O texto tem pontos interessantes e importantes, que vão na linha de muito do que neste fórum vem sendo discutido há anos. Mas também tem muita demagogia barata, fuga às responsabilidades e areia para os olhos.
Não se pode levar a sério um tipo que no mesmo texto escreve, por um lado, que as Forças Armadas não estão subfinanciadas e por outro que "Precisamos de mais fragatas, de mais dois submarinos, de mais corvetas, patrulhas, lanchas, os seis navios patrulha oceânicos são acréscimos insuficientes… Mesmo assim, de pouco valerão todos estes investimentos se a Armada não for reforçada, na sua operação, com capacidade de satélite, uma vez que a vigilância, no nosso tempo, se faz a partir do espaço e através de meios não tripulados e sensores em complemento com a opção mais tradicional e física"... O orçamento executado (que é o real, não as ficções apresentadas em documentos) nunca na vida permitiria adquirir, manter e operar estes meios sem um aumento significativo. Aliás, já para manter os meios que existem é o que se sabe, enfim...
Outra bizarria é dizer que que as Forças Armadas não têm falta de recursos humanos, apenas "alocam incorretamente as mulheres e os homens ao seu serviço". A organização e afectação de recursos pode melhorar muito, não há dúvida, mas basta olhar para os mapas de pessoal para perceber as carências colossais que existem. Onde estão escondidos os efectivos para alocar aos desfalcadíssimos batalhões de Comandos e Paraquedistas para andarem a fazer rotações em África? É libertar pessoal de secretaria para essas funções, é isso? (Já nem dúvido...) E quem diz isto diz uma série de outras funções.
"Com a ida do Regimento de Comandos para Tancos a Academia Militar concentrava-se toda na Amadora e deixava os edifícios históricos para outras funções". Esta pessoa sabe que o Regimento de Comandos já saiu da Amadora há décadas, certo?... Tudo certo sobre a concentração da Academia Militar na Amadora, mas de certeza que não são os Comandos o empecilho para isso não avançar. Também me faz alguma espécie que ao falar da reorganização territorial do Exército o exemplo maior dado tenha sido o RI10. Do meu ponto de vista tem que começar-se pelos diversos quarteis, destacamentos e chafaricas que não têm unidades operacionais, que só fazem formação ou que têm basicamente serviços administrativos. O RI10 é casa de um batalhão de paraquedistas (desfalcado), dos melhores e com maior emprego do Exército. Nestas unidades a reorganização tem que ser gerida com cuidado, simplesmente transferir e concentrar pode redundar apenas numa ainda maior sangria de pessoal. É preciso ter noção que para muito gente a proximidade de casa é um factor importante de atração/retenção, seja pelos baixos vencimentos para deslocações (o que pode melhorar), seja pelas dificuldades e tempo de deslocação na ineficiente rede de transportes, seja pela barreira psicológica do factor casa - faz-me alguma confusão naquelas idades, mas existe.
Enfim, o artigo põe alguns dedos nas feridas, mas serve também para desculpabilizar o PS da situação calamitosa em que estão as Forças Armadas, agora que o interesse em olhar para elas tem aumentado. E é para isso que este artigo foi publicado.