A prioridade é mesmo continuar a existir. Num cenário menos catastrofista, penso que as prioridades deveriam ser:
Organização e racionalização:
- Reformular completamente o sistema de recrutamento e retenção (contratos e quadros) de militares;
- Melhorar e ampliar a formação complementar nas diversas especialidades;
- Diminuir o número de estabelecimentos existentes, concentrando a maioria das unidades em grandes polos, que ofereçam boas condições de treino e permitam diminuir as necessidades e gastos com serviços de apoio. Esta concentração pode acontecer entre unidades de diferentes ramos. Alienar o património não utilizado, principalmente dentro de cidades, embora esta época seja muito desfavorável ou até impossível para o concretizar;
- Extinguir as unidades dos Açores e Madeira. As missões das Forças Armadas nos arquipélagos deveriam ser asseguradas prioritariamente pela Marinha e Força Aérea. Mesmo a eventual defesa no ambito terrestre e o treino para esse cenário seria, em primeiro lugar, da responsabilidade dos fuzileiros. Tanto quanto possível, a Marinha deveria deslocar unidades de fuzileiros para as ilhas para treino. Aliás, tendo em conta a geografia nacional e o Conceito Estratégico de Defesa Nacional, penso que os fuzileiros devem ser uma força prioritária, a reforçar e desenvolver. Isto não impede que unidades do exército se desloquem às ilhas para treino ou para ajuda em caso de catástrofe;
Investimento:
- Melhorar as infraestruturas de treino e aumentar a frequência e realismo do mesmo;
- Substituir e melhorar os equipamentos individuais (tudo, desde coletes táticos até à substituição da G3);
- Melhorar a capacidade de sustentação logística autónoma de forças destacadas;
- Solucionar o programa Pandur (isto ultrapassa o Exército);
- Desenvolver o programa de U.A.Vs, em colaboração com a Força Aérea e a indústria nacional;
- Adquirir mais viaturas blindadas ligeiras, preferencialmente substituindo os humvee.
As prioridades são modestas, mas o mais realistas possível face às necessidades e possibilidades. Ficaria contente se não fossemos mais uma vez apanhados com as calças na mão, a ter que adaptar e improvisar muito e fazer aquisições de última hora, como aconteceu na maioria das vezes em que o Exército foi chamado a intervir em tempos recentes:
- Bósnia – material comprado à pressa e entregue na última hora, sem possibilidade de treino e adaptação, G3, paraquedistas em Chaimites, militares (ainda por cima paraquedistas) que levam bomblet que encontraram para dentro da camarata e a tentam desmontar... ;
- Kosovo – G3, M113, Chaimites, ... ;
- Timor – G3, Humvees comprados à pressa e desadequados ao terreno ... ;
- Afeganistão – G3, Uros emprestados por Espanha, problemas nos abastecimentos, Humvees que tiveram que ser blindados em Israel, única força internacional no país com camuflados desadequados ao ambiente, anos após o início da missão – ainda por cima com as desculpas mais estapafúrdias que é possível imaginar.
Já agora, na 1ª Guerra Mundial e na Guerra Colonial não foi muito diferente.
Para além dos aspectos financeiros, não adianta andar a pensar em mísseis anti-aéreos, carros de combate e aviação própria enquanto não tivermos, por exemplo, condições e confiança suficientes para empregar unidades da infelizmente denominada “tropa normal” em cenários de alto risco.