O Adamastor Furia não é um exemplo único em Portugal. Há pouco menos de duas décadas, tentou-se desenvolver um carro desportivo, baseado no Corvette, em Portugal. O Adamastor segue as pisadas de outras marcas estrangeiras hoje estabelecidas noutros países, como a Pagani, Koenigsegg, entre outras, que começaram com o sonho de um homem (ou grupo deles), com os conhecimentos e posses financeiras para o realizar. O caso do Adamastor não é diferente.
E também nem sequer se compara, em termos do investimento necessário, da dificuldade de desenvolvimento e do retorno possível com as vendas entre um carro e uma aeronave de combate. Uma coisa é investir 17 milhões no desenvolvimento de um supercarro/hipercarro, que terá um preço de venda 1.6 milhões de euros (base), que consegue ser vendido com relativa facilidade a multimilionários coleccionadores de automóveis raros. Outra completamente diferente, é desenvolver aeronaves a nível nacional, onde o investimento inicial tem muitos mais zeros, as normas a seguir são muito mais estritas e a rentabilidade do programa é muito mais difícil de atingir.
Também de nada interessa estar convicto do que quer que seja, quando essa convicção não tem qualquer racional. Um grupo de pessoas/empresa com dinheiro, viu a CEIIA a desenvolver uma aeronave, e lembraram-se "bora fazer um carro!". Está certo, porque é mesmo assim que o mundo funciona. Aliás, eles estavam na dúvida entre um descascador automático de batatas, uma trotinete eléctrica e um superdesportivo. Não fosse a CEIIA, se calhar tinham escolhido o descascador de batatas.
Eu também espero que o avião a ser desenvolvido pela CEIIA tenha sucesso. Já disse, que se atinja o potencial da dita plataforma, e realmente se tente penetrar no mercado internacional, e no mercado interno, por exemplo para transporte inter-ilhas.
Agora que não se pense que o desenvolvimento deste tipo de aeronave, se compara sequer com o desenvolvimento de aeronaves de combate.
É preciso é ser realista e inteligente. Alguns programas são propícios a que haja participação nacional, outros nem tanto. Existem carradas de programas bem mais fáceis de ter participação da nossa indústria, do que no desenvolvimento de caças de 5ª ou 6ª geração. Além de que, a compra do F-35, em nada impede que este tenha algum tipo de benefícios para a economia, a começar pela possível certificação da OGMA para realizar a sua manutenção, e quiçá a integração de futuros upgrades.
E a Lockheed Martin também produz muita coisa, logo não seria impensável ter como contrapartida do contrato, a produção em Portugal de algum outro produto. Seja armamento para os F-35, seja armamento para outras finalidades (GMLRS, Hellfire, etc), seja outros tipos de sistemas, como VLS Mk-41 para navios, o próprio HIMARS, etc.
Tudo bem negociado chega-se lá.