Meus senhores, vamos ver:
Tete. Ofensiva do Tete.
Na verdade, nem sei se podemos chamar aquilo de ofensiva, porque foi na prática o resultado de uma fuga, quando a FRELIMO entendeu que tinha que fugir do norte, por causa da operação Nó Górdio.
As falhas de fornecimento de munição para sub unidades, ocorreram. Não eram a regra, eram a excepção, mas ocorreram e especialmente na região do Tete, porque o grosso da capacidade logística portuguesa estava no norte.
É aliás por isso que a FRELIMO opta por acções nessa região. Mas a ofensiva do Tete, é acima de tudo propaganda. Não teve nem de perto nem de longe a influência que se lhe atribui, como prova do descalabro final das forças portuguesas.
A FRELIMO afirmava que tinha bases tanto a norte quanto a sul do Zambeze, mas essas bases não passavam de acampamentos sem qualquer tipo de condições. Não eram bases de suporte logistico, onde estivessem grandes quantidades de armas ou munições. Nem sequer comida eles tinham.
Além disso a proximidade da fronteira, reduzia enormemente a capacidade efectiva da FRELIMO.
O que eles tinham, disso não há qualquer dúvida, era um sistema de propaganda e guerra psicológica, que permitiu criar a impressão de que eram de facto muito mais poderosos que o que realmente eram.
As poucas operações que a FRELIMO realizou, esgotaram a capacidade da organização.
Para lhes piorar a situação, havia as pressões portuguesas contra a Zambia do Keneth Kaunda e as acções das forças operacionais da PIDE (especialmente na fronteira oeste), que eram utilizadas como forma de pressão para que a Zambia não apoiasse a FRELIMO (ou os movimentos angolanos).
Ao pressionar a Zambia, os portugueses garantiam um estrangular gradual da FRELIMO, porque lhes limitavam muito a capacidade de acção.
Mas as nossas dificuldades logísticas em Moçambique foram uma constante. Embora mais pequeno que Angola em termos de área, Moçambique tem distâncias muito maiores, por causa da sua configuração. El linha recta, em Angola da fronteira com a Namíbia ao rio Zaire são pouco mais de 1200km. Em Moçambique do Rovuma ao Maputo são praticamente 2.000km. Por estrada, de Lourenço Marques a Cabora Bassa eram cerca de 1700km.
Nenhum exército conseguiria de um momento para o outro, responder a uma ofensiva rapidamente e sem problemas, ainda mais quando tinha grande parte dos seus efectivos numa outra região igualmente remota.
A falta de material, era também comum na FRELIMO e é por isso que é quase ridículo falar de Ofensiva do Tete.
A FRELIMO pedia desesperadamente armamento aos países do bloco de leste. E quando o Nixon chegou ao poder, muitos dos regimes africanos, entenderam que os americanos passariam a olhar com mais atenção para qualquer apoio soviético directo ou indirecto. O receio de que os americanos cancelassem apoios financeiros se países como Zambia ou a Tanzânia fossem vistos a apoiar abertamente a FRELIMO, causaram problemas exactamente quando essa ofensiva ocorreu.
A mudança da politica de Washington relativamente a Portugal, no inicio dos anos 70, facilitada pelo politica de abertura da Primavera Marcelista, condicionou todas as três frentes da guerra. É por isso que em Moscovo, muitos dirigente comunistas que discutiam a questão portuguesa, concluíram que não era possível ganhar a guerra contra os portugueses em África.
Os métodos de guerrilha e combate assimétrico desenvolvidos pelos agentes da Russia comunista e satélites, para lutar contra os gordos e anafados ocidentais, não funcionavam contra o soldado portuga, habituado a passar fome na sua própria terra.
As minhas fontes para tirar as conclusões, são familiares meus que cumpriram serviço militar em Moçambique na Beira entre 1971 e 1973, juntamente com livros como Costa Gomes, o último marechal, o diario do Franco Nogueira, onde se descrevem os contactos não oficiais com os países vizinhos de Portugal ou o livro « Jorge Jardim, agente secreto » do Freire Antunes.
Sobre a abertura de Washington ao regime, pode-se consultar as memorias do embaixador de Portugal em Washington Hall Themido, da Dom Quixote.
Cumprimentos