4 de Março
Tempos houve que a terra se sentiu pequena, se transpôs o mar, longínquas ilhas se tomaram, castelos na costa de África se ergueram, feitorias no litoral se edificaram.
Sonhou-se um Mar e um Mundo Português e a obra, porfiadamente, se fez.
O Reino ufanava-se da sua Ínclita Geração que de uma nesga de terra estendida na praia ocidental da Península fez um vasto Império onde o sol não se punha, a coragem dos homens não estremecia e a honra de um Povo era verdade inabalável que nenhuma incerteza fazia vacilar.
De todos os egrégios varões dessa dourada época destacou-se um Infante - de Sagres, de Ceuta, das ínsulas atlânticas, de Arguim, da Serra Leoa - o Infante Dom Henrique.
Num dia como hoje, 4 de Março de 1394, nascia no Porto. Corria-lhe nas veias o sangue de Aljubarrota pelejada por seu pai. No espírito tinha presente outro herói da Batalha, o intrépido cavaleiro e beatífico monge que foi Nun'Álvares Pereira.
Seiscentos anos depois renega-se o mar português; aceita-se como europeu ou espanhol o que só nosso pode ser; e cidadãos desvalidos têm de recorrer a tribunal contra armadores espanhóis, o Governo espanhol e o Governo português dos espanhóis, porque todos estão mancomunados no mesmo pérfido projecto de exterminar Portugal.
Do Infante Dom Henrique, escreveu Camões:
Assim fomos abrindo aqueles mares,
Que geração alguma não abriu,
As novas Ilhas vendo e os novos ares
Que o generoso Henrique descobriu;
Desta corja que em cada época renasce como erva daninha para opróbrio e amesquinhamento de Portugal, disse o mesmo poeta:
Ó tu Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizeste inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes