Não ignorando o resto do texto do Papatango, vou focar-me naquilo que me parece exactamente ser crucial neste momento, para decidir o que poderá ser a Marinha no futuro.
A frota de superfície deve contar com navios para combate ASW, isso parece ser mais ou menos unânime, e uma visão apoiada pelos parceiros internacionais. Que navios podem desempenhar essa função, sabendo que os NPO estão claramente excluídos da equação?
Corvetas como as Gowind, MekoA100, Sigma, não incluo projectos (EPC), serão ser o ideal? Ou será necessário algo ainda mais robusto para esta função, como as MekoA200, que deve ser a melhor plataforma actual para o efeito? Ou será ainda possível cumprir essa função com um navio mais leve como MMPV da Lurssen, mais económico mas com apenas 13,5m de boca e, possivelmente, menor capacidade para enfrentar mar revolto?
Creio que aqui é que se define tudo, porque será necessário investir nesta capacidade, e esse investimento vai impactar em tudo o resto. Ou seja, será possível adquirir 3/4 destes navios e a estes acrescentar mais 2 (número mínimo que acho insuficiente) navios de grande capacidade, vulgo fragatas AAW?
Ou seremos obrigados a fundir as duas funções numa só plataforma, de forma a conseguir manter, pelo menos 4 cascos?
Exemplificando,
podemos ter 4 MekoA200, abdicando de corvetas ASW e fragatas de 1a categoria.
Podemos ter 2 Sigmas e 2 ASWF.
Podemos ter 4 MMPV, e 2 ASWF.
Podemos ter apenas 5 Sigmas.
destas 4 opções, a segunda que é a mais dispendiosa, só permite, de qualquer modo, ter 4 navios..
Isto mantendo a centralidade na capacidade ASW e contando sempre com orçamentos acima dos 2000 milhões, mesmo nas opções mais simpáticas.
Os XO, sendo polivalentes, iriam tornar improvável a manutenção desta capacidade.
Ter apenas 2 fragatas "a sério" não chega, se forem complementadas apenas por MMPVs e outros navios do tipo. MMPV devia ser algo a considerar para, por exemplo, substituir os 4 NPO originais. Mas aí é outro debate.
As Sigma em causa, qual a versão? É que existe uma grande diferença entre as Sigma marroquinas (Corvetas relativamente simples), as Sigma 10514 (já com CIWS, VLS, e tudo o que se quer numa fragata leve), passando pelas mais poderosas Sigma 11515 e 12516 (estas últimas podendo ter 32 VLS). Uma Marinha com 5 Sigma acima da 10514, é superior a qualquer uma das outras opções apresentadas, excepto a que inclui 2 Sigma + 2 ASWF (se estas Sigmas forem 10514 ou superior).
Também me parece que, se é para passar a ter apenas 4 fragatas, que se faça um esforço e que estas sejam mais capazes, e com mais margem de evolução (para futuros upgrades em equipamento) que as A200 ou similares.
Além de que existem muito mais opções (como as AH140 numa versão ao nível, ou até superior, às Iver).
Esta análise é para ser feita com um plano em mente, e não pode ser autolimitada por supostos orçamentos. Tem que ser feita analisando o problema, e as soluções para o problema. No fim, não seria nada impeditivo ter uma Marinha com 2/3 ASWF, 2/3 XO 139 (eliminando a necessidade de LPD), 4 MMPV (substituindo os 4 NPO originais) e 3/4 submarinos (o custo de uma 3ª ASWF por exemplo, pagava quase totalmente 2 novos U-214 "batch II", e são estas as análises que deviam ser feitas). Quem diz isto, diz, em vez dos XO, ter logo 4 ASWF/AH140/F110/Meko A300 ou outro, e ter a capacidade logística sob a forma de 2 LST ou 2 LST + 1 Ro-Ro convertido (o resto mantendo-se igual). Quem diz os MMPV, diz uma versão das EPC.
Também não entendo muito bem a ideia de colocar as fichas todas na capacidade ASW, quando, no mar, as ameaças vão muito além disso. Não esquecer que cada vez mais os submarinos operam armas stand-off, como mísseis de cruzeiro, capazes de atacar alvos em terra a mais de 1000 km, ou seja, é muito mar para caçar submarinos, sendo mais que certo que conseguirão lançar uma salva de mísseis de cruzeiro a alvos estratégicos, contra os quais nós, sem defesas AA, não temos qualquer capacidade de defender. Fragatas com alguma capacidade AAW acima da já habitual defesa próxima, poderá ser crucial.
As futuras fragatas têm que ser o mais versáteis possível. É preciso que estas possam ser usadas tanto para ASW, como ASuW, como AAW e até atacar alvos em terra a longas distâncias.
Todos estes planos, dependem inteiramente de se cumprir 2% do PIB na Defesa (nem que isto inclua os ~0.4% da GNR).
As ASWF são, ou vão ser, fragatas ASW. Não são propriamente DZP ou F100. Os holandeses estão a estudar a possibilidade de aumentar a capacidade AAW, provavelmente, através do aumento do número de células VLS. Mas, para já, não passam de navios do tipo FREMM, mas com sistemas 20 anos mais novos. Ou seja, não são propriamente navios high-end, excepto talvez para Portugal.
Sim, as fragatas de primeira linha holandesas, serão as eventuais substitutas das DZP.
Ironicamente, se não se alterarem os planos em termos da capacidade AAW das ASWF, uma simples e consideravelmente mais barata Sigma 11515 ou 12516, terá capacidade AAW superior.
No caso da MGP, diria que ter 4/5 navios com 16 VLS, é o mínimo dos mínimos. Sendo que 2/3 com 16 e 3 com 32 algo mais aceitável, apesar de longe do "ideal".
PS: Relembrar também que, quando se fala em "necessidades apontadas pela Marinha" há 20 anos atrás, estas não incluíam apenas o LPD, incluíam também 4 submarinos (e não apenas 2), mais 6/7 fragatas. Estranho que no mundo mais perigoso que temos desde a guerra fria, só se lembram do logístico.