Caros companheiros, permitam-me algumas considerações sobre este assunto.
Em primeiro lugar, e por aquilo que li ultimamente sobre este avião, fiquei sem dúvidas que é um belíssimo avião de ataque naval, com uma boa capacidade de ataque terrestre. Foi, inclusivamente, testado na Chechénia, portanto em ataque ao solo. As características deste avião já foram anteriormente explicadas por outros companheiros, pelo que não os vou repetir. Só quero dar uma achega à designação. Parece que os primeiros protótipos foram designados Su-32 e os aviões de série Su-34. Mas a designação não é o mais importante mas sim as suas características.
Eu sou apologista que a Marinha (e não a FAP) operasse um número razoável de aviões Su-34 em combinação com aviões AEW e SIGINT (por exemplo os Embraer que o Brasil comprou), em combinação com imagens de satélite. Já sei que vão dizer "mas que satélites"? É que eu prevejo vários cenários para o futuro, na maioria dos quais não actuamos sózinhos mas sim integrados em 2 grandes organizações, a OTAN e a UE. O Su-34, operado em conjunto com os AEW e SIGINT, satélites, navios de superfície e submarinos, sob um comando conjunto da responsabilidade da Marinha (área oceânica, maior número de meios), seria uma arma terrível, exercendo o controlo e interdição de uma extensa área do Oceano Atlântico. Para a patrulha e controlo da ZEE teríamos os NPO 2000, os P-3 C (ex-holandêses?) e os aviões de vigilância marítima (actualmente os CASA e futuramente?). Voltemos aos Su-34. Para poderem ser usados em toda a plenitude das suas capacidades, era necessário possuir bases a partir das quais ele possa operar. Eu proponho que a BA 6 do Montijo passe para um comando conjunto da FAP/Marinha e nela fiquem os P-3 C, os CASA, os Su-34, aviões de reabastecimento aéreo e os helicópteros da Marinha. Seria a BA principal, a "casa mãe" a partir da qual, os aviões de reabastecimento aéreos e os restantes, seriam recolocados consuante as necessidades. Além desta base, propunha uma esquadra de 12 Su-34 nas Lages (grupo central), podendo no entanto utilizarem Santa Maria (grupo oriental) e se possível, as Flores (grupo ocidental), permitindo em caso de necessidade a dispersão das forças, impedindo que, em caso de ataque, fossem todos destruídos de uma só vez. Em Porto Santo colocava um destacamento de 6 aeronaves, fazendo o mesmo em Cabo Verde, provavelmente no Sal. Previa também a possibilidade, em caso de necessidade, de poder utilizar uma pista em São Tomé. É claro que se poderia também falar da necessidade, ou não, de instalações navais em Cabo Verde, mas isso poderá ficar para outra discussão (eu não advogo instalações permanentes mas sim um cais que possa, se for preciso, servir de apoio a eventuais forças navais para lá destacadas).
Este dispositivo dava-nos a possibilidade de controlar uma área do Atlântico Norte, desde a Islândia até Gibraltar e as Canárias e também parte do Atlântico Sul, em especial a zona estreita de transição do Atlântico Norte para o do Sul. Para ficarem com uma melhor noção do que disse, vou por 2 mapas. Um mostrando a área da nossa ZEE e outro mostrando grande parte da área que poderiamos controlar.
E agora a pergunta mais importante. Precisamos destes meios aéreos?
Se quizermos ter uma palavra a dizer na cena internacional, quer na Europa, quer na relação com os EUA, quer em África, sim, precisamos. Precisamos deste avião porque não há mais nenhum que se lhe compare. Se conhecerem outro, indiquem-mo.
Se não quizermos sermos ouvidos e respeitados na cena internacional (infelizmente em muitas situações contam-se primeiro as espingardas e só depois é que se tomam decisões), então não é preciso.
Voltemos à hipótese do sim. Então quais são os cenários com que nos poderemos deparar? (É óbvio que as opiniões que vou expressar são pessoais embora baseadas e influenciadas por várias análises e analistas)
1º cenário - Fortalecimento militar da UE.
A UE europeia, beneficiando de um longo periodo de estabilidade política e de crescimento económico, poude finalmente encontrar consensos entre as diversas nacionalidades e por em prática uma verdadeira política de defesa comum. A OTAN ficou baseada em 2 grandes pilares, a UE e os EUA, com outros estados associados (Canadá, Noruega, Turquia, etc). Devido ao crescente desenvolvimento das suas forças armadas, a UE exigiu paridade na OTAN, aos EUA, reivindicando um comando supremo rotativo. Neste contexto, é importante para a UE ter um país membro com capacidade de controlar uma grande área do Atântico, ou seja, Portugal. Daí a necessidade dos Su-34.
2º cenário - Desmembramento da OTAN.
O aumento da riqueza da UE, ultrapassando os EUA (o que já aconteceu no presente, vejam os posts do Dreamanu) e o aumento crescente do seu poderio militar, fizeram com que os EUA considerassem a UE como o seu principal rival, entrando em guerras económicas com a UE (como a guerra do aço na actualidade), elegendo-a como o seu inimigo nº 1 e levando os EUA a abandonar a OTAN. Como consequência, a UE virou-se para a Rússia formando-se o bloco Euroásia. Neste contexto, é vital para a UE um Portugal forte, capaz de controlar grande parte do Oceano Atlântico. Daí a necessidade dos Su-34.
Vale a pena fazer um parentise e falar da teoria do inimigo principal. Segundo alguns analistas, os EUA sempre tiveram necessidade de terem um inimigo referenciado, o tal inimigo nº 1. Foi o México durante o fim do século XIX e o princípio do XX, o Japão antes e durante a 2ª Guerra, (a Alemanha não era o inimigo referenciado, havia até muitas ligações económicas entre as principais empresas americanas, como a Dupont por exemplo e empresas alemãs. Foi a declaração de guerra disparatada de Hitler e Mussolini que levou os EUA a entrarem em guerra na Europa. Após Pearl Harbor, os EUA só declararam guerra ao Japão).
Após a derrota do Império Japonês, os EUA tornaram-se uma superpotência mas tiveram que rivalizar com outra superpotência, a URSS, que lhes disputava a influência em praticamente todo o globo. A URSS era o inimigo referenciado. Com o fim da guerra fria, os EUA deixaram de ter um inimigo referenciado e entraram em desorientação estratégica. Daí terem escolhido Sadam Hussein primeiro e Bin Laden depois como os seus inimigos referenciados e a fixação neles. Um está destruído e o outro acredito que o será brevemente. Os EUA ficarão novamente sem inimigo referenciado. Quem se perfila? A China e a UE. (uma UE forte, irá rivalizar com os EUA em todas as áreas, tal como fez anteriormente a URSS e os EUA sentir-se-ão ameaçados, economicamente e militarmente).
3º cenário - O fundamentalismo islâmico grassa no Norte de África.
Com os países do Norte de África com governos islâmicos, cresce a instabilidade em todo o Mediterrâneo, Estreito de Gibraltar e países atlânticos do Norte de África. A segurança das Canárias e da Madeira poderá ficar comprometida, além de que todo o tráfico marítimo de e para o Atlântico Sul ficará ameaçado. Mais uma vez, a importância de um Portugal capaz de controlar e assegurar o livre e seguro transito marítimo é extremamente importante. Daí a necessidade dos Su-34.
4º cenário - Guerra civíl num país dos Palops.
Necessidade de garantir segurança a uma Task Force que assegure a retirada dos cidadãos nacionais e que caso seja necessário actuar militarmente (por pedido do governo legítimo, por exemplo, ou por opção política), o faça com todas as garantias de sucesso. Aqui a possibilidade de o Su-34 poder actuar como bombardeiro de ataque ao solo é importante pois aviões baseados em S. Tomé poderão atingir até Cabinda e Angola. Daí a necessidade dos Su-34.
5º cenário - Um país dos Palops é atacado.
Um país africano, membro da CPLP, é atacado e pede auxílio a Portugal. Por exemplo, o conflito de Casamança agudiza-se e o Senegal, com a ajuda da Gambia e da Guiné Conakry decidem atacar a Guiné Bissau que pede ajuda aos restantes países da CPLP. Portugal, sózinho ou não, decide ajudar e envia uma Task Force para a zona. Se dispuzermos de facilidades em Cabo Verde, no Sal, um destacamento de Su-34 poderão dar um auxílio valioso na protecção dessa força e no ataque às forças invasoras, permitindo que a ONU actue, forçando um cessar fogo. É claro que há outro elemento que eu não mencionei, que é a posição da França. Será que opta por auxiliar os países francófonos? Mesmo nesta hipótese, uma força com o apoio dos Su-34 é suficiente para desencorajar qualquer tentativa da França de dominar o mar adjacente. No seio da UE, partindo de uma posição de força, poderiamos levar a França a desistir de intervir e até levá-la a aconselhar os invasores a retirarem. A nossa razão residirá sobretudo no facto de ser a Guiné a atacada e termos força suficiente para fazermos ouvir os nossos argumentos. Se não tivéssemos enviado aquela força naval para a Guiné aquando da revolta de Assumane Mané, o Senegal, Guiné Conakry e a Gambia, com o apoio da França, teriam retalhado a Guiné Bissau. Mais uma vez a importância dos Su-34.
6º cenário - Situação tensa entre Portugal e Espanha.
O Tribunal Internacional de Haia deu razão a Portugal, no diferendo com Espanha, sobre Olivença. Portugal exige a entrega imediata do território e a Espanha recusa. As tensões entre os dois países agudizam-se. Há escaramuças na fronteira. Portugal faz finca pé e pede aos outros membros da UE que reponham o direito internacional e obriguem a Espanha a restituir o nosso território. Isto só será possível com umas forças armadas modernas e bem equipadas. Daí a importância dos Su-34.
Estes cenários são, como já disse, subjectivos mas a discussão também é académica, porque duvido que alguma vez possamos ter estes meios.
Por agora chega
Um abraço
JLRC