Empresários e patriotismo

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JQT

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Empresários e patriotismo
« em: Maio 13, 2004, 06:48:14 pm »
Jornal de Negócios, 13.05.2004

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Luis Nazaré
Marx e a Petrogal
--------------------------------------------------------------------------------

Não há empresários patriotas, quando muito há patriotas que são empresários. Nos tempos da febre marxista-leninista, o capital era tratado de modo igualitário. Todo ele era apátrida, explorador, alienante.
Nos tempos da febre marxista-leninista, o capital era tratado de modo igualitário. Todo ele era apátrida, explorador, alienante.

Os patrões, pequenos ou grandes, honrados ou viciosos, portugueses ou estrangeiros, eram os inimigos históricos, os alvos a abater no caminho para a construção da tal sociedade sem classes.

A descida à realidade, nuns casos suave noutros abrupta, foi temperando os conceitos e o vocabulário. No ocaso do PREC, a burguesia já não era tratada por igual.

Se a memória não me falha, foi o MRPP quem primeiro lançou, lá para meados de 75, o conceito de «burguesia nacional», antecessor dos actuais «centros de decisão nacional».

Depois, de evolução em evolução, foram chegando outros eufemismos, como «sectores patrióticos da burguesia», «empresários nacionais» e por aí adiante, à medida que as ingénuas mentes revolucionárias de outrora se convertiam à economia de mercado.

Após a entrada na União Europeia, em 86, o vocabulário político-económico parecia definitivamente estabilizado entre os portugueses. Chegara a normalidade. Eis senão quando o mundo decide tornar-se global e Portugal entrar em recessão.

Um misto de pânico e esperança (de venda) instala-se no mundo português dos negócios. Castela avança e conquista, sem resistência, importantes praças-fortes. O capital internacional penetra friamente no tecido económico nacional, ora desnatando-o ora valorizando-o, mas sempre roubando uma parte da nossa auto-estima.

A pouco e pouco, apercebemo-nos de que já mandamos pouco em nossa própria casa e que as fortalezas que restam – sobretudo as utilities, até agora em mãos maioritariamente públicas – se encontram em perigo iminente de cedência.

Estão reunidos todos os ingredientes para a eclosão de um movimento de resistência. Lema, já existe: «Não há capital como o nacional». Linguagem cifrada também: «centros de decisão nacional», «centros de excelência», «centros de inteligência».

Só faltam dois pequenos detalhes: o arsenal bélico e a vontade das tropas. É que a comunidade dos negócios não olha a interesses nacionais, mas sim à valorização do seu património. Não há empresários patriotas, quando muito há patriotas que são empresários.

Só conheço um modo de se garantir o controlo de um sector de actividade ou de uma empresa em mãos nacionais – é através de capital público.

Se há razões de interesse geral que justifiquem a manutenção de uma empresa em mãos maioritariamente do Estado, as consequências financeiras que daí decorrem – muitas vezes boas, vide os dividendos proporcionados pela CGD e EDP, entre outras – têm de ser plenamente assumidas pelo erário público.

Todas as economias prósperas domundo o sabem e o praticam. Do Japão aos Estados Unidos, da Suécia à Coreia, da França à Austrália, são inúmeros os exemplos que o atestam.

Se se quer salvaguardar, como os nossos parceiros fazem sem complexos, o controlo nacional sobre a energia, as águas, a CGD ou a TAP, então o Estado deve manter-se como accionista principal.

A batalha campal em torno do super-concurso Galp assemelha-se a um torneio de wrestling. Tudo parece combinado, o show off mediático dos lutadores e respectivos agentes é constante e as regras, se é que existem, são desconhecidas do grande público.

Pouco importa quem será o vencedor do certame ou qual a bandeira do seu dinheiro. Para os consumidores e os agentes económicos, o que releva é o preço do produto final. Pouco importa o nome dos patrocinadores e dos intermediários.

A querela em torno da presença de Martins da Cruz num dos consórcios concorrentes é ridícula, a menos que se considere que as aparências ficariam melhor salvaguardadas com um parente longínquo (residente na Suiça, por exemplo).

Não, não compro argumentos fundamentalistas e confesso mesmo apreciar a frontalidade com que o ex-ministro dá a cara nesta peleja. Se os costumes nacionais afinassem sempre por este diapasão, não estaríamos mal.

Onde a credibilidade do processo falha é na sua própria organização e na opacidade do processo decisional. Uma operação desta natureza deveria ser antecedida de um caderno de encargos, com critérios de ponderação conhecidos ex ante.

A decisão sobre o vencedor deveria ser tomada por um júri prédesignado, como manda a decência e o interesse público.

Em vez disso, teremos uma sopa juliana de avaliadores, consultores, sábios e ministros, onde ninguém conseguirá distinguir a razão das coisas.

Viva a transparência!


JQT
 

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Leonidas

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Re: Empresários e patriotismo
« Responder #1 em: Dezembro 09, 2005, 12:17:11 am »
Saudações guerreiras.

Citação de: "JQT"
Jornal de Negócios, 13.05.2004

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Luis Nazaré
Marx e a Petrogal
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Não há empresários patriotas, quando muito há patriotas que são empresários. Nos tempos da febre marxista-leninista, o capital era tratado de modo igualitário. Todo ele era apátrida, explorador, alienante.
Nos tempos da febre marxista-leninista, o capital era tratado de modo igualitário. Todo ele era apátrida, explorador, alienante.

Os patrões, pequenos ou grandes, honrados ou viciosos, portugueses ou estrangeiros, eram os inimigos históricos, os alvos a abater no caminho para a construção da tal sociedade sem classes.

A descida à realidade, nuns casos suave noutros abrupta, foi temperando os conceitos e o vocabulário. No ocaso do PREC, a burguesia já não era tratada por igual.

Se a memória não me falha, foi o MRPP quem primeiro lançou, lá para meados de 75, o conceito de «burguesia nacional», antecessor dos actuais «centros de decisão nacional».

Depois, de evolução em evolução, foram chegando outros eufemismos, como «sectores patrióticos da burguesia», «empresários nacionais» e por aí adiante, à medida que as ingénuas mentes revolucionárias de outrora se convertiam à economia de mercado.

Após a entrada na União Europeia, em 86, o vocabulário político-económico parecia definitivamente estabilizado entre os portugueses. Chegara a normalidade. Eis senão quando o mundo decide tornar-se global e Portugal entrar em recessão.

Um misto de pânico e esperança (de venda) instala-se no mundo português dos negócios. Castela avança e conquista, sem resistência, importantes praças-fortes. O capital internacional penetra friamente no tecido económico nacional, ora desnatando-o ora valorizando-o, mas sempre roubando uma parte da nossa auto-estima.

A pouco e pouco, apercebemo-nos de que já mandamos pouco em nossa própria casa e que as fortalezas que restam – sobretudo as utilities, até agora em mãos maioritariamente públicas – se encontram em perigo iminente de cedência.

Estão reunidos todos os ingredientes para a eclosão de um movimento de resistência. Lema, já existe: «Não há capital como o nacional». Linguagem cifrada também: «centros de decisão nacional», «centros de excelência», «centros de inteligência».

Só faltam dois pequenos detalhes: o arsenal bélico e a vontade das tropas. É que a comunidade dos negócios não olha a interesses nacionais, mas sim à valorização do seu património. Não há empresários patriotas, quando muito há patriotas que são empresários.

Só conheço um modo de se garantir o controlo de um sector de actividade ou de uma empresa em mãos nacionais – é através de capital público.

Se há razões de interesse geral que justifiquem a manutenção de uma empresa em mãos maioritariamente do Estado, as consequências financeiras que daí decorrem – muitas vezes boas, vide os dividendos proporcionados pela CGD e EDP, entre outras – têm de ser plenamente assumidas pelo erário público.

Todas as economias prósperas do mundo o sabem e o praticam. Do Japão aos Estados Unidos, da Suécia à Coreia, da França à Austrália, são inúmeros os exemplos que o atestam.


Se se quer salvaguardar, como os nossos parceiros fazem sem complexos (os espanhóis), o controlo nacional sobre a energia, as águas, a CGD ou a TAP, então o Estado deve manter-se como accionista principal.

A batalha campal em torno do super-concurso Galp assemelha-se a um torneio de wrestling. Tudo parece combinado, o show off mediático dos lutadores e respectivos agentes é constante e as regras, se é que existem, são desconhecidas do grande público.

Pouco importa quem será o vencedor do certame ou qual a bandeira do seu dinheiro. Para os consumidores e os agentes económicos, o que releva é o preço do produto final. Pouco importa o nome dos patrocinadores e dos intermediários.

A querela em torno da presença de Martins da Cruz num dos consórcios concorrentes é ridícula, a menos que se considere que as aparências ficariam melhor salvaguardadas com um parente longínquo (residente na Suiça, por exemplo).

Não, não compro argumentos fundamentalistas e confesso mesmo apreciar a frontalidade com que o ex-ministro dá a cara nesta peleja. Se os costumes nacionais afinassem sempre por este diapasão, não estaríamos mal.

Onde a credibilidade do processo falha é na sua própria organização e na opacidade do processo decisional. Uma operação desta natureza deveria ser antecedida de um caderno de encargos, com critérios de ponderação conhecidos ex ante.

A decisão sobre o vencedor deveria ser tomada por um júri prédesignado, como manda a decência e o interesse público.

Em vez disso, teremos uma sopa juliana de avaliadores, consultores, sábios e ministros, onde ninguém conseguirá distinguir a razão das coisas.

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JQT

Aquilo que quería fazer era colocar somente a noticia em baixo, mas ao deparar com isto não fiquei indiferente e resolvi dar um toque pessoal á notícia que JQT tinha postado como também em jeito de complemento e dar uma outra visão a "contrapor" e contrapor as afirmações feitas.

Citação de: "Agência LUSA"
06-12-2005 3:20:00.  Fonte LUSA.    Notícia SIR-7549066
Temas:  economia portugal espanha energia política governo empresas

Energia: Interesses ilegítimos prejudicam progresso do País - Henrique Neto

Lisboa, 06 Dez (Lusa) - O vice-presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), Henrique Neto, acusou "interesses pouco claros" e "frequentemente ilegítimos", de se sobreporem ao interesse colectivo e ao progresso e desenvolvimento económico de Portugal.

O empresário líder da Iberomoldes fez esta acusação durante uma intervenção no debate sobre política energética organizado pela Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social) e o Fórum para a Competitividade na noite de segunda-feira na Ordem dos Engenheiros.
Este ex-deputado socialista entende que "é mais do que tempo de os portugueses sérios e patriotas se unirem num combate sem tréguas a favor de Portugal".

Henrique Neto considerou o sector energético "apenas um exemplo, talvez algo patético, mas certamente trágico", de uma realidade em que aqueles interesses actuam "praticamente à luz do dia, sem nunca terem sido investigados", o que entendeu ser "a melhor demonstração do seu poder e da impunidade com que se movem".
A raiz das considerações de Henrique Neto está no processo de privatização da Petrogal que o levou a criticar Pina Moura, ministro das Finanças e da Economia no governo de António Guterres, Diogo Freitas do Amaral, então presidente da Petrocontrol, bem como a maioria dos investidores da empresa, com excepção de Manuel Bullosa.

O processo de privatização da Petrogal passou pela venda, em 17 de Janeiro de 2000, da posição dos accionistas privados portugueses, agrupados na Petrocontrol, presidida por Diogo Freitas do Amaral, e na entrada dos italianos da ENI no capital da Galp com uma posição de 33,34 por cento, era então Pina Moura ministro das Finanças e da Economia no governo de António Guterres.

Henrique Neto perguntou pelas razões que levam "o nosso sistema político a silenciar este negócio".
Particularmente crítico relativamente ao ex-ministro de Guterres, Henrique Neto lembrou que "este silêncio continua estranhamente a permitir que o Dr. Pina Moura possa continuar a ser simultaneamente deputado da República, presidente da empresa Iberdrola em Portugal - que concorre com o sector energético nacional - e administrador da empresa sucessora da Petrogal, a Galp".

Invocou a propósito Sousa Franco, "que teve a coragem de dizer o óbvio, na sua famosa frase «o homem dos espanhóis»", uma alusão ao então ministro das Finanças e da Economia no governo de Guterres.
A subordinação a Espanha foi outro ponto importante da sua intervenção, em que afirmou que "muitos outros dirigentes do chamado bloco central têm igualmente defendido os interesses espanhóis das mais variadas formas, como, por exemplo, através da invenção do mercado ibérico de electricidade (Mibel)".

Para Henrique Neto, "tudo tem sido feito - ou pelo menos assim tem resultado - no sentido de enfraquecer as empresas nacionais e facilitar a penetração das empresas espanholas".
Questionando "Porque o fazem? Com que interesse?", o vice- presidente da AIP apresentou as respostas quase imediatamente:
"tratando-se de pessoas inteligentes, a razão da insanidade mental será de excluir".


Por outro lado, Henrique Neto considerou que o poder político está "fortemente dominado pelo bloco central dos interesses" e que "a promiscuidade entre a política, os governos e alguns grupos económicos conduziu a que estes se tenham vindo a abrigar da concorrência externa e a viver para os negócios do Estado, com o Estado e para o Estado".
Henrique Neto defende que esta situação é insustentável, "já que nenhum país pode sobreviver satisfatoriamente com uma parte tão relevante da sua economia a dormir na cama com os governos e a fugir da concorrência internacional".


Certo é que "os negócios do Estado já permitiram que bastantes tenham ficado injusta mas faustosamente ricos, ao mesmo tempo que a Nação, no dizer do Dr. Durão Barroso, está de tanga", contrapôs Henrique Neto.

RN.
Lusa/Fim


O PARANORMAL EM PORTUGAL

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Jorge Pereira

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« Responder #2 em: Dezembro 09, 2005, 12:29:29 am »
Citar
Henrique Neto perguntou pelas razões que levam "o nosso sistema político a silenciar este negócio".
Particularmente crítico relativamente ao ex-ministro de Guterres, Henrique Neto lembrou que "este silêncio continua estranhamente a permitir que o Dr. Pina Moura possa continuar a ser simultaneamente deputado da República, presidente da empresa Iberdrola em Portugal - que concorre com o sector energético nacional - e administrador da empresa sucessora da Petrogal, a Galp".


Se alguém sabe responder, faça favor... :roll:
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






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Leonidas

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« Responder #3 em: Dezembro 09, 2005, 02:04:21 am »
Acho que a explicação mais obvia é isto: .

Citar
Revelam autoridades nacionais
Portugal sem estratégia para combater corrupção
[ 2005/03/09 | 08:53 ] EditorialPúblico/PGM

Portugal não deu indicações de ter uma estratégia específica de combate à corrupção, concluíram os peritos do Grupo de Estados Contra a Corrupção, a partir das informações das autoridades portuguesas.
O relatório produzido por esta organização do Conselho da Europa, citado pelo «Público», afirma que Portugal «não indica ter adoptado política ou estratégia de anti-corrupção específica» e adianta que o dispositivo anti-corrupção em prática baseia-se num sistema «designado no plano legal por sistema de controlo interno» e que engloba todos os órgãos de controlo internos dos diversos ministérios, coordenados, no conjunto, pelo Tribunal de Contas
.

http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?id=510948

Vejam só o que se perde com o fator "C":

Citar
Rendimento per capita poderia triplicar
Fim da corrupção poria Portugal ao nível da Finlândia

[ 2005/08/31 | 08:52 ] EditorialPGM

O Banco Mundial diz que, não fosse o nível de corrupção que existe em Portugal, o país poderia estar ao nível da Finlândia, em termos de desenvolvimento.
Parece um passe de mágica, mas não é. O que acontece é que, se não existisse corrupção em Portugal, o rendimento por pessoa poderia multiplicar-se por três
.
O estudo, intitulado «Dez mitos sobre a governação e corrupção» e foi publicado na revista «Finance & Management», do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Outros países, sobretudo os que se encontram em desenvolvimento, poderiam beneficiar também de um maior controlo sobre a corrupção, como é o caso de alguns dos países do Alargamento da União Europeia. A Lituânia, por exemplo, daria um salto para a posição que actualmente é ocupada pelo nosso país em termos de desenvolvimento.
Mas o estudo do Banco Mundial vai mesmo mais longe e diz que um maior controlo da corrupção em Portugal poderia ter efeitos colaterais como a redução da taxa de mortalidade infantil e da taxa de iliteracia.

É que a corrupção agrava sobretudo a situação das famílias com menores rendimentos, que assim pagam mais impostos do que deveriam e se vêem forçadas a gastar parte do seu orçamento em subornos para poderem ter acesso a serviços que são públicos.
Em termos globais, o Banco Mundial estima que a corrupção transacciona perto de mil milhões de dólares. Em Portugal não se sabe que é o valor destas transacções menos claras, já que o próprio Banco Mundial diz que não é possível medir o nível de corrupção nem de controlo sobre a mesma


http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?div_id=&id=577413

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Luso

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« Responder #4 em: Fevereiro 15, 2006, 10:05:14 pm »
Do "Portugal Profundo"

Citar
"Iberizados


"Primeiro estranha-se, depois entranha-se" - escreveu Fernando Pessoa para um slogan da Coca-Cola encomendado pela firma Abel Pereira da Fonseca. Paradoxalmente, a frase de promoção seria a sentença de proibição de venda da bebida e sua apreensão com lançamento ao mar, por ordem do famoso médico Ricardo Jorge, director de Saúde de Lisboa. A decisão resultou inevitável da reedição do chamado dilema de Omar: ou a bebida tinha coca e, como estupefaciente, era tóxica e não podia ser comercializada; ou não tinha coca e constituía uma burla... De uma forma, ou de outra, tinha a sorte traçada até à autorização de 1977.

Recentemente, e depois de uma confirmação oficial da DEVIDA (Comisión Nacional para el Desarrollo y Vida sin Drogas), agência peruana de combate à droga, em 26-1-2006, citada por The Narco News Bulletin, de que "a Coca-Cola compra ao Perú 115 toneladas de folha de coca por ano e à Bolívia 105 toneladas", Evo Morales, o líder dos cocaleros, eleito presidente da Bolívia, veio também atestar o rumor antigo que, a Wikipedia também revela. Diz a fabulosa enciclopédia que "originalmente o estimulante misturado na bebida era cocaína". Contudo, desde 1929 que "o estimulante foi alterado para cafeína, mas o sabor ainda é feito através de noz de cola e folha de coca". No entanto, "a cocaína foi removida das folhas e a bebida não contém traços" de droga ou alcalóides... É só o sabor da coca presente na fórmula secreta.

O iberismo também é um estupefaciente. Quem o toma, fica sujeito a uma dependência que nem a prescrição, por ordem do médico, que também é o povo, de temporadas de cura e tentativas de reabilitação. Insidioso, o vício verga sucessivamente a vontade frouxa ou venal do dirigente atreito à tara da submissão-traição. Uma droga tão perigosa que é conhecido pelo menos um caso de um síndroma cunhado como "Vasconcelite Crónica" em que o indivíduo se joga pela janela no desespero da perdição, numa antecipação compulsiva do moderno moche artístico. A recidiva é ordinária, com excepção dos doentes que, abandonados à sua triste sorte pelos traficantes-corruptores, se arrependem do caminho sinuoso seguido. A hipótese de cura é raríssima: prova-se uma vez e a alienação do dinheiro e do fausto nunca mais libertam o cérebro do adicto de corrupção. Porém, a atracção pelo abismo não se contém: existem casos actuais sintomáticos em que o risco elevado de defenestração não chega a compensar o prazer do agachamento e o lucro do tráfico...

Estranha-se, agora, a implantação da Iberia no roteiro político da geografia do poder e até dos mapas do GPS... Logo, logo, se entranha no corpo débil da nação resignada. Devagarinho, para não doer tanto. Um dia desses, acordamos iberizados e... mal pagos. Espanha, depois, não paga a traidores.

Publicado por Antonio Balbino Caldeira em 2/14/2006 06:57:00 PM"
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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ferrol

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Mi iberismo.
« Responder #5 em: Fevereiro 16, 2006, 08:45:07 am »
http://www.lainsignia.org/2000/abril/cul_065.htm
Citar
Como cualquier otro portugués antiguo y moderno, fui instruido en la firme convicción de que mi enemigo natural es, y siempre habría de serlo, España. No atribuíamos demasiada importancia al hecho de que nos hubiesen invadido y saqueado los franceses, o que los ingleses nuestros aliados nos hubieran explotado, humillado o gobernado [...]

Absoluto, lo que se dice absoluto, desde nuestro punto de vista de portugueses, sólo el rencor al castellano, sentimiento llamado patriótico en que fuimos infatigables en el transcurso de los siglos, lo que, quién sabe, nos habrá ayudado por el rechazo y por la contradicción, a formar, robustecer y consolidar nuestra propia identidad nacional.[...]

Este sistema organizado de malquerencias y desconfianzas, cuántas veces paralizador, no me impidió, como tampoco impidió a otros portugueses, interesarme muy de cerca por la cultura española, en especial la literatura y la pintura.[...]

creo que he empezado a comprender mejor a España conforme iba reconociendo e identificando, en la plenitud de su expresión, las diversidades nacionales que veía emerger de la unidad estatal, lo que resultó, por último, supongo que por un proceso no completamente consciente, una forma de apagamiento subversor de la imagen de España adquirida por vía pasiva a favor del surgimiento irresistible de una constelación socio-histórico-cultural pluriforme, literalmente fascinante.

Claro que nada de lo que estoy escribiendo es nuevo: como yo, lo han experimentado todos aquellos que se han acercado a España despojados de ideas preconcebidas, o suficientemente vigilantes como para esquivar los daños que éstas suelen causar a los incautos.[...]

Pero, efectivamente, algo vino a modificar mi relación, primero con España, después con la Península Ibérica en su conjunto (lo que equivale a decir que yo empezaba a lanzar sobre mi propío país una mirada diferente): la evidencia de la posibilidad de una nueva relación que sobrepusiera al diálogo entre Estados, formal y estratégicamente condicionado, un encuentro continuo entre todas las nacionalidades de la Península, basado en la búsqueda de la armonización de los intereses, en el fenómeno de los intercambios culturales, en fin, en la intensificación del conocimiento.


José Saramago, Prólogo al libro "Sobre el iberismo y otros escritos de literatura portuguesa", de César Antonio Molina. Ediciones Akal. Madrid, 1990.
Tu régere Imperio fluctus, Hispane memento
"Acuérdate España que tú registe el Imperio de los mares”
 

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Luso

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« Responder #6 em: Fevereiro 16, 2006, 09:11:00 am »
Saramago é comunista, logo e por definição teórica e demonstradamente internacionalista ou seja, tudo menos patriota.
Saramago quando muito é novelista e esse facto não o torna melhor apreciador da realidade por isso.
Por mim que se torne espanhol (o seu ódio a Portugal é tanto que é capaz de se tornar patriota em relação a outro país) e que leve o seu Nobel para Espanha.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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pedro

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« Responder #7 em: Fevereiro 16, 2006, 10:37:35 am »
Tem toda a razao Luso.
Cumprimentos
 

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« Responder #8 em: Fevereiro 16, 2006, 11:11:44 am »
Citação de: "Luso"
Saramago quando muito é novelista e esse facto não o torna melhor apreciador da realidade por isso.
Entendo... entón, o tal "Antonio Balbino Caldeira", autor citado por vostede ¿Está máis capacitado que Saramago para escribir de iberismos?  :?:
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« Responder #9 em: Fevereiro 16, 2006, 12:29:03 pm »
Citação de: "ferrol"
Citação de: "Luso"
Saramago quando muito é novelista e esse facto não o torna melhor apreciador da realidade por isso.
Entendo... entón, o tal "Antonio Balbino Caldeira", autor citado por vostede ¿Está máis capacitado que Saramago para escribir de iberismos?  :?:


Está.
E não é preciso muito para isso. Basta ser um português honesto e ter dois palmos de testa.
Levem o Saramago. E Espanha que fique com mais um Nobel.
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ferrol

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« Responder #10 em: Fevereiro 16, 2006, 05:05:39 pm »
Citação de: "Luso"
Está.
E não é preciso muito para isso.
Basta ser um português honesto e ter dois palmos de testa.
Levem o Saramago. E Espanha que fique com mais um Nobel.

Pois mire que eu llo agradecería, pero Saramago teima en seguir sendo portugués.  :?:
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Yosy

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« Responder #11 em: Fevereiro 16, 2006, 07:24:41 pm »
Citação de: "ferrol"
Citação de: "Luso"
Saramago quando muito é novelista e esse facto não o torna melhor apreciador da realidade por isso.
Entendo... entón, o tal "Antonio Balbino Caldeira", autor citado por vostede ¿Está máis capacitado que Saramago para escribir de iberismos?  :?:


Não sei se sabe, mas o Saramago foi só um canalizador antes de ser famoso.

O que ele disse, de qualquer modo, é completamente FALSO. Nas invasões francesas fomos o único país da Europa Continental a resistir a Napoleão (e arrastámos a Espanha para a guerra por causa disso). E quando os ingleses nos deram o Ultimatum no século XIX (ou desistem das ambições africanas ou invadimo-vos), a monarquia cedeu perante os ingleses, o que provocou uma enorme revolta popular e contribuiu decisivamente para a queda da Monarquia.

O que Portugal e o povo português (apesar do que muitos dizem) são é ferozmente independentes - toda a nossa história prova-o. Mas isso não é incompatível com boas relações com a Espanha.
 

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« Responder #12 em: Fevereiro 16, 2006, 09:20:44 pm »
Citação de: "ferrol"
¿E vostede? ¿Está capacitado para xulgar quen é honesto ou non o é?  :?:


Sim, estou.
E o incrível é que não é preciso tanto como julga.
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ferrol

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« Responder #13 em: Fevereiro 18, 2006, 11:33:36 am »
Citação de: "Luso"
Citação de: "ferrol"
¿E vostede? ¿Está capacitado para xulgar quen é honesto ou non o é?  :roll:  :lol:
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« Responder #14 em: Fevereiro 18, 2006, 01:24:51 pm »
Citação de: "ferrol"
Citação de: "Luso"
Citação de: "ferrol"
¿E vostede? ¿Está capacitado para xulgar quen é honesto ou non o é?  :roll:  :bye:
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