participem com as suas próprias tropas numa força de pacificação na Ossétia do Sul e na Abkházia, caso as Nações Unidas enviem uma.
«Estamos um pouco ocupados, segundo parece», acrescentou.
Os Estados Unidos têm actualmente quase 150 mil soldados no Iraque e outros 36 mil no Afeganistão.
«Há interesse em que as tropas de pacificação saiam da Europa», sublinhou.
Por seu lado, o subchefe do Estado-Maior Conjunto, general James Cartwright, que acompanhou Gates na conferência de imprensa, disse que «em termos gerais», a Rússia parece hoje ter cumprido com os termos de um acordo de cessação de hostilidades na Geórgia.
«Esperamos que a Rússia mantenha abertas todas as linhas de comunicação e de transportes, os portos, aeroportos e caminhos», afirmou Gates.
Cartwright declarou que o Comando Conjunto Europeu das forças norte-americanas observa a situação na Geórgia «do ponto de vista de segurança, no contexto da assistência humanitária, e observa que rotas estão abertas e quais são as necessidades médicas».
«Não queremos acumular montanhas de provisões sem que haja uma situação apropriada para a distribuição», disse o oficial, acrescentando que se observou «uma diminuição no nível de forças russas».
«Temos muito boa comunicação com os russos acerca do movimento dos nossos elementos, não há indícios de que estejam a bloquear as estradas», salientou Cartwright.
Lusa