REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS

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typhonman

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1050 em: Março 24, 2021, 09:03:46 pm »
Em pouco dizem, que para eles não há AOR e LPD, existe um JSS ( ou seja menos um navio), solução que a Marinha não gosta muito, e percebe-se.


De resto, nada de específico.


 Atribuição de capacidade adequada de comando e controle das F.A. ao CEMGFA em tempo de paz ou de guerra, assegurando que: • O CEMGFA se constitui como Chefe de Estado-Maior de Defesa; • Os comandantes dos Ramos passam para a efetiva dependência direta do CEMGFA no domínio operacional, incluindo a gestão corrente de recursos que hoje em dia depende do Ministro da Defesa Nacional; • Aos comandos da componente dos três Ramos compete o aprontamento e sustentação das forças e meios operacionais a empregar sob o comando do CEMGFA e a realização das missões reguladas por legislação própria.

 Assegurar o desiderato da edificação equilibrada do Sistema de Forças através de uma maior paridade de investimento alocado às capacidades específicas dos Ramos.

 Completar em termos humanos, estruturas e equipamentos do Sistema de Forças aprovado, designadamente: • Unidades de Forças Especiais, nomeadamente: • pelo reforço de meios humanos e meios de mobilidade adequados nos Regimentos de Comandos, de Paraquedistas e no Corpo de Fuzileiros; • dotando-as de meios aéreos de combate ar-solo (helicópteros e drones) como sua dotação orgânica, bem como de meios de defesa aérea local. • Finalização do programa de construção de NPO, acrescentando-se a cada um deles uma valência de luta e deteção de submarinos. • Aquisição de navio reabastecedor de esquadra dotado de capacidades logísticas acrescidas. • Finalização do programa de reequipamento da Brigada de Intervenção, garantindo a sua coerência operacional enquanto sistema de sistemas. • Concluir a modernização da frota de aviões de patrulha marítima P3, reforçada por uma capacidade de Drones de elevado alcance.
 Reforço dos Sistemas de Comando e Controle de nível estratégico e operacional face aos mais recentes desafios das Tecnologias Disruptivas Emergentes (TDE), como a Big Data; Inteligência Artificial; Autonomia; Tecnologias Espaciais; Armamento Híper Sónico; Tecnologias Quânticas; Biotecnologias e Materiais Inteligentes.
 Criação de uma Unidade Estratégica que permita às Forças Armadas monitorizar e enfrentar os desafios das TDE e/ou retirar vantagens das mesmas particularmente para fazer face à complexidade e ambiguidade dos ambientes conflituais terrestres modernos.

NPO ASW.... :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen: :mrgreen:  para rir.
« Última modificação: Março 24, 2021, 09:05:06 pm por typhonman »
 

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dc

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1051 em: Março 25, 2021, 12:07:41 am »
A parte mais interessante para mim foi:
Citar
Concluir a modernização da frota de aviões de patrulha marítima P3, reforçada por uma capacidade de Drones de elevado alcance

Ou seja, deve ser a primeira vez que se pensa em UAVs MALE/HALE para as FAs. Isto claro, dependendo do que consideram "elevado alcance". Não creio que os drones nacionais correspondam a isto, mas...

A vir um JSS, mesmo com todas a suas vantagens e desvantagens, o grande problema mantém-se: devido ao tempo de construção, a Marinha continuará vários anos (mínimo 5) sem AOR. Além de que não será um navio barato, e se for construído cá, é quase impossível que não haja atrasos e derrapes financeiros. Os nossos estaleiros não têm experiência a construir um meio daqueles.

Os "NPO ASW" são um pau de dois bicos. Por um lado, é positivo o aumento do número de meios com capacidade ASW, um pouco na onda da "letalidade distribuída". Por outro, não devo ser o único com receio que estes NPOs fiquem com as missões atribuídas às VdG, ficando a Marinha apenas com 2 fragatas + os NPO.

Os últimos dois pontos, é que me deixaram um pouco confuso. Por exemplo, que influência terá o "reforço dos sistemas de comando e controle" na preparação para a ameaça de, armas hipersónicas?
 
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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1052 em: Março 25, 2021, 12:20:41 am »
E será que a Classe Viana do Castelo tem as características acústicas para evoluir para uma plataforma ASW credível? Ou trata-se de mais banalidades vindas de políticos que não percebem um chavelho da coisa militar? Um PDF de 12 páginas — das quais só 09 têm conteúdo —, não me parece que constitua um grande contributo para a discussão. Mas trata-se, sem dúvida, de um passo na direcção certa.
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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1053 em: Março 25, 2021, 02:17:13 pm »
A parte mais interessante para mim foi:
Citar
Concluir a modernização da frota de aviões de patrulha marítima P3, reforçada por uma capacidade de Drones de elevado alcance

Ou seja, deve ser a primeira vez que se pensa em UAVs MALE/HALE para as FAs. Isto claro, dependendo do que consideram "elevado alcance". Não creio que os drones nacionais correspondam a isto, mas...

A vir um JSS, mesmo com todas a suas vantagens e desvantagens, o grande problema mantém-se: devido ao tempo de construção, a Marinha continuará vários anos (mínimo 5) sem AOR. Além de que não será um navio barato, e se for construído cá, é quase impossível que não haja atrasos e derrapes financeiros. Os nossos estaleiros não têm experiência a construir um meio daqueles.

Os "NPO ASW" são um pau de dois bicos. Por um lado, é positivo o aumento do número de meios com capacidade ASW, um pouco na onda da "letalidade distribuída". Por outro, não devo ser o único com receio que estes NPOs fiquem com as missões atribuídas às VdG, ficando a Marinha apenas com 2 fragatas + os NPO.

Os últimos dois pontos, é que me deixaram um pouco confuso. Por exemplo, que influência terá o "reforço dos sistemas de comando e controle" na preparação para a ameaça de, armas hipersónicas?

Se calhar os NPO vão levar um sonar de deteção de minas/obstáculos que tem como efeito secundário detetar submarinos.

 

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dc

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1054 em: Março 25, 2021, 03:11:10 pm »
Nesse caso os NPOs serviriam apenas de plataforma de detecção, e para isso, existem meios mais eficazes (o VSR700 é um desses meios). Aliás, o próprio programa PESCO de que nós fazemos parte, envolve o desenvolvimento e utilização de UUVs para guerra anti-submarina.

Mas vamos ver o que sai daí.
 

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Cabeça de Martelo

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1055 em: Março 25, 2021, 05:03:49 pm »
E será que a Classe Viana do Castelo tem as características acústicas para evoluir para uma plataforma ASW credível? Ou trata-se de mais banalidades vindas de políticos que não percebem um chavelho da coisa militar? Um PDF de 12 páginas — das quais só 09 têm conteúdo —, não me parece que constitua um grande contributo para a discussão. Mas trata-se, sem dúvida, de um passo na direcção certa.

NVF eu não sou propriamente a melhor pessoa para falar disto, mas pelo que li, sim.

Citar
A propulsão do navio é assegurada por duas linhas de veios, com dois motores a diesel de média velocidade, de 3 900 kW cada, e dois motores elétricos auxiliares de 300 kW cada, para operação a baixa velocidade, acoplados a caixas multiplicadoras reversíveis, que operam hélices de passo variável.
Uma vez que a mesma plataforma será usada como navio-balizador e embarcação antipoluição, os motores elétricos foram equipados com o requisito para operação por longos períodos de tempo entre 1,5 e 3 nós, sem consequências adversas para a instalação de propulsão.

Citar
A totalidade da estrutura do navio é de aço maciço, desenhada para satisfazer os requisitos D1A1 da DNV no design máximo do calado, para uma vida útil acima dos 30 anos. Será utilizado aço de alta resistência no convés de vôo, de forma a reduzir o peso do topo. O navio é maioritariamente reforçado de forma transversal com estruturas com 600 mm de distância.
O navio tem dez anteparas estanques contínuas desde a quilha até à estrutura superior, para garantir uma boa continuidade estrutural e cumprir com o standard de estabilidade de dois compartimentos da Marinha Portuguesa.

Citar
O sistema principal de alimentação de energia elétrica é de 400 V, 50 Hz., 3 fases, 3 sistemas neutros de isolamento de cabos, para compatibilidade com sistemas comerciais.
Outra distribuição de energia existente é de 220 V, 50 Hz. e 24 Volts DC, para sistemas de baixa potência e efeitos de controlo.
O estudo desenvolvido para o sistema elétrico considerou todos os cenários nos quais o navio poderá estar envolvido, incluindo navegação com os motores elétricos. O resultado final foi um sistema totalmente redundante com quatro grupos geradores iguais, de 350 kW cada, localizados na vante e na ré da Casa de Máquinas Principal, respetivamente, dois na Casa de Máquinas Auxiliar na RÉ e dois na Casa de Máquinas Auxiliar na VANTE.
Há dois quadros de distribuição, ligados e iguais, localizados, respetivamente, um e dois decks acima dos grupos geradores para reforçar a capacidade de resistência em caso de fogo ou inundações.
Qualquer conjunto dois grupos geradores (dos quatro existentes), é capaz de abastecer 100 % das necessidades elétricas do navio.


« Última modificação: Março 25, 2021, 05:14:15 pm por Cabeça de Martelo »
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais que os outros.

 

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NVF

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1056 em: Março 25, 2021, 11:07:05 pm »
Sim, mas os motores diesel e os grupos geradores estão devidamente isolados, de forma a não transmitir vibrações para a estrutura do navio? Não vejo referência a esforços nesse sentido em parte alguma.
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typhonman

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1057 em: Março 28, 2021, 11:16:26 pm »
No âmbito da execução de 9,3 M€ no projeto Modernização C-130H que, como antes se referiu, foram utilizados no projeto de manutenção do EH-101, o RELPM-2015 indica, como ações desenvolvidas, a elaboração de procedimentos administrativos conducentes à aquisição de bens e serviços para regeneração do potencial da aeronave C-130H, enquanto que o mapa semestral da DGRDN evidencia o pagamento de 9,3 M€ integralmente no âmbito do projeto Modernização C-130H. Ou seja, a informação apresentada não é concordante entre si nem corresponde à realidade, uma vez que as dotações do projeto Modernização C-130H não foram aplicadas na regeneração nem na modernização da aeronave mas, antes, na manutenção dos helicópteros EH-101.


https://www.tcontas.pt/pt-pt/ProdutosTC/Relatorios/RelatoriosAuditoria/Documents/2017/rel021-2017-2s.pdf
 
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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1058 em: Março 29, 2021, 09:01:41 am »
Por isso é que os C130 ainda não foram entregues!
"Que todo o mundo seja «Portugal», isto é, que no mundo toda a gente se comporte como têm comportado os portugueses na história"
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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1059 em: Março 29, 2021, 11:26:13 am »
Mas não havia um contrato de manutenção assinado com a Leonardo? Para quê a necessidade destas artimanhas? Ou será que não sendo possível fugir ao pagamento à Leonardo se optou pela “ginástica” orçamental?
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dc

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1060 em: Março 29, 2021, 11:47:30 am »
Realmente por 9,3 milhões de euros, faz-se logo notar no défice do país... E o dinheiro foi mesmo para algum dos programas mencionados, ou "desapareceu"?  ::)
 

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nelson38899

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1061 em: Março 29, 2021, 02:39:55 pm »
Só porque me apetece

Citar
   
                Year(s)      
Supplier/      No.   Weapon   Weapon   Year   of   No.    
   recipient (R)   ordered   designation   description   of order   delivery   delivered   Comments
   
   
Brazil
R: Portugal   5   C-390   Transport aircraft   2019         $920 m deal (incl 12 years support and production of components in Portugal); delivery planned 2023-2027
   
Finland
R: Portugal   12   W-12   Diesel engine   (2002)   2010-2019   8   For 6 Viana do Castelo (NPO-2000) OPV produced in Portugal
   
Italy
R: Portugal   5   AW119 Koala   Light helicopter   2018   2019-2020   (5)   EUR20 m deal; option on 2 more; from US production line; AW119Kx version
   
Spain
R: Portugal   139   VAMTAC BN3   APV   2018   2019-2020   (125)   EUR61 m deal; VAMTAC ST-5 version; delivery planned 2019-2021
   
United States
R: Portugal   (10)   T-800   Turboshaft   2016         Part of EUR95 m modernization of 5 Super Lynx Mk-95 ASW helicopters to Super Lynx Mk-95A version
           22   F-16C   FGA aircraft   1998   2003-2020   (22)   $268 m 'Peace Atlantis-2' deal (incl aircraft as aid and 3 more for spare parts); second-hand F-16OCU rebuilt to F-16AM (F-16C) in Portugal with kits from USA; incl 4 F-16B trainer/combat version
           (3)   F-16C   FGA aircraft   (2013)         Second-hand F-16A Block-15 version (incl 1 F-16B version) rebuilt to F-16AM (F-16C) in Portugal with kits from USA
              RIM-162 ESSM Block-2   SAM   (2014)         For modernized MEKO-200 (Vasco da Gama) frigates; selected 2014 but probably not yet ordered by end-2020
           (100)   JDAM   Guided bomb   (2016)         
           (10)   V2500   Turbofan   (2017)         For 5 C-390 transport aircraft from Brazil
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zawevo

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1062 em: Março 30, 2021, 04:16:39 pm »
Ainda sobre a reestruturação do CEMGFA e Estados Maiores dos Ramos uma visão crítica.

A reforma da Defesa e da estrutura superior das Forças Armadas Carlos Branco 30 Março 2021 — 00:12

https://www.dn.pt/opiniao/a-reforma-da-defesa-e-da-estrutura-superior-das-forcas-armadas-13513296.html

"A reforma da estrutura superior das Forças Armadas (FA) promovida pelo atual Ministro da Defesa Nacional (MDN) tem sido objeto de acalorada discussão. Como muitos debates em Portugal, também este tem o "mérito" de se consumir em questões marginais. Devemos, antes de mais, interrogar-nos se depois desta reforma as FA sairão mais reforçadas e operacionalmente mais capazes.

Se esta reforma pretende adotar as melhores práticas, como anuncia, fazendo o que de melhor fazem os nossos parceiros e aliados, devia ter começado por fazer a reforma da defesa e não a da estrutura superior das Forças Armadas. Esta última seria integrada e uma consequência da primeira. Esta iniciativa em que o MDN está tão empenhado não conduz à criação de um Estado-Maior de Defesa (EMD), nem de um Chefe de Defesa (CHoD), como acontece nos países considerados referências. Tal ousadia implicava mudanças estruturais significativas no Ministério, que o MDN não tem coragem para fazer. Penso perceber a origem desta falta de ousadia.

Tal arrojo permitiria, por exemplo, terminar com a duplicação de missões entre o Estado-Maior-General das Forças Armada (EMGFA) e a Direção-Geral de Política de Defesa Nacional (DGPDN), e fundir estes dois organismos. Muito haveria a dizer neste capítulo. A alteração mais importante causada pela criação de um EMD prende-se com o protagonismo e a relevância que um CHoD passaria a ter na estrutura da defesa.

A criação de um EMD poderia levar a que a DGPDN e a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN) ficassem sob a alçada do CHoD, algo insuportável para o poder político, que passaria a enfrentar maiores dificuldades para controlar plenamente o "sistema". Seria mais difícil contornar a CRESAP e introduzir os seus apaniguados no aparelho. Seria mais complicado nomear Diretores-Gerais (DG) inabilitados para os cargos, como, por exemplo, nomear DG que não falem inglês para funções onde é crucial dominar a língua inglesa. E seria assim, também mais difícil, controlar a Inspeção Geral de Defesa Nacional (IGDN). Provavelmente com um EMD, a opinião pública já saberia porque é que as obras do Hospital Militar de Belém resvalaram para o triplo do valor inicialmente estimado, assim como outras decisões financeiramente inconvenientes.

A opção deliberada de não seguir as melhores práticas, apesar de o apregoar, transportam-nos para o aludido controlo democrático das FA, uma forma airosa de, sob o chapéu da legitimidade democrática, encapotar o controlo da estrutura da defesa pelos amigos, uma prática que não só mina a democracia, como levanta profundas interrogações éticas.

Uma vez desmontado o argumento das melhores práticas, passemos então ao da eficácia e da eficiência. Em que domínios se pensa que esta reforma vai aumentar a eficácia e a eficiência das FA? Convém lembrar que a Força de Reação Imediata é única situação em que as FA se envolvem nacionalmente ao nível conjunto. O conceito "conjunto" aplica-se ao nível operacional, e com esforço ao nível tático com unidades de escalão elevado. Nunca ao nível das unidades de escalão companhia e batalhão, os escalões a que Portugal destaca forças. A centralização de poder que agora se vem propor pode melhorar a rapidez da resposta operacional. Mas apenas isso. Nos restantes aspetos é um exercício funesto. Os aspetos positivos estão longe de superarem os negativos.

Uma avaliação do mérito da iniciativa legislativa em causa exige respostas inequívocas a algumas questões incontornáveis. Por exemplo: por que é que o Conselho Superior Militar (CSM) deixa de ser um órgão de Estado diretamente responsável pela defesa nacional? Por que é que o conceito estratégico militar, presentemente elaborado pelo Conselho de Chefes de Estado-Maior (CCEM), passa a ser elaborado apenas pelo CEMGFA? Qual a razão para as missões específicas das FA elaboradas com base num projeto do CCEM passarem agora a ser elaboradas com base num projeto do CEMGFA? Que motivos levam a que o sistema de forças elaborado com base num projeto do CCEM passe a ser responsabilidade apenas do CEMGFA? Alguém que explique de modo claro quais os benefícios em passar aquelas prerrogativas de órgãos colegiais para o poder de uma única pessoa, e em que é que essa transferência de competências vai aumentar a eficácia e a eficiência do funcionamento das FA.

Percebemos as razões destas opções não terem sido inicialmente explicadas aos Chefes Militares, uma vez que tiveram conhecimento delas na véspera da reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, onde era suposto pronunciarem-se sobre as suas virtudes. Mas já passou tempo suficiente para ouvir da boca dos responsáveis uma explicação. Muito haveria ainda a inquirir. Contudo, não podemos deixar de nos interrogar porque é que os Chefes de Estado-Maior dos Ramos são excluídos do processo de decisão em matérias como o planeamento estratégico de médio e longo prazo, ou como a estratégia genética e estrutural, as quais não requerem nem exigem respostas rápidas, ao contrário das operações militares, onde a velocidade pode ser um aspeto diferenciador.

Será que o MDN tem presente as consequências da centralização em matéria orçamental, excluindo uma vez mais os CEM? Será que tem consciência das tensões corporativas que está a alimentar com essa decisão, da caixa de Pandora que vai abrir? O mesmo se aplica à Lei de Programação Militar e à Lei de Infraestruturas Militares. A ser aprovado o diploma em causa, o primeiro teste ocorrerá já no próximo ano durante a revisão da LPM. Um pensamento maturado sobre estas matérias desaconselha vivamente a concentração da decisão numa pessoa inibindo um processo negocial genuíno. O sistema de checks and balances em vigor, com a negociação que envolve, apesar das vicissitudes que encerra, tem provado ser eficaz e eficiente. Não se percebe a vantagem de o substituir por um regime sujeito ao livre-arbítrio de uma pessoa.

Não faz sentido concentrar numa pessoa um leque tão alargado de poderes. É perigoso e desnecessário. Não se traduz em benefícios. É abrir as portas à autocracia e ao despotismo, sintomas já noticiáveis sem a lei ter sido ainda aprovada. Por algum motivo os Serviços de Informações encontram-se individualizados organizacionalmente, opção que aparentemente não traduz um arranjo organizacional eficiente. Imperativos de outra natureza assim o justificam.

Alguém deve ainda explicar a singularidade, de se passar a rede de adidos militares para a dependência direta e funcional da DGPDN, quando faz todo o sentido mantê-la na cadeia de comando militar trabalhando em estreita coordenação com os serviços de informações militares. Esta proposta, além de não se encontrar em linha com as melhores práticas dos nossos parceiros e aliados, baseia-se numa justificação falsa.

Dito isto, e mais havia a dizer, tem de ficar claro que esta reforma não fará as FA darem o salto em frente. Não vai melhorar o seu output operacional, nem as suas capacidades. Depois da sua aprovação (a acontecer) e do foguetório mediático que lhe seguirá, as fragatas continuarão encostadas sem dinheiro para a manutenção e combustível, o arsenal do Alfeite continuará com o modelo de gestão autofágico e comatoso conhecido por todos. Situações semelhantes continuarão a ocorrer nos outros Ramos. Escusa, por isso, o MDN de vender esta reforma como a reforma do século, porque não o é e está longe de o ser.

Para que isso acontecesse, seria necessário um investimento em tecnologia e capacidades militares. Como é hábito em Portugal, esta "reforma" não tem um custo associado. Não sabemos quanto é que vai custar aos cofres do Estado. Inferir, sem fazer este exercício, que vai melhorar a eficiência, lembra-nos o ditado popular: presunção e água benta, cada um toma a que quer. Ainda hoje não se sabe quanto custou (nem quanto está a custar) a reforma levada a cabo há 15 anos no Exército, em que muitas decisões por inexequibilidade tiveram de ser revertidas.

Uma vez que o MDN insiste nas melhores práticas levadas a cabo por parceiros e aliados, não poderia deixar de lhe sugerir duas: em primeiro lugar, promover uma "Revisão Estratégica de Defesa" e com base nela elaborar um "Livro Branco de Defesa", para sabermos às quantas andamos e para onde vamos; em segundo lugar, que os serviços do seu Ministério façam os anuários estatísticos de Defesa. Estamos em 2021, e o último feito é de 2016. Esperemos que isto não seja um indício técnico da qualidade de funcionamento do seu ministério. Quando não se sabe o que fazer inventa-se. Ou antes, muda-se o organigrama para ficar quase tudo na mesma.
"

Major-general (na reserva)
 

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1063 em: Março 31, 2021, 11:19:43 pm »
 

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Re: REFORMAR E MODERNIZAR AS FORÇAS ARMADAS
« Responder #1064 em: Março 31, 2021, 11:33:55 pm »
Deve ter sido por engano, queriam espiar o vizinho do lado, de certeza.  :mrgreen:
 
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