Coronavírus abre "guerra" entre Arábia Saudita e Rússia. Preço do petróleo com maior descida desde a Guerra do GolfoNo meio da crise do novo coronavírus, a Arábia Saudita ameaçou despejar petróleo no mercado, em conflito com a Rússia. Decisão está a afundar as bolsas e o preço do petróleo.
O preço do barril de petróleo (Brent) caiu 30%, para 31,02 dólares, logo na abertura do mercado, atingindo um mínimo de 2016, naquela que é a maior queda diária desde a primeira Guerra do Golfo. Tudo porque a Arábia Saudita, líder informal da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), avançou para uma “guerrilha” de preços, depois de ter sido contrariada pela Rússia. Esta é uma quebra de preços que está a derrubar, também, os mercados acionistas.
Os sauditas queriam que a Rússia acompanhasse o cartel do petróleo, que junta 14 países, no corte de produção em mais 1,5 milhões de barris por dia até ao fim do ano. Uma estratégia vista como necessária por Riade para fazer face à queda dos preços provocada pela crise do novo coronavírus, que está a afetar a procura de combustível para transportes, em particular na China.
Como Vladimir Putin não concordou, a Arábia Saudita decidiu retaliar, esmagando os preços e, dessa forma, empurrando contra a parede os exportadores de petróleo com menos quota de mercado. Riade tira partido da sua posição como maior exportador mundial de crude (16% do total em 2018) e detentor das maiores reservas mundiais.
O Financial Times cita esta segunda-feira analistas que questionam se esta foi a melhor decisão, tendo em conta que a economia saudita não é imune a choques de preços, mas também lembra que o príncipe Mohammed bin Salman, líder da Arábia Saudita, tem habituado o mundo a jogadas de risco sempre que sentiu necessidade de se afirmar no palco mundial.
Do lado da Rússia, Putin quer ver o impacto da crise em toda a sua extensão antes de tomar decisões, mas o jornal britânico entende que entra também na equação a rivalidade com os EUA. Moscovo acreditará que cortar ainda mais a produção significaria ajudar os EUA, que já se tornou no maior produtor de petróleo do mundo. Esta seria uma oportunidade para a Rússia criar danos na indústria petrolífera americana, que tem tido dificuldades em obter lucros, apesar do crescimento verificado na última década.
Barril de petróleo pode chegar aos 20 dólares e procura deverá cairEsta guerra entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Rússia poderá provocar perdas ainda mais acentuadas, de acordo com a Goldman Sachs. O banco de investimento americano estima que o Brent possa cair até aos 20 dólares por barril. Ou seja, o mínimo de sobrevivência para vários países produtores de petróleo.
O Goldman Sachs não tem dúvidas de que “a guerra de preços entre a OPEP e a Rússia começou este fim de semana”, sublinhando que as perspetivas para o mercado petrolífero são agora piores do que em novembro de 2014, quando também existiu uma guerra de preços. Agora, no entanto, a queda nos preços é acompanhada de “um colapso significativo do lado da oferta, devido ao coronavírus”.
Já esta segunda-feira, a Agência Internacional de Energia confirmou uma revisão em baixa das estimativas de procura por petróleo, a nível mundial. A procura deverá cair de um ano para o outro, o que, a confirmar-se, acontecerá pela primeira vez desde 2009, o ano da ressaca da crise financeira cujo símbolo foi a falência do banco Lehman Brothers.
O organismo apontava para um aumento da procura petrolífera na ordem dos 800 mil barris de petróleo por dia, em 2020, uma previsão que foi, esta segunda-feira, modificada para uma descida média de 90 mil barris por dia, ao longo deste ano.
Neste enquadramento, as bolsas mundiais abriram a semana em forte queda, com o índice pan-europeu Stoxx 600 a cair mais de 5,5%, aproximando-se rapidamente dos valores mais baixos fixados em 2019 – ou seja, dissipando quase toda a recuperação que se registou à medida que se atenuaram os receios de uma “guerra comercial” entre os principais blocos económicos.
Em termos de praças nacionais, a bolsa portuguesa está a perder 5,75%, com a Galp Energia a perder, a dada altura esta manhã, cerca de 25%. O índice FTSE 100 da bolsa de Londres, que tem um forte peso de petrolíferas, perde mais de 6,5%.
Também se antecipa uma abertura muito negativa das bolsas dos EUA, com os contratos futuros sobre o índice S&P 500 a baixarem cerca de 5% e a levarem à ativação dos chamados “circuit breakers“, isto é, o mecanismo de proteção que limita a descida máxima de um índice acionista.
Já nos mercados asiáticos várias bolsas tinham entrado em território de correção negativa – o chamado bear market –, que se define como uma quebra súbita de pelo menos 20% face ao valor máximo recente. “A guerra saudita no mercado do petróleo surgiu numa altura de grande fragilidade nos mercados”, comentou à Bloomberg um analista da AMP Capital Investors, em Sydney, Nader Naeimi.
Uma das primeiras consequências desta crise, para a zona euro, será o lançamento de novas medidas de estímulo monetário por parte do Banco Central Europeu, na reunião da próxima quinta-feira. Isso é o que o mercado está a antecipar, já, com os contratos swap de taxas de juro na zona euro em terreno negativo em todos os prazos até 30 anos.
https://observador.pt/2020/03/09/petroleo-cai-30-para-31-dolares-nao-se-via-nada-assim-desde-a-primeira-guerra-do-golfo/Ora aqui está. Quem exporta petróleo vai ter de fazer muitos orçamentos rectificativos este ano!!!!