Tenho mudado um pouco a minha opinião sobre esse assunto. Continuo a achar que não temos nada a oferecer que não nos possam vir buscar. Também não esqueço que fundos soberanos, como o norueguês, foram dos que mais especularam contra Portugal. Olho com interesse a questão do petróleo na nossa costa e a sua exploração mas também não tenho dúvidas do que já aqui foi exposto: Estado fraco + petróleo = desgraça.
Estamos longe do "centro europeu" e com o alargamento da UE a leste esse centro deslocou-se ainda mais para longe. Em termos competitivos, eu para colocar um produto na Alemanha tenho de cobrir 3000km enquanto um empresário polaco ou checo tem de fazer 600km. Portanto é dificil fazer a maximização das nossas vantagens no actual contexto. Como as três grandes vantagens/forças de Portugal são a agricultura, florestas e mar (isto na minha percepção) julgo que temos de potenciar um quadro onde sejamos "centrais".
A CPLP com o mar como centro é uma boa hipótse, sem dúvida mas isso exige um corte com as politicas dos ultimos 30 anos, coisa que no actual contexto de crise não nos podemos dar ao luxo de fazer e é um empreendimento de muito longo prazo. Na CPLP também não podemos alimentar ilusões quanto ao nosso papel. O protagonismo seria/é para o Brasil, talvez seguido por Angola. Portugal teria de se sujeitar a ficar ao nivel de um Moçambique.
Ser a plataforma logistica da UE para o triangulo África, America do Sul, Ásia. Para mim é a opção mais "facil". Com um porto de águas profundas capaz de receber toda a nova classe de "super-navios", a construção de um complexo industrial para refinamento de matérias primas e rápidas vias de escoamento dos produtos (pipelines, linhas de caminho de ferro, etc) poderia colocar Portugal no centro das trocas comerciais entre a Europa e o mundo em desenvolvimento. Quanto à questão de ser mais facil ao navio que vêm da Ásia fazer a rota do Suez, não sei se os novos navios, devido às suas dimensões e calado, podem cruzar o Suez. Os contras que vejo são a enorme pressão que holandeses e espanhois fariam contra isso, a falta de financiamento para infra-estruturas desse calibre e o perigo cada vez mais real de Europa se fechar sobre si mesma. (Penso que ainda não o fez pela sua dependencia energética)
Manter a opção europeia. Actualmente não exite outro rumo que não seja manter-nos na UE e no Euro (não exclui as opções atlanticas). Aos que advogam um rompimento com a UE e a saida do Euro lembro o caso da Argentina. Isso seria o que nos aconteceria no melhor dos cenários. A nossa dependencia é gigante em bens básicos e é quase tudo suprimido pelas importações dentro da UE (cortesia da incompetencia e laxismo dos governos do Sr. Cavaco Silva na atribuição de subsidios que em vez de potenciar os nossos sectores produtivos, os aniquiláram) e a reconstrução do nosso sector primário e industrialização do país irá demorar décadas.
Estamos a partir com um enorme atraso para a proxima "batalha" global. Essa vai ser a batalha pela alimentação. Após a batalha energética as coisas começam a centrar-se na alimentação. Aí penso que Portugal tem um grande potencial, embora completamente delapidado e relegado para o esquecimento. Esse potencial encontra-se nos nosso terrenos agricolas e no nosso imenso mar. Com a uma fatia populacional mundial cada vez mais centrada nas áreas urbanas, a dependencia dessas pessoas em relação a um sistema que lhe garanta a alimentação será total. Apesar de acreditar que, cedo ou tarde, o ser humano terá de voltar à terra e "sujar" as mãos, penso que o rumo actual irá levar a uma enorme pressão especulatória sobre os alimentos e países como Portugal devem optar por criar um sector agricola forte. Através de uma agricultura sustentada (nada de copiar o sistema espanhol que é, pura e simplesmente, suicidário), com forte interligação com o sector florestal e pescas, de modo a criar uma sustentabilidade de 50 a 60% das nossas necessidades. Pessoalmente sou contra a politica de subsidios e cotas de produção que vigora na UE e com o fim disso a nossa agricultura será novamente rentavel perante a espanhola ou francesa. Certamente que uma agricultura "tradicional" à ti' jaquim não é viável e os pequenos proprietários têm de emparcelar ou então passar à produção do "produtos especiais de corrida" (culturas biológicas, silvicultura, etc). Em termos de frescos somos, junto com Espanha, os fornecedores principais da UE mas estamos terrivelmente dependentes em cereais e transformados. O caso dos cereais é gravissimo, pois mesmo que por algum motivo começassemos a produzir o necessário para consumo interno, o que resta da nossa capacidade de silagem mal passa os 10% das necessidades anuais.
Nas Florestas temos vantagens potenciadoras que nos podem colocar a um nivel superior na UE. Lideres mundiais na produção de cortiça, produtores do melhor pinhão do mundo (muito apreciado pelas confeitarias por essa Europa fora) e a corrigir esse termendo erro dos eucaliptais plantados à toa. Um enorme produtor de biomassa que só agora é que começa a ser explorado.