Independentemente do prisma pelo qual se veja isto, existe um ponto unanime. Um Estado teve bolas para atacar instalações militares americanas, apesar de todas as ameaças. Tirem as ilações, porque acredito que muitos governos estão a tirar ilações também.
Depois do que se passou, na Arabia Saudita, onde os sistemas AA não detectaram/interceptaram o ataque à refinaria, aqui temos também uma situação bastante curiosa; Onde está a AA americana? A acreditar nos relatos, como é que nem sequer as sirenes de alarme soaram antes dos misseis começarem a estourar dentro do perímetro das bases?
Creio que os próximos tempos vão ser bons para a industria de defesa russa, especialmente os fabricantes de sistemas AA.
Era preciso que existissem Patriots nas bases em questão, o que, segundo informações avançadas, não era o caso:
https://www.washingtonexaminer.com/policy/defense-national-security/they-cant-be-everywhere-at-once-why-patriot-missile-interceptors-were-not-used-during-iran-missile-strike
O alarme foi lançado e os militares estavam todos em posições seguras quando os iranianos lançaram os primeiros mísseis:
https://www.nytimes.com/2020/01/08/us/politics/trump-iran-suleimani.html?auth=login-google
A procura pelos sistemas AA russos é grande e a sua qualidade é inegável, mas não me parece que este seja um caso em que vá modificar a sua procura...
Ah, percebo. Vejam lá se se decidem, ou não interceptaram porque não quiseram gastar dinheiro nos misseis quando já sabiam que não iam matar ninguém (alta fé na precisão da tecnologia de misseis iraniana) ou não interceptaram porque não podem ter baterias de misseis em todo o lado e o ataque iraniano passou pelos buracos da malha (alta fé na inteligência iraniana). É que eu sou um bocado primário e só consigo processar uma coisa de cada vez (ao contrario dos misseis iranianos que conseguem escolher os edifícios vazios nas bases de modo a não destruir equipamento nenhum, nem matar ninguém) Aliás, ainda mais incrível, a maior potencia militar do planeta foge/retira/evacua ou o que raio lhe quiserem chamar, das suas bases e isto é tudo combinado…..
Quanto ao elefante no meio da sala, parece que ninguém o quer ver, ou não o vê mesmo. Já vai para mais de 10 anos que aqui, neste fórum, disse que a Europa tinha de mudar a sua politica de subserviência ao americanos para o ME porque o triangulo Washington - Telavive - Riade iria ser substituído pelo de Moscovo - Ancara - Teerão. Ou acompanhávamos a mudança, garantindo um lugar de influência, ou ficávamos "agarrados ao p@u" pois os nossos "aliados" estão a um oceano de distância e não estão dependentes de energia como nós estamos, como tal, a instabilidade e todos os ónus dela, cairiam sobre nós.
Agora, chegamos ao ponto em que um país ataca directamente bases americanas, isto após todas as ameaças de que qualquer acção contra americanos ou instalações americanas seria seguido de "terrível retaliação" e nesse ataque destrói toda uma serie de infraestrutura e sabe-se lá mais o quê. Normalíssimo e tudo combinado, nos últimos 100 anos temos montes de exemplos desses.
As fotografias satélite dos estragos estão na net. Vejam as expressões dos altos quadros militares americanos durante as entrevistas e o que eles vão deixando sair.
Os misseis usados pelo Irão foram o Fateh-110 e o Qiam-1 (misseís balisticos), cujas trajectórias são bastante previsíveis e portanto mais fáceis de interceptar pelos sistemas Patriot. No entanto os Patriot têm um alcance de intercepção limitado contra este tipo de mísseis (ca. de 35km). Os americanos não têm a quantidade de sistemas Patriot no Médio Oriente suficientes para cobrir todas as suas bases. Mas a sua rede de satélites consegue rapidamente localizar o disparo de misseís balísticos. Se os americanos não estivessem já avisados, na melhor das hipóteses desde o disparo até atingir a base (o míssil viaja a cerca de Mach 3.5) e pensando que o disparo seria a relativa distância da fronteira cerca de 5mins para se protegerem no bunker. A probabilidade de mortes seria bastante alta.
A estupidez da administração Trump é manifesta. Ainda ninguém nos EUA, quanto mais nos países aliados, conseguiu perceber este acto completamente irracional de matar o Soleimani. Até os israelitas, sempre tão afoitos a iniciar um conflicto com o Irão, se demarcaram imediatamente da situação.
Esse triangulo de que falas é giro, e até pode vir um dia a materializar-se, mas não é num futuro próximo. Primeiro porque a Turquia teme os russos há mais de 2 séculos e vê como ameaça à sua existência o domínio do Mar Negro e do Mediterrâneo Oriental pelos russos. Aliás, a Rússia vendo-se como a terceira Roma sempre teve o objectivo histórico de libertar Constantinopla (e não penses que o objectivo mudou). Além disso um domínio da Rússia do Médio Oriente e potencialmente dos países eslavos dos Balcãs isolaria por completo a Turquia que ficaria rodeada de inimigos tradicionais.
Também o Irão não esquece que a Rússia é tão perigosa para a sua independência como o Ocidente. Os russos tiveram durante muitos anos o intuito de chegar ao Oceano Indico através do Irão. E na Segunda Guerra os soviéticos e os britânicos chegaram mesmo a invadir o Irão para prevenir que este se juntasse às potências do Eixo.
Na Síria os turcos, iranianos e russos não se conseguem entender, por muito que o Erdogan goste de aparecer ao lado do Putin. Os russos e os iranianos não se entendem relativamente ao futuro da Síria. E, por exemplo na Líbia, os interesses turcos são contrários aos interesses russos.